segunda-feira, 15 de dezembro de 2014

Retrospectiva Brasileirão: Grêmio

Um ano de altos e baixos. Assim pode ser caracterizado o 2014 do Grêmio. Depois de um início de Libertadores promissor, em que o time patrolou todos os adversários na primeira fase, o entra e sai de jogadores no elenco fez com que a produção do time caísse. A troca de treinadores fez com que o Tricolor tivesse várias facetas diferentes no ano, as quais serão mostradas nessa análise. Apesar do bom trabalho de Felipão, o treinador não conseguiu levar o time à Libertadores de 2015, principal objetivo do clube no segundo semestre.

1o esquema: 4-1-4-1

A principal característica do Grêmio da primeira fase da Libertadores era a distribuição das tarefas defensivas e ofensivas na trinca de volantes. Edinho atuava como o primeiro homem, tendo a sua frente Ramiro e Riveros. Os dois sempre trocavam de posição e se revezavam nas tarefas de marcar e armar as jogadas do time, dando um ar de imprevisibilidade ao Tricolor. A linha de quatro de meio era formada por Luan na direita, Zé Roberto na esquerda, Ramiro e Riveros centralizados. Quando Luan ou Zé Roberto se ausentavam, o escolhido para substitui-los era Dudu, mas o meia não teve um bom início no Grêmio. Outra característica bem definida era a saída de bola: Wendell sempre era a válvula de escape pelo lado esquerdo, enquanto Pará ficava como lateral-base na direita. Apesar de previsível, o esquema sempre conseguia agredir as defesas adversárias, já que a dupla Wendell-Zé Roberto imprimia muita velocidade ao lado esquerdo e o lateral vivia grande fase. Os adversários sabiam como o Grêmio jogava, mas não conseguiam marcar a saída de bola Tricolor.

4-1-4-1 de Enderson Moreira:
Primeiro esquema do Grêmio na temporada

O Grêmio teve a segunda melhor campanha da primeira fase da Libertadores, com 4 vitórias e 2 empates em 6 jogos, tendo marcado 7 gols e sofrido apenas um. Detalhe: o grupo do time gaúcho na competição era o chamado "grupo da morte", com Atletico Nacional, Newell's (semifinalista em 2013) e Nacional-URU.

A desclassificação do Grêmio veio em dois jogos iguais, em que o Tricolor seria derrotado nos pênaltis pelo time que depois viria a vencer a competição, o San Lorenzo. No jogo de ida, o grande problema foi não ter Wendell, suspenso. Enderson Moreira optou por improvisar o volante Léo Gago no lado esquerdo, proporcionando uma avenida para as descidas rápidas da dupla Buffarini-Viatti. O 1 a 0 ficou barato e proporcionou ao time gaúcho a chance de buscar o resultado em casa.

Na volta, Enderson mudou, optando por sacar Edinho do time para ter mais um homem à frente, no caso, Dudu. Foi o princípio do 4-2-3-1 que viria a se estabelecer no clube mais tarde. Com Dudu aberto do lado direito, Luan na esquerda e Zé Roberto centralizado, o meio ficou mais preenchido, deixando o time mais encorpado no setor. Entretanto, nem Luan nem Dudu encostavam em Barcos, que tinha que se virar sozinho na frente, geralmente recebendo o combate de dois adversários. O Grêmio venceu por 1 a 0 no tempo regulamentar e teve chances para resolver a partida, mas desperdiçou suas chances e acabou caindo nas penalidades.

Análise de Grêmio x San Lorenzo:
Mesmo tendo jogadores mais ofensivos, Tricolor teve mais presença no meio 
e não deixou o time Argentino criar oportunidades


Após a Libertadores, Wendell foi para o Bayer Leverkusen, da Alemanha, e Luan se lesionou. A chegada de Rodriguinho por empréstimo também fez com que Enderson Moreira mudasse o sistema tático da equipe, que passou a raramente utilizar 3 volantes de origem e ter geralmente 3 meias.

2o esquema: 4-2-3-1

O 4-2-3-1 que já havia sido utilizado na última partida do Grêmio na Libertadores tomou forma a partir da 5a rodada - vitória do Tricolor sobre a Chapecoense. Edinho deixou o time, com Ramiro e Riveros sendo os volantes. Zé Roberto também perdeu espaço. A linha de meias tinha Rodriguinho - contratado para ser o cérebro do time - centralizado, Alan Ruiz pela direita e Dudu na esquerda. Os últimos dois citados atuavam bem abertos, fazendo o "facão"e entrando em diagonal na área para auxiliar Barcos, aproveitando o fato de atuarem com pé trocado na relação com o lado de campo (Alan, canhoto, na direita e Dudu, destro, na esquerda). O Grêmio passou a trocar mais passes do que antes, mas não tinha a mesma efetividade na hora de chegar ao gol. A transição defesa-ataque do time - carente de Wendell, que fazia a função com maestria, e das subidas simultâneas de Ramiro e Riveros - ficou lenta, fazendo com que Barcos ficasse muitas vezes isolado na frente, sem receber o apoio da chegada dos companheiros. A ausência de Wendell foi um problema mal resolvido por Enderson Moreira: nas rodadas seguintes, Marquinhos Pedroso, Breno e até Saimon, um zagueiro improvisado, foram usados no setor, mas ninguém convenceu. Pará - antes apenas um marcador - foi obrigado a tentar algumas escapadas pelo lado direito, mostrando toda a sua deficiência na parte técnica. A saída de bola do time nunca mais foi a mesma sem Wendell.

