quinta-feira, 6 de novembro de 2014

Vacinado, Rudi García monta Roma cautelosa e sai de Munique com derrota digna

O returno da fase de grupos da Champions League foi iniciado neste meio de semana e, pelo Grupo E, a Roma visitou a Alemanha traumatizada pela humilhante derrota que sofreu do Bayern de Munique, no Stadio Olimpico.

No primeiro confronto entre as equipes na competição, Rudi García mandou seu time a campo para atuar da mesma forma como tem sido desde sua chegada ao calcio. A desconsideração do adversário, um dos times mais temidos do mundo, na hora de pensar em uma formação, rendeu caro ao técnico francês, que foi massacrado em um primeiro tempo avassalador dos comandados de Pep Guardiola na Cidade Eterna.

Rudi García foi mais cauteloso em Munique e, mesmo poupando jogadores por estar conformado com uma nova derrota para os bávaros, montou um sistema mais adequado para tentar anular o jogo de posse de bola e movimentação do Bayern. Com cinco mudanças com relação ao fatídico 7 a 1, a Roma transitou do 4-1-4-1 do Olimico para um 4-4-2 na Allianz Arena. Iturbe atuou mais próximo de Destro, um centroavante de referência, ao invés do falso 9 que é Totti. Fechando os lados, Florenzi atuou pela direita e Naiggolan, volante de origem, trabalhou pela esquerda na fase defensiva e centralizando com a bola na posse giallorossa, sendo o homem para pensar o jogo no meio-campo, já que De Rossi e Keita não têm essa características e tinham funções predominantemente defensivas para resguardar a defesa romanista em caso de contra-ataque.

Assim como a Roma, o Bayern mudou mais uma vez o esquema tático, característica de Guardiola e que tem sido ainda mais reforçada nesta sua segunda temporada na Alemanha. Com apenas duas mudanças no time titular: Rafinha no lugar de Robben e Ribéry no de Thomas Müller, o Bayern saiu do 3-4-3 que goleou a Roma para um 4-3-3. Neste sistema, o impressionante Alaba deixou de ser o terceiro zagueiro e passou a atuar em uma trinca de volantes pelo lado esquerdo. A trinca também contava com Lahm na vértice direita e era completada por Xabi Alonso na primeira função. No ataque, Götze, Ribéry e Lewandowski trabalhavam em uma movimentação assombrosa com a bola na posse bávara.

Vacinado, García montou uma Roma mais compacta e com muito mais pegada e preenchimento no meio-campo, para combater o jogo de posse de bola e movimentação do Bayern

Como tinha pouquíssima posse de bola, a Roma defendia-se na maior parte do jogo com duas linhas de quatro bastante compactas e combativas. Diferente do 7 a 1, os giallorossi trabalhavam com um meio-campo agressivo na marcação, que dificultava o passe mais agudo pela falta de espaço para o portador da bola, fazendo com que a posse do Bayern fosse bastante estéril durante a maioria do primeiro tempo.

Duas linhas de marcação da Roma eram agressivas e muito próximas uma da outra (Reprodução: Sports +)

A mudança tática promovida por Guardiola modificava o posicionamento do Bayern sem a bola, mas, com ela, a conjuntura é bastante semelhante à das partidas anteriores na Champions e na Bundesliga. Mesmo quando atua como zagueiro, Alaba se junta a Lahm e Xabi Alonso para a valorização da bola no meio-campo enquanto Bernat e o extremo-direito, geralmente Robben, se espetam pelos lados para dar amplitude e os três atacantes se posicionam entre os defensores adversários para se movimentarem e buscarem a abertura de espaços e a profundidade. Sem Robben, Rafinha repetia o movimento de Bernat e era quem aprofundava pela direita.

Sem a bola, o Bayern fechava-se em um 4-1-4-1, com o recuo de Götze e Ribéry para preencherem os flancos, formando uma segunda linha de quatro com Alaba e Lahm. Xabi Alonso se posicionava no entrelinhas para limitar os espaços no setor e proteger a última linha, formada por Rafinha, Benatia, Boateng e Bernat.

