No
primeiro jogo da semifinal da Copa do Brasil de 2014, Cruzeiro venceu por 1 x0
o Santos, no Mineirão. Para conseguir esta vantagem, estes dois times jogaram
no 4-2-3-1, de maneira espaçada no terço defensivo, com os wingers não
balançando defensivamente para o lado da bola e ofensivamente pedindo freqüentemente
as ultrapassagens dos laterais. Características mais brasileiras dos 4-2-3-1
brasileiros seriam impossíveis.
Cruzeiro
e Santos no 4-2-3-1.
Do
início do jogo até os 20 minutos do primeiro tempo, o Cruzeiro ditou o ritmo do
jogo. O time mineiro pressionava desde a saída de bola adversária, jogava com
linha alta, com rápida troca de ação de jogo e com alta intensidade ofensiva e
defensiva com e sem bola. Tanto que a Raposa desarmou 33 vezes, sendo a maioria
na primeira etapa, com destaques para Éverton Ribeiro com seis roubadas, e
Ricardo Goulart e William com quatro desarmes. Era pressão azul-celeste.
Com
a pressão desde a saída de bola do Santos e com rápida troca de ação de jogo, o
Cruzeiro não deixava o Santos sair do seu campo defensivo. No flagrante acima,
a consequência dos dois aspectos sem bola do time mineiro: superioridade
numérica no setor da bola ainda em campo ofensivo. Na imagem, Robinho está
cercado por jogadores da Raposa enquanto que as suas opções de passes curtas estão
marcadas (Reprodução: ESPN Brasil).
Neste
período da partida, o 4-2-3-1 do Santos se posicionava defensivamente no
4-4-1-1 ou 4-4-2, procurava a compactação entre sua intermediária defensiva e
próxima do meio do campo, realizava lenta troca de ação de jogo e com o sistema
defensivo passivo em relação ao ofensivo do Cruzeiro. Já que o Peixe realizou,
no jogo todo, somente 13 roubadas de bola. Ou seja, a retomada era difícil e o
contra-ataque, neste período jogo, ainda mais.
No
flagrante acima, imagem do posicionamento defensivo do Santos no 4-4-2,
compactado em curto espaço e entre a sua intermediária defensiva e o próximo ao
meio do campo (Reprodução: ESPN Brasil).
Já
após o gol de William, aos 10, e os 20 minutos iniciais, o Cruzeiro diminuiu o
ímpeto na partida. A partir daqui, o jogo ficou equilibrado para as duas
equipes.
Com
a desvantagem no placar, o Santos começou a conseguir chegar a seu campo
ofensivo. Para tal, quem dava o passe que realmente transitava ofensivamente o
time era Lucas Lima. Este meia começou a explorar os espaços entre os laterais
e os meias abertos do Cruzeiro, já que Éverton Ribeiro e William só marcavam os
laterais do Peixe. Deste modo, o camisa 20 do time paulista apresentou o
seguinte heatmap:
Com
Lucas Lima explorando tanto os espaços entre os laterais e os wingers do
Cruzeiro, este jogador apresentou o heatmap acima. Perceba o alto índice de
presença pelos lados do terço central além da faixa central do campo. Percepção
ótima para fazer o seu time chegar ao terço ofensivo.
Nesta
imagem, nota-se o que a percepção de Lucas Lima e a movimentação ofensiva do
Santos geraram para o time em ação ofensiva. Com o camisa 20 entre Egídio e
Henrique, com Rildo atraindo a marcação do lateral-esquerdo do Cruzeiro e
William tendo a consquência do seu mal posicionamento defensivo, Cicinho
recebeu a bola completamente livre pelo lado direito do Santos (Reprodução:
ESPN Brasil).
Para
neutralizar o Santos, o Cruzeiro posicionava defensivamente no 4-4-1-1 ou
4-4-2, com baixa intensidade defensiva –nesta altura do jogo-, com os wingers
marcando somente os laterais adversários e descompactando a equipe no terço
defensivo. Todos estes aspectos defensivos, o Peixe também realizou –assim como
foi demonstrado anteriormente. Além deste time paulista, em terras brasileiras,
foi muito comum em 2014 as equipes realizarem estes aspectos em ação defensiva:
wingers não balançando e espaçamento no terço defensivo.
Com
a bola na direita do campo defensivo do Cruzeiro, William sequer aparece na
imagem, pois este está marcando somente Cicinho –que não avançou neste momento
do jogo. Deste modo, a Raposa passou a se defender no 4-3-1-2 em vez do 4-4-1-1
ou 4-4-2 tradicional para o esquema. Ainda no mesmo flagrante, percebe-se Lucas
Lima aberto na meia esquerda e aproveitando o espaço entre Mayke e Éverton
Ribeiro (Reprodução: ESPN Brasil).
Agora
pelo lado do Santos, a falta de balanço defensivo do winger oposto do lado da
bola também aconteceu. Enquanto a bola está pelo lado esquerdo da sua equipe,
Rildo continuou marcando somente Egídio e esqueceu-se de marcar o seu setor.
Desta maneira, Lucas Silva ficou disponível para o passe e sem marcação
adversária (Reprodução: ESPN Brasil).
