segunda-feira, 15 de dezembro de 2014

Racing Campeão do Torneio Transición: Um brinde de Fernet com Diego Cocca

"Esta es la numero uno, Que te sigue a todas partes, Siempre con sus estandartes, Y un grito de corazon: Racing campeon Racing campeon Racing campeon...Desde el este y el oeste, En el norte y en el sur, Brillara blanca y celeste, La academia Racing Club, Y la acade y la acade...". Ao ritmo da clássica Marcha Peronista que embalava 13 anos de espera e ilusão, a metade celeste y blanca de Avellaneda pôde enfim ver seu time campeão neste domingo. Uma conquista inesperada marcada por sobressaltos. Lembremos da trágica temporada anterior, quando La Acade amargava a última posição na tabela geral dos dois torneio curtos - com 33 pontos e incríveis 21 derrotas - e que só não foi a B Nacional graças as mudanças estruturais na AFA que geraram o novo torneio com 30 times(que terá inicio em Fevereiro de 2015). Tentando apagar o pobre primeiro semestre sob o comando de Mostaza Merlo - o ídolo racinguista que tirou o time da seca de 35 anos em 2001 - o presidente Victor Blanco apostou em Diego Cocca, o jovem treinador que foi o arquiteto do título da B Nacional com o modesto Defensa y Justicia. Com ele, outras 15 incorporações chegavam a Avellaneda em Julho deste ano para um projeto ambicioso. 

Racing Campeão do Torneio Transición 2014: Diego Cocca apostou pelo 4-2-2-2 durante toda a campanha
Do Godoy Cruz de Mendoza chegavam o lateral Leandro Grimi, o zagueiro Nicolas Sanchez e o atacante Facundo Castillón. Para o miolo de zaga, o Racing foi buscar Luciano Lollo, um dos emblemas do Belgrano de Cordoba desde a volta do Pirata Cordobes à primeira divisão. Do Colón de Santa Fé veio talvez sua contratação mais determinante, no caso, a do leão Ezequiel Videla,  volante sensação à puro "huevos", maior ladrão de bolas do campeonato, que formou uma excelente dupla ao lado de Luciano Aued. Pelos lados do campo, vieram Gaston Diaz(Gimnasia de La Plata), Ricardo Centurión(Genova), Marcos Acuña(Ferro Carril Oeste) além do volante Nelson Acevedo, um dos destaques do ascenso do Defensa y Justicia. Para o ataque, a mais emblemática contratação consistia na volta do ídolo, el Príncipe Diego Milito, que após uma temporada encostado na Itália, retornava ao clube de seu coração para ser o capitão e o líder futebolístico. 

A derrota para o Independiete no clássico de Avellaneda  foi o ponto crítico na campanha. Cocca disse: "Prefiro sair Campeão do que vencer o clássico", as declarações geraram polêmica entre os hinchas academicos
Diego Cocca nunca escondeu a inspiração em Daniel Passarella e Ricardo La Volpe. Passarella foi o treinador que o fez debutar profissionalmente em 1991 com a camiseta do River. La Volpe, foi o seu treinador no Atlas do México, e daí foi formando seu caráter como um treinador audaz e meticuloso. No título da B Nacional no primeiro semestre, Cocca utilizou o 4-3-3/4-1-4-1, sistema que tentou implementar nos primeiro treinamentos no Racing, sem o devido êxito. Eis que, para a estreia contra o Defensa y Justicia, Cocca decidiu-se por um 4-2-2-2 que seria mantido durante a campanha no Torneio Transición. 

Sebastián "Chino" Saja, em sua quarta temporada como arqueiro titular, enfim conseguiu a consagração pelo Racing. Sua defesa milagrosa na penúltima rodada contra o Rosario Central será lembrada por décadas, além de sua liderança nata. Na lateral direita, Ivan Pillud foi outra peça fundamental como suporte defensivo, tendo uma revanche pessoal após críticas ferrenhas em sua segunda passagem pelo clube. 

Na zaga, o garoto Yonathan Cabral - Irmão de Gustavo Cabral do Celta de Vigo - representa a revolução nas categorias de base do clube que se intensificou com o fim da Gestão Blanquiceleste em 2008 - que administrou o Racing durante 10 anos graças a intervenção judicial para o pagamento de todas as dividas . Fechando a linha defensiva, o lateral esquerdo Leandro Grimi desembarcou do Godoy Cruz para fazer uma bela sociedade pela esquerda com Centurión. A defesa do Racing foi a segunda menos vazada com apenas 16 gols sofridos. Nas ultimas 6 rodadas, o Racing não sofreu nenhum gol, fato determinante para o título.

