terça-feira, 9 de setembro de 2014

Especial: São Paulo Futebol Clube do 2° semestre de 2014

Assim como para os jogadores e torcedores do São Paulo Futebol Clube, a partida contra o Cruzeiro no próximo fim-de-semana promete se decisiva para as pretensões do Tricolor Paulista no Campeonato Brasileiro, para A Prancheta Tática também aparenta ser. Deste modo, um dos nossos colaboradores decidiu fazer um especial descrevendo muitos detalhes táticos do time que está atraindo muita atenção neste 2° semestre do calendário do futebol brasileiro. Depois das contratações de Kaká e Alan Kardec, o São Paulo passou a ter muitos holofotes viram para si.

O detalhamento desta equipe do 2° semestre do São Paulo Futebol será dividido em quatro partes: descrição dos jogadores titulares, sistema defensivo, transição ofensiva e sistema ofensivo. Cada uma dessas partes irá aparecer em sequência no site na terça, na quarta, na sexta e no sábado desta semana. Semana de preparação para o jogo entre São Paulo X Cruzeiro. Para hoje, a parte será a descrição dos jogadores titulares.

Rogério Ceni
Maior ídolo da história são-paulina, capitão e goleiro. Rogério Ceni é uma das peças importantes para o atual modelo de jogo do São Paulo. Como o goleiro repõe precisamente e corretamente a bola para um dos seus companheiros de time, a posse dela passa a ser do Tricolor Paulista rapidamente. Ter a bola no pé desde o campo defensivo e sair com a ela dominada através de passes curtos é tudo o que a atual equipe do Morumbi procura. Rogério Ceni, além de ser goleiro, faz parte do atual modelo de jogo do time.

Paulo Miranda

Com a transação de Douglas para o Barcelona, Paulo Miranda herdou a vaga da lateral-direita do time titular. O novo titular tem maior noção tática defensiva e ofensiva, maior leitura de jogo e na precisão no desarme. Assim como será descrito nas outras partes sobre este time do 2° semestre do São Paulo, estas são as características necessárias para as laterais da equipe. Paulo Miranda, assim como seu companheiro de posição, é fundamental para a abertura de espaço na saída de bola e, também, para fazer a linha defensiva marcar em “L” –esta fundamental para não dar espaço para o winger adversário dominar a bola com muito espaço para conduzi-la. 

Os avanços sem bola dos laterais são fundamentais para o início da saída de bola do time. Paulo Miranda e Álvaro Pereira estão fazendo isso muito bem (Reprodução: Sportv).

Já defensivamente, o posicionamento em “L” da linha defensiva é fundamental para não dar espaço do lado da bola para a equipe adversária. Tanto Paulo Miranda quanto Álvaro Pereira sobem a marcação e atrapalham muito o domínio de bola do winger adversário (Reprodução: Rede Globo).

Rafael Tolói
Desde a sua volta da Roma, este jogador está sendo um monstro em campo. Tolói, após o empréstimo oriundo da equipe italiana, está apresentando enorme censo de posicionamento defensivo, no momento correto para “sair à caça”, na precisão dos desarmes e visão de jogo. Esta última é essencial para que o São Paulo consiga sair jogando desde o seu campo defensivo, e é através de Rafael Tolói que muitas saídas de jogo acontecem.

Muitas saídas de bola acontecem através de Rafael Tolói, diferentemente do seu companheiro de defesa. Já que Tolói consegue observar o jogo e realizar um passe para uma das melhores opções para aquele momento (Reprodução: Rede Globo).

Edson Silva
Desde a contusão de Antônio Carlos, Edson Silva passou a ser o titular da equipe do São Paulo. Diferentemente do que muitos torcedores esperavam, o zagueiro não decepcionou. Mas também não tem agradado tanto. Edson Silva tem apresentado regular noção de posicionamento defensivo, de cobertura da última linha defensiva e na precisão do passe. Porém, diferentemente de Rafael Tolói, muitos passes de Edson Silva são curtos e de fácil execução. Por outra via, este zagueiro também não erra esses passes e, deste modo, tem sido útil nas saídas de bola curtas do São Paulo.

No flagrante, Kaká se projetou até próximo de Edson Silva no espaço onde Álvaro Pereira criou para o meia. Deste modo, o zagueiro teve menor chance de erro para a realização do passe (Reprodução: Sportv).

