quinta-feira, 18 de dezembro de 2014

Retrospectiva Brasileirão 2014: Goiás

O início de ano não trazia boas perspectivas para o torcedor do Goiás, principalmente com a perda do título estadual para o Atlético-GO. Porém, o time do Cerrado surpreendeu e fez uma campanha regular no Campeonato Brasileiro sob o comando de Ricardo Drubscky, treinador moderno, atualizado e acostumado a fazer bons trabalhos com elencos mais limitados e/ou com folhas mais enxutas(como foi no Tupi em 2011, sendo campeão da Série D com o menor orçamento do campeonato e agora no Esmeraldino, mesmo se tratando de situações diferentes). 

O esquema-base do Goiás, assim como nos outros times comandados por Drubscky, foi o 4-2-3-1. A característica  de jogo principal da equipe goiana foi o jogo reativo, típico de Drubscky. Compactação curta em duas linhas de quatro(seja no 4-4-2 ou no 4-1-4-1) sem a posse de bola em bloco baixo(com a fixação individual dos wingers nos laterais adversários), realizando bem o princípio do encaixe no setor, negando espaços à progressão adversária e dificultando a penetração, pois grande parte dos adversários tinham dificuldade para romper sua segunda linha de marcação. Ofensivamente, buscava a saída em velocidade no contragolpe, com as enfiadas de bola e lançamentos longos para as diagonais de ruptura nas costas da linha defensiva adversária(que predominantemente ficava mais alta quando o time goiano articulava sua transição). O rompedor de defesas com suas diagonais e ataques aos espaços vazios na última linha era Erik, que podia atuar como winger, segundo-atacante no 4-4-2 ou como centroavante, tendo boa mobilidade, balançando no limite da linha de zagueiros, buscando a vitória pessoal por meio do drible/jogada individual e atraía os zagueiros para gerar espaços. Como a maior parte dos times reativos/transicionais do futebol moderno, a maior dificuldade do Goiás era proposição de jogo com espaços limitados contra times com a mesma característica que a sua(compactação e força transicional) ou em situações que tinha que jogar para reverter desvantagens no placar, 

Individualmente, além de Erik, cabe o destaque para Thiago Mendes, que atuou como volante de chegada na frente, condução/flutuação entre linhas/intermediárias, lateral-direito(com ímpeto ofensivo, dando amplitude pela direita e opcionando abertura de jogada) e winger direito, dando velocidade e explosão pelo flanco, mas também com mobilidade e possibilidade de descida pelo meio e centralizando em diagonal pra área quando a bola caía no flanco oposto. Taticamente, Samuel também foi peça importante, pois além de centroavante, também atuou como winger, tendo boa recomposição e acompanhando o lateral adversário, e na sua posição de origem, movimentando-se de vodo a visar geração de espaços para as infiltrações e rupturas na linha defensiva adversária, além de dar profundidade, atraindo os zagueiros e empurrando a defesa para trás. Jackson e Pedro Henrique "casaram" bem por se completarem no tocante às suas características e David foi uma das peças fundamentais do meio-campo goiano, transitando entre as intermediárias, armando o jogo com lançamentos e passes de ruptura, arriscando bem de médias/longas distâncias. E no início do campeonato, Ramon foi um dos destaques da equipe, atuando como volante ou winger, chegando na área para ser opção de conclusão para o cruzamento(por sua boa estatura e presença na bola aérea ofensiva), ajudando a dar densidade ao ataque goiano na chegada em massa, aprofundando pra topar com a linha defensiva adversária e também rompendo-a com suas inteligentes e precisas diagonais curtas. O elenco goiano tinha uma característica essencial na formação de qualquer elenco no futebol moderno: A versatilidade. Atuar em mais de uma posição é quase um requisito básico no futebol de hoje. E isso também fez a diferença para a regular campanha esmeraldina no campeonato.

Nos frames abaixo, pode-se observar alguns aspectos apresentados pelo Goiás nesse campeonato e alguns deles já apresentados aqui nesse texto: 






Na primeira imagem, observa-se a curta compactação do Goiás em bloco baixo no 4-1-4-1, com as linhas postadas dentro da própria intermediária defensiva, com os 10 jogadores de linha ocupando um curto espaço do campo. O Flamengo prepara-se pra abrir o jogo pela esquerda. Repare o posicionamento do winger oposto ao lado da bola. Fixo individualmente no lateral, de modo que um jogador do Flamengo projeta-se inteligentemente naquele espaço, podendo receber por ali na virada pro centro. O mesmo ocorre na terceira imagem, porém, com os dois wingers fixos nos laterais, já que a bola cai mais ao centro sob o domínio do Grêmio. Na segunda imagem, observa-se a basculação defensiva goiana pro lado da bola e a curtíssima distância entre as linhas de defesa e meio. 4 componentes da linha de meio balanceiam pro flanco atacado, porém, o winger oposto não fecha por dentro, pois tem referência fixamente individual no lateral-direito adversário e este subiu ao ataque nessa ocasião. Nas duas últimas imagem, observa-se a manutenção da compactação curta no 4-4-2, com o meia-central Esquerdinha(um dos destaques/revelações do campeonato na sua posição) voltando com um dos volantes e tirando a linha de passe do portador da bola com o mesmo. Apenas 3 componentes da linha média balançam em função da bola, enquanto o winger oposto fica encaixado no lateral dentro do seu setor, deixando um espaçamento entre e os dois volantes. Espaços estes que por vezes eram menores no 4-1-4-1(a imagem 2 não é o caso) pela ocupação mais densa numericamente da faixa central com os três volantes. 