 Empate em 1 a 1 contra o Newell's pela oitava rodada; sem Diego Milito no 4-2-2-2 habitual com Hauche e Bou no ataque
Na segunda linha de 4, destacamos os volantes Videla e Aued. Videla foi o cão de guarda e maior interceptador do campeonato. Além disso, fazia uma função fundamental no primeiro passe, fazendo a saída Lavolpiana entre os zagueiros Lollo e Cabral. Luciano Aued, antes utilizado por Mostaza Merlo pelos flancos, venceu o duelo contra Acevedo, tornando-se titular na segunda metade do torneio. Gaston Diaz, que é lateral de origem, foi adiantado para atuar pelo flanco direito, sendo o líder de assistências com seus cruzamentos precisos, eclipsado pelo centro/passe no gol do título. Pelo lado oposto, o herói do título, Ricardo Centurión, que retornava a Avellaneda após passagem apagada pelo Genova. Ficará marcado pelo golaço frente ao Velez e o derradeiro diante do Godoy Cruz. 

No ataque, a contundência de Gustavo Bou foi fundamental com seus 10 gols e a parceria imponente com Diego Milito. Bou também foi um pedido de Cocca. O atacante revelado pelo River, estava sem contrato após o término de seu empréstimo ao Gimnasia La Plata, sendo incorporado nas vésperas do torneio. Assumiu a titularidade na quinta rodada graças a lesão de Milito. Seu companheiro por algumas rodadas foi Gabriel Hauche. El Demonio, em sua segunda passagem pelo Racing, teve seu papel de importância marcando 5 gols, sendo recordado pelo agônico tiro que definiu a importante vitória contra o Gimnasia no Bosque de La Plata na décima quarta rodada. O ataque racinguista foi o terceiro mais eficiente do Torneio Transición com 30 gols, sendo que 21 deles foram anotados pelo tridente Bou/Milito/Hauche.

A final antecipada contra o reservas do River: 1 a 0 na antepenúltima rodada com o Cilindro repleto e a liderança no bolso
Diego Milito é um caso particular. Jogador/hincha que voltava ao clube para entrar de vez na história do Racing, sendo o único personagem a participar dos dois títulos nacionais nos últimos 48 anos. Em 2001, ainda jovem, revezou a titularidade com Rafa Maceratesi na campanha no Apertura. Mostaza Merlo formava o Racing no 3-4-1-2. As semelhanças com o time atual são notórias: o pacotão de contratações na véspera do torneio e uma zaga sólida são marcas nas duas conquistas. Em 2001, a zaga contava com Pancho Maciel, Gabriel Loeschbor e Claudio Ubeda. Na cabeça de área, a forte marcação de Bastia e Gustavo Barros Schelloto nos remetem ao labor da dupla Videla e Aued. Os alas eram Vitali e Gerardo Bedoya, ao passo que Pepe Chatruc tornaria-se o emblema como enlace daquele time. No ataque, o intrépido Chanchi Estevez formava uma dupla letal ao lado de um garoto prodígio que atendia pelo nome de Diego Milito.

Racing Campeão do Apertura 2001: No 3-4-1-2 de Mostaza Merlo para sair de uma fila de 35 anos sem títulos nacionais
A diferença com o título de 2001, é que dessa feita, o Racing foi campeão com as próprias pernas, marcado por um clube novamente comandado por seus sócios. Victor Blanco, eleito neste domingo para seu segundo mandato, é o terceiro presidente após o fim do gerenciamento da Blanquiceleste S.A. Herdou o cargo após a briga interna que culminou com a renuncia de Gastón Cogorno e Rodolfo Molina em 2012, justamente os dois primeiros presidentes deste novo ciclo racinguista.

O Racing entra no grupo 8 da Libertadores onde terá pela frente o campeão peruano - a ser definido nesta quarta entre Sporting Cristal e Juan Aurich - o Guaraní do Paraguai, além do vencedor do confronto entre Deportivo Táchira e Cerro Porteño. Vamos La Acade!

Por Felipe Bigliazzi