domingo, 21 de dezembro de 2014

Retrospectiva Brasileirão 2014: Botafogo

Em 2014, o Botafogo foi o retrato das administrações nocivas que ano após ano, mancham a história de diversos clubes do nosso país. Com um elenco enfraquecido, e problemas financeiros que já se arrastavam desde o ano anterior, o Botafogo iniciou 2014 de volta na Libertadores após 17 anos, e possivelmente, por escolha política, escolheu o inexperiente Eduardo Húngaro para o cargo de treinador. Não foi esse um dos casos em que um novato dá certo, e o clube, além de ser eliminado na fase de grupos, ainda protagonizou um fiasco no Campeonato Carioca. Às vésperas do início do Brasileiro, Vagner Mancini foi trazido, na tentativa de afastar a equipe do caminho trágico com a qual parecia se aproximar. Além disso, Emerson Sheik foi adquirido por empréstimo junto ao Corinthians, e logo se tornou uma das referências técnicas da equipe.

No início de sua trajetória, Vagner Mancini, não tendo tempo para planejar as estratégias e táticas a serem implementadas pela equipe, procurou manter o esquema já utilizado por seu predecessor, assim como realizar algumas formações básicas, partindo de princípios simples, enquanto definia sua formação e estratégia ideal. O 4-2-3-1 que já vinha do início do ano, o 4-4-2 e a variante 4-2-2-2 foram os desenhos mais utilizados nas nove rodadas antes da parada para a Copa do Mundo. Em termos estratégicos, a construção era enfática pelos flancos, por onde laterais e wingers eram muito presentes no ataque. A estratégia variava de acordo com o mando de campo, sendo que fora de casa a equipe era mais direta e contragolpista, enquanto dentro de casa era paciente, e retinha mais a bola à espera de um bom momento para concluir. Além disso, dependendo da característica do(s) atacante(s) em campo, a abordagem da fase ofensiva era diferente. Ao contar com um atacante referência como Ferreyra, a equipe era mais direta, utilizava com mais frequência os cruzamentos e early crosses e dava uma importância maior às bolas paradas, enquanto que ao contar apenas com atacantes de movimentação, como Emerson e Zeballos, a equipe preferivelmente optava por acioná-los com passes e cruzamentos rasteiros, conseguindo além disso, reter e circular a bola por mais tempo no campo de ataque. Em termos defensivos, eram utilizadas duas linhas de quatro, normalmente com boa compactação, em bloco médio ou baixo, marcando de forma zonal com encaixes no setor da bola.
Os desenhos táticos utilizados durante as nove rodadas iniciais. 4-2-3-1 (vs São Paulo, 1ª rodada), 4-4-2 (vs Corinthians, 9ª rodada) e 4-2-2-2 (vs Bahia, 3ª rodada).
O 4-2-2-2 alvinegro, contra o Bahia (Rep.: Youtube/Rede Globo).
Após a Copa, algumas mudanças no elenco foram, de certa forma, compensadas com a aquisição de outros atletas. É o caso de Jorge Wagner e Lodeiro, que deixaram o clube, enquanto Rogério e Ramirez foram adquiridos. O estilo da equipe já estava mais bem desenhado, sendo o 4-2-3-1 o esquema tático mais frequente, apesar do 4-4-2 também ter sido utilizado em vários momentos. A ênfase pela construção de jogo pelos flancos permaneceu, e a preferência de Mancini por um ataque mais dinâmico e flexível fez com que atacantes como Ferreyra perdessem espaço entre os titulares. Eram utilizados, porém, como último recurso em situações adversas. Sem contar com bons passadores, a equipe encontrava dificuldades em propor o jogo, e por isso, a estratégia mais frequente era contragolpista e visando as transições rápidas.
Contra o Atlético-PR em agosto, um 4-2-3-1 com Emerson Sheik movimentando-se bastante no ataque.
Houve mudanças que não foram supridas, como o caso de Lucas, que rescindiu contrato com a equipe devido à situação financeira caótica vivida pelo Alvinegro. Com a lesão de Edilson, o Botafogo não possuía mais laterais-direitos em seu elenco e teve de improvisar o zagueiro Dankler na posição. Irregular no Brasileiro, a equipe foi heroica na Copa do Brasil ao conseguir o resultado no último minuto contra o Ceará. A situação interna do Botafogo, porém, cada vez piorava mais, e no início de outubro, a diretoria do clube contribuiu muito para o posterior rebaixamento da Série A, ao dispensar alguns dos melhores atletas da equipe, incluindo Emerson, Edilson e Bolívar. Uma equipe que já não vinha bem, perdeu sua espinha dorsal, e na sequência terminou sendo eliminada da Copa do Brasil de forma vexatória pelo Santos por 5x0.
Já sem Lucas. contra o Internacional no Beira-Rio o zagueiro Dankler teve de atuar na lateral-direita. Além de Lucas, Dória também já havia deixado a equipe, sendo substituído por André Bahia.
Taticamente, o desenho mais frequente permaneceu sendo o 4-2-3-1, porém alternativas como o 4-3-3 foram utilizadas em alguns dos jogos finais. Neste último esquema, Mancini sacrificou o sistema defensivo ao liberar mais ainda os laterais e manter os três atacantes praticamente livres das tarefas defensivas, na tentativa de agredir o adversário e conseguir as vitórias que a equipe precisava alcançar. Finalmente conseguindo propor o jogo com qualidade, o Botafogo ainda pecava no aspecto técnico, pois não possuia bons finalizadores, além de recompor a defesa com lentidão, o que facilitava os contra-ataques adversários. Por isso, os resultados positivos também não vieram com esse estilo de jogo alternativo.
Contra o Figueirense, em novembro, um ofensivo 4-3-3 não foi capaz de trazer a vitória ao Botafogo.
Os últimos jogos foram de desorganização e escalações recheadas de jovens atletas, que não puderam evitar a sequência de derrotas que culminou no rebaixamento, contra o Santos na Vila Belmiro. A equipe despediu-se da Série A com um melancólico empate em 0x0 contra o Atlético Mineiro. É necessário ressaltar a louvável atitude do grupo de jogadores, que até o fim honraram seu compromisso com a equipe, mesmo com todos os problemas internos do clube. Uma má administração, cedo ou tarde, sempre cobra seu preço.

Por Felipe de Faria