quarta-feira, 3 de setembro de 2014

O vistoso River, o Boca pós-Bianchi e o clássico de Avellaneda

Buenos Aires amanhecia como se deve, como se desfruta. Os cafés, as calles, as avenidas, gozavam de um domingo repleto de clássicos. As 6 maiores torcidas da cidade se encontravam para três jogos em sequência, confeccionando uma epopeia em dose cavalar para deleite dos "futeboleiros" de alma. 


INDEPENDIENTE X RACING CLUB



Em Avellaneda, Independiente e Racing voltavam a reviver uma rivalidade única, atroz. Após uma temporada na B Nacional, o rojo recebia seu rival de "toda la vida" no antigo Doble Visera, atual estádio Libertadores da América. Nas pranchetas, um duelo entre dois dos mais promissores treinadores da Argentina. De um lado Jorge Almirón, um Lavolpiano confesso, que tenta conduzir o Independiente sempre de maneira agressiva, pouco conservadora, com todos os predicados que o levaram a comandar o pequeno Godoy Cruz à sua melhor campanha na primeira divisão. No banco racinguista, Diego Cocca após conquistar o titulo da B Nacional com o modesto Defensa y Justicia, tenta reproduzir o seu grande trabalho à frente de um dos grandes clubes da Argentina.

O jogo começou com o Independiente assumindo o protagonismo com seu 3-1-4-2 característico. O conjunto albiceleste esperava em 3/4 do campo com suas duas linhas próximas, em menos de 30 metros, bloqueado o ímpeto do quadro local. Gaston Diaz e Ricky Centurión marcavam as subidas dos alas Sergio Escudero e Droopy Gomez; a jovem dupla de volantes racinguista, Ezequiel Videla e Nelson Acevedo marcavam implacavelmente aos dois maiores talentos do rojo, Mancuello e Rolfi Montenegro, ao passo que Penco e Lucero seguiam desconectados do jogo. Eis que, na primeira investida, Centurion fez linda jogada pela esquerda, servindo o inoxidável Diego Milito, o ídolo, que voltava ao clube de seu coração para anotar o primeiro gol da tarde.

A estratégia de Cocca seguia dando certo, com o Independiente controlado, apesar do alto índice de posse de bola. Até que Milito cometeu uma falta duvidosa na entrada área; Mancuello cobrou e Penco, após nova falha da dupla de zaga do Racing na bola parada -  assim como do veterano arqueiro Saja - anotou o empate. Dali em diante o Racing se perdeu, ainda mais após a saída de Milito com uma lesão muscular. Para acompanhar a Gabriel Hauche, Cocca optou pelo garoto Bou, que pouco fez. Minutos depois, em nova jogada pelo setor esquerdo, sempre às costas de Grimi, Montenegro fez um cruzamento preciso para que Mancuello colocasse o rojo em vantagem.


No segundo tempo, o Independiente mesmo sem criar grandes chances, seguia com o domínio do cotejo. Mancuello foi deslocado para a ala esquerda após a lesão de Escudeiro. Vidal, que na previa estava cotado para jogar, ingressou na cabeça de área, liberando Bellocq como segundo volante. O Racing foi pra cima apenas nos últimos 15 minutos com as entradas de Marcos Acuña e Villar. O Racing passava a atuar no 3-4-3 que permitia encurralar o independiente. O rojo se fechava no 5-4-1 tão em vogo no último mundial - esquema patenteado por Ricardo La Volpe, técnico argentino e mestre de Jorge Almirón. O Racing mostrava sua total falta de ideias, abusando de cruzamentos inofensivos que consagravam Cuesta, Tula e Figal. No final, o 2 a 1 refletia a singela superioridade do Independiente diante um apático Racing.



BOCA JUNIORS X VELEZ SARSFIELD




Cruzando o Riachuelo, o Boca recebia o líder Velez em La Bombonera, após a semana tumultuada que culminou com a demissão de Carlos Bianchi. Em sua terceira passagem por La Boca, El Virrey demonstrou estar totalmente desatualizado, abusando do esquema 4-3-1-2 mesmo sem ter um enganche clássico - após a saída de Riquelme. Em seu lugar assumia Rodolfo "el Vasco" Arruabarrena, que como lateral esquerdo, venceu a Libertadores de 2000 sob o comando de Bianchi. 

