terça-feira, 18 de novembro de 2014

Corinthians novamente sofre para criar espaços, mas vence e segue vivo na luta pela vaga na Libertadores

Bahia e Corinthians fizeram um confronto de nível técnico baixo, onde o excesso de vontade das duas equipes muitas vezes acabava se sobressaindo, tornando assim um jogo muito mais disputado no meio campo do que um jogo propriamente empolgante no quesito chances de gol.

O Bahia veio a campo armado no 4-1-4-1 que tinha Galhardo e Guilherme Santos como wingers. Com a bola a equipe baiana normalmente apresentava os seus dois laterais subindo alternadamente, com Rafael Miranda e Bruno Paulista sempre oferecendo o apoio ao lateral que estava subindo pelo seu lado do campo, formando assim uma espécie de triângulo pelas laterais do campo, coincidentemente a região mais ocupada pela equipe para criar seus ataques, já que a busca pelos cruzamentos era constante(37 a 20 ao longo da partida).

Sem a bola a equipe baiana fechava-se em um 4-1-4-1 que marcava pressão em bloco médio, realizando uma marcação por zona, onde a última linha de defesa da equipe realizava encaixes mais longos. Esses encaixes mais longos ocorriam devido ao espaço que havia no entre linhas, com os defensores baianos necessitando por vezes abandonar seu posicionamento para diminuir o espaço do adversário naquela região.

 
Bahia no 4-1-4-1 que forçava o jogo pelas laterais

Já o Corinthians veio a campo no seu tradicional 4-2-3-1, onde Luciano fazia o papel de homem mais avançado da equipe por conta do desfalque do atacante peruano Guerrero. Com a bola a equipe corintiana tinha os seus laterais, e apresentou uma movimentação que acabava por ser previsível e pouco ajudou na criação de espaços no terço final de campo. Fágner subia, já que a equipe normalmente subia pela direita, Renato encostava pela direita em Fágner, Malcom se alinhava a Luciano, e Petros centralizava, por trás de Malcom e Luciano, deixando Bruno Henrique mais recuado na intermediária ofensiva, oferecendo opção de recuo.

Sem a bola a equipe alternava entre o 4-4-1-1/4-1-4-1, essa variação dependia da movimentação do volante Bruno Henrique, que ora alinhava-se a Renato Augusto, ora alinhava-se a Ralf, alinhando-se mais frequentemente a esse último. A equipe paulista marcava por zona, com curtos encaixes no setor, e alternava a sua marcação pressão entre os blocos médio-alto. Outro ponto da equipe sem a bola que pode ser lembrado é a questão do balanceamento defensivo. Se, quando a bola estava pela direita, Petros efetuava corretamente o balanço do lado oposto, o mesmo não ocorria do outro lado, com Malcom nem sempre fazia esse balanço, o que obrigava Renato Augusto a voltar mais um pouco e ajudar a corrigir esse balanço.

Corinthians no seu habitual 4-2-3-1 que virava um 4-4-1-1/4-1-4-1 sem a bola

O jogo começou com muita disputa pela bola, mas pouca criação. O Bahia até conseguia sair com velocidade pelos lados, principalmente quando o Corinthians adiantava suas linhas, porém, faltava capricho no último passe, algo que justificou a intensa busca pelos cruzamentos após os minutos iniciais. Já o Corinthians sempre buscava sair tocando a bola mais tranquilamente, porém, não conseguia imprimir a velocidade no terço final do campo que possibilitasse a quebra da marcação adversária, mesmo com o espaço entre linhas deixado pela equipe baiana, pouco aproveitado pela equipe paulista.

Mapa de calor 
Mapa de calor do Bahia mostra claramente qual a região do campo mais utilizada pela equipe. As laterais, principalmente a direita(Reprodução: Footstats)

Com esse cenário, só uma bobeira defensiva de algum dos dois lados poderia tirar o zero do placar. E foi isso que ocorreu. Falta na intermediária ofensiva da equipe baiana. Cássio agarra e efetua excelente lançamento para Malcom que corre praticamente livre e, cara a cara com o goleiro, não desperdiça.