Grêmio no 4-2-3-1: Problemas na saída de bola e 
Barcos isolado no ataque

O time acima foi o utilizado pelo Grêmio até a parada da Copa. No recesso, o Tricolor se reforçou com Giuliano, Fernandinho e Matias Rodriguez. Pará foi para a lateral-esquerda - o que comprometeu ainda mais o seu rendimento, com Matias assumindo a direita. Giuliano simplesmente passou a fazer a mesma função de Rodriguinho, enquanto Dudu deu lugar a Luan, que voltava de lesão. O time seguiu com os mesmos problemas, já que Giuliano nunca teve característica de ser um distribuidor do jogo, sempre foi um meia de chegada. A verdade é que os reforços mal haviam entrado no time quando a direção do Grêmio perdeu a paciência com Enderson: apenas três jogos após a volta da Copa, na estreia de Fernandinho, o time empatou em casa e Enderson foi demitido. Começava a era Felipão no Grêmio.

Última escalação de Enderson, diante do Coxa:
Pará improvisado na esquerda, time sem criatividade

3o esquema: 4-3-2-1

Felipão estreou no Gre-Nal - derrota por 2 a 1 para o rival Inter. Logo de arrancada, uma ideia totalmente de time, com Ramiro na lateral-direita e Wallace estreando como titular, mas nada do que ia se repetir no time. Contra o Criciúma, na 15a rodada, Felipão utilizou pela primeira vez o 4-3-2-1 que iria ser consagrado no Grêmio ao longo da temporada. Sem Giuliano - que já havia começado a sofrer com problemas físicos, e com a estreia de Felipe Bastos, trazido por Felipão, a ideia era ter os 3 volantes sempre em linha, com 2 wingers abertos pelos lados (Dudu e Luan foram os titulares no final do campeonato, mas Giuliano chegou a atuar por ali), sendo que um desses wingers voltava para ajudar a compôr a linha de 4 no meio, o outro avançava, se projetando para auxiliar o camisa 9 no ataque. É verdade que, no início do trabalho, o "trauma" em função das atuações de Fred na Copa fizeram Felipão sacar Barcos e testar todos os nomes possíveis. Lucas Coelho, Luan e até mesmo o jovem Ronan foram usados por ali, todos sem sucesso. No final das contas, Barcos acabou voltando ao time titular e acabando o ano em alta.

Além da nova formação tática, o principal triunfo de Felipão foi fixar desde o início do trabalho (a única exceção foi o primeiro GreNal) Zé Roberto como o lateral-esquerdo. Aos 40 anos, Zé Roberto voltou à sua posição de origem com maestria, sendo eleito o melhor lateral-esquerdo do campeonato. O Grêmio voltou a ter válvula de escape pelo lado esquerdo, e Pará voltou a ter atuações mais regulares ao ser fixado novamente como lateral-base no lado direito. Com 3 volantes de forte poder de marcação sempre próximos à linha de 4 defensiva, combinados às atuações monstruosas do goleiro Marcelo Grohê, o Grêmio passou a ter a melhor defesa do campeonato.

Felipão teve problemas para achar as peças certas no seu esquema, mas acabou o ano em alta. O auge do time se deu na 33a rodada - vitória por 4 a 1 sobre o Inter no clássico Gre-Nal. Nessa partida, destaque para as escapadas de Zé Roberto, para a intensa movimentação dos volantes (nesse jogo foi Ramiro quem mais escapou com perigo em direção ao ataque, marcando até gol) e para a dinâmica proporcionada pelos dois meias extremos, Dudu e Luan, se revezando na tarefa de marcar e de se aproximar do centroavante Barcos, trocando de posição à todo o momento e dando dinâmica à um time que nunca teve um pensador na temporada, mas que conseguiu, em muitos momentos, suprir essa necessidade com a velocidade intensa dos seus meias.

Grêmio no Gre-Nal do 2o turno:
4-3-2-1 deu consistência defensiva e fez com que o time passasse a suprir a 
ausência de um armador com jogadas de velocidade pelos lados