segunda-feira, 8 de dezembro de 2014

A carreira tática de Alex

Enfim, a carreira de jogador profissional do meia Alex chegou ao fim. Este jogador ficará marcado como um dos poucos jogadores que conseguiu ser ídolo em três grandes times do futebol brasileiro (Coritiba, Palmeiras e Cruzeiro), um turco (Fenerbahçe) e como um dos últimos camisa 10 clássico do futebol brasileiro.  Este meia não ficará marcado somente por suas incríveis precisões em cobranças de bola parada, pelos seus passes completamente imprevisíveis e pela sua liderança em campo, mas também pela sua incrível noção tática.



Em campo, Alex foi genial com e sem a bola nos pés. Sem a bola em seu domínio, este camisa 10 compreendia o esquema tático que sua equipe jogava e se movimentava de acordo com a função solicitada. Tanto que ele atuou no 4-3-1-2, no 4-2-3-1, no 4-3-3, no 4-2-2-2 e no 5-4-1, e em todas, as suas movimentações sem bola foram fundamentais para ser uma opção de passe para o sistema ofensivo do seu time.

No segundo clube de sua carreira profissional, Alex atuou como meia central no 4-3-1-2. Como era início de sua carreira, este meia pouco participava das ações defensivas do time, mas sempre procurava os espaços vazios durante a ação ofensiva do Palmeiras. No flagrante acima, percebe-se o losango alviverde representado pelos traços laranja e Alex já começando a procurar o espaço vazio para receber a bola.

Em 2000, Alex foi convocado para a Seleção Olímpica. Em diversas partidas dos jogos olímpicos, o Brasil atuou no 4-2-2-2 conforme o flagrante acima. Assim como Vanderlei Luxemburgo –técnico da Seleção Brasileira da época- pedia, Alex e Ronaldinho Gaúcho –o outro meia da equipe- pouco atuavam defensivamente. Porém ofensivamente, ambos tinham a responsabilidade de recuar para realizar a saída de jogo, de armar a equipe no terço ofensivo e a se projetar na área adversária. Alex, na meia esquerda, realizava todas as funções com eficiência.

Já em 2001, Alex e Vanderlei Luxemburgo mantiveram o “casamento” deles na Seleção Brasileira. Em um dos jogos marcantes da época entre Brasil e Argentina, Alex e Zé Roberto atuaram como os meias do 4-2-2-2 da equipe.  Alex já sabia como Vanderlei o queria em campo.

No Cruzeiro e no ano de 2003, Alex viveu o seu auge profissional. Este meia, que já havia sido treinado várias vezes por Vanderlei Luxemburgo, foi contratado a dedo por este técnico para que a engrenagem azul-celeste deslanchasse de vez. No flagrante acima, nota-se Alex como o meia central do 4-3-1-2 da Raposa e recuando para iniciar o contra-ataque da equipe. Este camisa 10 já conhecia Vanderlei e Vanderlei já o conhecia, assim o “casamento” entre eles alcançou o seu ápice, mas se separaram para nunca mais se encontrarem no mesmo clube. 

Já na Turquia, Alex começou a conviver com os aspectos táticos europeus. Em terras européias, este meia começou a compreender melhor do que se tratava a compactação da equipe. No Fenerbahce, este camisa 10 continuava a não ser tão ativo defensivamente, mas passou a ficar mais próximo da linha do meio-de-campo do seu time em ação defensiva. Na imagem acima, nota-se o 4-2-3-1 do Fener em 2012 e Alex, como meia central, se aproximando dos volantes da sua equipe em ação defensiva.

Já na sua volta para o Brasil, Alex continuava a não participava ativamente do sistema defensivo do seu time, mas recuava para realizar a compactação para a sua equipe. No Coritiba e no início de 2014, este meia atuava como a referência do ataque do 4-3-3 do time e recuava para deixar o Coxa em curta compactação em ação defensiva –conforme o flagrante acima demonstra.

