domingo, 5 de outubro de 2014

Covardia de Abel custa caro, Cruzeiro põe mão na taça em BH

Era o jogo mais esperado da rodada, possivelmente do campeonato. Em franca ascensão, o Inter, então vice-líder, enfrentaria o Cruzeiro, líder da competição. A covardia de Abel Braga ao escalar o seu time, entretanto, fez com que o Colorado não conseguisse fazer frente ao time mineiro, que com a vitória dá passos largos rumo ao bicampeonato Brasileiro.

1º tempo: Jogo de um time só

Abel Braga havia fechado alguns treinamentos ao longo da partida. Com a lesão de Eduardo Sasha, que vinha sendo o principal jogador Colorado nas últimas partidas, era evidente que mudanças na equipe iriam acontecer. Entretanto, talvez nem o presidente do time estivesse esperando uma escalação como a do treinador. Com Wellington e Willians juntos, o Inter escalou um 4-2-3-1 que se tornava 4-4-1-1 nos momentos em que o time se defendia. Valdívia - a única válvula de escape do time, posicionado pelo lado esquerdo - pouco produziu e não evitou o massacre do Cruzeiro na primeira etapa.

O principal problema do ferrolho defensivo do Inter era o espaço deixado sobretudo pelos lados. O Colorado marcava em bloco baixo, esperando o adversário, mas deixava muito espaço entre as suas duas linhas, fazendo com que o Cruzeiro tivesse liberdade para trocar passes, coisa que a equipe mineira sabe fazer bem: foram apenas 10 erros de passe na primeira etapa. Abel claramente se preocupou com as subidas de Mayke, um dos melhores laterais do campeonato, colocando Valdívia para jogar às costas do cruzeirense e dando ao menino colorado a tarefa de fechar o lado esquerdo nos momentos em que o Inter não tinha a bola. Entretanto, o treinador do Colorado esqueceu que o Cruzeiro apoia em muitos momentos com a subida simultânea dos laterais, tendo muita força também pelo lado esquerdo, com Egídio. Aránguiz - que não jogou bem - mostrou lentidão na hora de fazer a recomposição defensiva para fechar o lado direito. Além disso, D´Alessandro pouco ajudava no setor de marcação - uma descompensação tática que já havia sido apresentada pelo Inter em outras partidas e sobre a qual eu já havia falado neste site. Com isso, em muitos momentos Éverton Ribeiro - que atuava na faixa central, mas caia pela esquerda - ficava solto,ou Gilberto se via obrigado a, sozinho, fazer o combate sobre a dupla Egídio-É.Ribeiro. O lado esquerdo foi o mais explorado pelos mineiros ao longo de todo o jogo.

Heatmap Éverton Ribeiro: meia flutuava em todos os setores, mas usava principalmente 
o lado esquerdo para agredir o Inter

Heatmap de Egídio: lateral ficou muito mais tempo no campo ofensivo do que no setor defensivo

Heatmap Dale: grande movimentação no campo ofensivo, pouca participação na
recomposição defensiva do Inter

O Cruzeiro se colocou em campo num 4-2-3-1, com dois volantes que saiam com qualidade para o jogo, Henrique e Lucas Silva, e dois laterais que subiam simultaneamente. A linha de 3 meias era composta por William no lado esquerdo, Éverton Ribeiro centralizado e Marquinhos no lado direito, mas William e Ribeiro trocavam de posição à todo o momento, confundindo a marcação do Inter. O time de Marcelo Oliveira usava marcação-pressão na saída de bola do adversário e posicionava a sua primeira linha em bloco alto, fazendo com que o Inter não conseguisse sair do campo defensivo. O primeiro gol nasceu em função dessa forte marcação, com Marcelo Moreno roubando a bola de Aránguiz na frente da área Colorada. Detalhe: ele havia roubado a bola de Fabrício no lado direito e criado boa situação para o Cruzeiro poucos minutos antes do tento.

O lance do segundo gol é fruto da movimentação de Egídio e Éverton Ribeiro. Éverton cruza, Aránguiz - lento na recomposição defensiva - não acompanha, Marquinhos aparece sozinho às costas de Fabrício para marcar. O flagrante abaixo mostra o momento em que a bola sai do pé de Éverton Ribeiro. Note que os volantes do Inter, Willians e Wellington, estão parados na frente da área, longes de qualquer jogador do Cruzeiro. São 3 jogadores do Inter no mano-a-mano contra 3 cruzeirenses dentro da área. Fabrício simplesmente desiste de acompanhar Marquinhos, deixando o meia totalmente livre para marcar o gol.

Momento do lançamento: Willians e Wellington não marcam ninguém, Fabrício distante de Marquinhos

Momento do gol: Marquinhos aparece livre para marcar

O Inter só finalizou duas vezes contra o gol do Cruzeiro no primeiro tempo, contra 8 finalizações dos mineiros. Apesar dos poucos erros de passe do Colorado - apenas 11 - o time não conseguiu propor o seu jogo na primeira etapa.

1º tempo: Cruzeiro pressionando, Inter mal-compactado, com espaço entre as linhas

2º tempo: Inter melhora e o jogo fica bom

No segundo tempo o grande jogo que todos esperavam finalmente aconteceu. Abel corrigiu o erro da escalação inicial, colocando Alex no lugar de Wellington. O meia entrou aberto pelo lado esquerdo, compondo a segunda linha quando o Inter se defendia e se projetando da esquerda para o centro nos momentos em que o time atacava. Dale ficou preso ao centro do campo, centralizado, com Valdívia aberto no lado direito - sendo a sombra que Egídio não teve na primeira etapa. O diálogo de Alex com Dale na armação das jogadas fez com que o Colorado melhorasse na partida e pudesse agredir o Cruzeiro pela primeira vez. A pressão inicial criou uma chance de perigo na bola parada e um gol - num belo arremate de longa distância de Alex, se projetando do meio e evoluindo com a bola. Antes disso, o Cruzeiro havia tido uma chance de ampliar um placar, num pênalti bem marcado em cima de Marcelo Moreno, mas desperdiçado por William.

Aos 24 minutos, depois de muita pressão por parte do Inter, Marcelo Oliveira corrigiu a sua equipe com as entradas de Nilton e Dagoberto. Nilton entrou para atuar defensivamente no setor ocupado por Alex, com o Cruzeiro passando para um 4-5-1 quando defendia, com Dagoberto e Marquinhos nos extremos. Quando o Cruzeiro atacava, esses dois jogadores se projetavam pelas pontas para pressionar na frente. Abel esperou 7 minutos para trazer uma resposta, e respondeu com Leandro, que entrou mal e não mudou panorama na partida. O treinador foi mexer novamente só aos 36 - aí sim tirando Willians e colocando mais um jogador de frente - mas os 10 minutos de pressão final não foram suficientes para o empate.

No final das contas, venceu a equipe que mais procurou jogar ao longo dos 90 minutos, o Cruzeiro. Abel Braga disse em sua entrevista que não se arrepende da escalação inicial do Inter, mas abdicar do jogo por 45 minutos custou muito caro ao Internacional.

Final do jogo: pressão do Inter não foi suficiente para o empate