segunda-feira, 13 de outubro de 2014

Atlético-MG e São Paulo jogam de maneira parecida e fazem duelo interessante no Independência

Em Belo Horizonte, o Atlético-MG recebeu o São Paulo para mais um confronto direto na briga por vaga na Libertadores. Por conta de lesões, suspensões e convocações para seleções nacionais, as equipes chegaram ao Independência para um jogo tão importante com vários desfalques da defesa ao ataque e com poucas opções inclusive para o banco de reservas.

Em relação ao jogo anterior contra o Fluminense, Levir Culpi modificou apenas a dupla de ataque. Com a impossibilidade de utilizar Guilherme e Jô por motivos diferentes, o técnico atleticano optou por Maicosuel e André, conservando até certo ponto as características dos homens de frente. Apesar de repetir a estrutura tática que enfrentou o tricolor carioca no Maracanã, Levir modificou a proposta de jogo para o duelo contra o tricolor paulista, abdicando da atitude reativa que abusava da velocidade do contra-ataque e das ligações diretas e resolvendo fazer um jogo franco dentro de casa, buscando o ataque sempre que tinha a bola e com um pouco mais de paciência na transição ofensiva, sem deixar de usar a velocidade quando necessário e muito menos abrindo mão da compactação de suas linhas na fase defensiva.

O São Paulo de Muricy Ramalho, sem Kaká e Paulo Henrique Ganso, também manteve a conjuntura habitual, mas com modificações relevantes em termos de características das peças substitutas. Osvaldo e Michel Bastos atuaram abertos bem como os titulares indisponíveis, mas dando agressividade pelos lados, ao invés de centralizarem para armar o jogo, função que ficava a cargo de Denílson e Maicon, os volantes. Neste sentido, há que se destacar as participações dos volantes são-paulinos (Denílson e Maicon) e atleticanos (Leandro Donizete e Dátolo), que trabalharam tipicamente como box-to-box e chegavam de área a área para marcar a construir com a mesma intensidade, mostrando o que há de mais moderno no futebol atual.

Times com sistemas táticos iguais, inclusive com dinâmicas bastante semelhantes, seja na fase ofensiva ou na defensiva

O Atlético fazia sua recomposição defensiva com duas linhas bastante compactas em bloco médio, mas, diferente dos duelos contra Cruzeiro e Fluminense, quando o sistema tático foi repetido, o Galo mineiro não esperava o adversário em seu campo e adiantava sua marcação sempre que podia para forçar o erro dos defensores e volantes do São Paulo. O mais interessante era a movimentação que era possível observar entre Luan, Carlos e Maicosuel. Apesar de Luan e Carlos iniciarem como wingers e Maicosuel começar o jogo mais perto de André, os três trocavam de posição constantemente de maneira coordenada, sem comprometer a recomposição defensiva. Outro fator a se mencionar é a tentativa de executar a transição ofensiva com a bola no chão, ao contrário da partida contra o Fluminense, quando se viu muitos lançamentos longos para Jô e Guilherme à frente.

4-4-2 atleticano tinha as duas primeiras linhas bastante próximas, Maicosuel marcando a saída dos volantes e André atrapalhando a troca de passes dos zagueiros (Reprodução: Bandeirantes)

A proposta de jogo são-paulina era semelhante a do rival, com uma diferença notável que era a falta de mobilidade entre os quatro homens de frente. Apesar de trabalharem bem em suas funções, Osvaldo, Michel Bastos, Alexandre Pato e Alan Kardec não trocavam de posições entre si, mantendo uma formação com cada integrante tendo seu papel bem claro dentro de campo. Mesmo tendo menos a bola no primeiro tempo, o São Paulo manteve um equilíbrio nas ações e criou mais chances e Victor foi mais acionado do que Rogério Ceni, sobretudo através de ações criadas pelo lado esquerdo, com Reinaldo e Osvaldo.

