O returno da fase de grupos da Champions League foi
iniciado neste meio de semana e, pelo Grupo E, a Roma visitou a Alemanha
traumatizada pela humilhante derrota que sofreu do Bayern de Munique, no Stadio
Olimpico.
No primeiro confronto entre as equipes na competição, Rudi García mandou seu time a campo para atuar da mesma forma como
tem sido desde sua chegada ao calcio. A
desconsideração do adversário, um dos times mais temidos do mundo, na hora de
pensar em uma formação, rendeu caro ao técnico francês, que foi massacrado em um
primeiro tempo avassalador dos comandados de Pep Guardiola na Cidade Eterna.
Rudi García foi mais cauteloso em Munique e, mesmo
poupando jogadores por estar conformado com uma nova derrota para os bávaros,
montou um sistema mais adequado para tentar anular o jogo de posse de bola e
movimentação do Bayern. Com cinco mudanças com relação ao fatídico 7 a 1, a
Roma transitou do 4-1-4-1 do Olimico para um 4-4-2 na Allianz Arena. Iturbe
atuou mais próximo de Destro, um centroavante de referência, ao invés do falso
9 que é Totti. Fechando os lados, Florenzi atuou pela direita e Naiggolan,
volante de origem, trabalhou pela esquerda na fase defensiva e centralizando
com a bola na posse giallorossa,
sendo o homem para pensar o jogo no meio-campo, já que De Rossi e Keita não têm
essa características e tinham funções predominantemente defensivas para
resguardar a defesa romanista em caso
de contra-ataque.
Assim como a Roma, o Bayern mudou mais uma vez o
esquema tático, característica de Guardiola e que tem sido ainda mais reforçada
nesta sua segunda temporada na Alemanha. Com apenas duas mudanças no time
titular: Rafinha no lugar de Robben e Ribéry no de Thomas Müller, o Bayern saiu
do 3-4-3 que goleou a Roma para um 4-3-3. Neste sistema, o impressionante Alaba
deixou de ser o terceiro zagueiro e passou a atuar em uma trinca de volantes
pelo lado esquerdo. A trinca também contava com Lahm na vértice direita e era
completada por Xabi Alonso na primeira função. No ataque, Götze, Ribéry e
Lewandowski trabalhavam em uma movimentação assombrosa com a bola na posse
bávara.
Vacinado, García montou uma Roma mais compacta e com
muito mais pegada e preenchimento no meio-campo, para combater o jogo de posse de
bola e movimentação do Bayern
Como tinha pouquíssima posse de bola, a Roma
defendia-se na maior parte do jogo com duas linhas de quatro bastante compactas
e combativas. Diferente do 7 a 1, os giallorossi
trabalhavam com um meio-campo agressivo na marcação, que dificultava o
passe mais agudo pela falta de espaço para o portador da bola, fazendo com que
a posse do Bayern fosse bastante estéril durante a maioria do primeiro tempo.
Duas linhas de marcação da Roma eram agressivas e
muito próximas uma da outra (Reprodução: Sports +)
A mudança tática promovida por Guardiola modificava
o posicionamento do Bayern sem a bola, mas, com ela, a conjuntura é bastante
semelhante à das partidas anteriores na Champions e na Bundesliga. Mesmo quando
atua como zagueiro, Alaba se junta a Lahm e Xabi Alonso para a valorização da
bola no meio-campo enquanto Bernat e o extremo-direito, geralmente Robben, se
espetam pelos lados para dar amplitude e os três atacantes se posicionam entre
os defensores adversários para se movimentarem e buscarem a abertura de espaços
e a profundidade. Sem Robben, Rafinha repetia o movimento de Bernat e era quem
aprofundava pela direita.
Sem a bola, o Bayern fechava-se em um 4-1-4-1, com
o recuo de Götze e Ribéry para preencherem os flancos, formando uma segunda
linha de quatro com Alaba e Lahm. Xabi Alonso se posicionava no entrelinhas
para limitar os espaços no setor e proteger a última linha, formada por
Rafinha, Benatia, Boateng e Bernat.
