Arrasador nos minutos iniciais, São Paulo bate o Goiás no Morumbi

Disposições táticas iniciais das duas equipes.

No Morumbi, o São Paulo conseguiu uma fácil vitória por 3 a 0 diante da boa equipe do Goiás. O Tricolor Paulista consolidou seu modelo de jogo, mesmo sem Kaká e Alexandre Pato(duas peças fundamentais no time, tanto tecnicamente quanto taticamente) dando um show à parte no aspecto de mobilidade com a bola e obediência/comprometimento sem a bola. 

O São Paulo de Muricy Ramalho foi num 4-2-3-1 que virava 4-4-2 em linhas quando perdia a posse de bola. Começou na base da imposição de estilo e agressividade, atacando e jogando na intermediária defensiva goiana. Os dois primeiros gols nos primeiros 5 minutos de jogo deram mais confiança e tranquilidade para os paulistas e complicaram a vida dos goianos. O quarteto de frente do SPFC se mexia bastante, com total fluidez, muitas trocas de posição, aproximações e deslocamentos visando oferecimento de linhas de passe próximas ao portador da bola e geração de espaços. Ganso e Michel Bastos centralizavam bastante(com o primeiro também infiltrando no entrelinhas para a recepção do passe às costas dos volantes adversários), de modo a gerar corredores laterais a serem atacados por Hudson e Álvaro Pereira, enquanto que Kardec aprofundava ao centro, mas também balançava pros lados, protegia a pelota e buscava o passe de ruptura, e Luís Fabiano dava profundidade ao ataque, "empurrando" os zagueiros adversários pra trás.

Sem a bola, o São Paulo iniciava a marcação em bloco médio-alto, com troca de ação ofensiva-defensiva rápida(com seus homens de frente já iniciando a pressão logo após a perda a posse e em campo ofensivo), negando espaços, buscando fechar as linhas de passe verticais, subir suas linhas de marcação para complicar a saída de bola adversária e bloquear a transição da defesa para o ataque, e facilitar as roubadas de bola por parte do time paulista. Já o Goiás, tinha muitas dificuldades para jogar com a bola(foi encurralado pelo Tricolor Paulista), manter a pelota em sua posse/circulação, propor o jogo e criar espaços na fase de ataque organizado. Em fase defensiva, caracterizava-se pela compactação curta(muito utilizada também pelo São Paulo) num bloco mais baixo, postando suas linhas dentro da própria intermediária defensiva e alternando o posicionamento/desenho tático defensivo entre 4-4-2, 4-4-1-1 e 4-1-4-1(com predominância dos dois primeiros). No segundo tempo, Ricardo Drubscky tentou ter mais presença de área com a entrada de Bruno Mineiro, porém, não obteve sucesso. O SPFC buscou a manutenção/retenção da posse em campo ofensivo, aumentando o placar com gol de Alan Kardec após cobrança de escanteio. 

Nos flagrantes abaixo, pode-se observar alguns dos aspectos táticos apresentados pelas duas equipes nessa partida:

No primeiro flagrante, observa-se a compactação curta entre as três linhas são-paulinas. Posicionamento em bloco médio-alto, com a linha defensiva subindo bastante na intermediária para manter a compactação/curta distância. No segundo flagrante, o Goiás tem a bola pelo lado direito de seu ataque. A linha defensiva bascula para o lado atacado e 3 dos 4 componentes da linha de meio fazem esse balanço defensivo, porém, o winger oposto não fecha por dentro para "se voltar" para o setor da bola, fixando-se no lateral-esquerdo Lima(que não subiu ao ataque nessa jogada, pois o Goiás atacou somente com um lateral, que foi Felipe Macedo) e deixando um grande espaçamento entre ele e os dois volantes no entrelinhas, que poderia ser explorado pelo volante David numa centralização de bola por parte da equipe goiana. 

