Enfim,
a carreira de jogador profissional do meia Alex chegou ao fim. Este jogador
ficará marcado como um dos poucos jogadores que conseguiu ser ídolo em três
grandes times do futebol brasileiro (Coritiba, Palmeiras e Cruzeiro), um turco
(Fenerbahçe) e como um dos últimos camisa 10 clássico do futebol
brasileiro. Este meia não ficará marcado
somente por suas incríveis precisões em cobranças de bola parada, pelos seus
passes completamente imprevisíveis e pela sua liderança em campo, mas também
pela sua incrível noção tática.
Em
campo, Alex foi genial com e sem a bola nos pés. Sem a bola em seu domínio,
este camisa 10 compreendia o esquema tático que sua equipe jogava e se
movimentava de acordo com a função solicitada. Tanto que ele atuou no 4-3-1-2,
no 4-2-3-1, no 4-3-3, no 4-2-2-2 e no 5-4-1, e em todas, as suas movimentações
sem bola foram fundamentais para ser uma opção de passe para o sistema ofensivo
do seu time.
No
segundo clube de sua carreira profissional, Alex atuou como meia central no
4-3-1-2. Como era início de sua carreira, este meia pouco participava das ações
defensivas do time, mas sempre procurava os espaços vazios durante a ação
ofensiva do Palmeiras. No flagrante acima, percebe-se o losango alviverde representado
pelos traços laranja e Alex já começando a procurar o espaço vazio para receber
a bola.
Em
2000, Alex foi convocado para a Seleção Olímpica. Em diversas partidas dos
jogos olímpicos, o Brasil atuou no 4-2-2-2 conforme o flagrante acima. Assim
como Vanderlei Luxemburgo –técnico da Seleção Brasileira da época- pedia, Alex
e Ronaldinho Gaúcho –o outro meia da equipe- pouco atuavam defensivamente.
Porém ofensivamente, ambos tinham a responsabilidade de recuar para realizar a
saída de jogo, de armar a equipe no terço ofensivo e a se projetar na área
adversária. Alex, na meia esquerda, realizava todas as funções com eficiência.
Já
em 2001, Alex e Vanderlei Luxemburgo mantiveram o “casamento” deles na Seleção
Brasileira. Em um dos jogos marcantes da época entre Brasil e Argentina, Alex e
Zé Roberto atuaram como os meias do 4-2-2-2 da equipe. Alex já sabia como Vanderlei o queria em
campo.
No
Cruzeiro e no ano de 2003, Alex viveu o seu auge profissional. Este meia, que
já havia sido treinado várias vezes por Vanderlei Luxemburgo, foi contratado a
dedo por este técnico para que a engrenagem azul-celeste deslanchasse de vez.
No flagrante acima, nota-se Alex como o meia central do 4-3-1-2 da Raposa e
recuando para iniciar o contra-ataque da equipe. Este camisa 10 já conhecia
Vanderlei e Vanderlei já o conhecia, assim o “casamento” entre eles alcançou o
seu ápice, mas se separaram para nunca mais se encontrarem no mesmo clube.
Já
na Turquia, Alex começou a conviver com os aspectos táticos europeus. Em terras
européias, este meia começou a compreender melhor do que se tratava a
compactação da equipe. No Fenerbahce, este camisa 10 continuava a não ser tão
ativo defensivamente, mas passou a ficar mais próximo da linha do meio-de-campo
do seu time em ação defensiva. Na imagem acima, nota-se o 4-2-3-1 do Fener em
2012 e Alex, como meia central, se aproximando dos volantes da sua equipe em
ação defensiva.
Já
na sua volta para o Brasil, Alex continuava a não participava ativamente do
sistema defensivo do seu time, mas recuava para realizar a compactação para a
sua equipe. No Coritiba e no início de 2014, este meia atuava como a referência
do ataque do 4-3-3 do time e recuava para deixar o Coxa em curta compactação em
ação defensiva –conforme o flagrante acima demonstra.
Agora
no fim de 2014, Alex se manteve como a referência do ataque do Coritiba, porém
o esquema tático passou a ser o 5-4-1. Neste esquema, este meia tinha as mesmas
poucas responsabilidades defensivas, porém quando o Coxa estava sem a bola,
este camisa 10 recuava para manter a curta compactação da equipe. Era pouca
participação defensiva, mas era fundamental para a transição defesa-ataque do
time.
