quinta-feira, 30 de outubro de 2014

Estratégia de Luxemburgo decide e Flamengo abre boa vantagem nas semifinais da Copa do Brasil

A Copa do Brasil de 2014 tem sido uma das mais emocionantes dos últimos anos. O formato com a participação dos times que estiveram na Libertadores durante o primeiro semestre favorece a competitividade e possibilita que grandes equipes do futebol nacional cheguem às fases mais agudas. As semifinais desta edição contam com Cruzeiro e Santos em uma perna e Flamengo e Atlético-MG na outra.

Flamengo e Atlético são times históricos dentro de futebol brasileiro e têm uma rivalidade especial cultivada, sobretudo, nos anos 80. O Galo, tido como freguês pelo rubro-negro carioca, chegou para o primeiro embate no Maracanã em ótima fase, tendo batido o Corinthians em um confronto antológico no Mineirão na fase anterior e, no Brasileirão, o time dirigido por Levir Culpi vive seu melhor momento, ocupando a terceira colocação. O Flamengo de Vanderlei Luxemburgo também vive boa situação e, praticamente livre do fantasma do rebaixamento, vai tentando manter a regularidade no campeonato brasileiro e buscando o bicampeonato da Copa do Brasil.

Sem o mais uma vez lesionado Guilherme, o grande responsável pela classificação heroica do Galo contra o Corinthians, Levir Culpi resolveu montar um Atlético um pouco diferente das últimas partidas para visitar o Rio de Janeiro. Dátolo, que vinha atuando muito bem um pouco mais atrás, foi adiantando para trabalhar na meia central de uma linha de três jogadores, que também contava com Carlos e Maicosuel, que ganhou a vaga de Luan pelos lados. Com isso, Pierre voltou ao meio-campo para fazer uma dupla de volantes mais consistente ao lado de Josué, enquanto Diego Tardelli era o homem mais avançado sem a bola, mas que, com ela na posse do Galo, percorria todos os setores do terço ofensivo com extrema liberdade de movimentação.

Sem surpresas, o Flamengo foi a campo em seu sistema tradicional sob o comando de Vanderlei Luxemburgo, o 4-4-2 que tem Márcio Araújo e Everton fechando os lados, Victor Cáceres como volante de contenção e Hector Canteros organizando o rubro-negro com a bola, aguardando as sempre eficientes subidas dos laterais, Leo Moura e João Paulo. À frente, Gabriel e Eduardo da Silva tentam se movimentar para dar opções aos companheiros, com Eduardo sendo o homem que dá profundidade aos passes por dentro e faz a referência para os cruzamentos na área. Gabriel é a alternativa de velocidade para os contra-ataques e individualidade para quebrar a marcação adversária com base no improviso.

Flamengo em seu sistema tradicional e Galo abandonando o 4-4-2 para atuar em um 4-2-3-1 um pouco mais reativo e sem a mesma mobilidade

Com a bola, o Atlético-MG buscava movimentação entre seus três homens mais avançados, tendo Tardelli recuando e Carlos infiltrando entre os zagueiros flamenguistas para fazer o papel da referência quando da saída de Tardelli. Sem a bola, o time mineiro fechava-se em duas linhas de quatro, sendo a segunda formada pelo recuo de Maicosuel e Carlos pelos extremos. Dátolo acompanhava a marcação e tentava atrapalhar a saída de bola do meio-campo rubro-negro, enquanto Diego Tardelli ficava mais à frente para brigar por um eventual chutão e também para marcar as trocas de passes dos zagueiros do Flamengo, que raramente aconteciam, já que o time de Luxemburgo pouco tinha a bola e, quando a mantinha em sua posse, era bastante vertical.

Duas linhas de quatro do Galo: bastante compactas, mas sem sincronia no balanceamento. Enquanto a linha de defesa balançava para o lado esquerdo, a de meio-campo balançava para o direito. O lançamento, neste caso, era em profundidade para Eduardo, mas, se fosse para João Paulo, bem aberto na esquerda, poderia passar por Carlos e não ter a cobertura de Marcos Rocha (Reprodução: Rede Globo)

O Flamengo também tinha suas duas linhas de quatro na fase defensiva, que balançavam um pouco melhor que as do Atlético. No primeiro tempo, o time da casa teve algumas chances para abrir o placar, possibilitadas por espaços na defesa atleticana. O Galo, por sua vez, esbarrava na rigidez das duas linhas rubro-negras e pouco criava na primeira etapa, tendo apenas duas chances: uma infiltração de Marcos Rocha, que provocou superioridade numérica ao Galo na área adversária e possibilitou ao lateral-direito uma cabeçada perigosa. Marcos Rocha também foi o protagonista da segunda boa oportunidade atleticana na etapa inicial, em um chute despretensioso, mas que assustou a meta de Paulo Victor.