 Novamente o winger oposto são-paulino não centraliza para fazer a basculação para o lado da bola com a linha de meio. Ramon(o winger do lado oposto) fecha em diagonal e atrai o lateral-direito Hudson, abrindo o corredor para o lateral. Na sequência da jogada, o Goiás vira o jogo da direita pra esquerda e Michel Bastos, que se fixou individualmente no lateral-esquerdo Lima, não consegue acompanhá-lo perfeitamente para impedir o cruzamento. Na área, ficam postados os quatro componentes da linha defensiva. Ramon atrai Edson Silva e Erik vem na diagonal curta, carregando Álvaro Pereira e abrindo o espaço para Thiago Mendes entrar no facão e ser opção de conclusão na segunda trave(totalmente livre de marcação). 

Nos escanteios defensivos, os dois times marcavam por zona com 7 jogadores dentro da área. No último flagrante, observa-se o lance de bola parada que originou o primeiro gol do São Paulo. 6 jogadores marcam por zona e um jogador marca individualmente no canto direito da tela. Alan Kardec traça a diagonal curta pra primeira trave e "limpa" a zona pra Edson Silva atacar com rapidez e impulsão, cabeceando no canto esquerdo do goleiro Renan. 

Marcação pressão avançada do São Paulo no lance do segundo gol. Com os três meias alinhados dentro da intermediária defensiva goiana, por trás de Luís Fabiano. Alan Kardec tira a linha de passe para um volante, Luis Fabiano faz o "para-brisa" mais à frente, pressionando e buscando induzir os zagueiros adversários ao erro, enquanto que Michel Bastos fica posicionado de modo a poder pressionar mais de perto o lateral-direito ou um dos volantes. O mesmo ocorre com Ganso no lado oposto, que pode pressionar mais de perto o lateral-esquerdo ou zagueiro do lado oposto do portador da bola. O homem da bola tenta a saída com Felipe Macedo na direita, porém, Michel Bastos pressiona, rouba, progride verticalmente pelo flanco, atraindo o zagueiro da direita para a cobertura e acionando a diagonal curta de Luis Fabiano, que chega no espaço entre os dois zagueiros para marcar. 

Ganso centraliza pra armar o jogo e Michel Bastos também se desloca para fora do setor esquerdo, atraindo um dos volantes. Luis Fabiano atrai o lateral-direito Felipe Macedo, de modo a deixar um imenso corredor livre para Álvaro Pereira, que apoia simultaneamente ao lateral-direito Hudson, de modo que o São Paulo consegue ter amplitude, mas também profundidade, já que Kardec aprofunda ao centro e assume a função que seria de Luis Fabiano, "prendendo" os zagueiros e "empurrando" a linha defensiva goiana para trás. 

Álvaro Pereira recebe na esquerda, atrai Felipe Macedo pro combate e aciona Denilson, que faz a diagonal pra desbordar pelo flanco às costas do lateral e buscar a investida na direção da linha de fundo, exigindo o acompanhamento individual de David(que na origem do lance, estava encaixando em Ganso). Enquanto isso, Kardec e Luis Fabiano igualam o 2x2 com os zagueiros goianos e Michel Bastos atrai o lateral oposto "pra dentro".

O lateral-direito Felipe Macedo foi subir pressão na intermediária e deixou um gigantesco espaço às suas costas. Alan Kardec fez a diagonal centro-esquerda pra explorar espaço, atraindo o zagueiro Jackson para combatê-lo, enquanto que Luis Fabiano atrai Pedro Henrique, gerando o espaço entre os dois zagueiro, que vai ser atacado por Michel Bastos, que se projeta em alta velocidade para receber no vazio dentro da grande área e o volante Amaral não consegue acompanhá-lo até o final. 