Logo no primeiro jogo vimos um Boca diferente, mais intenso, coeso, compacto e com um novo esquema tático: o 4-1-4-1 que afundou o Velez para dentro de campo. Na zaga novidades: Mariano Echeverria estreava ao lado de Cata Diaz, dando maior firmeza, ao passo que na lateral esquerda Colazo, meia de origem, melhorava o passe na saída de jogo. No meio de campo Pichi Erbes ficava como o único volante pegador, liberando Gago e Meli para se alinharem aos ponteiros, Carrizo e Luciano Acosta. No comando de ataque, outra aposta de Arruabarrena se constituía na figura do jovem centroavante Calleri. 

O Velez não demonstrava os argumentos de suas 4 vitorias iniciais. O time comandado por Turu Flores estava apático no seu 4-4-2 britânico, onde Milton Caraglio e Lucas Pratto ficavam desconectados do jogo. Apesar do domínio territorial e de possessão, o Boca saiu atrás do marcador após linda jogada individual de Jorge Correa que culminou em um verdadeiro golaço




Na segunda etapa o Boca saiu ainda mais decidido. Com as linhas adiantadas e o ingresso do intrépido Andrés Chavez, o conjunto xeneise sufocou o Velez até conseguir a virada, sempre pelo lado esquerdo do ataque com a sociedade entre o tridente Gago/Colazo/Chavez. No final um 2 a 1 emblemático, com a cara xeneise e uma luz no fim do túnel para o Boca Juniors nessa temporada. 


SAN LORENZO X RIVER PLATE



Em Bajo Flores, o San Lorenzo recebia o vistoso River Plate de Marcelo Gallardo, flamante campeão argentino, que com uma vitória assumiria a liderança do Torneio Transición. Com a inesperada saída de Ramon Diaz após o título do Torneio final, a diretoria do River resolveu apostar em Marcelo Gallardo, ídolo dos anos 90, para assumir a bronca e potencializar seus principais talentos. El Muñeco teve apenas uma experiencia marcante como técnico no Nacional do Uruguai. Apesar do currículo curto, Gallardo vem mostrando as qualidades de um treinador atualizado ao que acontece nas principais ligas. 

A primeira decisão foi manter o mesmo 4-3-1-2, o de certo modo obsoleto losango no meio de campo da era Ramon Diaz - que foi seu treinador na conquista da Libertadores de 1996 e da Supercopa de 1997 - porém com premissas distintas. Este River é mais compacto, pressiona o adversário com as linhas adiantas, além de sair sempre com a bola do chão, até mesmo com Barovero, seu goleiro, evitando a ligação direta.

 O San Lorenzo ainda goza o título da Libertadores e demonstra um certo desinteresse com o torneio local. Vimo neste domingo, um ciclón sem intensidade, que foi totalmente dominado pelo River, em pleno Nuevo Gasometro. Postado no 4-2-2-2 tradicional, o conjunto azulgrana se fechou na espera de um contra-ataque, este que surgiu logo nos primeiro minutos, possibilitando o gol de Mauro Matos aos 6 minutos. Dali em diante foi um monologo do River Plate, que com passes curtos e pressão alta, tomou conta do campo e da posse de bola.

Um dos grandes destaque do River nesse começo de temporada é Matias Kranevitter. O jovem volante vem ganhando espaço com Gallardo na função de primeiro volante. Inteligente e perspicaz, Kranevitter muitas vezes faz a função de líbero, auxiliando Ramiro Funes Mori e Jonathan Maidana na saída de bola. Os laterais, Mercado e Vangioni sobem sempre ao ataque, atuando quase sempre na linha dos volantes. No meio campo, Ariel Rojas e Carlos Sanchez fecham os lados do meio de campo, qualificando o passe curto, fazendo a bola chegar redonda a Pisculichi, o novo enganche millonario. Pisculichi foi o grande nome do jogo anotando o gol de empate e fazendo uma jogada brilhante no segundo gol. 

No comando do ataque Teo Gutierrez vem gastando a bola. O seu companheiro de ataque é o uruguaio Rodrigo Mora, que estava emprestado a Universidad de Chile, e teve seu retorno antecipado graças a séria lesão de Fernando Cavenaghi. Depois de muito tempo o River alegra e ilusiona os seus torcedores.

Por Felipe Bigliazzi (@FelipeBigliazzi)