São Paulo também tinha linhas próximas e bastante rígidas, que dificultavam o trabalho ofensivo atleticano, que tentava quebrar tal compactação com a intensa movimentação entre os homens de frente (Reprodução: Premiere)

O segundo tempo iniciou no mesmo panorama do primeiro, mas logo nos primeiros minutos, sentindo que não poderia ir para o terceiro jogo consecutivo sem vitória, Levir Culpi resolveu agir e trocou Maicosuel, com pouco ritmo de jogo, por Cesinha, e André, bastante perseguido pela torcida, por Marion. As mudanças mantiveram o Galo no 4-4-2, mas fizeram com que Luan e Carlos passassem a formar uma dupla de ataque extremamente móvel, enquanto Cesinha e Marion trabalhavam pelas pontas. Muricy, por seu turno, se viu obrigado a substituir Maicon, lesionado, por Boschilia, transferindo Michel Bastos da ponta para o centro da linha de meio-campo. Por opção, o treinador também promoveu Luís Fabiano ao lugar de Pato, para buscar uma referência mais presa à área, já que as jogadas de ataque tricolores eram prioritariamente feitas pelas laterais. Com ainda mais velocidade e mobilidade entre o quarteto mais avançado, o Atlético passou a dominar o jogo de uma forma que nenhum dos dois times conseguiram no primeiro tempo. Com um volume intenso que retraiu o São Paulo ao seu campo, o time mineiro conseguiu seu gol após investida de Alex Silva pela esquerda. O lateral-direito, improvisado na esquerda, centralizou com a bola em seu pé favorito e encontrou Luan livre para marcar dentro da área.

Alex Silva carrega a bola da lateral para o centro e consegue driblar o winger direito (Boschilia) e o volante da direita (Denílson). A bem sucedida jogada individual obrigou o lateral-direito (Hudson) e o zagueiro da direita (Antônio Carlos) a deixarem a linha de defesa para dar o bote em Alex Silva, deixando, assim, Luan no espaço vazio às suas costas para receber e deslocar Rogério Ceni na finalização (Reprodução: Bandeirantes)

Com a vantagem no placar, Levir Culpi fez o que o Atlético tem feito muito bem quando sente a necessidade e se fechou em seu campo para garantir o resultado. O 4-4-2 se transformou em um 4-1-4-1, com Leandro Donizete se posicionando entre as duas linhas de quatro e Luan se alinhando a Dátolo e aos wingers para dificultar o trabalho de bola do meio-campo adversário.

Atlético fechado em um 4-1-4-1 reativo para segurar o abafa são-paulino e tentar matar o jogo no contragolpe (Reprodução: Bandeirantes)

No último terço do segundo tempo, o São Paulo teve a bola e tentou atacar de todas as maneiras, mas sentia dificuldades por ter perdido Maicon, o único homem do meio-campo com qualidade no último passe. Desta forma, o time paulista passou a abusar ainda mais das jogadas aéreas buscando Luís Fabiano e Alan Kardec dentro da área, especialmente pela direita, com os avanços de Hudson.

São Paulo mantém o 4-4-2, mas, sem organização do meio-campo, não consegue furar o 4-1-4-1 armado por Levir Culpi na parte final do jogo

Com o resultado do Independência, o Atlético-MG volta à zona da Libertadores e, principalmente, consolida Levir Culpi como um dos melhores treinadores do Brasileirão. O técnico medalhão voltou ao Brasil cercado de desconfianças e demonstra, além da antiga habilidade de conquistar seu grupo, estar atualizado com o que acontece no futebol atual, conseguindo variar o Galo taticamente e manter o time competitivo mesmo com as séries de desfalques que assombram a equipe mineira rodada a rodada. O São Paulo de Muricy Ramalho já não consegue render da mesma maneira quando não tem o time completo e desperdiça a oportunidade de diminuir para quatro pontos a distância para o líder Cruzeiro, além de perder a vice-liderança novamente para o Internacional.

Por João Marcos Soares (@JoaoMarcos__)