domingo, 19 de outubro de 2014

Com torcida única, Galatasaray e Fenerbahçe fizeram clássico duro e intenso na Türk Telekom Arena

Pela sexta rodada da Süper Lig, o Galatasaray recebeu o Fenerbahçe para o clássico de maior rivalidade do futebol turco. O confronto é conhecido como Dérbi Intercontinental, já que o Galatasaray pertence à parte de Istambul localizada na Europa e o Fenerbahçe à que se situa na Ásia. Conhecido como um dos clássicos mais intensos do mundo, os duelos entre os dois times acabam saindo um pouco do controle e, além do exagero dentro de campo por parte dos jogadores, as torcidas também levam a rivalidade para além do futebol, e, por vezes, a violência impera também fora de campo. No jogo do último sábado, na Türk Telekom Arena, apenas os torcedores do time da casa puderam se fazer presentes justamente para evitar este tipo de situação.

Ainda questionado desde que assumiu o time após sua participação desastrosa na Copa do Mundo sob o comando da Itália, Cesare Prandelli continua tentando encontrar seu sistema de jogo ideal à frente do Galatasaray. O italiano já utilizou o 4-4-2 do antecessor Roberto Mancini, o 4-2-3-1 para aproveitar melhor Sneijder e até um esquema com três zagueiros na derrota para o Arsenal pela Champions League. No dérbi, Prandelli buscou preencher o meio-campo em um 4-1-4-1, com destaque para Felipe Melo entre as duas linhas de quatro, Sneijder aberto pela esquerda e Burak Yilmaz como homem mais avançado.

O Fenerbahçe de Ismail Kartal, por sua vez, também foi a campo com três volantes, mas em desenho diferente. O ex-lateral dos canários foi assistente-técnico do clube por alguns anos até receber a oportunidade de ser o treinador principal neste ano, substituindo Ersun Yanal. Dos três volantes escalados, Raul Meireles se posicionava mais à frente, na linha de três meias, entre Dirk Kuyt e Alper Potuk, formando um 4-2-3-1 que aproveitava a boa chegada do português no ataque. Sempre primeiro volante na seleção portuguesa e volante de saída no Porto, Meireles já atuou mais adiantado algumas vezes na Inglaterra, quando atuava pelo Chelsea campeão europeu de 2011-12, mas, principalmente quando defendeu o Liverpool, que tinha Lucas Leiva como primeiro volante e Gerrard e Raul Meireles revezando entre a posição de segundo volante e a meia central do 4-2-3-1 de Roy Hodgson e, depois, Kenny Dalglish.

Opções de Prandelli e Kartal deixaram o primeiro tempo concentrado no meio-campo, já que os dois times tinham poucas alternativas de velocidade e não se caracterizavam pelo jogo transicional

O Fenerbahçe dominou as ações durante quase toda a primeira parte, com Raul Meireles e Emre, que revezavam o posicionamento, controlando a posse da bola e buscando a profundidade em Emenike e Kuyt, que procuravam se movimentar para abrir espaços um para o outro mais à frente, já que o outro winger, Alper Potuk, é volante de origem e dava poucas opções no ataque, trabalhando mais para ajudar na organização do time no meio-campo, abrindo, portanto, espaço no extremo esquerdo para o apoio do ofensivo lateral Kaner Erkin.

Na fase defensiva, o time do lado asiático de Istambul fechava-se em duas linhas de quatro, liberando Meireles para marcar a troca de passes de Selçuk Inan e Dzemaili na intermediária defensiva do Galatasaray, enquanto Emenike dava o combate nos zagueiros rivais, que ganhavam a companhia de Felipe Melo. O volante brasileiro recuava para fazer a saída de três entre Chedjou e Semih, liberando os laterais para darem amplitude pelos lados, já que Olcan Adin e, sobretudo Sneijder centralizavam bastante quando a bola estava na posse do Galatasaray. Ainda no primeiro tempo, Emre sentiu lesão e precisou ser substituído por Selçuk Sahin, que ocupava o mesmo espaço do meio-campo que o capitão do Fener, mas quebrou um pouco o ritmo por não ter as mesmas características que seu antecessor. Desta forma, com a organização do Fenerbahçe concentrada em Raul Meireles, o Galatasaray conseguiu equilibrar a partida ainda na primeira etapa.

4-4-1-1 da fase defensiva do Fenerbahçe não era tão compacto e dava espaço no entrelinhas para Sneijder que, sozinho na criação e com Olcan e Yilmaz se movimentando pouco à frente, não conseguiu fazer o Galatasaray jogar no primeiro tempo (Reprodução: ESPN Brasil)

O Galatasaray de Cesare Prandelli se defendia no 4-1-4-1 e tinha suas linhas compactas, mas, como Sneijder nunca se destacou pela recomposição defensiva quando atua pelo lado, o rival encontrava espaços no entrelinhas já que Felipe Melo saía de seu setor para cobrir o lado esquerdo da defesa e cedia espaços para Raul Meireles infiltrar ou encontrar um passe em profundidade para Emenike, Kuyt ou um dos laterais.

Quando Sneijder conseguia executar a transição defensiva rapidamente, o 4-1-4-1 de Prandelli não necessitava compensações e limitava os espaços ao Fenerbahçe (Reprodução: ESPN Brasil)

Após um primeiro tempo morno, mas que teve o Fenerbahçe superior, os times voltaram a campo com as mesmas formações que terminaram a etapa inicial e o Galatasaray já mostrou uma iniciativa diferente desde o primeiro minuto. Com as linhas de marcação um pouco mais altas, o time do lado europeu de Istambul conseguiu assustar o rival, sobretudo com a maior efetividade de Olcan pela direita e o apoio de Tarik pela esquerda, que começou a aproveitar melhor o corredor que Sneijder proporcionava quando centralizava para armar. A pressão inicial do Gala desestabilizou um pouco o Fenerbahçe e, aos sete minutos, Bruno Alves deu voadora violenta nas costas de Dzemaili e foi expulso por Cüneyt Çakir. Sem modificar peças, Mehmet Topal recuou para atuar como zagueiro ao lado de Kadlec e Raul Meireles passou a formar a segunda linha de quatro no meio-campo, deixando apenas Emenike à frente.

