segunda-feira, 6 de outubro de 2014

Manchester United vai dando corpo ao seu losango e vence o pior Everton de Roberto Martínez

Confrontos entre Everton e Manchester United, os dois grandes rivais do Liverpool, sempre reservam grandes espetáculos, com jogos emocionantes até o fim. Nos últimos quatro anos, tivemos um 3x3, um 4x4, e vários placares sendo decididos no famigerado “Fergie Time”, tanto para um lado, como para o outro.

No último domingo, em Old Trafford, sem Alex Ferguson e em ascensão sob o comando de Louis van Gaal, o time da casa recebeu um Everton em situação ruim na Premier League. O time de Liverpool está próximo da zona de rebaixamento para a Championship e, mesmo com algumas boas apresentações, sente dificuldades para encontrar resultados neste início de temporada.

Os Toffees foram escalados por Roberto Martínez em sistema parecido com o que venceu o Wolfsburg pela Europa League há algumas semanas, na melhor apresentação do time em 2014-15, mas com duas diferenças importantes: a ausência do lateral-direito Coleman, que, assim como Baines, é essencial para o bom aproveitamento ofensivo do time, e de McCarthy, volante que tem melhor chegada no terço de ataque do que seu substituto, Besic. O 4-2-3-1, que transitava para um 4-1-4-1 na fase defensiva, tinha Lukaku no comando do ataque e Naismith como ponta-de-lança, em função que, na segunda parte da última temporada, modificou seu status de reserva perna-de-pau para titular absoluto e essencial para a boa performance do Everton e especialmente de Lukaku, já que o escocês tem boa presença de área e consegue revezar a referência com o belga, que atua melhor de frente do que de costas para o gol, principalmente partindo da direita pra dentro.

Desde o fim da janela de transferências, van Gaal abandonou o sistema com três zagueiros e passou a usar uma linha de quatro atrás, com um losango no meio campo e dois atacantes à frente. O esquema é chamado de “four-four-two diamond” na Inglaterra e, além do United, Liverpool, West Ham e até o Everton já se utilizaram do sistema nesta Premier League.

4-3-1-2 do time da casa com atacantes que atuam melhor dentro da área e vértices laterais do losango que trabalham mais para agredir pelos lados do que para organizar o time no meio-campo

O 4-3-1-2 é bastante comum no Brasil e começa a ser difundido na Europa após algum tempo deixado à margem. Nos Red Devils, LvG tem dado uma dinâmica diferente ao sistema, tendo em vista adaptar as melhores características do seu 3-4-1-2 da Copa do Mundo e do início de trabalho em Manchester, principalmente nos movimentos ofensivos.

No Bayern de Munique, Pep Guardiola tem usado com muito sucesso um sistema que tem laterais que se transformam em volantes na fase ofensiva e participam da organização do jogo. Conhecidamente uma das influências de Guardiola, van Gaal também duplica a função de alguns atletas no United, no caso, seus volantes. Pelo posicionamento defensivo, é possível dizer que Valencia e Di María atuaram como volantes de saída contra o Everton, mas, de fato, a função dos sul-americanos (especialmente Di María) com a bola em posse do United, era trabalhar como pontas e agredir o adversário com o apoio dos laterais e não ajudar na organização do time, que era feita majoritariamente por Daley Blind, com apoio esporádico de Juan Mata no terço central do campo.

Aberto pela esquerda, Di María recebe passe de Blind e tem a possibilidade de partir pra cima do lateral rival para tentar o drible, o cruzamento ou aguardar o apoio de Shaw, que já se projeta para assumir o corredor que será deixado pelo argentino (Reprodução: ESPN Brasil)

Na fase defensiva, os Red Devils marcavam em bloco médio/alto, com Mata, que substituiu o suspenso Rooney, juntando-se a Robin van Persie e Falcao García para pressionar a saída de bola adversária, enquanto Valencia, Blind e Di María formavam uma linha mais compacta com a de defesa para proteger o time quando o Everton conseguia atravessar o pressing sem ser com lançamentos longos. O balanço defensivo da linha de volantes do United é típico de times de LvG e assombra de tão eficiente, dando pouquíssimos espaços para o adversário virar o jogo.

