quinta-feira, 16 de outubro de 2014

No Mineirão, o Atlético-MG presenteou os amantes do futebol com noite memorável

Em mais um duelo épico desta Copa do Brasil de 2014, o Atlético-MG recebeu o Corinthians no Mineirão para buscar reverter o 2x0 que sofrera há duas semanas, em Itaquera. O confronto estava tenso ainda antes do início, já que só de última hora foi possível para os clubes decidirem se Diego Tardelli, pelo Atlético, e Elias e Gil, pelo Corinthians, entrariam em campo. Os três haviam enfrentado o Japão pela seleção brasileira, em Cingapura, há menos de 48 horas com relação ao horário do jogo de Belo Horizonte. No fim, Tardelli, a referência técnica do Galo, começou como titular, enquanto os selecionáveis corintianos ficaram à disposição no banco de reservas.

Como discutimos no podcast da semana, o Galo vinha trabalhando de maneira diferente nas últimas rodadas do Brasileirão, com Dátolo atuando como um dos volantes, dois atacantes que recompunham uma segunda linha de quatro pelos lados e um ataque mais móvel ao lado de Jô ou André, que faziam o Galo atuar com uma referência na frente pela ausência de Tardelli. Levir Culpi variava, dependendo dos adversários e dos momentos do jogo, entre um 4-4-2 que trocava mais passes e valorizava a bola ou um que se posicionava defensivamente em bloco baixo e adotava proposta reativa para atacar na base de contragolpes, como aconteceu contra o Fluminense e na parte final do jogo contra o São Paulo. Na Copa do Brasil, necessitando reverter uma desvantagem razoável, acreditava-se que o time atuaria no mesmo sistema, mas buscaria propor mais o jogo do que nos últimos jogos, sobretudo com as voltas de Guilherme e Diego Tardelli para formarem a dupla de ataque.

O Corinthians foi a campo no mesmo modelo no qual tem atuado desde a chegada de Mano Menezes, o tradicional 4-2-3-1, que se compacta na fase defensiva, com balanço quase perfeito das linhas de marcação, e que tem transição ofensiva lenta, ou mais paciente, buscando Guerrero para prender a bola na frente aguardando a chegada dos jogadores de meio-campo, Malcom agredindo pelo lado direito, Petros centralizando para ajudar na transição e abrindo o corredor para Fábio Santos na esquerda, e Renato Augusto dando a dinâmica do meio-campo e procurando o último passe para Guerrero ou para quem atacasse os espaços vazios que a movimentação do centroavante peruano proporcionava.

 Corinthians com a formação tradicional de Mano Menezes e Atlético em 4-4-2 extremamente dinâmico que faz o time mineiro apresentar o melhor futebol do momento no Brasil

No início da partida, o Galo pressionava a saída de bola corintiana pra forçar o erro do adversário. Logo aos quatro minutos, a pressão atleticana fez Fágner dar um chutão pra frente do campo defensivo, só que o time de Levir Culpi não contava com o vacilo de Jemerson, que perdeu disputa no corpo para Guerrero na sequência da jogada, fazendo com que o peruano saísse de frente com Victor para finalizar cruzado e abrir o placar no Mineirão.

O gol silenciou a torcida atleticana por alguns minutos, mas os jogadores não pareceram sentir tanto e continuaram com a proposta inicial. A volta de Guilherme tira um pouco da sobrecarga de Dátolo, que vinha precisando marcar como volante, controlar a bola no meio-campo e também ser o homem do último passe. Contra o Corinthians, Guilherme por vezes recuava para o entrelinhas para receber e buscar o companheiro melhor posicionado à frente, onde se via movimentação intensa entre Luan, Tardelli e Carlos para abrir espaço e dar opção de profundidade. Com Guilherme procurando o passe de ruptura, Dátolo trabalhava mais na intermediária adversária para pensar o jogo e valorizar a posse de bola, antes de tomar a decisão de qual jogada seria executada, como um bom volante cerebral que o argentino tem se tornado nas mãos de Levir Culpi.

Na fase defensiva, o Galo tentava pressionar a saída de bola e, quando não conseguia roubar ou provocar o chutão, transitava rapidamente para compactar-se nas mesmas duas linhas de quatro que tem sido vistas nos últimos jogos do alvinegro de Minas. Mesmo quando não executava a pressão alta, a marcação atleticana era extremamente agressiva, buscando atacar setorialmente o portador da bola para que este não tivesse tempo para pensar e procurar a melhor jogada de ataque.

Atlético-MG aproxima suas linhas de marcação e dificulta a infiltração corintiana (Reprodução: ESPN Brasil)

Após aumentar a vantagem com o gol de Guerrero, o Corinthians passou a adotar uma proposta reativa maior do que o habitual, muito, também, provocada pela marcação agressiva do rival, que dificultava as trocas de passes corintianas em todos os setores do campo. Sem a bola, o Timão posicionava-se nas tradicionais linhas de quatro de Mano Menezes, deixando Guerrero livre de grandes responsabilidades defensivas e com Renato Augusto posicionando-se à frente da segunda linha para atacar a troca de passes do meio-campo adversário.

Linhas de marcação corintianas tinham a compactação habitual e balançavam corretamente de acordo com o posicionamento da bola, como já é de costume no alvinegro paulista (Reprodução: ESPN Brasil)

O Galo era envolvente em seus ataques e trocava passes curtos para tentar quebrar as rígidas linhas corintianas. A mobilidade que se pôde perceber entre Diego Tardelli, Carlos, Luan, Guilherme e até Dátolo, que chegava de trás, foi muito bem apelidada de “Galo Carrossel” pelo grande Paulo Vinícius Coelho. Os homens mais avançados do Atlético buscavam abrir espaços a todo momento com o deslocamento constante e os toques curtos na bola, fazendo com que o time mineiro mantivesse uma diferença com relação ao Corinthians de 20% de posse de bola a seu favor durante os noventa minutos. Ao fim da partida, o Galo trocou 473 passes, com o bom aproveitamento de 91% de acerto.

