terça-feira, 23 de dezembro de 2014

Retrospectiva Brasileirão 2014: Flamengo

Primeiramente venho pedir perdão pelo atraso, mas consegui terminar o post somente hoje. Veio rico e com muitos gráficos utilizados por nossos editores da Prancheta para os senhores entenderem mais fácil. Boa leitura!

Se fossemos definir o ano do Flamengo, definiríamos como um ano um tanto... TURBULENTO. Após vencer a Copa do Brasil do ano anterior na fibra e na raça, a diretoria buscou trazer reforços mais experientes para tentar encarar uma Libertadores que não viria a ser fácil, já que o sorteio já havia sido maldoso, colocando Bolivar, Emelec e Leon na frente do rubro-negro.

Em 2013, o 4-2-3-1 assimétrico regido por Elias que apostava na velocidade de Paulinho nos contra-ataques e no faro de Hernane. Fonte: NoticiasFla

Time que era notavelmente conhecido por saber explorar o momento de desorganização ofensiva adversária, verticalizava o jogo quando roubava a bola e abria para o apoio dos laterais. O time acabava pendendo para a esquerda, já que Paulinho ficava mais espetado que Luis Antonio. Dava certo! Só que para 2014, Jayme tentou mudar tudo e teve problemas...

Com as chegadas de Elano, Alecsandro e Mugni, e as saídas de Elias + problema judicial de Luis Antonio, o treinador tentou alterar bruscamente o seu modelo de jogo, tentando trabalhar mais com a bola no pé. Os problemas rapidamente se mostraram evidentes: time jogava em rotação baixa, tinha dificuldade para jogar com a posse e dava muitos espaços nas laterais, com Léo Moura e Andre Santos.

O time do Flamengo contra o Emelec, mostrando o que foi o primeiro terço de 2014: Necessidade de compensações para cobrir as costas dos laterais (veja Cáceres), recuo de Mugni para buscar jogo e isolamento do brocador Hernane.  Fonte: Painel Tático

O texto do ótimo Leonardo Miranda, do Painel Tático (Leia Aqui!) explica bem detalhadamente os defeitos morfofuncionais da equipe que levaram a eliminação na Libertadores. Nem o contestável título do Carioca em cima do Vasco com gol impedido de Marcio Araujo ajudou a melhorar a situação, que viria a refletir no início do brasileirão.

A indecisão quanto a definição de um jeito de jogar, a irregularidade da equipe e as dificuldades em dominar o adversário culminaram na demissão do treinador, que fora substituído pelo técnico Ney Franco.

Time até possuía boa compactação em organização defensiva, se fechando em duas linhas de quatro, mas sofria na perda de bola quando estava com a posse devido a lentidão na transição defensiva. Tomou muitos gols assim! Fonte: pranchetatica.com

O cambio passou longe de significar uma melhora na equipe, pelo contrário. Mais indefinições na equipe, a perda de tempo numa intertemporada (pausa para a Copa) pessimamente conduzida, a constante troca de ESTILOS (tentou voltar ao estilo reativo, tentou jogar em posse), e a perda relâmpago de moral no elenco, com jogadores não se identificando com as instruções do treinador fizeram o time se afundar na zona de rebaixamento.

No flagrante acima, Flamengo no sistema mais treinado na intertemporada: o 3-5-2 muito espaçado não deu certo e piorou as avenidas nas laterais, que andavam em campo. Fonte: pranchetatica.com

Ja nesse quadro, o Flamengo no 4-2-3-1 contra o Bahia que tentava ganhar campo, mas que tinha compactação (defensiva e ofensiva) e intensidade zero. 