Após alguns minutos de onze contra dez, os dois técnicos resolveram mudar. No Galatasaray, Umut Bulut entrou no lugar de Dzemaili e, no Fenerbahçe, Ali Kaldirim substituiu Emenike. Desta forma, o Galatasaray passou a atuar em um 4-2-3-1, que variava pra 4-4-2 com a bola nos pés. A ideia era ter Bulut recompondo pelo lado esquerdo para deixar Sneijder sem responsabilidades muito relevantes com a transição defensiva. Quando o Galatasaray recuperava a bola, o camisa 9 fazia companhia a Yilmaz na referência e Sneijder recuava para organizar os ataques a partir da intermediária ofensiva, caindo mais pelo lado esquerdo, mas sem invadir o corredor extremo, que era exclusivo do lateral Tarik, ainda mais forte no apoio após a expulsão de Bruno Alves. A mudança do Fenerbahçe, por seu turno, acabou fazendo com que vários jogadores que já estavam em campo trocassem de posição. Kuyt saiu da ponta-direita para ser o homem mais avançado e o lateral Erkin adiantou para a ponta-esquerda, fazendo, assim, com que Potuk invertesse de lado. Estas mudanças tinham a intenção de dar maior rigidez às linhas de defesa do Fenerbahçe, que precisava se compactar na frente da sua área e impedir o acesso do adversário com a bola no chão.

Com um a menos, Fenerbahçe fechou duas linhas de quatro e dificultava muito o trabalho ofensivo do Galatasaray, que também trocou Olcan por Emre Çolak na ponta-direita

Mesmo com um a mais, o time da casa não conseguia furar o bloqueio adversário que tinha uma estratégia defensiva bastante interessante. Sabendo que a criação do Galatasaray era concentrada nos pés de Sneijder, Ismail Kartal compactou suas linhas em bloco baixo e, quando chegava ao seu limite de posicionamento, os laterais se aproximavam dos zagueiros e os wingers recuavam ainda mais, deixando Meireles e Seçuk Sahin combatendo a troca de passes do Galatasaray um pouco mais à frente. Neste sentido, Yilmaz e Bulut eram quase nulos escondidos entre os defensores do Fenerbahçe nas jogadas armadas pelo centro. Quando o Gala virava o jogo, os wingers voltavam para a segunda linha e balançavam para o lado da bola rapidamente, buscando evitar que o adversário conseguisse chegar até a linha de fundo.

A estratégia segurou o zero a zero por muito tempo, mas, talvez por falta de paciência ou realmente por percepção, Sneijder parou de tentar buscar o passe e começou a arriscar de fora sempre que enxergava qualquer espaço. O holandês arriscou nove chutes, sendo sete de fora da área. Dos nove tiros, sete foram no segundo tempo e seis após a expulsão de Bruno Alves. De tanto tentar, Sneijder abriu o placar aos quarenta e três minutos do segundo tempo, em linda finalização no ângulo direito de Volkan Demirel.

Fenerbahçe deixava Sahin e Meireles combatendo e fechava praticamente uma linha de seis homens atrás para dificultar a infiltração do Galatasaray. Momento do primeiro gol, quando Sneijder progride e, com poucas alternativas, resolve arriscar, acertando finalização precisa sem chances de defesa (Reprodução: ESPN Brasil)

Logo após o primeiro gol, a estratégia do Fenerbahçe foi desfeita e o time foi pra cima para buscar o empate no abafa. Em bola recuperada, Sneijder progrediu desde o campo defensivo e, da entrada da área, acertou outro chute sensacional, desta vez no ângulo esquerdo de Volkan, para definir a partida.

Mapa de movimentação de Wesley Sneijder: mesmo quando teve mais liberdade de circulação no segundo tempo, o holandês continuou utilizando mais o lado esquerdo para trabalhar com a bola, sendo deste setor que partiu para marcar seus dois gols que decidiram o dérbi (Reprodução: Squawka)

Ainda antes do fim, o Fenerbahçe conseguiu diminuir o placar com Potuk, completando cruzamento da esquerda após situação irregular em que a arbitragem não viu a bola sair pela linha lateral antes da jogada de linha de fundo. O gol do Fener não atrapalhou a festa do Galatasaray que, mesmo tendo um início difícil, conseguiu se recuperar dentro da partida e rumar à vitória contra um valente Fenerbahçe, que resistiu bravamente após a irresponsabilidade de Bruno Alves.

Com o resultado, o time do lado europeu de Istambul assume a liderança provisória da Süper Lig e Cesare Prandelli ganha um respiro e tanto para ter mais tranquilidade para se adaptar ao futebol turco e para tentar fazer com que o Galatasaray se adapte ao estilo que o italiano busca impor ao time. Na próxima quarta-feira, o time turco recebe o Borussia Dortmund pela Champions League e precisa se recuperar na competição após a goleada sofrida para o Arsenal. Os comandados de Prandelli, com apenas um ponto em dois jogos, necessitam aproveitar a má fase dos alemães e confirmar os três pontos em casa se tiverem alguma pretensão de classificação neste grupo bastante complicado, que ainda conta com o Anderlecht, da Bélgica.

*Dados estatísticos retirados do Squawka

Por João Marcos Soares (@JoaoMarcos__)