Pela sexta rodada de La Liga, Valencia e Atlético
Madrid se enfrentaram no Mestalla brigando no topo da tabela. Ambas as equipes
chegaram à rodada #6 entre os únicos ainda invictos da liga espanhola, ao lado
do líder Barcelona e da surpresa Celta de Vigo.
O time mandante, como já alertado aqui antes de a temporada se iniciar, tem um grupo jovem e bastante talentoso comandado por
Nuno Espírito Santo, técnico português da nova geração que chegou à Espanha
trás grande trabalho à frente do Rio Ave. Já os visitantes vêm de grande
temporada sob o a batuta de Diego Simeone, um dos técnicos mais badalados (com
muita justiça) da atualidade.
O Valencia foi a campo com o que Nuno acredita ter
de melhor para o momento, pelo menos é o que indicam suas escalações desde que
a temporada se iniciou. A linha defensiva foi formada por Barragán, Mustafi,
Otamendi e Gayà, mais um promissor lateral-esquerdo da ótima cantera che, que recentemente revelou
Jordi Alba e Juan Bernat, titulares de Barcelona e Bayern de Munique,
respectivamente. Javi Fuego novamente se posicionou entre as compactas linhas
de quatro do Valencia, que também tinha o ótimo Paco Alcácer como homem mais
avançado.
Simeone escalou pela primeira vez um Atlético bem
próximo que se imaginava após o fim do mercado de transferências, com exceção
de Juanfran, que, poupado, deu lugar a Jesús Gámez na lateral-direita. No
Mestalla, o Atléti iniciou a partida em um 4-2-3-1 um pouco diferente do
tradicional 4-4-2 de Cholo, mas com
dinâmicas parecidas, principalmente na fase defensiva.
Valencia postado no 4-1-4-1 que vem sendo padrão sob o
comando de Nuno e Atlético no 4-2-3-1, com Griezmann no centro da linha de três
meias
Na fase defensiva, o Atléti formava duas linhas de
quatro extremamente compactas como sempre tem feito desde que Simeone assumiu.
Koke e Arda Turan fechavam os lados do meio-campo e Griezmann voltava à frente
da segunda linha de quatro para combater as trocas de passes do meio-campo rival
e ajudar a preencher espaços. Além da compactação, a marcação colchonera apresentava algumas de suas
características peculiares, como posicionamento em bloco baixo, agressividade
ao portador da bola e transição defensiva veloz.
Atléti se defendendo à sua maneira, com compactação
assustadora
O Valencia, por sua vez, postava-se em um 4-1-4-1,
que tinha o brasileiro/espanhol Rodrigo Moreno – recém-convocado pela primeira
vez por Vicente Del Bosque – e o argentino Pablo Piatti como wingers, que viravam atacantes quando a
posse da bola era do time da casa. O capitão Dani Parejo e o excelente
português André Gomes posicionavam-se no centro da segunda linha de quatro para
marcar e eram os responsáveis pela rápida transição meio-ataque valencianista, que é uma das marcas já
perceptíveis do time de Nuno Espírito Santo.
As linhas che se posicionavam um pouco mais à frente
do que as do adversário, mas eram quase tão compactas quanto
Inesperadamente, o Valencia conseguiu o primeiro
gol em uma falha da defesa rival logo nos primeiros minutos. Após
lançamento de Barragán da defesa, Miranda e Moyà bateram cabeça na entrada da
grande área e o brasileiro, que não percebeu o goleiro no lance, desviou a bola
de cabeça na direção do gol vazio. O bizarro gol contra desestabilizou o
Atlético e deu moral ao Valencia, que passou a ter mais intensidade quando
tinha a bola no pé e, logo em seguida, anotou o segundo, em jogada individual
de André Gomes, que passou com facilidade por Miranda e Godín e finalizou na saída
de Moyà. As duas improváveis falhas da dupla de zaga colchonera deram a liderança do placar para o time da casa, que
chegou ao terceiro gol em jogada de bola parada, ainda aos treze minutos do
primeiro tempo. O gol de Otamendi chamou a atenção pelo posicionamento dos
atletas che dentro da área antes da
cobrança do escanteio. Mustafi, Rodrigo e Otamendi formaram fila na entrada da
grande área e Parejo se posicionou na meia-lua. O camisa 10 entrou de surpresa
no primeiro pau e os três jogadores da fila saíram juntos cada um para um lado,
confundindo totalmente os marcadores que aguardavam a sua movimentação sem
saber especificamente em quem encostariam após a cobrança. Otamendi saiu pelo
lado direito e cabeceou dentro da pequena área. Apesar da interessante
iniciativa para atrapalhar os marcadores individuais do Atlético na bola
parada, é espantoso o vacilo dos homens posicionados de forma zonal para cortar
um cruzamento que foi bastante fechado. Tanto o goleiro, quanto o homem do
primeiro pau, o atleta à frente do gol e o defensor postado na entrada lateral
da pequena área tinham condições de cortar o escanteio antes de Otamendi
alcançar a bola.
