Confrontos entre Everton e Manchester United, os
dois grandes rivais do Liverpool, sempre reservam grandes espetáculos, com
jogos emocionantes até o fim. Nos últimos quatro anos, tivemos um 3x3, um 4x4,
e vários placares sendo decididos no famigerado “Fergie Time”, tanto para um lado, como para o outro.
No último domingo, em Old Trafford, sem Alex Ferguson e em ascensão sob o comando de Louis van Gaal, o time da casa recebeu um
Everton em situação ruim na Premier League. O time de Liverpool está próximo da
zona de rebaixamento para a Championship e, mesmo com algumas boas
apresentações, sente dificuldades para encontrar resultados neste início de
temporada.
Os Toffees foram
escalados por Roberto Martínez em sistema parecido com o que venceu o Wolfsburg pela Europa League há algumas semanas, na melhor apresentação do time em
2014-15, mas com duas diferenças importantes: a ausência do lateral-direito
Coleman, que, assim como Baines, é essencial para o bom aproveitamento ofensivo
do time, e de McCarthy, volante que tem melhor chegada no terço de ataque do
que seu substituto, Besic. O 4-2-3-1, que transitava para um 4-1-4-1 na fase
defensiva, tinha Lukaku no comando do ataque e Naismith como ponta-de-lança, em
função que, na segunda parte da última temporada, modificou seu status de reserva
perna-de-pau para titular absoluto e essencial para a boa performance do
Everton e especialmente de Lukaku, já que o escocês tem boa presença de área e consegue
revezar a referência com o belga, que atua melhor de frente do que de costas
para o gol, principalmente partindo da direita pra dentro.
Desde o fim da janela de transferências, van Gaal
abandonou o sistema com três zagueiros e passou a usar uma linha de quatro
atrás, com um losango no meio campo e dois atacantes à frente. O esquema é
chamado de “four-four-two diamond” na
Inglaterra e, além do United, Liverpool, West Ham e até o Everton já se utilizaram
do sistema nesta Premier League.
4-3-1-2 do time da casa com atacantes que atuam melhor
dentro da área e vértices laterais do losango que trabalham mais para agredir
pelos lados do que para organizar o time no meio-campo
O 4-3-1-2 é bastante comum no Brasil e começa a ser
difundido na Europa após algum tempo deixado à margem. Nos Red Devils, LvG tem dado uma dinâmica diferente ao sistema, tendo
em vista adaptar as melhores características do seu 3-4-1-2 da Copa do Mundo e
do início de trabalho em Manchester, principalmente nos movimentos ofensivos.
No Bayern de Munique, Pep Guardiola tem usado com
muito sucesso um sistema que tem laterais que se transformam em volantes na
fase ofensiva e participam da organização do jogo. Conhecidamente uma das
influências de Guardiola, van Gaal também duplica a função de alguns atletas no
United, no caso, seus volantes. Pelo posicionamento defensivo, é possível dizer
que Valencia e Di María atuaram como volantes de saída contra o Everton, mas,
de fato, a função dos sul-americanos (especialmente Di María) com a bola em posse do United, era trabalhar como pontas e agredir o adversário com o apoio dos
laterais e não ajudar na organização do time, que era feita majoritariamente
por Daley Blind, com apoio esporádico de Juan Mata no terço central do campo.
Aberto pela esquerda, Di María recebe passe de Blind e
tem a possibilidade de partir pra cima do lateral rival para tentar o drible, o
cruzamento ou aguardar o apoio de Shaw, que já se projeta para assumir o
corredor que será deixado pelo argentino (Reprodução: ESPN Brasil)
Na fase defensiva, os Red Devils marcavam em bloco médio/alto, com Mata, que substituiu o
suspenso Rooney, juntando-se a Robin van Persie e Falcao García para pressionar
a saída de bola adversária, enquanto Valencia, Blind e Di María formavam uma
linha mais compacta com a de defesa para proteger o time quando o Everton
conseguia atravessar o pressing sem
ser com lançamentos longos. O balanço defensivo da linha de volantes do United é
típico de times de LvG e assombra de tão eficiente, dando pouquíssimos espaços
para o adversário virar o jogo.