Na saída de bola do São Paulo, Ganso recuou para receber/oferecer linha de passe curta ao lateral-direito Hudson e o lateral-esquerdo Lima subiu o encaixe para persegui-lo individualmente em sua descida ao campo defensivo são-paulino. Isso deixou espaços às suas costas, porém, estes foram bem cobertos pelo volante Amaral. O volante são-paulino Souza deixa o centro e busca a diagonal para opcionar passe em profundidade nas costas da defesa pelo flanco direito do ataque tricolor, enquanto que Ganso vem ocupar o espaço deixado pelo volante no meio-campo. Posteriormente, Souza recua para o meio e Ganso tenta a ultrapassagem pra opcionar a esticada, porém, Ramon executa corretamente o princípio do encaixe no setor e o persegue nessa tentativa de ataque ao vazio. Michel Bastos centraliza e carrega o lateral-direito Felipe Macedo "pra dentro", gerando o corredor pra Álvaro Pereira. Porém, daí vem uma pergunta: Cadê o winger oposto do Goiás? Está fixo individualmente em Álvaro Pereira, que abriu na esquerda para opcionar a virada! Pois é, assim como os wingers do São Paulo, os do Goiás tinham defensivamente, predominantemente apenas a referência fixa individual no lateral adversário. 

No segundo tempo, Luis Fabiano passou a ter mais mobilidade no ataque após a saída de Alan Kardec(coincidência ou não, é fato!), deslocando-se para os lados, buscando a aparição no entrelinhas, saindo mais da área e buscando abrir espaços no sistema defensivo goiano para as infiltrações dos companheiros, principalmente de Osvaldo(que substituiu Kardec e abria bastante na direita pra formar uma sociedade triangular no setor com Michel Bastos, que inverteu de lado com Ganso na segunda etapa, e Hudson). No primeiro flagrante, Luis Fabiano se projeta na entrelinha adversária, atraindo o zagueiro Pedro Henrique pro combate e gerando o espaço pra Osvaldo atacar o vazio na área, às costas deste zagueiro e no espaço entre ele e o lateral-esquerdo Lima, recebendo em boas condições para concluir a jogada. No segundo flagrante, Hudson tem a opção de passe com Michel Bastos(encaixado por Lima) e Luis Fabiano, já que o Fabuloso faz a diagonal pra deixar o centro do ataque e balancear ofensivamente para o lado direito, carregando consigo a marcação do zagueiro Pedro Henrique e abrindo o espaço pra infiltração de Osvaldo, porém, Amaral executa bem o princípio do encaixe no setor e cobre o espaço vazio no setor deixado pelo zagueiro que saiu na perseguição/caça setorial curta, bloqueando a tentativa de jogada com Osvaldo no vazio. 

No primeiro flagrante, observa-se o posicionamento defensivo do Goiás no 4-1-4-1, com David subindo o bote e alinhando-se na mesma altura de Esquerdinha. Cada um dos dois tirava a linha de passe para cada um dos volantes adversários, enquanto que Amaral encaixa em Alan Kardec e os wingers fechavam com os laterais adversários, deixando Erik um pouco mais à frente nessas ocasiões. No segundo flagrante, observa-se os 10 jogadores de linha do time goiano ocupando um curtíssimo espaço do campo e com suas linhas balanceando perfeitamente para o lado da bola, e também fazendo bem os encaixes, com um dos volantes encaixando em Michel Bastos durante sua centralização, o outro pressionando o portador da bola, Esquerdinha fechando a opção de passe com um dos volantes, o lateral do lado da bola subindo o encaixe em Ganso(que recua para oferecer linha de passe vertical ao homem da bola) e Ramon encaixando em Hudson, que tenta atacar o espaço às costas de Lima. No terceiro flagrante, o Goiás também faz corretamente o balanceamento pro setor da bola, com o winger oposto centralizando e fechando com um dos volantes, enquanto que Esquerdinha tira a opção de passe com o outro volante. Nos dois últimos flagrantes, observa-se novamente a compactação curta goiana entre as linhas de defesa e meio. Nos mesmos, ocorre o mais comum: Fixação individual do winger(oposto) no lateral(oposto) adversário, deixando de balancear defensivamente para apenas acompanhá-lo individualmente no setor.

*Por João Elias Cruz(@Joaoeliascruzzz)