quinta-feira, 18 de dezembro de 2014

Retrospectiva Brasileirão 2014: Palmeiras

O Centenário palestrino será marcado por momento de doces reminiscências e um enorme desespero futebolístico. Como costuma acontecer com os grandes clubes brasileiros nesses anos festivos - lembre-se de Flamengo, Corinthians e Coritiba - o Palmeiras quis dar um passo maior do que a perna, desdenhando de um plano conservador de consolidação em seu retorno a elite. A falta de visão culminou no flerte constante com o rebaixamento. Apesar do bom rendimento na conquista da série B em 2013, Paulo Nobre nunca confiou no trabalho de Gilson Kleina, causando desconforto interno com sondagens públicas a Vanderlei Luxemburgo, e até mesmo ao badalado Marcelo Bielsa . Contudo, coube ao desprestigiado treinador iniciar a temporada centenária sob pressão de títulos. No Paulista,  foi vítima dos sobressaltos e do regulamento pífio de um campeonato estadual que desprestigia a campanha na longa e modorrenta primeira fase. 

Gilson Kleina conseguiu manter a espinha dorsal do título da série B: um 4-2-3-1 sólido, porém pouco brilhante
Líder do Grupo D, com a melhor defesa entre todos os participantes, o Palmeiras bateu o Bragantino nas quartas de final, até esbarrar num jogo eliminatório cheio de infortúnios onde perdeu Prass e Kardec lesionados durante o cotejo que resultou na eliminação para  o Ituano no Pacaembu. O sistema tático utilizado durante a campanha foi o mesmo 4-2-3-1 da temporada anterior. A ideia de jogo consistia na compactação à 3/4 do campo, a defesa alinhada, o índice alto nas bolas paradas somado aos lampejos do imprevisível Valdívia. A linha defensiva passava a contar com o experiente Lúcio no miolo de zaga; o campeão mundial de 2002 via seus companheiros se alternando entre Wellington, Tiago Alves e Marcelo Oliveira - de maneira improvisada - dificultando o entrosamento. Nas laterais, Kleina decidiu manter os irregulares Wendel e Juninho, apesar das constantes críticas da exigente torcida alviverde. A dupla de volantes foi formada por Marcelo Oliveira e Wesley, sendo que o ex-santista tinha liberdade para flutuar na linha de armadores ao lado de Valdivia. Pelos flancos, muitos nomes passaram pelo setor de velocidade da linha de armadores, com destaque para Mazinho e Leandro como os mais costumeiros titulares. No comando de ataque, o inteligente Allan Kardec seguiu mostrando o seu valor como peça fundamental do elenco ao se transformar em artilheiro do campeonato Paulista com 9 gols.

A derrota para o Ituano gerou ainda mais pressão para o começo do Brasileirão. Um arranque desastroso marcaria o final da era Kleina. Para piorar, a diretoria não atendeu aos caprichos de Kardec, perdendo o atacante para o São Paulo em negociação polêmica. Eis que, após a derrota para o Sampaio Correia na primeira partida da segunda fase da Copa do Brasil, Gilson Kleina, enfim seria demitido. O interino, Alberto Valentim, assumia o Palmeiras na quarta rodada do Brasileirão após duas derrotas consecutivas contra Fluminense e Flamengo. Os dirigentes decidiram pela manutenção de Valentim até a parada para a Copa do Mundo, sendo que sob o comando do interino, o alviverde imponente somou 10 pontos em 6 jogos, determinando o melhor momento do time na competição. O grande responsável pela sequencia atendia pelos pés goleadores de Henrique, garantindo vitórias magras que acabariam sendo fundamentais para escapar do rebaixamento.

