domingo, 23 de novembro de 2014

Em disputa direta, Inter vence os reservas do Atlético-MG no abafa e mantém grandes chances de alcançar uma das cobiçadas vagas na Libertadores

Com ótima presença de seu torcedor, o Internacional recebeu o Atlético-MG para confronto direto por uma vaga na Libertadores. Pensando na final da Copa do Brasil, Levir Culpi voltou a preservar seus titulares, escalando novamente um time composto pela maioria de seus jogadores reservas e “pratas da casa”. Abel Braga, por sua vez, tem convivido com uma série de desfalques ao longo do campeonato e, com o departamento médico lotado, foi a campo com o que tem de melhor para o momento e com o que deverá ter também para as rodadas seguintes até o fim do Brasileirão.

Contra o Atlético, o Inter iniciou a partida um pouco diferente do que tem sido a tônica desde que retornou ao sistema de jogo do início do campeonato. Com D’Alessandro por dentro de uma linha de três meias que também contava com Alex e Jorge Henrique nos extremos, os primeiros 10 minutos do Colorado foram de marcação alta na saída de bola do Galo, com os três meias se juntando a Rafael Moura na pressão. Após o primeiro terço da etapa inicial, o Inter retornou ao sistema habitual, com D’Alessandro voltando a trabalhar no flanco direito, Jorge Henrique no lado oposto e Aránguiz e Alex entre os dois em uma segunda linha de quatro. Entre as duas linhas, Willians se posicionava para limitar o trabalho ofensivo do time visitante às costas da linha de meio-campo.

O Atlético de Levir Culpi foi para o terceiro jogo com os reservas e novamente utilizou o mesmo sistema, que era, de certo modo, espelhado ao do adversário. A única mudança com relação aos confrontos contra Figueirense e Palmeiras foi a entrada do garoto Daniel Oliveira no lugar de Rafael Carioca, que fez boas partidas após voltar de período lesionado e agora tem boas chances de iniciar o jogo decisivo da Copa do Brasil. Com a entrada de Daniel, Eduardo saiu a ponta-direita e foi atuar mais centralizado, em sua posição de origem. Assim como o Inter, sem a bola o Atlético fechava duas linhas de quatro e Pierre se posicionava entre elas. No ataque, Dodô era o homem mais avançado e tinha total liberdade de movimentação para buscar a bola e abrir espaço para as infiltrações na diagonal de Marion e Daniel, além da boa chegada de trás de Eduardo.

Rivais diretos foram a campo com esquema tático similar, mas com movimentações extremamente diferentes

Após o período inicial de pressão que não surtiu muito efeito prático, o Inter passou a cadenciar mais o jogo nas características de seus jogadores, enquanto o Galo imprimia velocidade e movimentação quando tinha a bola, explorando, principalmente a transição em velocidade nos contra-ataques, mas sabendo valorizar a posse de bola também no meio-campo com Eduardo e, sobretudo Josué, que tem sido bastante importante nestes últimos jogos para dar a paciência que os garotos às vezes não têm na hora de escolher a melhor alternativa.

Em uma das situações em que o Inter valorizava sua posse no meio-campo, a marcação atleticana, embora compacta, teve um momento de desatenção e possibilitou a Alex encontrar Jorge Henrique em profundidade na esquerda. O camisa 23 foi à linha de fundo e fez a assistência para Rafael Moura completar e abrir o placar no Beira-Rio.

Perceba os jogadores atleticanos com o 4-1-4-1 da fase defensiva completo, porém Alex Silva e Daniel, ao invés de estarem atentos aos adversários mais próximos, marcaram apenas a bola e permitiram a Jorge Henrique e Fabrício escaparem às suas costas. Alex escolheu Jorge Henrique e o placar estava aberto (Reprodução: SporTV)

Apesar do vacilo defensivo de Daniel no gol colorado, a marcação dos wingers atleticanos foi bem executada durante a partida, o que é exemplificado pelo número de desarmes de Marion (6) e Daniel (5), maior do que qualquer outro jogador em campo. O gol de empate do Galo não demorou a sair e a situação foi bastante pedagógica para também demonstrar que o desenho tático não precisa estar necessariamente formado em todas as ações defensivas, já que o ataque adversário sempre estará em movimentação quando tiver a bola. O gol atleticano surgiu de uma cobrança de lateral longo, expediente característico do time de Levir Culpi, até que Eduardo, o homem-surpresa vindo do meio-campo, foi agarrado por Fabrício, em ocasião interpretada como pênalti pelo árbitro Péricles Bassols.