United marcando em um 4-3-3, com Mata se juntando a
Falcao e RvP na última linha (Reprodução: ESPN Brasil)
Roberto Martínez voltou a usar Naismith compondo
uma segunda linha de quatro na marcação do meio-campo, que ficava à frente de Gareth
Barry, o homem responsável pela saída de bola e pela ocupação de espaço no
entrelinhas, setor de atuação de Mata. Muito pela marcação forte de Barry, o
camisa 8 red devil não conseguiu
participar bem do jogo na intermediária ofensiva, tendo espaços para trabalhar
apenas quando recuava para ajudar na transição ou quando entrava na área
adversária, que foi onde conseguiu a assistência para o gol de Di María, após
cruzamento de Rafael da direita. A dificuldade de Mata em encontrar espaço para
seu passe de ruptura também contribuiu para que o United concentrasse seus
ataques pelos flancos.
Everton no 4-1-4-1 da fase defensiva, com Barry sempre
atento à movimentação de Mata no seu setor (Reprodução: ESPN Brasil)
A opção de não utilizar muitos jogadores
organizadores no meio-campo fez com que o Manchester United fosse bastante
vertical em seus ataques e, consequentemente, tivesse menos posse de bola que o
Everton ao fim do jogo. A posse dos Toffees,
no entanto, era pouco efetiva, sobretudo na primeira etapa, quando o time só
conseguiu assustar em uma ligação direta de Baines para Lukaku desde o campo
defensivo e em um pênalti mal marcado por Kevin Friend, que não viu que um
carrinho de Luke Shaw foi certeiro na bola e não em Hibbert, que disputava a
jogada. O pênalti foi cobrado por Baines e defendido por De Gea, que se
tornaria o homem do jogo no segundo tempo.
Para a segunda parte, Martínez abandonou a ideia de
ter Naismith colaborando tão intensamente com a recomposição defensiva e deixou
o escocês mais próximo a Lukaku, fechando duas linhas de quatro na marcação,
com os wingers se somando a Barry e Besic
no meio-campo. Desta forma, o Everton conseguiu empatar no início da etapa
complementar, em cruzamento dele, sempre ele, Leighton Baines. O gol não furou
o sistema defensivo de van Gaal com bola rolando, já que surgiu a partir de uma
falta na intermediária, quando Baines deu toda a pinta de que faria o
cruzamento e tocou para Barry que, na entrada da grande área, devolveu de
primeira para o camisa 3 alçar a bola para Naismith conferir de cabeça.
O gol do Everton não abalou o United, que manteve a
tranquilidade para buscar a dianteira do placar novamente com a mesma proposta
de jogo. Neste sentido, o 2x1 saiu em jogada de Rafael com
Valencia pela ponta direita, quando o equatoriano recebeu no bico da grande
área e enxergou Di María livre do outro lado, atravessando a bola para o argentino,
que finalizou torto, mas teve sorte e encontrou Falcao dentro da área para
desviar e marcar seu primeiro gol como Red
Devil.
Novamente em vantagem, LvG começou a mudar o time
e, sabendo que o Everton viria pra cima no final, colocou o jovem James Wilson
para fechar o lado direito de uma linha de quatro no meio-campo, que também
tinha Di María pela esquerda e Fellaini e Blind por dentro. Martínez, por seu
turno, manteve o 4-2-3-1, mas buscou em Osman e Oviedo a agressividade que
McGeady e Pienaar foram incapazes de impor no período em que estiveram em
campo.
Mais conservador, van Gaal resolveu fechar duas linhas
de quatro, enquanto o Everton tentava atacar de todas as maneiras
Osman e Oviedo entraram realmente mais
participativos do que seus antecessores e conseguiram dar muito calor no United,
que mesmo com as duas linhas de quatro, não conseguiu segurar a imposição que o
Everton passou a ter no seu terço de ataque. De Gea, que pegara pênalti no fim
do primeiro tempo, foi essencial e salvou os Red Devils em três oportunidades nos minutos finais.
Apesar do sofrimento, o Manchester United conseguiu
vencer pela segunda vez consecutiva e chegar ao terceiro resultado positivo em
quatro jogos, desde que abandonou o sistema com três zagueiros e passou a ter o
losango de meio-campo. O Everton, por sua vez, está na beira da zona do
rebaixamento e já chega à quarta partida sem vitória, somando Premier League e
Europa League.
Por João Marcos Soares (@JoaoMarcos__)