ERA RICARDO GARECA

Contra o São Paulo no Pacaembu Gareca escalou o Palmeiras no 4-2-3-1, mantido apesar da lesão de Valdivia no começo do cotejo

Ricardo Gareca chegava ao Palmeiras respaldado pelo excelente trabalho no Velez Sarsfield, onde conquistou 3 títulos nacionais com um time ofensivo e repleto de jovens. Junto com o treinador argentino, um pacotão de "hermanos" desembarcava em Palestra Itália: Tobio, Mouche, Cristaldo e Allione. Um dos erros de Gareca foi não entender as urgências de um time carente de ideias e com predicados defensivos. No Fortin de Liniers, Gareca utilizava o sistema 4-3-1-2, com meio campo povoado que primava pelo alto índice de posse de bola, sendo que no Palmeiras, jamais conseguiu passar seu ideal futebolístico atrelado a escola Menotista(corrente ideológica de futebol patenteada por Cesar Luis Menotti,  treinador campeão do Mundo com a seleção argentina em 1978). Em sua passagem desastrosa pelo Palmeiras, seu sistema mais usual foi o 4-2-3-1, com Mouche e Allione pelos flancos - ora  Leandro, ora Diogo - e  o apagado Felipe Menezes ocupando a vaga de enganche nas corriqueiras ausências de Valdivia. Em 9 jogos, a Era Gareca ficará marcada por 7 derrotas, 1 empate e a mísera vitória contra o Coritiba no Pacaembú. Para piorar, acabaria eliminado pelo Atlético Mineiro nas oitavas da Copa do Brasil, determinado o final de um ciclo acidentado e pouco pertinente para as exigências do clube.
ERA DORIVAL JUNIOR


Contra o Corinthians no returno: O esquema 4-4-1-1 foi bastante utilizado na tentantiva de estancar os sangramentos defensivos
Em baixa na carreira, Dorival Junior aceitou assumir este legado tenebroso para tentar salvar o Palmeiras do terceiro rebaixamento em 12 anos. Logo na estreia contra o Furacão na Arena da Baixada podemos ver um time mais combativo, ciente de suas limitações e necessidades. Sem Valdivia e com inúmeros problemas, Dorival armou o Palmeiras no 4-4-1-1 com Juninho aberto na segunda linha fechando o lado esquerdo e Diogo alternando com Leandro no labor de enlace. Eis que, no seu quinto jogo à frente do Palmeiras, Dorival vivenciou o trágico 6x0 frente ao Goias no Serra Dourada. Ficava exposto os problemas de um elenco limitado e repleto de jogadores lesionados. Sem Prass, o Palmeiras sofria com a insegurança embaixo dos três paus, primeiro com o inexperiente Fabio, e neste jogo derradeiro, com o arqueiro Deola em jornada pavorosa. Na lateral direita, o garoto João Pedro entrava numa fogueira danada assumindo o posto de Wendell, enquanto o miolo de zaga sofria pela falta de entrosamento, mudando de nomes aos borbotões: Lucio, Tobio, Wellington, Victorino, e por último, o garoto Nathan passaram pelo setor. Na esquerda, Dorival sofria para achar a melhor opção, alternando-se entre Juninho ou Victor Luis, sendo que ambos muita vez passavam para a linha do meio de campo com as constantes mudanças de sistema. As boas noticias eram os retornos de Prass e Wendell, além do bom rendimento do goleador Henrique, este que de gol em gol ajudava o Palestra com vitórias fundamentais diante de Vitória e Botafogo.


Desesperado e sem Valdivia, Dorival apelou para o 4-1-4-1/4-3-2-1  na derrota contra o São Paulo no Morumbi
Na reta final, assim como no primeiro turno, o Palmeiras encaixou uma sequencia terrível de 5 derrotas. Dorival tentava todos os sistemas possíveis: Do 4-3-1-2 contra o Bahia para o 4-1-4-1/4-3-2-1 contra o São Paulo, chegando a um bagunçado 4-2-3-1 do jogo final contra o Atlético Paranaense. Desespero puro, inútil e que quase culminou na queda. O balanço final é assustador: 20 derrotas no campeonato com a defesa sofrendo 59 gols e o ataque anotando apenas 34 tentos nas 38 rodadas. Campanha vexatória que traz inúmeros pontos de interrogação para a temporada 2015.

Por Felipe Bigliazzi