Álvaro Pereira
          Ele é a raça uruguaia em campo em todas as partidas. Incrível a intensidade deste lateral-esquerdo para marcar e para defender durante os 90 minutos de todos os jogos. Assim como Paulo Miranda, Álvaro Pereira tem boa noção tática defensiva e ofensiva, boa leitura de jogo e na precisão no desarme. Porém, o que pode ter tido influencia da sua passagem pelo Cluj-ROM, Porto-POR e Internazionale-ITA, o lateral-esquerdo se projeta à linha de fundo com melhor tempo do que o direito. Por isso que Álvaro Pereira freqüentemente é acionado em projeção à linha de fundo, pois ele tem essa percepção de quando ir ou não para a zona de aceleração em campo ofensivo.

Defensivamente e assim como Paulo Miranda, Álvaro Pereira também sobe a marcação no winger adversário. Deste modo, não dando espaço para que o adversário domine a bola com tanta tranqüilidade e, assim, formando um “L” com a sua linha defensiva (Reprodução: Sportv/ PFC).

Já ofensivamente, Álvaro Pereira sabe tem maior percepção de quando ir em direção à linha de fundo do que Paulo Miranda. No flagrante acima, ao perceber que Ganso está com espaço e observando a sua trajetória, Álvaro Pereira já iniciou a sua corrida para a linha de fundo para receber a bola em projeção (Reprodução: Rede Globo).

Souza
Souza é um daqueles jogadores que saíram bem cedo do Brasil e que aprendeu muito com o futebol europeu. No caso deste volante, com o futebol português e no F.C. Porto. Souza saiu da categoria de base do Vasco da Gama com a fama de “bom passador”, mas com pouca noção tática. Desde que voltou ao Brasil e para o Grêmio, em 2012, este volante passou a apresentar características de, o que se chama na Inglaterra, “Box-to-box”. Jogadores com esta função são aqueles que percorrem o campo entre as duas áreas, participam das saídas de bola e das ações defensivas e das ofensivas. Souza aprendeu isso na Europa, porque aqui poucas pessoas fazem ideia do que seja essa função.

Denilson
Assim como seu companheiro de posição, Denilson também saiu bem cedo do Brasil para jogar na Europa. Mas diferentemente de Souza, este volante passou 5 anos na Inglaterra, mais precisamente no Arsenal. O que antes era um mero volante, Denilson passou a ser de fato um “Box-to-box”. Tanto que a participação defensiva e ofensiva deste volante são maiores do que de Souza e, ainda, a leitura do jogo é muito melhor. Denilson consegue desarmar, conduzir a bola, ver o jogo e realizar os passes para as melhores opções para o momento. Algumas tentativas são falhas, mas as intenções dele sempre são as melhores possíveis. Souza e Denilson formam uma dupla no meio-de-campo tricolor fundamental para a proposta de jogo da equipe.

Após a retomada da bola, Denilson observa as movimentações do quarteto ofensivo para decidir tomar a melhor opção para a jogada (Reprodução: Sportv/ PFC).

Assim como explicado anteriormente, Souza e Denilson são Box-to-box em vez de meros volantes. Nesta função, esta dupla ocupa toda a região demarcada de azul. Defensivamente, eles recuam até próximo da área defensiva e, ofensivamente, participam até próximo da área adversária. 

Kaká
A peça chave do time. O retorno deste meia ao São Paulo fez Muricy Ramalho quebrar a cabeça para encaixar ele e Ganso juntos. Além desses dois, o técnico tinha Alan Kardec e Alexandre Pato para colocar no time também. Muricy conseguiu. E conseguiu fazer com que o time jogue encaixando melhor para as atuais características do Melhor do Mundo de 2007. Kaká é fundamental para esta equipe.

Neste São Paulo do 2° semestre de 2014, o camisa 8 tricolor é quem, freqüentemente, inicia a jogada ofensiva. Muitas vezes, ele aparece no espaço cedido por Álvaro Pereira na saída de bola curta. Porém, como Kaká tem liberdade para se movimentar por todo campo ofensivo, este meia cria superioridade numérica ofensiva em qualquer dos lados e, ainda, procurar realizar passes para as melhores opções possíveis em campo ofensivo. Kaká é fundamental.

