quinta-feira, 23 de outubro de 2014

Duelo entre Palestras tem final emocionante, mas termina como começou

Depois de vencer o Vitória e quebrar sequência ruim, o Cruzeiro recebeu o Palmeiras no Mineirão para manter ou ampliar a distância com relação aos supostos perseguidores. O Verdão foi derrotado pelo Santos no fim de semana, freando a boa fase do time sob o comando de Dorival Júnior e visitou Belo Horizonte sem muitas pretensões, mas buscando somar pelo menos um ponto.

As aspirações alviverdes puderam ser observadas na escalação e na forma como o time se postou em campo contra o líder do campeonato. Sem Valdívia, cumprindo suspensão após decisão do STJD, e Marcelo Oliveira, impedido por questões contratuais de enfrentar o Cruzeiro, o meio-campo palmeirense foi modificado com relação a nomes e posicionamento dentro de campo. O 4-3-1-2/4-2-3-1 das últimas rodadas foi substituído, inicialmente, por um 4-1-4-1, que tinha Renato como primeiro volante, Mazinho e Bernardo abertos e Wesley e Victor Luís completando uma segunda linha de quatro no meio, e com as responsabilidades de executar a transição ofensiva e chegar ao ataque para auxiliar os três homens mais avançados.

O Cruzeiro, que voltou a ter Ricardo Goulart no banco após período lesionado, manteve o 4-2-3-1 que venceu o Vitória, com Everton Ribeiro centralizado no meio-campo e Marquinhos e Alisson como wingers. No sistema, o time mineiro consegue uma maior compactação sem a bola, já que Marquinhos e Alisson guardam mais posição pelos lados e, consequentemente, executam a transição defensiva de modo mais veloz, diferente de Everton Ribeiro que, quando joga aberto pela direita, circula bastante pelo último terço do campo e não se compromete muito com a composição da segunda linha de quatro na fase defensiva.

Palmeiras iniciou o confronto entre os Palestras em um 4-1-4-1 bastante reativo

Mazinho ganhou a vaga de Cristaldo e era quem se aproximava mais de Henrique nos ataques palmeirenses, com Bernardo centralizando um pouco mais para auxiliar na armação pelo meio-campo, formando, com a bola, algo próximo do losango dos últimos jogos. Quando o Palmeiras se defendia, Renato se posicionava no entrelinhas e executava encaixe individual em Everton Ribeiro, tentando anular o camisa 17 para limitar a criatividade do Cruzeiro com a bola nos pés. A proposta alviverde era bastante reativa, já que o Palmeiras, sem seu principal jogador de meio-campo, sentia uma limitação gigante na criação e ficava ainda mais distante tecnicamente do adversário da noite, o líder inconteste do Brasileirão. Compreendendo a diferença dos times, Dorival buscou jogar por uma bola, como tantos gostam de chamar a proposta de jogo reativo dentro do futebol brasileiro.

Meio-campo palmeirense, com Renato no entrelinhas e a segunda linha de quatro à frente. No frame, Mazinho ocupa o centro ao lado de Victor Luís e Wesley fecha o extremo direito. Em geral, o posicionamento era ao contrário (Reprodução: Premiere)

A primeira etapa foi o que pode se chamar de ataque contra defesa, com o Cruzeiro tomando a iniciativa como lhe é usual e o Palmeiras se defendendo de maneira bastante satisfatória, consciente da sua posição técnica com relação à equipe celeste. Quando tinha a bola, o time paulista sentia dificuldades pela fase técnica ruim de Wesley (errou 5 de 31 passes em 65 minutos em campo), tão importante para a organização do time com a ausência de Valdívia. Victor Luís também não apareceu tão bem como em outros jogos e, apesar de atuação correta, pouco chegava ao lado esquerdo para trabalhar com Juninho, como tanto se caracterizou depois de passar a atuar no meio-campo.