Bayern ataca na maioria do tempo, mas, quando defende,
é até mais compacto que a Roma e outros grandes times europeus. Este
comprometimento com a fase defensiva é essencial para o sucesso do time de
Guardiola, que geralmente é lembrado por quando tem a bola em seus pés
(Reprodução: Sports +)
O primeiro tempo foi bastante difícil para o Bayern
pela forte marcação romanista, mas,
antes do fim da etapa inicial, os bávaros conseguiram abrir o placar com
Ribéry, que iniciou jogada pela direita e abriu para Alaba, que foi à linha de
fundo e encontrou o francês na área para completar no canto esquerdo de
Skorupski (um dos gols em Roma também surgiu após chegada de Alaba à linha de
fundo). O movimento de Alaba é interessante e sempre é executado pelo
austríaco, inclusive quando atua como zagueiro. Um dos diferenciais
determinantes do time de Guardiola é, além de ter jogadores versáteis,
possibilitar a eles participarem do jogo em vários setores. Lahm e, sobretudo
Alaba, quando atuam no meio-campo, têm liberdade para chegar aos flancos e
trabalhar como pontas. Já que os jogadores de lado de campo não trabalham como wingers e, sim, como atacantes,
posicionados de forma um pouco mais centralizada, há essa abertura de espaço a
ser explorado pelos extremos. Alaba, quando atua como zagueiro/lateral/volante
chega bem em todos estes setores, mas, quando não precisa executar a função de
zagueiro e trabalha prioritariamente no meio-campo, têm mais condições de
chegar à ponta para dar superioridade numérica ao Bayern no setor e auxiliar
Bernat nas jogadas de linha de fundo. O austríaco é, pois, a peça mais
interessante do ponto de vista tático nesse histórico Bayern de Munique de Pep
Guardiola.
Comparação da movimentação de Alaba no jogo de ida,
quando atuou como zagueiro, e no jogo da volta, trabalhando no meio-campo. Como
meio-campista, o camisa 27 chega mais no terço ofensivo, naturalmente
(Reprodução: Squawka)
Para a segunda parte, Rudi García não abriu mão do
sistema defensivo e manteve a intensidade de marcação da etapa inicial. Com o
desgaste físico dos jogadores, foi alterando as peças sem modificar o sistema,
trocando logo no intervalo Holebas por Ashley Cole e, no decorrer da etapa
complementar, Florenzi deu lugar a Pjanic e Iturbe, a Gervinho.
Guardiola também manteve sua estrutura e forma de
jogo durante a segunda parte e o Bayern conseguiu o segundo gol em um movimento
que tem sido tradicional desde a chegada de Lewandowski, o centroavante mais
moderno do futebol mundial. O polonês tem se caracterizado menos pelos gols,
como era no Borussia Dortmund, e mais pela movimentação que acrescenta ao
ataque bávaro, algo que Mandzukic não conseguiu na temporada passada. Como os
atacantes de lado buscam sempre explorar os espaços vazios, a mobilidade de
Lewandowski na referência é essencial para que tais espaços surjam. Analisando
os últimos jogos da Champions, em situações que o camisa 9 deixou seu principal
setor de atuação, saíram gols do time bávaro. Contra o CSKA Moscou, o gol de
pênalti marcado por Müller surgiu após situação em que Lewandowski foi buscar a
bola na intermediária e puxou um zagueiro, abrindo espaço para Götze receber em
progressão e sofrer a penalidade. Já no duelo contra a Roma, na Itália, o
centroavante executou o mesmo movimento e encontrou Arjen Robben em
profundidade pela direita, para o holandês anotar o seu segundo gol na partida.
Na Allianz Arena, Lewandowski não foi até a intermediária, mas saiu da
referência em direção à ponta- esquerda e conseguiu abrir espaço para a
infiltração de Götze, que completou cruzamento do polonês, marcando o gol que
sacramentou mais uma vitória do Bayern sobre a Roma.
Times trocam apenas peças na segunda etapa e jogo
continua em conjuntura parecida
A Roma passou a levar mais perigo a partir da
entrada tardia de Gervinho, que infernizava a já desgastada marcação alemã e
criava jogadas interessantes pela esquerda. Os ataques giallorossi, no entanto, pararam no melhor goleiro do mundo, Manuel
Neuer, e mantiveram a Roma com o zero no placar.
Dentro de suas pretensões, Rudi García conseguiu
visitar o Bayern e voltar para a Itália com uma derrota digna e que mantém a
Roma com boas chances de classificação, especialmente após a vitória do CSKA
sobre o Manchester City, na Inglaterra. Já classificado, o Bayern se mantém como principal favorito ao título ao lado do Real Madrid e deve aproveitar
essas duas próximas rodadas de Champions League para rodar seu elenco,
concentrando as atenções na Bundesliga e dando quilometragem para jogadores
jovens, além de testar outras variações táticas sem o compromisso de vencer
seus jogos. No temido Grupo da Morte da Champions League, o Bayern é a Morte e
Roma, CSKA e Manchester City tentam sobreviver, apesar dos bávaros.
Por João Marcos Soares (@JoaoMarcos__)