Em Belo Horizonte, o Atlético-MG recebeu o São
Paulo para mais um confronto direto na briga por vaga na Libertadores. Por
conta de lesões, suspensões e convocações para seleções nacionais, as equipes
chegaram ao Independência para um jogo tão importante com vários desfalques da
defesa ao ataque e com poucas opções inclusive para o banco de reservas.
Em relação ao jogo anterior contra o Fluminense,
Levir Culpi modificou apenas a dupla de ataque. Com a impossibilidade de
utilizar Guilherme e Jô por motivos diferentes, o técnico atleticano optou por
Maicosuel e André, conservando até certo ponto as características dos homens de
frente. Apesar de repetir a estrutura tática que enfrentou o tricolor carioca
no Maracanã, Levir modificou a proposta de jogo para o duelo contra o tricolor
paulista, abdicando da atitude reativa que abusava da velocidade do
contra-ataque e das ligações diretas e resolvendo fazer um jogo franco dentro
de casa, buscando o ataque sempre que tinha a bola e com um pouco mais de
paciência na transição ofensiva, sem deixar de usar a velocidade quando
necessário e muito menos abrindo mão da compactação de suas linhas na fase
defensiva.
O São Paulo de Muricy Ramalho, sem Kaká e Paulo
Henrique Ganso, também manteve a conjuntura habitual, mas com modificações relevantes
em termos de características das peças substitutas. Osvaldo e Michel Bastos
atuaram abertos bem como os titulares indisponíveis, mas dando agressividade pelos
lados, ao invés de centralizarem para armar o jogo, função que ficava a cargo
de Denílson e Maicon, os volantes. Neste sentido, há que se destacar as
participações dos volantes são-paulinos (Denílson e Maicon) e atleticanos
(Leandro Donizete e Dátolo), que trabalharam tipicamente como box-to-box e chegavam de área a área
para marcar a construir com a mesma intensidade, mostrando o que há de mais
moderno no futebol atual.
Times com sistemas táticos iguais, inclusive com
dinâmicas bastante semelhantes, seja na fase ofensiva ou na defensiva
O Atlético fazia sua recomposição defensiva com
duas linhas bastante compactas em bloco médio, mas, diferente dos duelos contra
Cruzeiro e Fluminense, quando o sistema tático foi repetido, o Galo mineiro não
esperava o adversário em seu campo e adiantava sua marcação sempre que podia
para forçar o erro dos defensores e volantes do São Paulo. O mais interessante
era a movimentação que era possível observar entre Luan, Carlos e Maicosuel.
Apesar de Luan e Carlos iniciarem como wingers
e Maicosuel começar o jogo mais perto de André, os três trocavam de posição
constantemente de maneira coordenada, sem comprometer a recomposição defensiva.
Outro fator a se mencionar é a tentativa de executar a transição ofensiva com a
bola no chão, ao contrário da partida contra o Fluminense, quando se viu muitos lançamentos longos para Jô e Guilherme à frente.
4-4-2 atleticano tinha as duas primeiras linhas
bastante próximas, Maicosuel marcando a saída dos volantes e André atrapalhando
a troca de passes dos zagueiros (Reprodução: Bandeirantes)
A proposta de jogo são-paulina era semelhante a do
rival, com uma diferença notável que era a falta de mobilidade entre os quatro
homens de frente. Apesar de trabalharem bem em suas funções, Osvaldo, Michel
Bastos, Alexandre Pato e Alan Kardec não trocavam de posições entre si,
mantendo uma formação com cada integrante tendo seu papel bem claro dentro de
campo. Mesmo tendo menos a bola no primeiro tempo, o São Paulo manteve um
equilíbrio nas ações e criou mais chances e Victor foi mais acionado do que
Rogério Ceni, sobretudo através de ações criadas pelo lado esquerdo, com
Reinaldo e Osvaldo.