United marcando em um 4-3-3, com Mata se juntando a Falcao e RvP na última linha (Reprodução: ESPN Brasil)

Roberto Martínez voltou a usar Naismith compondo uma segunda linha de quatro na marcação do meio-campo, que ficava à frente de Gareth Barry, o homem responsável pela saída de bola e pela ocupação de espaço no entrelinhas, setor de atuação de Mata. Muito pela marcação forte de Barry, o camisa 8 red devil não conseguiu participar bem do jogo na intermediária ofensiva, tendo espaços para trabalhar apenas quando recuava para ajudar na transição ou quando entrava na área adversária, que foi onde conseguiu a assistência para o gol de Di María, após cruzamento de Rafael da direita. A dificuldade de Mata em encontrar espaço para seu passe de ruptura também contribuiu para que o United concentrasse seus ataques pelos flancos.

Everton no 4-1-4-1 da fase defensiva, com Barry sempre atento à movimentação de Mata no seu setor (Reprodução: ESPN Brasil)

A opção de não utilizar muitos jogadores organizadores no meio-campo fez com que o Manchester United fosse bastante vertical em seus ataques e, consequentemente, tivesse menos posse de bola que o Everton ao fim do jogo. A posse dos Toffees, no entanto, era pouco efetiva, sobretudo na primeira etapa, quando o time só conseguiu assustar em uma ligação direta de Baines para Lukaku desde o campo defensivo e em um pênalti mal marcado por Kevin Friend, que não viu que um carrinho de Luke Shaw foi certeiro na bola e não em Hibbert, que disputava a jogada. O pênalti foi cobrado por Baines e defendido por De Gea, que se tornaria o homem do jogo no segundo tempo.

Para a segunda parte, Martínez abandonou a ideia de ter Naismith colaborando tão intensamente com a recomposição defensiva e deixou o escocês mais próximo a Lukaku, fechando duas linhas de quatro na marcação, com os wingers se somando a Barry e Besic no meio-campo. Desta forma, o Everton conseguiu empatar no início da etapa complementar, em cruzamento dele, sempre ele, Leighton Baines. O gol não furou o sistema defensivo de van Gaal com bola rolando, já que surgiu a partir de uma falta na intermediária, quando Baines deu toda a pinta de que faria o cruzamento e tocou para Barry que, na entrada da grande área, devolveu de primeira para o camisa 3 alçar a bola para Naismith conferir de cabeça.

O gol do Everton não abalou o United, que manteve a tranquilidade para buscar a dianteira do placar novamente com a mesma proposta de jogo. Neste sentido, o 2x1 saiu em jogada de Rafael com Valencia pela ponta direita, quando o equatoriano recebeu no bico da grande área e enxergou Di María livre do outro lado, atravessando a bola para o argentino, que finalizou torto, mas teve sorte e encontrou Falcao dentro da área para desviar e marcar seu primeiro gol como Red Devil.

Novamente em vantagem, LvG começou a mudar o time e, sabendo que o Everton viria pra cima no final, colocou o jovem James Wilson para fechar o lado direito de uma linha de quatro no meio-campo, que também tinha Di María pela esquerda e Fellaini e Blind por dentro. Martínez, por seu turno, manteve o 4-2-3-1, mas buscou em Osman e Oviedo a agressividade que McGeady e Pienaar foram incapazes de impor no período em que estiveram em campo.

Mais conservador, van Gaal resolveu fechar duas linhas de quatro, enquanto o Everton tentava atacar de todas as maneiras

Osman e Oviedo entraram realmente mais participativos do que seus antecessores e conseguiram dar muito calor no United, que mesmo com as duas linhas de quatro, não conseguiu segurar a imposição que o Everton passou a ter no seu terço de ataque. De Gea, que pegara pênalti no fim do primeiro tempo, foi essencial e salvou os Red Devils em três oportunidades nos minutos finais.

Apesar do sofrimento, o Manchester United conseguiu vencer pela segunda vez consecutiva e chegar ao terceiro resultado positivo em quatro jogos, desde que abandonou o sistema com três zagueiros e passou a ter o losango de meio-campo. O Everton, por sua vez, está na beira da zona do rebaixamento e já chega à quarta partida sem vitória, somando Premier League e Europa League.

Por João Marcos Soares (@JoaoMarcos__)