Para o início da saída de bola, Kaká se projeta no espaço cedido por Álvaro Pereira. Deste modo, o meia tem bastante espaço para receber a bola de costas para o gol adversário e ter tempo para virar de frente para a mesma meta (Reprodução: Sportv).

Já nesta situação ofensiva, Kaká inteligentemente retira a bola do setor onde o Palmeiras tinha mais jogadores do que o São Paulo, e inverte a bola para Alexandre Pato do lado do campo ofensivo. No outro lado, Pato teria a companhia livre de Ganso. Este que ficou sozinho após o time adversário ter juntado tantos jogadores ao redor de Alan Kardec e Kaká e mesmo assim não ter conseguido recuperar a bola (Reprodução: Sportv/ PFC).

Como Kaká freqüentemente é acionado pelo lado esquerdo ofensivo do São Paulo, o time, mesmo tendo boa saída de jogo pelo os dois lados, tem propensão de freqüentar mais o seu lado esquerdo. Assim como mostra o heatmap acima.

Agora defensivamente, Kaká está tão bem taticamente do que o seu companheiro de função, Paulo Henrique Ganso. Estes dois meias, que não apresentam a mesma intensidade defensiva do que apresentam ofensivamente, completam a linha de 4 do meio-de-campo freqüentemente e, ainda, balançam corretamente para o setor da bola. Sem a bola, Kaká está tão importante quanto com a mesma.

Com a bola no lado esquerdo defensivo, Kaká “largou” o lateral-esquerdo do Santos para fechar o seu setor corretamente. Pois onde está o camisa 8, o volante adversário mais próximo já não consegue avançar no espaço vazio e, assim, não se tornando uma ameaça tão grave para a meta de Rogério Ceni (Reprodução: Sportv).

Paulo Henrique Ganso
O camisa 10 deixou de jogar como meia central para que o time pudesse “abrigar” junto a ele. Após alguns jogos de adaptação a nova função, Ganso surpreendeu a muitos em relação a sua desenvoltura tática em campo. Ofensivamente, este meia inicia as saídas de bola do seu lado através do espaço cedido por Paulo Miranda assim como Kaká, mas, como o camisa 8 é a referência da equipe, Ganso passou a apresentar outra movimentação para adequar o Melhor do Mundo de 2007. O camisa 10 tricolor está se projetando freqüentemente no espaço entre linhas adversárias. Esta movimentação é fundamental para dar sequência ao ataque do São Paulo e, ainda, receber a bola completamente livre de marcação.

Sem a bola e em ação ofensiva da sua equipe, Ganso se projeta na entrelinha adversária. Como Kaká constantemente está com a bola, “sobrou” para o camisa 10 esta movimentação ofensiva. Pelo flagrante acima, nota-se Ganso se projetando às costas de Arouca e à frente de toda linha defensiva do Santos (Reprodução: Sportv).

Defensivamente, Ganso também está surpreendendo a muitos. Já que assim como Kaká, o camisa 10 também compõe a linha de 4 do meio-de-campo e, também (!!!), está balançando corretamente defensivamente. Esta movimentação correta defensiva pouquíssimos jogadores brasileiros realizam, e Ganso está fazendo. 

Com a bola do lado direito defensivo, Ganso “abandonou” o lateral-direito adversário para encostar no volante mais próximo. Deste modo, ele fez com que a sua equipe pudesse realizar superioridade numérica defensiva, assim como mostra o flagrante acima (Reprodução: Sportv/ PFC).

Alan Kardec
Kardec é outra peça muito importante para a engrenagem tricolor. Assim como ele mesmo já explicou, a sua passagem pelo Benfica-POR, o fez aprender a contribuir taticamente. Tanto que, assim como durante sua passagem pelo Palmeiras até o início de 2014, Alan Kardec invariavelmente retorna defensivamente para compor o sistema defensivo da sua equipe. Além desta ajuda defensiva, o camisa 14, junto com Alexandre Pato, realiza rápida troca de ação de jogo após a perda de bola em campo ofensivo. Desta maneira, o sistema defensivo tricolor passa a ter mais tempo para se recompor –já que Ganso e Kaká não apresentam a mesma intensidade ofensiva em ação defensiva.

Em suas composições defensivas, Alan Kardec acaba ocupando um dos lados do campo. Deste modo e assim como se percebe pelo flagrante acima, Kaká –que quem era que estava naquele lado- centralizou e o São Paulo passou a se defender no 4-2-3-1 (Reprodução: Rede Globo).