Voltando
ainda a destacar Lucas Lima, este jogador apresentou, além de uma ótima
percepção ofensiva, também uma ótima defensiva. Como o Cruzeiro freqüentemente atacava
pela direita e como Robinho só marcava Mayke e de vez em quando retornava até o
fim da jogada marcando-o, o camisa 20 do Santos invariavelmente trocava de
posição com o “Rei das pedaladas”. No flagrante adiante, eis a consequência da
falta do balanço defensivo do winger e como é difícil deste acompanhar a subida
do lateral adversário sem estar bem posicionado:
Na
imagem, percebe-se Robinho sem estar bem posicionado defensivamente. Pois ele
não está em uma possível linha de passe de Júlio Baptista, não está vendo onde
Mayke está em campo, não balançou defensivamente e sofreu o lançamento na suas
costas com a ultrapassagem do lateral-direito do Cruzeiro. Percebendo que seu
companheiro marcava mal, Lucas Lima trocava de posição com o camisa 7 santista
para equilibrar o sistema defensivo alvinegro. Ainda no mesmo flagrante,
nota-se o que a movimentação e troca de posição do quarteto ofensivo da Raposa
causaram: com Júlio Baptista trocando de posição com Ricardo Goulart durante a
ação ofensiva, Arouca não sabia quem marcava e deixou um tempo suficiente para
o camisa 10 azul celeste fazer o lançamento para William, e este começar a
jogada do gol da partida (Reprodução: ESPN Brasil).
No
intervalo, Enderson Moreira, ao perceber os espaços em que Lucas Lima estava
aproveitando ofensivamente, alterou a sua equipe para o 4-3-3. Neste esquema
tático, o Santos passou a ter o camisa 20 e mais Arouca para usufruir dos
espaços defensivos que o sistema defensivo do Cruzeiro não conseguia marcar. Além
disso, Robinho passou a ser a referência do ataque enquanto o seu time se
defendia e Gabriel passou marcar o setor esquerdo do meio-de-campo alvinegro. O
Peixe queria o gol de empate.
No
intervalo do jogo, o Santos passou a jogar no 4-3-3 e com Robinho na referência
do ataque em ação defensiva. Com estas mudanças, o Peixe usufruiu ainda mais
dos espaços entre os laterais e os wingers do Cruzeiro e melhorou defensivamente
pelo o seu lado esquerdo.
Mesmo
com a melhora tática em campo e pressionando ainda mais o time mineiro, o 1 x 0
ainda se mantinha no placar. Deste modo, os técnicos começaram a alterar as
suas equipes. Pelo Cruzeiro, entrou Dagoberto no lugar de William –fazendo com
que Éverton Ribeiro passasse a jogar pela direita e Dago pela esquerda. Já pelo
Santos, Serginho entrou no lugar de Gabriel. Com esta última substituição, o
sistema ofensivo do Peixe alterou. Com Gabigol, o time paulista tinha um “9
móvel”, já com Robinho na referência do ataque em todas as ações do jogo, o
Santos passou a ter um “falso 9”.
Com
Gabriel, o Santos tinha um jogador na referência que se movimentava para os
lados para achar espaço para receber a bola, assim como mostra o flagrante
acima. Na imagem, Gabigol se movimentou nas costas de Dedé que estava com a sua
atenção voltada em Robinho e o camisa 10 alvinegro recebeu a bola para
continuar o ataque santista (Reprodução: ESPN Brasil).
Agora
com Robinho na referência, o Peixe passou a ter um “falso 9”. Nesta função, o
jogador mais avançado da equipe empurra a linha defensiva adversária e retorna
para aproveitar o espaço entre a linha defensiva e a do meio-de-campo adversárias,
assim como onde o camisa 7 do Santos está posicionado no flagrante acima
(Reprodução: ESPN Brasil).
Ao
mesmo tempo em que Enderson Moreira procurava melhorar o seu sistema ofensivo,
Marcelo Oliveira procurava melhorar o seu defensivo. Para tal, o técnico do
Cruzeiro colocou Marlone no lugar de Éverton Ribeiro. Já que com Dagoberto e
Marlone, a linha de 4 do meio-de-campo azul-celeste se posicionava mais próxima
da defensiva e passou a balançar defesnivamente. Porém, ofensivamente, com a
entrada de Marcelo Moreno, a Raposa perdeu a troca de posição que Júlio
Baptista fazia com Ricardo Goulart.
Com
as substituições realizadas, o sistema ofensivo do Cruzeiro ganhou em
profundidade através de Marcelo Moreno e amplitude com Dagoberto e Marlone,
assim como mostra o flagrante anterior. Com isso, Ricardo Goulart passou a ter
mais espaços para dar continuidade aos contra-ataques da Raposa que passaram a
ser freqüentes neste momento da partida (Reprodução: ESPN Brasil).
Já
pelo lado do Santos, Enderson Moreira colocou Jorge Eduardo e Leandro Damião
nos lugares de Rildo e Robinho, respectivamente. Com Jorge Eduardo, o time
ganhou mais incisividade e com Damião mais profundidade. Porém com um
centroavante no time, o sistema ofensivo não conseguiu mais criar tantas
oportunidades ofensivas, e o Santos passou a utilizar o cruzamento como
principal forma de ataque. Com o Cruzeiro, o mesmo aconteceu no fim da partida.
Mesmo com as substituições, a Raposa não conseguia criar oportunidades com a
bola no chão e passou a utilizar do cruzamento como principal via ofensiva.
Entretanto
vale aqui uma observação: os dois times, por quase toda a partida, procuraram o
passe curto como via ofensiva. Tanto que Cruzeiro e Santos realizaram,
respectivamente, 340 e 318 passes certos. Quando começaram a realizar cruzamentos,
as duas equipes pouco acertaram este fundamento e, assim, poucos ameaçaram o
goleiro adversário. Já que os dois times acertaram somente uma bola alçada cada
enquanto que a Raposa errou 14 e o Peixe 12. Deste modo, assim como os aspectos defensivos,
estas duas equipes apresentaram ofensivamente aspectos de jogo bem brasileiros.
Fim
de partida: Cruzeiro no 4-2-3-1 inicial e Santos no 4-3-3.
Por Caio Gondo (@CaioGondo)