 Na imagem o lance do gol corintiano. O adiantamento total da equipe baiana proporcionou que Malcom tivesse o espaço para sair em velocidade, sem ninguém, com exceção do goleiro, para impedí-lo(Reprodução: Tv Globo/PFC)

A desvantagem no placar, ao invés de fazer a equipe do Bahia "marcar mais em cima" buscando o gol de empate, teve o efeito contrário. O que se viu foi uma equipe que manteve a altura do seu bloco de marcação, porém, só pressionava quando a bola estava se aproximando da sua área, o que proporcionou ao Corinthians segurar o jogo, mesmo que perdesse rapidamente a bola.

O segundo tempo começou da mesma maneira que o primeiro, com a diferença que agora o Bahia nem da linha do meio campo conseguia passar. O Corinthians era quem comandava a partida, trabalhando a bola com tranquilidade e saindo só na boa. O treinador Charles Fabian até tentou mudar esse cenário colocando Henrique e Rômulo nos lugares de Pará e Rafael Miranda, reorganizando a equipe em um 4-3-1-2, onde Galhardo e Bruno Paulista faziam o papel de carrileros, porém, bem espetados, auxiliando constantemente os laterais. Porém, o que mudou mesmo o panorama para a equipe foi a entrada de William Barbio no lugar de Galhardo.

O ex-jogador do Vasco deu velocidade ao lado direito da equipe baiana. Conseguia chegar como um ponta, buscando o cruzamento, assim como conseguia fechar em diagonal aproximando-se da dupla de atacantes da equipe, sem falar da vitória no duelo individual que vinha conquistando contra Petros. E foi em uma dos cruzamentos realizados pelo jogador que a equipe conseguiu o empate, com Kieza.

Mapa de calor
Mapa de calor de William Barbio mostra a grande presença do atacante pelo lado direito no setor ofensivo(Reprodução: Footstats)

Com a o jogo empatado e o Bahia "de volta" ao jogo, o técnico Mano Menezes efetuou suas duas substituições restantes, já que no intervalo já havia queimado uma, com a entrada de Uendel no lugar do lesionado Fábio Santos. Entraram Danilo e Gustavo Tocantins nos lugares de Petros e Luciano, reoxigenando a equipe e dando poder de retenção de bola com Danilo. Porém, Danilo fez mais do que só ajudar a fechar o lado esquerdo, o que aliás tirou a velocidade do Bahia por ali. O meia foi o responsável pelo cruzamento para que Renato Augusto marcasse o segundo gol da equipe.

A vantagem no placar fez com o Corinthians recuar suas linhas, com as duas linhas de 4 da equipe passando a marcar pressão em bloco baixo. Isso deu campo ao Bahia, que até trabalhava a bola no terço final de campo, porém, tinha dificuldades para penetrar na área adversária, recorrendo assim ao cruzamento, algo que não deu frutos, mantendo assim o resultado da partida.

 
Equipes em suas formações finais. O Corinthians pode ser definido em um 4-4-1-1 pois no final da partida, essa foi a formatação que a equipe adotou, já que ficou mais tempo sem a bola. Quando recuperava, Danilo e Renato Augusto invertiam o posicionamento. Já o Bahia estava em uma espécie de 4-3-1-2 que tinha Willian Barbio bem espetado a direita, quase como um ponta

A vitória mantém o Corinthians forte na briga pela vaga na Libertadores, porém, a continuidade da ausência de Guerrero, que não irá jogar novamente na quarta, poderá ter efeitos devastadores no setor ofensivo da equipe, que segue com dificuldades na criação de espaços. Já o Bahia segue na briga para a, cada vez mais difícil, fuga do rebaixamento. Mexer com o brio dos jogadores pode ser a chave para que Charles Fabian consiga ao menos vencer 75% dos seus jogos finais para conseguir se livrar da queda, já que qualquer grande alteração tática é muito pouco provável que ocorra com tão pouco tempo de competição.

Por Andrey Hugo(@Andrey_Hugo)