Na primeira imagem, David recebe na intermediária, à frente do tripé de meio do Botafogo e deu a enfiada de ruptura para Ramon que se projetou em diagonal curta no espaço entre o zagueiro da esquerda(atraído por Danilo, projetado para dar profundidade ao ataque do Goiás). O mesmo acontece na segunda imagem, onde Danilo empurra a linha defensiva botafoguense para trás e Ramon projeta-se entre o lateral-esquerdo e os zagueiros, enquanto que Esquerdinha busca a movimentação entrelinhas e o jogador que dá o passe de ruptura é Tiago Real, que centraliza na diagonal esquerda-centro, atraindo o lateral, de modo a liberar um imenso corredor para uma possível passagem do lateral-esquerdo. Na jogada, David busca a diagonal curta para aproximar-se do portador da bola e ser opção de passe lateralmente ao mesmo, podendo receber em boas condições pra arriscar de fora da área, caso recebesse o passe curto, enquanto que Thiago Mendes busca dar amplitude pela direita. Na terceira imagem, Ramon balanceia ofensivamente para a direita, Thiago Mendes atrai o lateral-esquerdo adversário e David vai na diagonal centro-flanco para desbordar no espaço às costas do lateral. Na quarta e na penúltima imagem, o Goiás chega com três jogadores na grande área adversária quando a bola cai pelo extremo do campo. Um deles é Ramon, que na quarta imagem atrai o zagueiro do lado oposto ao cruzamento que fecha no centro da área, enquanto o volante Amaral também chega de trás pra ser opção na área e busca o posicionamento entre o zagueiro oposto e o lateral oposto, já na penúltima imagem, Ramon atrai o zagueiro do lado da bola(impedindo-o de sair para uma possível necessidade de cobertura do lateral) na primeira trave, enquanto o centroavante prende o zagueiro oposto e o winger goiano oposto fecha em diagonal pra segunda trave, atraindo o lateral oposto. Na quinta imagem, Tiago Real carrega de fora pra dentro, balançando a defesa do Sport e Ramon se projeta em diagonal curta nas costas do zagueiro da esquerda. Na imagem seguinte, o centroavante Assuério(de muita mobilidade na frente) faz boa jogada pessoal pelo flanco, balança a linha defensiva e gera espaço pra chegada de dois jogadores nos espaços vazios. Tiago Real se afasta um pouco da linha defensiva na área pra receber com liberdade e Ramon vem de trás para ser opção de conclusão de cruzamento no espaço vazio ao centro da área. Na última imagem, Ramon se projeta para a ruptura no espaço entre os dois zagueiros do São Paulo. 





Na primeira imagem, Samuel balança em diagonal curta para a esquerda no limite da linha de zagueiros do Atlético-PR, atraindo o zagueiro da esquerda, enquanto que Thiago Mendes fez a diagonal centro-direita, fazendo um 2x1 pra cima do lateral paranaense que não recebeu o auxílio do winger do setor da jogada(pois o mesmo também só marcava o lateral do Goiás). Com isso, indecisão. Erik foi esperto e traçou o facão diagonal em velocidade para romper a linha defensiva e marcar. Algo similar aconteceu na segunda imagem, onde Thiago Mendes carregou do flanco pro entrelinhas, atraiu os zagueiros pro combate, enquanto Samuel balanceou pra esquerda no limite da linha defensiva, atraindo o lateral-esquerdo, enquanto Erik infiltrou ao centro entre os zagueiros e o lateral atraído por Samuel. Na terceira imagem, Samuel fez a diagonal curta entre o zagueiro da direita e o lateral-direito do Flamengo, enquanto Erik projetou-se no espaço aberto à esquerda na linha defensiva flamenguista, porém, Samuel decidiu arriscar de fora da área, e acabou marcando. Na última imagem, o tipo de jogada que originou grande parte dos gols do Goiás e também do garoto Erik, um dos artilheiros e destaques do Brasileirão. Lançamento longo originário de um dos volantes para o camisa 11(que desta vez estava na referência do ataque) traçar a diagonal entre os dois zagueiros do Emelec(o jogo acima foi válido pela Copa Sul-Americana) para receber e finalizar a jogada. Diagonal é um movimento letal para atacantes de velocidade e Erik fez vários gols realizando esse movimento, ora entrando no facão às costas da defesa, ora fechando pra dentro quando a bola caía no lado oposto, etc.


Em 2013, o Goiás tinha feito um ótimo campeonato brasileiro, surpreendendo a todos e brigando por Libertadores na metade superior da tabela, porém, perdeu jogadores importantes daquela campanha como Walter, Eduardo Sasha, Hugo, William Matheus, Rodrigo e Roni, porém, fez bem a reposição, com um elenco mais barato, com jogadores mais jovens, com potencial e vontade de crescimento, além da maior integração base-profissional, com presença de mais jogadores da base entre os profissionais, dois deles sendo destaques do time e do campeonato e contratações no geral bem feitas, com jogadores versáteis e úteis taticamente para mais de uma posição. Será difícil segurar Erik e Thiago Mendes, com muitas propostas de times do eixo e também do exterior, porém, no futebol, a reposição é importante e ela pode vir com jogadores da base, como foi esse ano, ou com jogadores contratados, porém, o mais importante é repor as perdas de algum modo ou pelo menos tentar repor. Ricardo Drubscky também deixou o clube para assumir o Vitória. É um treinador que gosta de desafios na carreira e de fazer bons trabalhos em clubes médios nacionalmente. E esse ano, Drubscky e o Goiás mostraram que nunca se deve duvidar de uma equipe por mais limitada que ela aparente ser no papel, pois na prática, outra coisa pode se refletir e jogadores desconhecidos podem mudar de patamar no cenário nacional rapidamente. E também foi mais um exemplo de que não é preciso muito dinheiro para fazer futebol competitivo/regular. 


*Por João Elias Cruz(@Joaoeliascruzzz)