sexta-feira, 12 de setembro de 2014

Lyon x Monaco à la Brasileirão

Foi um jogo da 5ª rodada do Campeonato Francês de 2014/15, mas que poderia ter sido um de uma rodada qualquer do Campeonato Brasileiro de 2014. Lyon e Monaco apresentam muitos aspectos táticos parecidos em relação aos times brasileiros. Neste 2 x 1 para o Lyon, o mandante começou no 4-3-1-2 e o visitante no 4-3-3:

Lyon, de branco e vermelho, no 4-3-1-2 e Monaco, de azul e branco, no 4-3-3.

        Como a partida foi em Lyon, o time da casa foi quem iniciou propondo o jogo. Este time procurou manter a posse de bola (terminou com 56%), atacava com os dois laterais simultaneamente e procurava manter a posse da bola através de Gonalons, Malbranque e Ferri. Já o Monaco começou procurando a compactação entre intermediárias, se defendendo no 4-1-4-1 sem Berbatov com função alguma defensiva e a buscando o jogo reativo. 

Flagrante do Monaco posicionado defensivamente no 4-1-4-1 entre intermediárias e com distância muito parecida com a dos times brasileiros. No jogo entre Palmeiras x Coritiba do Campeonato Brasileiro deste ano, os dois times alviverdes se compactaram com distâncias muito próximas ao que o Monaco fez contra o Lyon (Reprodução: Sportv). 

No Pacaembú e em 2014, Palmeiras e Coritiba se compactaram em distâncias muito semelhantes ao que o Monaco fez contra o Lyon. Vale aqui uma reflexão: seria o Monaco tão descompactado quanto os times brasileiros –no exemplo Palmeiras e Coritiba- ou as equipes brasileiras estão tão bem compactadas quanto ao Monaco? E ainda, o Campeonato Francês é uma boa referência tática ou ele “estaria” tão atrasado táticamente quanto ao Brasileirão?

A saída de bola do Lyon estava organizada e conseguindo superar o sistema defensivo do Monaco. O time mandante subia com os dois laterais ao mesmo tempo, os dois atacantes entravam na diagonal, o meia central procurava os espaços para realizar o passe em profundidade ou ele mesmo se projetar a frente e, por fim, a saída de bola ficou por conta dos três volantes da equipe.

O Lyon, ao avançar com os dois laterais simultaneamente, empurrava os dois wingers do Monaco para trás. Mas era tão para trás que parecia que o time visitante se defendia com uma linha de seis defensores. Já que os dois atacantes do Monaco entravam na diagonal e o meia central procurava a infiltração, a linha inteira defensiva do Lyon se resguardava junta com esses três adversários. Como Berbatov não fazia nada defensivamente, o Lyon ficava com 5 x 2 em campo defensivo para sair através de passes curtos. 

Com o 4-1-4-1 do Monaco desestruturado, o Lyon conseguiu tocar diversos passes curtos em campo defensivo. Porém para chegar ao campo ofensivo e até os jogadores da frente, a equipe mandante do jogo utilizou de muitos lançamentos. Na partida toda, foram 72 lançamentos/ chutões.

Sem a aproximação de algum jogador quando a bola chegava a um dos lados do campo, o Lyon utilizou muitos lançamentos como forma de ligação ao ataque. Já que João Moutinho, Toulalan e Kondogbia balançavam defensivamente e, assim, fechavam as poucas alternativas de passes curtos ao portador da bola adversário. Este tipo de saída com os laterais espetados sem bola e levando o winger adversário é utilizado pelo São Paulo do 2° semestre. Veja:

No São Paulo, o lateral empurra o winger adversário e, assim, gera-se o espaço para qualquer outro jogador da equipe possa utilizar. No flagrante acima, Edson Silva e Kaká aproveitam o espaço gerado pelo avanço sem bola de Álvaro Pereira. Neste ponto, qual das equipes está mais organizada taticamente para sair jogando: o Lyon ou o São Paulo? Como os dois times usam do avanço sem bola do lateral, a comparação é palpável (Reprodução: Sportv).

