Com um projeto de voltar a obter destaque no
cenário estadual e, consequentemente, nacional, a Chapecoense, desde a segunda
metade da última década, conseguiu atingir protagonismo dentro do futebol
catarinense, sendo presença constante nas retas decisivas do campeonato
estadual, conquistando, inclusive, dois títulos. Nacionalmente, o clube
conseguiu três acessos em cinco anos, saindo da quarta para a primeira divisão,
com campanha irreparável em sua primeira temporada na Série B, quando permaneceu
no G-4 durante toda a competição, ficando, ao fim dela, atrás apenas do
Palmeiras, e manejando voltar à elite do futebol brasileiro sob comando de Gilmar Dal Pozzo.
Dal Pozzo, assim como os quatro outros técnicos que
subiram com Palmeiras, Sport e Figueirense, foi mantido no cargo para a
temporada de 2014. Geninho não sobreviveu ao início ruim nas competições regionais pelo Sport, Vinícius Eutrópio foi campeão catarinense com o
Figueirense e Gilson Kleina, assim como Dal Pozzo, começou a Série A ameaçado
pela campanha insatisfatória no estadual. Apesar de normal para quem retorna de
uma Série B, os fracos inícios dos três times que ainda sustentavam o técnico
responsável pelo acesso fez com que todos estivessem demitidos ao fim sexta rodada,
quando o último sobrevivente, Gilmar Dal Pozzo, deixou a Chapecoense após
derrota no clássico contra o Criciúma.
Seis jogos, com quatro derrotas, dois empates e
nenhuma vitória: esta foi a campanha de Gilmar Dal Pozzo à frente da
Chapecoense na Série A do Campeonato Brasileiro. O treinador, ídolo em Chapecó,
não conseguiu sobreviver a um péssimo primeiro semestre, com eliminação na
primeira fase do estadual, derrota em casa para o Ceará na Copa do Brasil e o
início assombroso na elite do futebol nacional. No hexagonal do rebaixamento
que a Chapecoense disputou no Campeonato Catarinense e no início do
Brasileirão, Dal Pozzo escalava seu time em um 4-3-1-2, que tinha três volantes
com características claras: dois de contenção para iniciar a transição ofensiva pacientemente
e um com boa saída para se juntar ao meia e aos atacantes na fase ofensiva,
sempre Ricardo Conceição. Os laterais Ednei e Neuton (ou Rodrigo Biro) apoiavam
de forma contida e o time apresentava pouca amplitude pelos lados. No trio
ofensivo, a responsabilidade da armação ficava com Régis, enquanto Dal Pozzo
tentava encontrar uma dupla de ataque. Nas seis partidas do Brasileirão
sob seu comando, a Chapecoense iniciou com cinco diferentes duplas de ataque,
no revezamento contínuo entre Fabinho Alves, Tiago Luís, Leandro, Roni, Bergson
e Alemão. Foram apenas três gols marcados nos seis primeiros jogos.
Formação com losango no meio-campo, que foi mal no
catarinense e não conseguiu nenhuma vitória nas seis primeiras partidas do
Brasileirão
4-3-1-2 de Dal Pozzo se transformava em 4-1-4-1 por
diversos momentos da fase defensiva, sobretudo quando o time atuava com uma
proposta reativa mais clara
Após a demissão de Gilmar Dal Pozzo, a diretoria do
Verdão do Oeste apostou em Celso Rodrigues como interino. No primeiro jogo sob o
novo comando, a Chapecoense já conseguiu, enfim, vencer a primeira na
competição e deixar a lanterna, com o triunfo por 2 a 0 contra o Palmeiras, até
então freguês da Chape. Celso Rodrigues, a princípio, manteve o sistema de jogo
semelhante ao do antecessor, modificando uma ou outra peça e transformando a
variação defensiva, que era para o 4-1-4-1, em um 4-4-2, ao deixar o atacante
de mobilidade marcando a saída com o centroavante e fazer com que o enganche, fosse
Neném, Camilo ou Zezinho, voltasse para fechar o lado esquerdo da segunda linha
de marcação. Celso também apostou em jogadores identificados com o clube para a
titularidade, como Neném, que não vinha sendo aproveitado, e Bruno Rangel,
artilheiro e grande destaque da campanha da Série B, que voltava para o Verdão
após um semestre no futebol do Catar.