Bayern ataca na maioria do tempo, mas, quando defende, é até mais compacto que a Roma e outros grandes times europeus. Este comprometimento com a fase defensiva é essencial para o sucesso do time de Guardiola, que geralmente é lembrado por quando tem a bola em seus pés (Reprodução: Sports +)

O primeiro tempo foi bastante difícil para o Bayern pela forte marcação romanista, mas, antes do fim da etapa inicial, os bávaros conseguiram abrir o placar com Ribéry, que iniciou jogada pela direita e abriu para Alaba, que foi à linha de fundo e encontrou o francês na área para completar no canto esquerdo de Skorupski (um dos gols em Roma também surgiu após chegada de Alaba à linha de fundo). O movimento de Alaba é interessante e sempre é executado pelo austríaco, inclusive quando atua como zagueiro. Um dos diferenciais determinantes do time de Guardiola é, além de ter jogadores versáteis, possibilitar a eles participarem do jogo em vários setores. Lahm e, sobretudo Alaba, quando atuam no meio-campo, têm liberdade para chegar aos flancos e trabalhar como pontas. Já que os jogadores de lado de campo não trabalham como wingers e, sim, como atacantes, posicionados de forma um pouco mais centralizada, há essa abertura de espaço a ser explorado pelos extremos. Alaba, quando atua como zagueiro/lateral/volante chega bem em todos estes setores, mas, quando não precisa executar a função de zagueiro e trabalha prioritariamente no meio-campo, têm mais condições de chegar à ponta para dar superioridade numérica ao Bayern no setor e auxiliar Bernat nas jogadas de linha de fundo. O austríaco é, pois, a peça mais interessante do ponto de vista tático nesse histórico Bayern de Munique de Pep Guardiola.

Comparação da movimentação de Alaba no jogo de ida, quando atuou como zagueiro, e no jogo da volta, trabalhando no meio-campo. Como meio-campista, o camisa 27 chega mais no terço ofensivo, naturalmente (Reprodução: Squawka)

Para a segunda parte, Rudi García não abriu mão do sistema defensivo e manteve a intensidade de marcação da etapa inicial. Com o desgaste físico dos jogadores, foi alterando as peças sem modificar o sistema, trocando logo no intervalo Holebas por Ashley Cole e, no decorrer da etapa complementar, Florenzi deu lugar a Pjanic e Iturbe, a Gervinho.

Guardiola também manteve sua estrutura e forma de jogo durante a segunda parte e o Bayern conseguiu o segundo gol em um movimento que tem sido tradicional desde a chegada de Lewandowski, o centroavante mais moderno do futebol mundial. O polonês tem se caracterizado menos pelos gols, como era no Borussia Dortmund, e mais pela movimentação que acrescenta ao ataque bávaro, algo que Mandzukic não conseguiu na temporada passada. Como os atacantes de lado buscam sempre explorar os espaços vazios, a mobilidade de Lewandowski na referência é essencial para que tais espaços surjam. Analisando os últimos jogos da Champions, em situações que o camisa 9 deixou seu principal setor de atuação, saíram gols do time bávaro. Contra o CSKA Moscou, o gol de pênalti marcado por Müller surgiu após situação em que Lewandowski foi buscar a bola na intermediária e puxou um zagueiro, abrindo espaço para Götze receber em progressão e sofrer a penalidade. Já no duelo contra a Roma, na Itália, o centroavante executou o mesmo movimento e encontrou Arjen Robben em profundidade pela direita, para o holandês anotar o seu segundo gol na partida. Na Allianz Arena, Lewandowski não foi até a intermediária, mas saiu da referência em direção à ponta- esquerda e conseguiu abrir espaço para a infiltração de Götze, que completou cruzamento do polonês, marcando o gol que sacramentou mais uma vitória do Bayern sobre a Roma.

Times trocam apenas peças na segunda etapa e jogo continua em conjuntura parecida

A Roma passou a levar mais perigo a partir da entrada tardia de Gervinho, que infernizava a já desgastada marcação alemã e criava jogadas interessantes pela esquerda. Os ataques giallorossi, no entanto, pararam no melhor goleiro do mundo, Manuel Neuer, e mantiveram a Roma com o zero no placar.

Dentro de suas pretensões, Rudi García conseguiu visitar o Bayern e voltar para a Itália com uma derrota digna e que mantém a Roma com boas chances de classificação, especialmente após a vitória do CSKA sobre o Manchester City, na Inglaterra. Já classificado, o Bayern se mantém como principal favorito ao título ao lado do Real Madrid e deve aproveitar essas duas próximas rodadas de Champions League para rodar seu elenco, concentrando as atenções na Bundesliga e dando quilometragem para jogadores jovens, além de testar outras variações táticas sem o compromisso de vencer seus jogos. No temido Grupo da Morte da Champions League, o Bayern é a Morte e Roma, CSKA e Manchester City tentam sobreviver, apesar dos bávaros.

Por João Marcos Soares (@JoaoMarcos__)