Vindo de vitórias pelo Brasileirão, Atlético-MG e
Figueirense se enfrentaram em Belo Horizonte com pretensões diferentes na
temporada. O time da casa, empolgado com a ótima vantagem que construiu sobre o
Cruzeiro na final da Copa do Brasil e unanimemente apresentando o melhor
futebol do momento no país, enfrentou um Figueirense tentando fugir das
proximidades da zona do rebaixamento e que, apesar de fazer boa campanha dentro
de casa no returno, ainda não havia pontuado como visitante.
No final de semana anterior, Levir Culpi poupara a maioria dos jogadores titulares para o primeiro jogo da final da Copa
do Brasil e, com um futebol digno de time titular, venceu o Palmeiras fora de
casa. A boa apresentação no Pacaembu, somada ao desgaste físico dos principais
jogadores e à sequência que o time ainda terá antes do jogo decisivo contra o
grande rival, fizeram o Galo ir a campo contra o Figueirense novamente com a
maior parte do time reserva.
A forma de jogo manteve-se a mesma que é utilizada
com os titulares: marcação alta, velocidade na transição e intensa movimentação
entre os homens mais avançados. A conjuntura tática, no entanto, foi
modificada, com o time deixando o 4-2-3-1 e utilizando o 4-3-3, com Pierre na
primeira função do meio-campo e Josué e Rafael Carioca organizando as jogadas
ofensivas para os três homens de frente, onde Eduardo fazia o lado direito,
Marion, o esquerdo, e Dodô atuava mais avançado, mas dificilmente permanecendo
na referência, já que circulava por todo o terço ofensivo para abrir espaços e
atrapalhar a forte marcação do Figueirense.
Os visitantes, por sua vez, foram ao Independência
com vários desfalques novamente, sobretudo no setor de meio-campo, onde Paulo
Roberto (lesionado), Rivaldo, Marco Antônio (suspensos) e Giovanni Augusto (lesionado e impedido de atuar contra o Atlético por motivos contratuais) ficaram de fora. Desta forma, Argel novamente optou pelo jovem
Dener como volante ao lado de França, que não atuara na partida anterior,
contra a Chapecoense. O setor ofensivo foi o mesmo que conseguiu o gol da
vitória no segundo tempo do clássico catarinense, com Pablo trabalhando
novamente como ponta-de-lança, Clayton pelo lado direito e Felipe pelo esquerdo,
além de Marcão na referência.
Levir escalou o Galo com três volantes que chegavam
bem no ataque e o Figueirense voltou a começar um jogo no 4-2-3-1 depois de
algum tempo entre o 4-4-2 e o 4-3-1-2
Como era de se esperar, o Atlético começou tomando
a iniciativa e empurrando o Figueirense para o campo defensivo desde o primeiro
minuto. Josué e principalmente Rafael Carioca organizavam as jogadas ofensivas
para as constantes subidas dos laterais e para a movimentação entre os três
homens de ataque. Dodô era quem levava maior perigo ao gol de Tiago Volpi, já
que buscava a finalização sempre que encontrava espaços.
O Figueirense fechava duas linhas de quatro na
marcação, com Felipe e Clayton na recomposição pelos extremos. Felipe fez
partida impecável na fase defensiva, já que sempre recompunha e executava o
balanço defensivo de modo a não dar espaços pelo lado esquerdo. No primeiro
tempo, Alex Silva e Eduardo tiveram dificuldades em criar pelo setor e os
ataques atleticanos eram quase todos com Pedro Botelho, Marion e Rafael Carioca
pelo lado esquerdo. Ao longo da partida, a boa marcação pelo flanco esquerdo
rendeu 4 desarmes para Felipe e 7 para Cereceda. Pela direita, Clayton tinha
mais dificuldades para voltar e, na parte final do primeiro tempo, Argel resolveu
empurrar o garoto para atuar mais próximo de Marcão, para liberá-lo de grandes
responsabilidades defensivas e também para usar sua velocidade para puxar os
contra-ataques. Com isso, Pablo passou a fechar o lado direito sem a bola.
Figueira já com Pablo executando a função defensiva
que era de Clayton na segunda linha de marcação (Reprodução: SporTV)
Apesar de estar nos planos de Argel o jogo reativo,
o Figueirense teve muitas dificuldades no primeiro tempo porque, com dois
volantes predominantemente de marcação e com poucos recursos com a bola no pé e
sendo pressionados o tempo inteiro pela marcação alta do Atlético, o Furacão do
Estreito não conseguia executar a transição ofensiva de modo satisfatório para
encaixar o contra-ataque, por vezes tentando a ligação direta e se livrando da
bola no primeiro sinal de marcação atleticana. Ao longo do jogo, o Figueira
tentou 56 lançamentos, sendo 39 errados, a maioria na primeira parte.