Mesmo na base do chutão, o Lyon conseguiu abrir o placar, aos 30 do primeiro tempo. Agora atrás do placar, o Monaco começou a propor o jogo. Este time visitante atacava com alternância dos laterais; com muita troca de posição de Toulalan, João Moutinho e Kondogbia durante o início da saída de bola –assim conseguindo se livrar da marcação e realizar diversos passes em profundidade-, e com wingers gerando amplitude durante todo ataque. Como o Lyon se defendia no 4-3-1-2, a marcação a frente dos laterais dependiam da velocidade com que o trio de volante balançasse defensivamente e distância entre os setores poderia ser menor.

No flagrante acima, percebe-se a linha defensiva do Lyon e os três volantes voltando para a composição defensiva. Como eles eram “somente” três e a amplitude estava sendo gerado pelo winger do Monaco oposto do início da jogada, Ocampos recebeu a bola e finalizou a bola no setor onde não havia marcação adversária. Agora, esta situação comparada com o Brasil, há diferenças também (Reprodução: Sportv).

No jogo entre Corinthians x Atlético-PR pelo Campeonato Brasileiro deste ano, percebe-se também o Furacão se defendendo no 4-3-1-2, com os seus volantes balançando defensivamente de acordo com o lado da bola e, também, “cedendo” o lado oposto da jogada. Porém diferentemente do Lyon, o Atlético-PR marcou com as duas linhas próximas e, assim, sem deixar com que a bola passe na entrelinhas (Reprodução: Sportv).


Com o placar empatado, no intervalo, nenhuma das equipes realizou substituição. Entretanto o ânimo de Lyon e Monaco foi maior na segunda etapa. Os times procuravam manter a posse a bola enquanto atacavam e se defendia organizadamente em situação defensiva. A partir do intervalo, o Monaco passou a marcar por zona. Deste modo, os wingers não eram mais empurrados defensivamente pelos laterais do Lyon. Com isso, o time visitante conseguiu avançar a sua marcação, a procurar a superioridade numérica no setor da bola no terço central, mas acabava deixando em igualdade numérica a sua linha defensiva.

Com marcação por zona e o Monaco organizadamente posicionado no 4-1-4-1, o time avançou a sua marcação. Deste modo, o jogador adversário que está com a bola passou a ser pressionado por um ou dois jogadores do Monaco, mas a linha defensiva acabou ficando na marcação individual no terço defensivo. Como a equipe visitante não recuperava a bola mesmo com superioridade numérica, o gol de desempate do Lyon acabou saindo de um lançamento longo onde não houve cobertura defensiva após um drible de Tolisso. No Brasil, este tipo de marcação também é utilizado.

Na partida entre Atlético-PR e Fluminense, o Furacão marcou pressão no terço central do campo e buscando a superioridade numérica no setor da bola. Porém, assim como o Lyon conseguiu, o Tricolor Carioca também saia desse abafa do time adversário através de lançamentos. No caso do flagrante anterior, percebe-se que Valencia –que não estava sendo pressionado devidamente- conseguiu lançar a bola para Cícero que está livre dentro do círculo central do campo.

Depois do gol de desempate do Lyon, as substituições nas duas equipes passaram a ser realizadas. No time mandante, entraram N’Jie, Gourcouff e Koné para as saídas de Mvuemba, Fekir e Malbranque e os novos jogadores posicionaram a equipe no 4-2-3-1. Pelo lado do Monaco, as entradas de Martial, Germain e Kamara nos lugares de Ocampos, Toulalan e Carrasco fizeram o time jogar no 4-2-3-1. Entretanto, sem sucesso para realizar outro tento na partida.

Fim de partida: Lyon e Monaco no 4-2-3-1.

Por Caio Gondo (@CaioGondo)