São Paulo também tinha linhas próximas e bastante
rígidas, que dificultavam o trabalho ofensivo atleticano, que tentava quebrar tal compactação com a intensa movimentação entre os homens de frente (Reprodução: Premiere)
O segundo tempo iniciou no mesmo panorama do
primeiro, mas logo nos primeiros minutos, sentindo que não poderia ir para o
terceiro jogo consecutivo sem vitória, Levir Culpi resolveu agir e trocou
Maicosuel, com pouco ritmo de jogo, por Cesinha, e André, bastante perseguido
pela torcida, por Marion. As mudanças mantiveram o Galo no 4-4-2, mas fizeram
com que Luan e Carlos passassem a formar uma dupla de ataque extremamente
móvel, enquanto Cesinha e Marion trabalhavam pelas pontas. Muricy, por seu
turno, se viu obrigado a substituir Maicon, lesionado, por Boschilia, transferindo
Michel Bastos da ponta para o centro da linha de meio-campo. Por opção, o
treinador também promoveu Luís Fabiano ao lugar de Pato, para buscar uma
referência mais presa à área, já que as jogadas de ataque tricolores eram
prioritariamente feitas pelas laterais. Com ainda mais velocidade e mobilidade
entre o quarteto mais avançado, o Atlético passou a dominar o jogo de uma forma
que nenhum dos dois times conseguiram no primeiro tempo. Com um volume intenso
que retraiu o São Paulo ao seu campo, o time mineiro conseguiu seu gol após
investida de Alex Silva pela esquerda. O lateral-direito, improvisado na
esquerda, centralizou com a bola em seu pé favorito e encontrou Luan livre para
marcar dentro da área.
Alex Silva carrega a bola da lateral para o centro e
consegue driblar o winger direito (Boschilia) e o volante da direita
(Denílson). A bem sucedida jogada individual obrigou o lateral-direito (Hudson)
e o zagueiro da direita (Antônio Carlos) a deixarem a linha de defesa para dar
o bote em Alex Silva, deixando, assim, Luan no espaço vazio às suas costas para
receber e deslocar Rogério Ceni na finalização (Reprodução: Bandeirantes)
Com a vantagem no placar, Levir Culpi fez o que o
Atlético tem feito muito bem quando sente a necessidade e se fechou em seu
campo para garantir o resultado. O 4-4-2 se transformou em um 4-1-4-1, com
Leandro Donizete se posicionando entre as duas linhas de quatro e Luan se
alinhando a Dátolo e aos wingers para
dificultar o trabalho de bola do meio-campo adversário.
Atlético fechado em um 4-1-4-1 reativo para segurar o
abafa são-paulino e tentar matar o jogo no contragolpe (Reprodução:
Bandeirantes)
No último terço do segundo tempo, o São Paulo teve
a bola e tentou atacar de todas as maneiras, mas sentia dificuldades por ter
perdido Maicon, o único homem do meio-campo com qualidade no último passe.
Desta forma, o time paulista passou a abusar ainda mais das jogadas aéreas
buscando Luís Fabiano e Alan Kardec dentro da área, especialmente pela direita,
com os avanços de Hudson.
São Paulo mantém o 4-4-2, mas, sem organização do
meio-campo, não consegue furar o 4-1-4-1 armado por Levir Culpi na parte final
do jogo
Com o resultado do Independência, o Atlético-MG
volta à zona da Libertadores e, principalmente, consolida Levir Culpi como um
dos melhores treinadores do Brasileirão. O técnico medalhão voltou ao Brasil
cercado de desconfianças e demonstra, além da antiga habilidade de conquistar
seu grupo, estar atualizado com o que acontece no futebol atual, conseguindo
variar o Galo taticamente e manter o time competitivo mesmo com as séries de
desfalques que assombram a equipe mineira rodada a rodada. O São Paulo de
Muricy Ramalho já não consegue render da mesma maneira quando não tem o time
completo e desperdiça a oportunidade de diminuir para quatro pontos a distância
para o líder Cruzeiro, além de perder a vice-liderança novamente para o
Internacional.
Por João Marcos Soares (@JoaoMarcos__)