A primeira apresentação da seleção brasileira pós-desastre
foi sob o velho comando de Dunga. Na escalação inicial, oito jogadores que estiveram
na Copa do Mundo, sendo cinco titulares do time de Felipão. Não houve grande
renovação, mas o novo técnico corrigiu alguns problemas – nem todos – e já deu
sua cara ao time brasileiro.
Dunga mandou o Brasil a campo em um 4-2-3-1 muito
parecido com o que foi constante em sua primeira passagem, mas com mais talento
nas posições e maior dinâmica entre os homens de frente, abrindo mão até certo ponto do jogo reativo e transicional da primeira passagem, apesar de manter o contra-ataque como arma. Num primeiro momento,
o maior diferencial de Dunga com relação a Felipão foi escalar os atletas nas
funções às quais se sentem mais à vontade.
Willian era o meia aberto pela direita, mas que centralizava para auxiliar os volantes na transição. Volantes que organizam o jogo a partir de trás são raros no futebol brasileiro atualmente e os que têm essa característica, como Jorginho (Napoli) e Lucas Silva (Cruzeiro), não foram lembrados na convocação. Neste sentido, Dunga viu em Willian uma alternativa para suprir a necessidade de ligar o setor de defesa ao de meio-campo, evitando a ligação direta, irritantemente comum no Mundial.
Willian era o meia aberto pela direita, mas que centralizava para auxiliar os volantes na transição. Volantes que organizam o jogo a partir de trás são raros no futebol brasileiro atualmente e os que têm essa característica, como Jorginho (Napoli) e Lucas Silva (Cruzeiro), não foram lembrados na convocação. Neste sentido, Dunga viu em Willian uma alternativa para suprir a necessidade de ligar o setor de defesa ao de meio-campo, evitando a ligação direta, irritantemente comum no Mundial.
No primeiro tempo, Willian centralizou em vários
momentos para auxiliar na organização do time
Oscar voltou a atuar no centro da linha de três do
4-2-3-1, onde sua capacidade de armação e qualidade no último passe podem ser
melhor aproveitadas, mas mesmo assim não teve muito destaque. Na posição
preferida, o meia do Chelsea não brilhou por não estar realmente em grande fase,
e a discussão agora não é mais onde ele deve ser escalado, e, sim, se ele deve
continuar como titular, com Phillippe Coutinho, Paulo Henrique Ganso, Ricardo Goulart e Everton Ribeiro pedindo
passagem.
Neymar e Diego Tardelli revezavam a referência e o
lado esquerdo do ataque, conjuntura interessante não só para confundir a
marcação e abrir corredor para o lateral, mas para diminuir as
responsabilidades do novo capitão da Seleção sem a bola, já que Neymar nunca
demonstrou grande comprometimento defensivo e Tardelli é muito mais voluntarioso
neste sentido. O problema é que a distância dificulta a recomposição
centro-flanco, deixando o setor vazio em muitas ocasiões. A opção de Luiz Gustavo
como primeiro volante se justifica ainda mais agora, já que sem alguém como Hulk para recompor o lado esquerdo assiduamente, a necessidade de cobertura por parte dos volantes é maior.
Mapa de movimentação de Luiz Gustavo: com a
recomposição apenas eventual dos atacantes, o cão-de-guarda teve que constantemente
dobrar a marcação com Filipe Luís pela esquerda, principal área de atuação de
Cuadrado, o homem mais perigoso da Colombia na primeira parte
(Reprodução/Footstats)
Jose Pekerman escalou sua seleção em um 4-2-3-1
parecido com o do Brasil, com Jackson Martínez e James Rodríguez dividindo a
recomposição pela esquerda. No ataque, a falta de inspiração do camisa 10
deixava Cuadrado sobrecarregado na criação e a Colombia esteve muito longe do
que demonstrou na Copa, apesar de apresentar a mesma estrutura e os mesmos jogadores.