Diferente de Dal Pozzo, losango de Celso Rodrigues
variava para o 4-4-2, com o recuo do enganche para fechar um dos extremos
Na derrota para o Figueirense, no Índio Condá, a
Chapecoense atuou com a linha de quatro defensores atrás e o losango de
meio-campo, com Zezinho esporadicamente fechando o lado esquerdo da segunda
linha de marcação
Além do 4-3-1-2, Celso Rodrigues, que gosta de
sistemas com duas linhas de quatro na fase defensiva, escalou a Chapecoense por
várias vezes no 4-2-3-1, com Dedé saindo pelo lado direito como um ponta e dois
meias, um centralizado e outro fechando o lado esquerdo sem a bola e auxiliando
na armação quando da transição ofensiva. O sistema foi utilizado nas
importantes vitórias contra São Paulo e Fluminense, entre outras partidas em
que o resultado não foi tão satisfatório. No 4-2-3-1, os volantes ficavam ainda
mais presos e a posse de bola era valorizada no meio-campo, sobretudo com
Camilo e Zezinho (ou Neném). A grande dificuldade é que a posse de bola não era
traduzida em muitas oportunidades de gol pois faltavam opções de profundidade,
já que quem trabalhava pelo extremo esquerdo era um meio-campista de toque de
bola e pouca velocidade e, no flanco oposto, Dedé é originalmente um volante de
saída, sem muitas características de ponta. À frente, Bruno Rangel não viveu
grande fase e, como a mobilidade nunca foi seu principal predicado, a
Chapecoense acabava ficando “presa” e com poucas opções de desafogo para seu
jogo ofensivo, apesar de conseguir sustentar boa posse de bola.
4-2-3-1 de Celso Rodrigues, com boa posse de bola, mas
pouca profundidade
Na fase defensiva, o 4-2-3-1 da Chape se transformava
em 4-4-1-1, como foi na vitória por 1 a 0 sobre o Fluminense
Apesar da recuperação da Chapecoense sob a batuta
de Celso Rodrigues, a diretoria do Verdão resolveu anunciar um técnico mais
experimentado para o lugar do interino, que voltaria à sua antiga função, logo
após o final do primeiro turno. Com Celso, a Chape conseguiu, em quatorze
jogos, cinco vitórias, seis derrotas e três empates, deixando, pois, a zona do
rebaixamento e assumindo uma posição ainda de risco, porém mais confortável na
tabela.
Na 21ª rodada, Jorginho assumiu a Chapecoense com o
objetivo de manter o time o mais longe possível do Z-4. Assim como com Dal
Pozzo e Celso Rodrigues, com Jorginho o Verdão continuou atuando com um losango
no meio-campo. Com relação a nomes, Jorginho encontrou em Douglas Grolli um
grande companheiro para Rafael Lima no miolo de defesa, algo que André Paulino
e Jaiton não conseguiram ser com a mesma regularidade. Rodrigo Biro virou
titular absoluto da lateral-esquerda e Tiago Luís e Leandro voltaram a ser os
atacantes do primeiro time. Bruno Silva finalmente conseguiu ganhar a posição
no meio-campo, de onde não mais saiu até o final do campeonato.
O esquema tático foi mantido, mas a grande mudança
da Chapecoense de Jorginho para a de Celso Rodrigues foi com relação à
transição ofensiva. Com ambos os técnicos o time tinha boa posse de bola, mas
o meio-campo pesado e lento de Celso fazia com que a pelota ficasse muito tempo
nos dois primeiros terços do relvado, chegando pouco ao setor ofensivo. Já com
Jorginho, a entrada já citada de Bruno Silva, e, especialmente, as voltas de
Diones e Ricardo Conceição às vértices laterais do losango fizeram com que o
time passasse a acelerar a transição ofensiva, marcando muitos gols a partir de
contragolpes, inclusive através da ótima e rápida reposição de bola do goleiro Danilo. Além disso, foi com Jorginho que Camilo e Leandro, valorizadíssimos
ao final do Brasileirão, finalmente desencantaram com a camisa alviverde e se
transformaram em peças incontestáveis do onze inicial da equipe.