No frame, o 4-1-4-1 defensivo do Inter também é evidente e, como é de praxe em cobranças de lateral, a marcação colorada realiza encaixe individual nos atacantes adversários e tem um homem na sobra, no caso, Willians. A situação é que, com todos os jogadores atleticanos marcados individualmente, não havia a necessidade do posicionamento de Willians no entrelinhas. O movimento mais comum ao homem da sobra em uma jogada de bola aérea é buscar dobrar a marcação com o defensor responsável pelo atacante ao qual a bola foi direcionada. Caso Willians tivesse executado este movimento defensivo, a possibilidade de a bola não chegar para o domínio de Eduardo seria menor e consequentemente a necessidade da ação arriscada de Fabrício (Reprodução: SporTV)

Os dois gols que aconteceram no primeiro tempo clarificam que nem sempre o alinhamento do esquema tático é garantia de uma marcação bem executada e, ignorando as possibilidades de falhas técnicas individuais em qualquer um dos lances, a desatenção com o movimento adversário, o que pode ser considerado uma falha tática individual, foi primordial para que os times tivessem sofrido os gols que sofreram. Isto também mostra que, além do treinador, é necessário que os jogadores tenham um conhecimento tático além do básico de modo que o balanço defensivo e a flexibilidade do sistema sejam executados satisfatoriamente.

Além das situações táticas já citadas, um componente interessante do primeiro tempo foi o fator emocional, sobretudo do lado do time da casa, que, pressionado pela “obrigação” de conseguir a vaga na Libertadores e por quase 40 mil torcedores, envolvia-se em polêmicas com o árbitro em ocasiões rotineiras do jogo. O visitante, apesar de mais calmo, também viveu momentos de intranquilidade no final da primeira etapa, quando reclamou pênalti ao seu favor em jogada que a bola tocou no braço aberto de Gilberto dentro da área colorada.

Para o segundo tempo, os times mantiveram a estrutura e voltaram um pouco mais tranquilos e pressionando menos a arbitragem, que não conseguira controlar o jogo na primeira parte. Taticamente, o Atlético permaneceu na mesma toada, enquanto o Inter passou a ter seus homens de lado de campo menos participativos na fase defensiva, até porque o rival assustava pouco quando atacava. Antes das primeiras mudanças de Abel Braga, o Inter se defendia apenas com o trio central do meio-campo de forma bem espaçada à frente da linha de defesa e Jorge Henrique e D’Alessandro se posicionavam em uma zona morta do campo para puxarem contra-ataques.

Marcação colorada, que nunca foi das mais compactas, passou a ter pouca ajuda de D’Alessandro e Jorge Henrique pelos lados, fazendo com que Aránguiz, Alex e, principalmente, Willians, tivessem de dar conta de um espaço maior (Reprodução: SporTV)

Com o Atlético parecia bem resolvido com o empate e o Inter tinha extremas dificuldades para criar na segunda etapa, Abel resolveu mexer e colocar Valdívia e Taiberson nos lugares de Gilberto e Jorge Henrique. As substituições fizeram uma revolução no posicionamento dos jogadores colorados, que passou a ter Willians na lateral-direita, Aránguiz e Alex como dupla de volantes, D’Alessandro aberto pela esquerda, Taiberson pela direita e Valdívia pelo centro da linha de três meias. Com pouquíssima organização e com o sistema defensivo deixado para terceiro plano, o Inter passou a ir pro abafa e tentar cruzamentos na área para Rafael Moura sempre que via a possibilidade. Levir Culpi, por sua vez, trocou apenas Edcarlos, lesionado, por Donato e, já nos minutos finais, Dodô por Paulinho, mantendo a estrutura tática durante os 90 minutos.

Inter de grande parte do segundo tempo foi muita vontade e pouca organização, o contrário do Galo, que não parecia interessado em buscar a virada, mas mantinha o aparelhamento na fase defensiva

Após tentar e muito chegar à vitória nesta conjuntura, Abel Braga apelou após os 40 minutos e colocou Wellington Paulista no lugar de Alex, abdicando de qualquer tipo de posicionamento mais rígido, seja ofensivo ou defensivo, apenas utilizando a bola aérea para os dois centroavantes agora em campo, até que, em bola alçada da intermediária por D’Alessandro que Valdívia não conseguiu cabecear, Fabrício chegou como surpresa e finalizou de perna direita para dar a vitória ao Inter e fazer os mais de 39 mil colorados aliviarem sua tensão e explodirem no Beira-Rio.

O jogo não contou com uma grande exibição de nenhum dos dois times, mas foi o que se espera de uma reta final de campeonato onde a vontade, muitas vezes, supera qualquer tipo de organização e proporciona situações emocionantes como o gol da vitória de Fabrício, que iniciou o jogo como vilão, ao cometer a penalidade, por mais discutível que tenha sido, e terminou como o herói, ao marcar o gol da vitória que pode ser lembrado como o da classificação do Internacional à Libertadores, já que sua tabela não é das mais difíceis e a posição passa a ser bastante confortável para as duas rodadas que ainda restam do BR14.

O Galo, que claramente está mais preocupado com a final da Copa do Brasil contra o grande rival, onde abriu ótima vantagem no primeiro jogo, ainda tem boas possibilidades de alcançar a competição continental, já que, se tomar a virada do Cruzeiro na quarta-feira, abre-se uma nova vaga via Campeonato Brasileiro.

*Dados estatísticos retirados do Footstats

Por João Marcos Soares (@JoaoMarcos__)