Após perder a bola em campo ofensivo, Alan Kardec e, nessa imagem, Alexandre Pato realizam rápida troca de ação de jogo e imediatamente pressionam o adversário com a bola. Neste flagrante, ao ter os dois pressionando somente um adversário e com Paulo Miranda fechando a única linha de passe possível, a bola rapidamente foi retomada pelo São Paulo (Reprodução: Rede Globo).

Ofensivamente, Alan Kardec realiza uma das funções mais “fáceis” do sistema ofensivo da equipe, mas de fundamental importância para o restante do time. O camisa 14 tricolor constantemente se apresenta como passe de profundidade e de costas para o gol adversário. Porém para ele fazer este posicionamento, Kardec se projeta para próximo da bola. Deste modo e como ele inicialmente se posiciona como atacante, o camisa 14 atrai a marcação de um dos zagueiros adversário. Com isso, ele não desalinha a linha defensiva adversária como se apresenta como pivô e com espaço para dar sequência ao ataque tricolor.

Ao sair para ser opção de pivô e como ele inicialmente se posicionava como atacante, Alan Kardec atraiu um dos zagueiros do Internacional e desalinhou a linha defensiva adversária. Assim como será explicado em seguida, Alexandre Pato se projeta no espaço vazio deixado pelo zagueiro adversário que sai na caça em Alan Kardec (Reprodução: Rede Globo).

Alexandre Pato
Finalmente, Alexandre Pato está se reencontrando no futebol! Depois do seu início fenomenal, este atacante parece ter perdido o “fôlego” com o passar dos anos. Mas ao mesmo tempo em que isso parecia estar acontecendo, nenhum técnico está entendendo como Pato gosta de movimentar e jogar como Muricy Ramalho está fazendo. Com este técnico, o camisa 11 tricolor tem poucas funções defensivas –pois praticamente só pressiona o adversário mais próximo após perder a bola em campo ofensivo-, mas, ofensivamente, ele importante. Alexandre Pato se projeta nos espaços vazios entre os jogadores das linhas defensivas adversária. Este espaço pode ser entre zagueiro-zagueiro quanto zagueiro-lateral e, ainda, entre nos dois lados do campo. Ou seja, Pato se movimenta pouco defensivamente, mas muito ofensivamente.

Sem bola, uma das poucas funções defensivas de Pato é pressionar o adversário com a bola ainda em campo ofensivo. Uma vez que ele ajuda nesse aspecto, aumenta-se as chances de retomada de bola perto do gol adversário, assim como está mostrando o flagrante acima com o São Paulo fazendo 3 x 1 em cima do zagueiro do Palmeiras (Reprodução: Sportv/ PFC).

Assim como foi explicado anteriormente, após Alan Kardec ter puxado o zagueiro mais próximo, Alexandre Pato se projetou no espaço vazio deixado pelo zagueiro. Deste modo, o camisa 11 tricolor explorou o espaço entre zagueiro-zagueiro (Reprodução: Rede Globo).

Já neste flagrante, Alexandre Pato está esperando Kaká o observar para se projetar no espaço entre zagueiro-lateral adversário. Ou seja, ofensivamente, Pato está se movimentando inteligentemente, diferentemente de vários atacantes brasileiros (Reprodução: Sportv).

Por fim, o que se pode notar em comum em vários destes jogadores titulares do São Paulo é a passagem pela Europa. Somente Paulo Miranda, Edson Silva, Rogério Ceni e Ganso não tiveram passagem no Velho Continente. Porém os dois últimos, devido às suas corriqueiras convocações pela Seleção Brasileira e disputas de torneio continentais, já não apresentam tanta mentalidade de jogador brasileiro.

Deste modo e o que pode ter passado pela cabeça de Muricy Ramalho para montar esta equipe com as características destes jogadores são as suas inteligências de jogo. Um jogador de futebol pode sempre jogar futebol, mas pode nunca compreendê-lo. Muitos destes jogadores do time titular do São Paulo, como já passaram consideráveis tempos na Europa, apresentam esta compreensão e se movimentam inteligentemente em campo. Tanto em ação ofensiva quanto defensiva. Ou seja, boa parte do que está chamando a atenção desta equipe do Tricolor Paulista é como todos estes jogadores jogam bola conscientes do que estão fazendo.  

Por Caio Gondo (@CaioGondo)