4-3-1-2 foi o sistema com o qual Jorginho iniciou e
finalizou seu trabalho na Chapecoense, inclusive na surpreendente goleada por 5
a 0 contra o Internacional
Volantes compactando-se à linha de defesa no 4-3-1-2
da Chape contra o Figueirense. Apesar da derrota em Florianópolis, o Verdão
dificultou a partida e, nos contra-ataques, não conseguiu marcar os gols por falta de capricho na finalização, desperdiçando, pois, a última oportunidade de finalmente vencer um clássico no BR14 (Reprodução: Premiere)
Após os primeiros jogos, Jorginho resolveu
experimentar o 4-2-3-1, com a entrada de Zezinho e Fabinho Alves nos lugares de
Diones e Tiago Luís. No novo sistema, foram três partidas, sendo uma vitória, um
empate e uma derrota. O único resultado negativo, contra o Palmeiras, veio no
segundo tempo, quando a Chape vencia por 1 a 0 e Jorginho transformou o 4-2-3-1
em 4-3-1-2, com substituição feita no intervalo. Ao fim do cotejo, o Palmeiras
conseguiu a virada, com o placar marcando 4 a 2. O 4-2-3-1 de Jorginho mantinha
o contragolpe como característica marcante, mas tinha mais qualidade no último
passe para Ricardo Conceição, o homem-surpresa, e para a profundidade fornecida
por Fabinho Alves e Leandro à frente.
4-2-3-1 também esteve presente durante o trabalho de
Jorginho na Chapecoense
No 4-2-3-1, a Chapecoense venceu o Atlético-PR,
empatou com o Criciúma e vencia o Palmeiras, até Jorginho retomar o 4-3-1-2 e o
ímpeto palestrino virar o jogo (Reprodução: Premiere)
Após uma sequência de seis jogos sem vencer, sendo
três derrotas consecutivas, culminando na volta à zona do rebaixamento, algo
que não acontecia desde a 8ª rodada, Jorginho acabou dispensado e Celso
Rodrigues voltou interinamente ao comando da Chapecoense a partir da 35ª rodada.
O sistema utilizado voltou a ser o 4-3-1-2 que variava para duas linhas de
quatro na fase defensiva e, assim como aconteceu com o próprio Celso em sua
primeira partida e também com Jorginho, a Chapecoense teve mais uma (re)estreia de
técnico com triunfo. E não foi qualquer vitória: 4 a 1 sobre o Fluminense, que
ainda brigava por vaga na Libertadores, em pleno Maracanã e com atuações de
gala de Bruno Silva e Leandro.
Com retorno de Celso Rodrigues, Chapecoense voltou a
ter um meio-campo mais pesado, que conseguiu vencer Fluminense e Botafogo,
escapando, portanto, do rebaixamento com uma rodada de antecipação
Flagrante da segunda linha de quatro da Chapecoense,
com Camilo fechando o extremo esquerdo sem a bola. 2 a 0 contra o Botafogo
praticamente sacramentou a permanência da Chape na elite do futebol nacional
Apesar das constantes mudanças de técnico motivadas
por qualquer sequência ruim, a Chapecoense conseguiu manter a mentalidade. O
sistema de jogo, em sua essência, pouco mudou ao longo do campeonato. Para um
time do interior de um estado emergente no futebol em termos nacionais,
que voltou à elite e que há cinco anos atrás não jogava nenhuma série dentro do
futebol brasileiro, a permanência na Série A é um grande feito muito celebrado pela torcida do Verdão do Oeste. Em 2015, Santa Catarina terá quatro times na
primeira divisão, número apenas inferior ao de São Paulo, e Chapecoense e
Figueirense, que conseguiram se manter após subirem em 2013, chegam como os clubes
mais fortes do estado e, para confirmar isto, é necessário um planejamento por
parte de ambos para que 2015 seja um ano de algo maior. A briga contra o
rebaixamento logo após alcançar o acesso é de praxe, mas, num segundo ano na elite,
já é possível pensar em, ao menos, fazer campanha segura no meio da tabela.
A diretoria da Chapecoense sentiu que ainda não é
hora de apostar em Celso Rodrigues como técnico definitivo e já anunciou
Vinicius Eutrópio como novo comandante. Eutrópio foi o técnico que ajudou o
Figueirense a voltar à Série A e foi campeão catarinense no primeiro semestre
de 2014 com o alvinegro da capital. Na Chapecoense, terá novo desafio já sem o
centroavante Leandro, principal nome da campanha de 2014, negociado com o
Corinthians. Em contrapartida, o goleiro Danilo e o meia Camilo, outros destaques
da Chape, já encaminharam permanência e caso uma boa base seja mantida e
contratações pontuais sejam efetuadas, o Verdão pode ter um grande ano pela
frente.
Por João Marcos Soares (@JoaoMarcos__)