O dinamismo ofensivo do Atlético foi diminuindo no
terço final do primeiro tempo. A queda da intensidade com a bola no pé também
foi visível na fase defensiva, onde a pressão dos homens mais avançados não era
tão forte na transição do Figueirense, que passou a ter mais tranquilidade e
levar algum perigo ao gol de Victor nos minutos finais da etapa inicial,
sobretudo pelo lado direito. Logo depois de criar boa jogada pelo setor, o
volante Jefferson, novamente improvisado na lateral por conta de mais uma lesão
do titular Leandro Silva, progrediu com a bola nos pés e, após tabelar com
Clayton, encontrou espaço e confiança e acertou chute de rara felicidade no
ângulo de Victor, que não conseguiu alcançar a bola, abrindo, pois, o placar em
favor de um Figueirense que tinha sido dominado durante grande parte do
primeiro tempo.
O gol nos minutos finais da primeira parte deu
tranquilidade para Argel corrigir os problemas no intervalo sem fazer
alterações. Levir Culpi, por seu turno, sentindo a necessidade de um resultado
positivo para as pretensões do Galo no campeonato, recorreu aos titulares Luan
e Carlos, que, poupados, haviam iniciado a partida no banco. Eduardo e Marion
cederam seus lugares e as mudanças fizeram o jovem Dodô passar a atuar pela
esquerda do ataque, com o colega de categorias de base Carlos fazendo o papel
de um centroavante de mobilidade. A mudança surtiu efeito e o Atlético voltou a
ter intensidade com a bola nos pés.
O Figueirense voltou para o segundo tempo com
Felipe e Pablo invertendo o lado e, com Luan aproveitando os espaços da não tão
eficiente recomposição defensiva de Pablo, o time da casa começou a criar
bastante pelo lado direito, até que, em jogada aérea, a alta defesa do
Figueirense falhou e deixou Carlos escorar de cabeça para Josué, também de
cabeça, dar assistência para Dodô armar um bonito voleio e empatar o jogo no
Independência. Dodô, que fez dupla de sucesso com Carlos na base atleticana, já
tinha sido o destaque do time contra o Palmeiras e conseguiu mais uma boa
atuação enfrentando o Figueirense. Das 16 finalizações do Atlético no jogo, 9 foram
de Dodô.
Mapa de movimentação de Dodô, que se movimentou
bastante no comando do ataque durante o primeiro tempo e passou a ocupar o lado
esquerdo na segunda parte
Após o gol, o Atlético continuou tendo mais a bola
e criando pelo lado direito com Luan e Alex Silva, que forçaram um cartão
amarelo para o exposto Cereceda, que, apesar de ter boa performance, precisou
ser substituído por Marquinhos Pedroso para evitar uma possível expulsão. Além
dessa troca e da entrada de Mazola no lugar de Clayton, Argel também se mostrou
perceptivo ao problema da marcação pelo setor esquerdo e promoveu mais um
jogador da base, Yago, para o lugar de Marcão, inoperante durante o tempo em
que esteve em campo. Com isso, Pablo foi se posicionar mais à frente e o
Figueira passou a atuar em um 4-1-4-1, com Dener como primeiro volante, França
e Yago ocupando as vértices laterais do triângulo central e Felipe e Mazola
fechando os extremos. No Atlético, Levir Culpi fez a terceira alteração,
colocando mais um titular, Dátolo, na vaga de Rafael Carioca, modificando a
estrutura tática do Galo.
No segundo tempo, times mudaram as disposições táticas,
com o Figueirense passando para o
4-1-4-1 e o Atlético para o 4-2-3-1
Após as substituições, o time da casa passou a ter
dificuldades para atacar pela direita devido à boa recomposição de Mazola pelo
setor e, principalmente, à presença de Yago. Ambos, somados ao lateral
Marquinhos Pedroso, limitavam os espaços para o Atlético trabalhar. No lado
oposto, Felipe, França e Jefferson também encurtavam os espaços, e o Galo
perdeu a intensidade que conseguira retomar na segunda etapa, deixando de levar
perigo a Tiago Volpi. O Figueirense continuava com sua proposta de atacar nos
contra-ataques, mas, apesar de uma maior tranquilidade quando tinha a bola no
pé, também teve poucas chances, fazendo o empate perdurar até o apito final.
Sem Paulo Roberto, Rivaldo e sobretudo Marco
Antônio, jogador indispensável para o estilo de manutenção da posse da bola que
o Figueirense adotou desde a chegada de Argel Fucks, o Furacão do Estreito teve
de modificar a estratégia e jogar reativamente contra um Atlético-MG bastante
ofensivo. A forma de jogo deu certo e, apesar de alguns problemas no percurso,
o time catarinense consegue ponto importante, o primeiro fora de casa no
returno do campeonato, e agora tem quatro rodadas para conseguir 3 ou, na
previsão mais pessimista, 4 pontos e escapar de vez do rebaixamento para a
Série B.
O Atlético-MG, com a cabeça na final da Copa do
Brasil, perdeu dois pontos em casa que podem fazer falta caso o time perca o
título contra o Cruzeiro e precise do Brasileirão para atingir a Libertadores
de 2015. Apesar do empate, o time mineiro continua próximo de Corinthians, Grêmio e Internacional, que tem um jogo a mais que os demais e ainda terá confronto direto com o Galo.
*Dados estatísticos retirados do Footstats
Por João Marcos Soares (@JoaoMarcos__)