Com ótima presença de seu torcedor, o Internacional
recebeu o Atlético-MG para confronto direto por uma vaga na Libertadores.
Pensando na final da Copa do Brasil, Levir Culpi voltou a preservar seus
titulares, escalando novamente um time composto pela maioria de seus jogadores
reservas e “pratas da casa”. Abel Braga, por sua vez, tem convivido com uma
série de desfalques ao longo do campeonato e, com o departamento médico lotado,
foi a campo com o que tem de melhor para o momento e com o que deverá ter
também para as rodadas seguintes até o fim do Brasileirão.
Contra o Atlético, o Inter iniciou a partida um
pouco diferente do que tem sido a tônica desde que retornou ao sistema de jogo
do início do campeonato. Com D’Alessandro por dentro de uma linha de três meias
que também contava com Alex e Jorge Henrique nos extremos, os primeiros 10
minutos do Colorado foram de marcação alta na saída de bola do Galo, com os
três meias se juntando a Rafael Moura na pressão. Após o primeiro terço da etapa inicial, o Inter retornou ao sistema habitual, com D’Alessandro voltando a trabalhar
no flanco direito, Jorge Henrique no lado oposto e Aránguiz e Alex entre os
dois em uma segunda linha de quatro. Entre as duas linhas, Willians se
posicionava para limitar o trabalho ofensivo do time visitante às costas da linha de meio-campo.
O Atlético de Levir Culpi foi para o terceiro jogo
com os reservas e novamente utilizou o mesmo sistema, que era, de certo modo,
espelhado ao do adversário. A única mudança com relação aos confrontos contra Figueirense e Palmeiras foi a entrada do garoto Daniel Oliveira no lugar de
Rafael Carioca, que fez boas partidas após voltar de período lesionado e agora
tem boas chances de iniciar o jogo decisivo da Copa do Brasil. Com a entrada de
Daniel, Eduardo saiu a ponta-direita e foi atuar mais centralizado, em sua
posição de origem. Assim como o Inter, sem a bola o Atlético fechava duas
linhas de quatro e Pierre se posicionava entre elas. No ataque, Dodô era o
homem mais avançado e tinha total liberdade de movimentação para buscar a bola
e abrir espaço para as infiltrações na diagonal de Marion e Daniel, além da boa
chegada de trás de Eduardo.
Rivais diretos foram a campo com esquema tático
similar, mas com movimentações extremamente diferentes
Após o período inicial de pressão que não surtiu
muito efeito prático, o Inter passou a cadenciar mais o jogo nas
características de seus jogadores, enquanto o Galo imprimia velocidade e
movimentação quando tinha a bola, explorando, principalmente a transição em
velocidade nos contra-ataques, mas sabendo valorizar a posse de bola também no
meio-campo com Eduardo e, sobretudo Josué, que tem sido bastante importante nestes
últimos jogos para dar a paciência que os garotos às vezes não têm na hora de
escolher a melhor alternativa.
Em uma das situações em que o Inter valorizava sua
posse no meio-campo, a marcação atleticana, embora compacta, teve um momento de
desatenção e possibilitou a Alex encontrar Jorge Henrique em profundidade na
esquerda. O camisa 23 foi à linha de fundo e fez a assistência para Rafael
Moura completar e abrir o placar no Beira-Rio.
Perceba os jogadores atleticanos com o 4-1-4-1 da fase
defensiva completo, porém Alex Silva e Daniel, ao invés de estarem atentos aos adversários
mais próximos, marcaram apenas a bola e permitiram a Jorge Henrique e Fabrício
escaparem às suas costas. Alex escolheu Jorge Henrique e o placar estava aberto
(Reprodução: SporTV)
Apesar do vacilo defensivo de Daniel no gol
colorado, a marcação dos wingers atleticanos
foi bem executada durante a partida, o que é exemplificado pelo número de
desarmes de Marion (6) e Daniel (5), maior do que qualquer outro jogador em
campo. O gol de empate do Galo não demorou a sair e a situação foi bastante
pedagógica para também demonstrar que o desenho tático não precisa estar
necessariamente formado em todas as ações defensivas, já que o ataque
adversário sempre estará em movimentação quando tiver a bola. O gol atleticano
surgiu de uma cobrança de lateral longo, expediente característico do time de
Levir Culpi, até que Eduardo, o homem-surpresa vindo do meio-campo, foi
agarrado por Fabrício, em ocasião interpretada como pênalti pelo árbitro Péricles
Bassols.