‘Trenzinho’ valencianista confundiu os defensores
rojiblancos, que não sabiam quem marcar após a movimentação
Com uma vantagem considerável construída em menos
de 15 minutos, o Valencia passou a adotar proposta um pouco mais reativa,
fixando seu 4-1-4-1 em bloco médio e buscando principalmente nos contragolpes
uma forma de ampliar o placar. Simeone manteve seu time na mesma estrutura por
mais alguns minutos e, desta forma, conseguiu diminuir com gol de Mandzukic.
Logo após seu gol, o Atlético passou a atuar também em um 4-1-4-1, com
Gabi posicionado entre as duas linhas de quatro para iniciar a transição ofensiva.
A ideia do sistema parecia, prioritariamente, utilizar Griezmann pela ponta,
onde se sente mais à vontade, deslocando Koke para trabalhar pelo centro, em
sua posição de origem e onde tem atuado na seleção espanhola.
Atléti passa a trabalhar no mesmo sistema tático do
adversário, buscando melhorar o passe no meio-campo e aumentar a agressividade
pelos flancos
Na nova formação, o time colchonero conseguiu um pênalti ainda no fim do primeiro tempo,
que, se convertido, seria importantíssimo para dar esperanças a uma possível
virada na segunda parte. O brasileiro Guilherme Siqueira, especialista em
penalidades, principalmente em seus tempos de Granada, foi para a cobrança e
parou em outro brasileiro, Diego Alves, também perito no assunto, porém pelo outro
lado da moeda. Diego atingiu a marca da lenda valencianista, Santiago Cañizares, tornando-se o goleiro a pegar
mais pênaltis na história de La Liga, com treze defesas.
Para o segundo tempo, o panorama permaneceu
semelhante ao dos últimos minutos da etapa inicial, com o Atlético Madrid
buscando o ataque e o Valencia se defendendo com tranquilidade. A grande
diferença passou a ser no clima, que dava a impressão de uma partida de
Libertadores, com muita catimba por parte dos atletas do Valencia e irritação
equivalente pelo lado rojiblanco, que
sentiu na pele sua estratégia de esquentar o jogo por meio de provocações e
marcação agressiva que tanto deu certo na última Champions League.
Antes dos vinte e cinco minutos da etapa
complementar, os dois times já haviam executado todas as alterações possíveis,
mas permaneceram no 4-1-4-1. Pelo lado do Valencia, Nuno promoveu Lucas Orban
para atuar como um lateral-esquerdo mais contido, adiantando Gayà para a ponta,
além de dar mais velocidade para os contra-ataques com Feghouli pela
ponta-direita e reforçar a marcação no meio-campo com a entrada do brasileiro
Felipe Augusto. Simeone, por seu turno, buscou em Alessio Cerci a agressividade
que Arda Turan foi incapaz de impor em seus minutos dentro de campo. Raúl Jiménez
entrou na ponta-esquerda para centralizar quando a bola estivesse com o
Atlético e dar opção dentro da área, proporcionando o corredor para Guilherme
Siqueira apoiar. No meio-campo, Raúl García substituiu Tiago e voltou a atuar
em sua posição de origem depois de algum tempo.
No segundo tempo, times mudam as peças de acordo com
suas aspirações, mas mantêm a estrutura tática que terminou a etapa inicial
Com o jogo truncado e a marcação pesada do
Valencia, o resultado do primeiro tempo se manteve e o time da casa continuou
na vice-liderança da liga espanhola, atrás apenas do Barcelona, premiando o
belo trabalho de Nuno Espírito Santo, que chegou a Valencia para recuperar um
grande time que vinha de campanhas ruins, como fez Simeone com o Atlético há
três temporadas. Mesmo com a nova administração dando mais liberdade para
contratar do que ultimamente tem ocorrido no Mestalla, Nuno preferiu manter
alguns nomes do elenco e trazer jogadores jovens, mas já experimentados para um
projeto de longo prazo em Valencia. Os frutos já estão sendo colhidos e, em um
ano sem compromissos continentais, o foco dos che no futebol doméstico tem tudo para levar o time de volta à
Champions League e talvez a uma campanha destacada na Copa del Rey. O Atlético
Madrid, por sua vez, teve um tropeço aceitável contra um adversário forte e
fora de casa, mas precisa corrigir os erros defensivos que permitiram ao
Valencia vencer o jogo em apenas treze minutos, que deram margens para que se
critique uma das defesas mais sólidas do futebol europeu.
Por João Marcos Soares (@JoaoMarcos__)