4-4-2 rubro-negro pouco cedeu espaços para o menos veloz, mas ainda móvel ataque atleticano (Reprodução: Rede Globo)

A opção de Levir por Dátolo mais avançado pareceu ter a intenção de contar com o argentino próximo da área adversária, possibilitando, assim, um homem de maior qualidade para buscar o passe de ruptura com direção aos três atacantes. A alternativa poderia ter dado mais certo se Dátolo estivesse em um dia mais feliz, entretanto, o camisa 23 tinha bastante dificuldades de se movimentar no entrelinhas e errou passes simples durante toda a partida, irritando Levir Culpi desde o primeiro tempo. A ideia de ter Dátolo mais à frente, além de suprir a falta do último passe causada pela ausência de Guilherme, também pode ser explicada pela maior confiança que Levir tem em Josué para executar a saída de bola, em comparação com Leandro Donizete, que vinha atuando como primeiro volante antes de se lesionar. Josué acertou incríveis 80 passes no Maracanã. O segundo colocado no fundamento foi Leo Moura, com 57, 23 a menos.

Ainda no fim do primeiro tempo, Márcio Araújo passou a compor uma trinca de volantes e Gabriel abriu pela direita, mas o desenho não se manteve para a segunda etapa, quando o time voltou para o 4-4-2. Mesmo com o Flamengo tendo as chances mais claras, a partida não foi dominada por nenhum dos times, mantendo-se equilibrada durante os 90 minutos. Já que nenhuma das duas equipes teve o controle do jogo, o duelo acabou decidido na melhor estratégia, que foi traçada por Vanderlei Luxemburgo. Alcançando um gol a partir de uma bola parada para abrir o placar, o técnico rubro-negro resolveu modificar suas peças e o desenho tático do time em campo. Entraram Luiz Antônio, Nixon e Amaral nos lugares de Everton, Eduardo e Canteros. Com isso, o Flamengo passou a se postar em um 4-5-1 bastante reativo, que tinha Amaral, Cáceres e Luiz Antônio formando um trio de volantes, Márcio Araújo e Nixon fechando os flancos e Gabriel solto à frente em uma zona morta para usar sua velocidade para o contragolpe que era a esperança flamenguista de ampliar o resultado favorável para ter mais tranquilidade no segundo jogo. Neste sentido, a ideia de Vanderlei foi extremamente bem sucedida e, em um dos contra-ataques puxados por Gabriel, Josué cometeu pênalti bizarro e desnecessário no camisa 17 flamenguista. O experiente Chicão, de atuação bastante segura também na defesa, foi para a cobrança e anotou o segundo gol.

Lance do pênalti sofrido por Gabriel, que arrancou sozinho desde o campo defensivo sem ser parado pela marcação atleticana. No momento da infração, Gabriel estava sozinho e o Galo tinha quatro atletas na jogada e mais Alex Silva vigiando a chegada de Nixon mais atrás. Mesmo assim, Josué acabou cometendo o pênalti desnecessário que frustrou as expectativas do Atlético de conseguir pelo menos um empate no Maracanã (Reprodução: Rede Globo)

Sem muitas alternativas, Levir mandou o Galo pra cima para tentar pelo menos um gol fora de casa. Não bastasse o placar desfavorável, a ideia do técnico de colocar André para ter uma referência na área e buscar a bola aérea ainda foi por água abaixo pela lesão do lateral Douglas Santos, que fez o Galo queimar sua última substituição. Sem a referência para buscar o empate no abafa, o Atlético teve que tentar infiltrar na ainda mais rígida defesa rubro-negra com a bola no chão, o que dificultou ainda mais o trabalho ofensivo do time mineiro, já que o Flamengo estava muito bem postado defensivamente e não cedia qualquer espaço. A única grande chance atleticana surgiu a partir de uma jogada de bola parada, que sobrou para finalização da entrada de área de Marion, que Paulo Victor defendeu e, no rebote, Dátolo chutou novamente em cima do goleiro, desperdiçando a principal oportunidade do alvinegro na partida.

Flamengo fechou-se no campo defensivo e, no contra-ataque, conseguiu construir uma ótima vantagem para o jogo da volta

Com o resultado, o Flamengo consegue até mais do que esperava e, agora, deve ir a Belo Horizonte para jogar de maneira reativa e segurar a vantagem, usando o exemplo negativo do Corinthians para não deixar escapar a classificação à final. Everton, que saiu machucado no segundo tempo, é provável baixa para o rubro-negro carioca, que sentiria muito sua ausência como única opção de desafogo pelos lados, já que Márcio Araújo pouco colabora com a fase ofensiva pela direita.

O Galo, por sua vez, tentará reverter mais uma desvantagem, como fez notadamente na Libertadores do ano passado e nas quartas-de-final contra o Corinthians, desta vez contra o Flamengo, algoz histórico do time mineiro. Para tanto, Levir Culpi sonha em poder ter Guilherme novamente disponível para montar sistema parecido com o que tem dado tão certo no segundo turno do Brasileirão e que foi muito bem no jogo da volta contra o Corinthians, pela Copa do Brasil.

*Dados estatísticos retirados do Footstats

Por João Marcos Soares (@JoaoMarcos__)