No frame, o 4-1-4-1 defensivo do Inter também é
evidente e, como é de praxe em cobranças de lateral, a marcação colorada
realiza encaixe individual nos atacantes adversários e tem um homem na sobra,
no caso, Willians. A situação é que, com todos os jogadores atleticanos
marcados individualmente, não havia a necessidade do posicionamento de Willians
no entrelinhas. O movimento mais comum ao homem da sobra em uma jogada de bola
aérea é buscar dobrar a marcação com o defensor
responsável pelo atacante ao qual a bola foi direcionada. Caso Willians tivesse
executado este movimento defensivo, a possibilidade de a bola não chegar para o
domínio de Eduardo seria menor e consequentemente a necessidade da ação
arriscada de Fabrício (Reprodução: SporTV)
Os dois gols que aconteceram no primeiro tempo clarificam
que nem sempre o alinhamento do esquema tático é garantia de uma marcação bem
executada e, ignorando as possibilidades de falhas técnicas individuais em
qualquer um dos lances, a desatenção com o movimento adversário, o que pode ser
considerado uma falha tática individual, foi primordial para que os times
tivessem sofrido os gols que sofreram. Isto também mostra que, além do
treinador, é necessário que os jogadores tenham um conhecimento tático além do
básico de modo que o balanço defensivo e a flexibilidade do sistema sejam
executados satisfatoriamente.
Além das situações táticas já citadas, um
componente interessante do primeiro tempo foi o fator emocional, sobretudo do
lado do time da casa, que, pressionado pela “obrigação” de conseguir a vaga na
Libertadores e por quase 40 mil torcedores, envolvia-se em polêmicas com o
árbitro em ocasiões rotineiras do jogo. O visitante, apesar de mais calmo,
também viveu momentos de intranquilidade no final da primeira etapa, quando
reclamou pênalti ao seu favor em jogada que a bola tocou no braço aberto de
Gilberto dentro da área colorada.
Para o segundo tempo, os times mantiveram a
estrutura e voltaram um pouco mais tranquilos e pressionando menos a
arbitragem, que não conseguira controlar o jogo na primeira parte. Taticamente,
o Atlético permaneceu na mesma toada, enquanto o Inter passou a ter seus homens
de lado de campo menos participativos na fase defensiva, até porque o rival
assustava pouco quando atacava. Antes das primeiras mudanças de Abel Braga, o
Inter se defendia apenas com o trio central do meio-campo de forma bem espaçada à frente da linha de
defesa e Jorge Henrique e D’Alessandro se posicionavam em uma zona morta do
campo para puxarem contra-ataques.
Marcação colorada, que nunca foi das mais compactas,
passou a ter pouca ajuda de D’Alessandro e Jorge Henrique pelos lados, fazendo
com que Aránguiz, Alex e, principalmente, Willians, tivessem de dar conta de um
espaço maior (Reprodução: SporTV)
Com o Atlético parecia bem resolvido com o empate e
o Inter tinha extremas dificuldades para criar na segunda etapa, Abel resolveu
mexer e colocar Valdívia e Taiberson nos lugares de Gilberto e Jorge Henrique.
As substituições fizeram uma revolução no posicionamento dos jogadores
colorados, que passou a ter Willians na lateral-direita, Aránguiz e Alex como
dupla de volantes, D’Alessandro aberto pela esquerda, Taiberson pela direita e
Valdívia pelo centro da linha de três meias. Com pouquíssima organização e com
o sistema defensivo deixado para terceiro plano, o Inter passou a ir pro abafa
e tentar cruzamentos na área para Rafael Moura sempre que via a possibilidade.
Levir Culpi, por sua vez, trocou apenas Edcarlos, lesionado, por Donato e, já nos minutos finais, Dodô por Paulinho, mantendo a estrutura tática durante os 90 minutos.
Inter de grande parte do segundo tempo foi muita
vontade e pouca organização, o contrário do Galo, que não parecia interessado
em buscar a virada, mas mantinha o aparelhamento na fase defensiva
Após tentar e muito chegar à vitória nesta
conjuntura, Abel Braga apelou após os 40 minutos e colocou Wellington Paulista
no lugar de Alex, abdicando de qualquer tipo de posicionamento mais rígido,
seja ofensivo ou defensivo, apenas utilizando a bola aérea para os dois centroavantes
agora em campo, até que, em bola alçada da intermediária por D’Alessandro que Valdívia não
conseguiu cabecear, Fabrício chegou como surpresa e finalizou de perna direita
para dar a vitória ao Inter e fazer os mais de 39 mil colorados aliviarem sua tensão e explodirem no Beira-Rio.
O jogo não contou com uma grande exibição de nenhum
dos dois times, mas foi o que se espera de uma reta final de campeonato onde a
vontade, muitas vezes, supera qualquer tipo de organização e proporciona
situações emocionantes como o gol da vitória de Fabrício, que iniciou o jogo
como vilão, ao cometer a penalidade, por mais discutível que tenha sido, e
terminou como o herói, ao marcar o gol da vitória que pode ser lembrado como o
da classificação do Internacional à Libertadores, já que sua tabela não é das
mais difíceis e a posição passa a ser bastante confortável para as duas rodadas
que ainda restam do BR14.
O Galo, que claramente está mais preocupado com a
final da Copa do Brasil contra o grande rival, onde abriu ótima vantagem no
primeiro jogo, ainda tem boas possibilidades de alcançar a competição
continental, já que, se tomar a virada do Cruzeiro na quarta-feira, abre-se uma
nova vaga via Campeonato Brasileiro.
*Dados
estatísticos retirados do Footstats
Por João Marcos Soares (@JoaoMarcos__)