Com a saída do mineiro após uma série de derrotas, a diretoria resolveu apostar numa opção um tanto caseira, mas que tradicionalmente era funcional. Trouxe de volta Vanderlei Luxemburgo, flamenguista de coração e que sempre tinha bons inícios de trabalho. Logo nas primeiras entrevistas, mostrou que o objetivo principal do ano era não cair e fez o torcedor perceber isso. A chegada de reforços como o brasileiro-croata Eduardo da Silva (para o lugar do brocador), o argentino Canteros e o lateral Anderson Pico, somadas a barração/dispensa de medalhões como Felipe, Elano e André Santos ajudaram a reanimar a equipe para a sequencia do ano. 

Com bom senso, voltou ao estilo que ajudou os rubro-negros a vencer a Copa do Brasil, com forte compactação e saída veloz pelos lados. Fixou o então reserva Paulo Victor no gol, que se destacou por ótimas defesas no torneio e se tornou pilar da equipe do "pofexo". Canteros conseguiu emular, ainda que bem menos, a função de Elias como arquiteto das transições ofensivas e Marcio Araujo trabalhou a la Luiz Antonio, fechando o corredor direito e facilitando o apoio de Léo Moura. E apostou na dupla João Paulo/Everton para ser o que Andre Santos/Paulinho foram em 2013: ataques agudos pelo lado esquerdo e bola na área para que Eduardo/Alecsandro finalizem. 


Contra o Corinthians e o Furacão ficou bem evidenciado: 4-2-3-1 que defendia em duas linhas e saía rápido com Everton e Marcio Araujo/Luiz Antonio fechando os lados.

Na outra variação, o 4-1-4-1 sem bola e linhas baixas, deixando Cáceres entre as duas linhas e apostando na velocidade dos jogadores abertos + chegadas de Canteros. Fonte: pranchetatica.com

Mapa de passes de Canteros, mostrando onipresença e domínio na faixa central. Fonte: pranchetatica.com
Tranquilidade no brasileirão e avanços na Copa do Brasil deram certa esperança ao torcedor rubro-negro de um titulo no ano, de forma bem parecida com 2013. Eliminou o Coritiba em jogo até hoje muito contestado pelos coxa-brancas, passou fácil pelo America/RN e pegou um Galo que vinha embalado por uma boa sequencia no brasileirão e uma virada histórica contra o Corinthians. 

Atuação defensiva perfeita no primeiro jogo, com vitoria por 2 a 0 em gols na característica da equipe: compactação firme, roubada de bola no centro e transições velozes com os jogadores abertos. Gabriel fez ótima atuação, saindo do centro para os lados e explorou perfeitamente os espaços que os volantes e o lateral Marcos Rocha davam.

Flamengo defendendo em duas linhas bem rigidas e Gabriel mais a frente, fora do frame, para puxar contra-ataques em velocidade. Fonte: pranchetatica.com

Tudo parecia encaminhar para mais uma classificação tranquila, só que os flamenguistas não contavam com o fator Galo + Casa + Torcida + Raça. Durante a semana, a equipe pregava por "não repetir o que o Corinthians havia feito" e fez igualzinho. Recuou excessivamente as linhas, chamou o Galo para dentro do campo e convidou eles para jogar do estilo deles: abafa e sufoco até o fim. Mesmo com o gol inicial de Everton, em mais um contra-ataque veloz pela esquerda, a equipe se acuou e tomou os 4 gols que os atleticanos precisavam. Eliminação e pressão da torcida em cima de alguns jogadores.

Gol do flamengo em jogada pela esquerda e exploração do espaço deixado por Marcos Rocha. Fonte: pranchetatica.com

Garantida a permanência na Série A, após vitoria contra a Chapecoense, a equipe passou a jogar mais tranquila, sem pressão. Fez bons resultados, como a goleada contra o Vitoria e começou a pensar em 2015, ano que, se bem planejado, pode vir com bons frutos. Com a chegada de Rodrigo Caetano e a permanência de Luxemburgo, somados ao mantimento do estilo de trabalho, defeito de Jayme no inicio do ano, o time pode dar liga!

Por Gabriel Daiha (@Gabriel_Daiha)