Agora no fim de 2014, Alex se manteve como a referência do ataque do Coritiba, porém o esquema tático passou a ser o 5-4-1. Neste esquema, este meia tinha as mesmas poucas responsabilidades defensivas, porém quando o Coxa estava sem a bola, este camisa 10 recuava para manter a curta compactação da equipe. Era pouca participação defensiva, mas era fundamental para a transição defesa-ataque do time.

Ainda sem a bola, Alex, desde o início da sua carreira profissional, costumeiramente se projetava para a área adversária para ser mais uma opção de finalização ao gol. Desde a sua primeira passagem pelo Coritiba, esta movimentação já acontecia. Com o desenvolver da sua carreira, esta movimentação ofensiva sem bola foi ganhando mais opções.

Entre 1995 e 1997, Alex realizou a sua primeira passagem pelo Coritiba. Neste clube, este meia já se projetava freqüentemente em direção a área adversária, principalmente, após ter realizado um passe para um companheiro à frente. Neste tipo de situação, a marcação que estava em Alex dificilmente o pegava de novo e o ataque coxa-branca tinha continuidade.

Entre 1997 e 2000, Alex continuou a fazer a projeção à área adversária. Além daquela projeção a frente realizada no Coritiba, este meia passou a se projetar a frente para tentar também o cabeceio. Tanto que nesta época no Palmeiras, o camisa 10 alviverde ganhou muito destaque com seus gols realizados de cabeça.

Já nas Olimpíadas e com primeiro encontro com Vanderlei, Alex começou a aprimorar ainda mais esta movimentação como opção de cabeceio. Nesta época, este meia passou a entrar na área e, também, a procurar o espaço vazio. Como o seu tempo de bola e a noção de espaço eram muito bons, Alex passou a realizar diversos gols como na movimentação acima: ao perceber que Fábio Aurélio iria cruzar e ao ver o espaço vazio na 2ª trave, Alex se movimentou para este espaço e realizou o primeiro gol na vitória contra o Japão.

No Cruzeiro de 2003, Alex fez muitos gols. Dentre estes gols, diversos foram através de cruzamentos como no flagrante acima e outros tantos após uma tabela curta. Este meia teve o seu auge jogando um futebol intenso e com muito volume.

Durante a sua passagem pelo Fenerbahçe (2004-2012), Alex continuou a viver o seu ótimo futebol da época do Cruzeiro, mas com o decorrer da sua carreira, ele começou a modificar um pouco a sua maneira de jogar. Como a intensidade e o volume passaram a ser menores, este meia continuava a entrar na área adversária com inteligência como na época da Seleção Brasileira e do Cruzeiro (assim como mostra o flagrante acima), porém a sua movimentação para ser opção de passe foi desenvolvida ainda mais. Alex começou a mostrar muita da sua inteligência de jogo sem a bola.


Na sua segunda passagem pelo Coritiba, Alex passou a demonstrar a sua capacidade de se demarcar com pouca movimentação, ou seja, inteligentemente. Nesta fase da sua carreira, este meia se posicionou freqüentemente entre as linhas de marcação dos sistemas defensivos adversários. Com este posicionamento, Alex se tornava uma linha de passe livre –assim como mostra o flagrante acima deste jogador entre as duas linhas de 4 do São Paulo-, ele constantemente recebia a bola e o adversário mais próximo não conseguia pegá-lo porque a bola saía rapidamente de seus pés. Alex conseguiu juntar a sua rapidez de pensamento com a bola no pé com a sua inteligência de movimentação sem a bola. Era aula de futebol.


Ainda nesta segunda passagem pelo Coxa, Alex também recuava para sair jogando. E assim como a sua movimentação no terço ofensivo, este meia também se movimentava na entrelinhas do sistema defensivo adversário. No seu último Atletiba, Alex freqüentemente se posicionou livre entre a linha ofensiva e a do meio-de-campo do Furacão e, assim, dava continuidade ao ataque coxa-branca.

Enfim, infelizmente, Alex, mesmo vivendo o seu ápice de inteligência tática, se aposentou. Este meia foi incrível com a bola no pé e também sem ela. Alexsandro de Souza fará falta ao futebol mundial e, principalmente, ao brasileiro. Ele foi um grande camisa 10!

Por Caio Gondo (@CaioGondo)