Seleções espelhadas tanto no esquema tático quanto na
preguiça para atacar
Na volta do intervalo, Dunga trocou os dois
volantes e testou Elias e Fernandinho nas vagas de Ramires e Luiz Gustavo. A
intenção era melhorar a chegada no ataque sem perder o meio-campo. Logo no
início, o árbitro aplicou segundo cartão amarelo para Cuadrado, excluindo o
colombiano da partida. A rigorosa expulsão, especialmente em se tratando de um amistoso, acabou
com o planejamento de Pekerman, que já havia manifestado falta de interesse no
jogo, e prejudicou também o teste de Dunga.
Com a expulsão de Cuadrado, Brasil teve menos
preocupação com a recomposição e pôde atuar com losango no meio-campo e com
Tardelli e Neymar sem responsabilidades defensivas
Com um homem a mais e a saída de Luiz Gustavo,
Dunga passou a atuar em um 4-3-1-2, com Oscar como enganche na posse da bola e
recompondo eventualmente uma segunda linha de quatro pela esquerda sem ela. Com mais espaço
para jogar, o camisa 11 melhorou um pouco seu rendimento, principalmente com o suporte
de Willian e Elias na armação.
Losango no meio-campo deu mais liberdade de
movimentação para o ataque brasileiro
Mesmo com mais espaços, o Brasil teve dificuldades
para furar o 4-4-1 tradicional que é armado quando um time tem inferioridade
numérica. Sem pretensões na partida, Pekerman cedeu aos apelos dos mais de 70
mil torcedores que gritavam o nome de Falcao García e colocou o novo jogador do
Manchester United em campo. As entradas de Falcao e Carlos Bacca acabaram com o
4-4-1, que tinha Teo Gutiérrez e James Rodríguez fechando os flancos, e a
Colombia passou a atuar com uma trinca de meio-campo, liberando os dois
atacantes. O maior espaço pelos lados, somado às boas entradas de Coutinho e,
principalmente Everton Ribeiro, acabaram por possibilitar à seleção brasileira mais
agressividade, concentrando as jogadas pelo lado direito, com maior subida de
Maicon, que aproveitava o corredor deixado pela centralização de Everton com a bola.
Coutinho auxiliava a organização ao lado de Elias por dentro e, com maior desenvoltura,
o Brasil conseguiu o gol da vitória no fim, em cobrança de falta magistral de
Neymar, que voltou a decidir um jogo para a Seleção.
Entradas de Everton Ribeiro e Coutinho melhoraram a
Seleção contra a já entregue Colombia
Ignorando qualquer discordância com relação ao nome
de Dunga para novo técnico da seleção brasileira, ou à sua primeira lista de
convocados, ou até à sua escalação inicial, é necessário fugir um pouco da
análise torcedora e da análise com má vontade, ambas muito comuns no Brasil. Prezando
pela honestidade e justiça, é possível entender que Dunga evoluiu um pouco taticamente
desde sua primeira passagem pela Seleção e de sua saída do Internacional. O
técnico apresenta um maior de repertório, apesar de ter como base o mesmo
sistema de jogo, e demonstra conhecer bem seus convocados, escalando todos nas
funções em que se sentem mais à vontade. O único 'sacrificado' foi Willian, mas
não se pode dizer que ele não tem capacidade ou que nunca executou a função tática importante que
lhe esteve incumbida no amistoso contra a Colombia. Basta acompanhar os jogos
do Chelsea.
Dunga não é o técnico dos sonhos de ninguém que
realmente quer ver o futebol brasileiro se reconstruir, mas, para a política de
resultados que a CBF parece procurar, deve ser suficiente e, apesar de a partida
inaugural não ter enchido os olhos de ninguém, pode ser considerada satisfatória.
Isto dentro do que se pode esperar de Dunga e da atual geração e não do que
realmente se almeja para o futebol brasileiro.
Por João Marcos Soares (@JoaoMarcos__)