O Cruzeiro concentrava a bola e tentava acionar os extremos com Alisson e Egídio pela esquerda e Marquinhos e Mayke pela direita. Após a lesão de Alisson ainda na etapa inicial, Marcelo Oliveira promoveu a volta de Ricardo Goulart, o que fez Everton Ribeiro voltar a trabalhar pelo flanco direito. Com Goulart e Marcelo Moreno à frente, o Cruzeiro abusa da jogada aérea, situação que já deu vários pontos ao atual campeão brasileiro, mas que deixa o futebol do time um pouco menos agradável e dinâmico. Contra o Palmeiras, foram 26 cruzamentos na área, número bastante alto, especialmente para um time que troca tantos passes.

Para a segunda parte, o Palmeiras sentiu que poderia equilibrar um pouco mais o jogo e buscar o ataque e, mesmo com as ações ainda dominadas pelo Cruzeiro, conseguiu levar um pouco mais de perigo no contragolpe, sobretudo após a saída de Wesley para a entrada de Bruninho, que guardava posição ao lado de Renato no meio-campo e liberava um pouco mais Victor Luís e os laterais para atacar. No segundo tempo, o Palmeiras não fechava mais o 4-1-4-1 sem a bola e se defendia com os três volantes ou com a volta eventual de Mazinho ou Bernardo para fechar uma segunda linha de quatro pelos extremos.

Losango alviverde do segundo tempo dava mais espaço ao Cruzeiro, mas também fazia o Palmeiras assustar um pouco mais o time da casa (Reprodução: Premiere)

O Cruzeiro continuou atacando e exigindo de Fernando Prass, o principal nome palmeirense na partida. Marcelo Oliveira ainda colocou Dagoberto e Willian, sacando do time Marquinhos e o volante Henrique, fazendo, pois, o Cruzeiro trabalhar em uma espécie de 4-1-4-1, com os recém-promovidos ao jogo pelas pontas, Goulart encostando em Moreno, Everton Ribeiro trabalhando no meio-campo e Lucas Silva guardando um pouco mais de posição para proteger a defesa e iniciar a transição ofensiva.

Dorival Júnior, por sua vez, mandou a campo Mouche e Felipe Menezes nos lugares de Bernardo e Mazinho, buscando renovar o fôlego no ataque, e, também, uma maior aproximação a Henrique e um melhor último passe para aproveitar os contra-ataques.

Cruzeiro busca o ataque incessantemente em algo próximo de um 4-1-4-1 e o Palmeiras volta ao losango de meio-campo para tentar encaixar um contragolpe decisivo

Foi em um contra-ataque que o Palmeiras conseguiu abrir o placar já no final do jogo. Após bola afastada pela defesa, Felipe Menezes dominou, progrediu e encontrou Henrique pelo lado esquerdo. Com a defesa cruzeirense exposta, o centroavante avançou e deu passe perfeito para Mouche – que já havia acertado a trave de Fábio em outro contragolpe – completar e tirar o zero do placar.

Com a desvantagem, o Cruzeiro partiu para o abafa e, cinco minutos após o revés, conseguiu o empate após chute de fora da área de Willian que Fernando Prass não segurou e Dagoberto aproveitou o rebote. Até os 47 minutos do segundo tempo, o Palmeiras vinha executando sua proposta com excelência: segurar o ímpeto do líder e resolver o jogo no contra-ataque. Fernando Prass poderia ter feito melhor no gol de Dagoberto, mas o goleiro alviverde salvou o time paulista da derrota em vários momentos da partida e não pode ser responsabilizado por um empate que, se for analisado friamente, foi um resultado primoroso para um Palmeiras ainda mais frágil do que o normal, já que não tinha Marcelo Oliveira e Valdívia, dois dos jogadores mais importantes do time, sem contar com o zagueiro Lúcio, também desfalque. No final, foi o Palestra mineiro quem empatou nos acréscimos, mas é o paulista quem sai mais satisfeito com o resultado.

Finalizada a rodada #30, o Cruzeiro mantém os sete pontos com relação ao segundo colocado, já que o São Paulo empatou com a Chapecoense e o Internacional foi derrotado pelo Flamengo. O Palmeiras, na sua briga contra um novo rebaixamento, soma um ponto importante fora de casa e continua com a vantagem de quatro pontos para o primeiro time do Z-4, agora, o Vitória.