Ainda
sem a bola, Alex, desde o início da sua carreira profissional, costumeiramente
se projetava para a área adversária para ser mais uma opção de finalização ao
gol. Desde a sua primeira passagem pelo Coritiba, esta movimentação já
acontecia. Com o desenvolver da sua carreira, esta movimentação ofensiva sem bola foi ganhando
mais opções.
Entre
1995 e 1997, Alex realizou a sua primeira passagem pelo Coritiba. Neste clube,
este meia já se projetava freqüentemente em direção a área adversária,
principalmente, após ter realizado um passe para um companheiro à frente. Neste
tipo de situação, a marcação que estava em Alex dificilmente o pegava de novo e
o ataque coxa-branca tinha continuidade.
Entre
1997 e 2000, Alex continuou a fazer a projeção à área adversária. Além daquela
projeção a frente realizada no Coritiba, este meia passou a se projetar a
frente para tentar também o cabeceio. Tanto que nesta época no Palmeiras, o
camisa 10 alviverde ganhou muito destaque com seus gols realizados de cabeça.
Já
nas Olimpíadas e com primeiro encontro com Vanderlei, Alex começou a aprimorar
ainda mais esta movimentação como opção de cabeceio. Nesta época, este meia
passou a entrar na área e, também, a procurar o espaço vazio. Como o seu tempo
de bola e a noção de espaço eram muito bons, Alex passou a realizar diversos
gols como na movimentação acima: ao perceber que Fábio Aurélio iria cruzar e ao
ver o espaço vazio na 2ª trave, Alex se movimentou para este espaço e realizou
o primeiro gol na vitória contra o Japão.
No
Cruzeiro de 2003, Alex fez muitos gols. Dentre estes gols, diversos foram
através de cruzamentos como no flagrante acima e outros tantos após uma tabela
curta. Este meia teve o seu auge jogando um futebol intenso e com muito volume.
Durante
a sua passagem pelo Fenerbahçe (2004-2012), Alex continuou a viver o seu ótimo
futebol da época do Cruzeiro, mas com o decorrer da sua carreira, ele começou a
modificar um pouco a sua maneira de jogar. Como a intensidade e o volume
passaram a ser menores, este meia continuava a entrar na área adversária com
inteligência como na época da Seleção Brasileira e do Cruzeiro (assim como
mostra o flagrante acima), porém a sua movimentação para ser opção de passe foi
desenvolvida ainda mais. Alex começou a mostrar muita da sua inteligência de
jogo sem a bola.
Na
sua segunda passagem pelo Coritiba, Alex passou a demonstrar a sua capacidade
de se demarcar com pouca movimentação, ou seja, inteligentemente. Nesta fase da
sua carreira, este meia se posicionou freqüentemente entre as linhas de
marcação dos sistemas defensivos adversários. Com este posicionamento, Alex se
tornava uma linha de passe livre –assim como mostra o flagrante acima deste
jogador entre as duas linhas de 4 do São Paulo-, ele constantemente recebia a
bola e o adversário mais próximo não conseguia pegá-lo porque a bola saía
rapidamente de seus pés. Alex conseguiu juntar a sua rapidez de pensamento com
a bola no pé com a sua inteligência de movimentação sem a bola. Era aula de
futebol.
Ainda
nesta segunda passagem pelo Coxa, Alex também recuava para sair jogando. E
assim como a sua movimentação no terço ofensivo, este meia também se
movimentava na entrelinhas do sistema defensivo adversário. No seu último
Atletiba, Alex freqüentemente se posicionou livre entre a linha ofensiva e a do
meio-de-campo do Furacão e, assim, dava continuidade ao ataque coxa-branca.
Enfim,
infelizmente, Alex, mesmo vivendo o seu ápice de inteligência tática, se
aposentou. Este meia foi incrível com a bola no pé e também sem ela. Alexsandro
de Souza fará falta ao futebol mundial e, principalmente, ao brasileiro. Ele
foi um grande camisa 10!
Por Caio Gondo (@CaioGondo)