Ainda no primeiro tempo e com um volume de jogo bem maior que o do Corinthians, o Atlético conseguiu virar o jogo com um gol de Luan, que soube atacar o espaço vazio entre os jogadores da última linha corintiana e conseguiu tocar levemente de cabeça após passe preciso de Guilherme, que, por sua vez, marcou o segundo gol, originado de ótima troca de passes curtos em progressão no campo do Corinthians até que Dátolo, de costas pro gol, ajeitou para Guilherme chutar e comemorar após desvio em Felipe que matou Cássio.

Para a segunda etapa, Luan sentiu novamente a lesão na costela e precisou ser substituído por Maicosuel, que, apesar de se movimentar quase tanto como o antecessor sem a bola, não consegue imprimir a velocidade com a bola que o camisa 27 faz tão bem. Neste sentido, o Galo permaneceu com a mesma movimentação e pressionou durante os primeiros minutos da segunda parte, mas estava carente do jogador de velocidade para carregar a bola, sobretudo em contra-ataques, quebrando um pouco o ritmo do jogo transicional característico do time mineiro, o que contribuiu para que o Corinthians conseguisse segurar a intensidade atleticana e controlasse um pouco mais o jogo durante o segundo terço da etapa complementar.

Trinta e sete horas após sair do jogo do Brasil, em Cingapura, Diego Tardelli entrou em campo do outro lado do mundo para uma partida de quartas-de-final de Copa do Brasil contra um time do tamanho do Corinthians e com tal desvantagem no placar agregado. Mesmo com todo este revés, o principal jogador do Galo mineiro mostrou movimentação intensa durante o tempo que esteve em campo, sendo o atleta que mais se deslocava quando o Atlético tinha a bola no pé. Após quase setenta e cinco minutos, Levir Culpi resolveu sacar o desgastado camisa 9 para colocar Marion, a opção de velocidade que o time sentia falta desde a saída de Luan.

Mapa de movimentação de Diego Tardelli, o mais guerreiro dos guerreiros atleticanos a pisarem no Mineirão na quarta-feira (Reprodução: Footstats)

Logo após a substituição, o Atlético passou a utilizar mais o lado esquerdo pelo advento de Marion, e Dátolo, em mais uma ótima atuação, controlou a bola no meio-campo até encontrar amplitude pelo extremo esquerdo com a subida do lateral Douglas Santos, que carregou e cruzou para Carlos, agora mais atacante trás a saída de Tardelli, ajeitar para Guilherme chutar de primeira e renovar as esperanças da massa atleticana que empurrou o time à classificação.

Com mais um gol sofrido e já sem margem de erro no confronto, Mano Menezes agiu e colocou Elias no lugar de Guilherme Andrade e Danilo na vaga de Renato Augusto. Elias entrou para melhorar o passe na transição ofensiva e Danilo tinha a responsabilidade de tentar segurar a bola mais à frente com Guerrero e Luciano, que já havia substituído Malcom. Além disso, a mudança também significou um preenchimento maior do meio-campo corintiano na fase defensiva, já que o time passou a se posicionar sem a bola em um 4-1-4-1, que tinha Guerrero e Luciano fechando os flancos e Elias, Petros e Bruno Henrique ocupando espaços pelo centro.

Meio-campo corintiano mais povoado no terço final do segundo tempo, com Guerrero e Luciano compondo uma segunda linha de quatro e Danilo solto aguardando a recuperação da bola para prendê-la no campo de ataque (Reprodução: ESPN Brasil)

A marcação corintiana dificultou o trabalho ofensivo do Galo que, desgastado, não conseguia manter a mesma movimentação que caracterizou o time em grande parte do jogo. Desta forma, após os quarenta minutos, os mineiros buscavam a bola aérea para Carlos e Guilherme, que não saía mais da área para receber. Após um destes cruzamentos, Fágner afastou a bola para escanteio que Dátolo cobrou para a cabeçada dividia entre Edcarlos e Guerrero, que acabou batendo por último no capitão atleticano e encontrando a rede para dar a classificação ao heroico Galo.

Disposição tática dos times no terço final do jogo, incluindo o momento do gol derradeiro

Dentro de campo, o Atlético-MG fez por merecer a classificação, com destaque para as atuações primorosas de Dátolo e, especialmente Guilherme, que dá o toque de genialidade para as jogadas ofensivas atleticanas. O Corinthians atuou como sempre tem atuado ao longo da temporada e foi amplamente dominado pelo adversário que também se compactava na fase defensiva e que trabalhava com velocidade nos passes na fase ofensiva, duas conjunturas que sabidamente o Corinthians de Mano tem dificuldade para se adaptar dentro de um jogo, já que sua defesa é lenta e seu ataque tem pouca mobilidade para furar um sistema compacto como o do Atlético-MG.

O Galo, dono do futebol mais vistoso do momento no Brasil, vai enfrentar o Flamengo em um confronto de muita tradição e, se conseguir passar pelo rubro-negro carioca, pode ter pela frente o Cruzeiro, que medirá forças com Santos ou Botafogo na outra perna das semifinais. Os grandes rivais mineiros podem proporcionar aos amantes do futebol uma final épica que seria perfeita para coroar uma Copa do Brasil que tem sido especial dentro de campo.

Por João Marcos Soares (@JoaoMarcos__)