Renovação. Foi esse conceito que norteou a temporada corintiana. Após um período vitorioso, o ano de 2013, mais precisamente o segundo semestre, veio para mostrar que a equipe campeã da Libertadores e do Mundial estava envelhecida, desgastada, o que acabou fazendo com que o time mostrasse um péssimo futebol, ficando na décima posição no Campeonato Brasileiro, pouco vindo de uma equipe onde se esperava que brigasse por título.
Após ser eliminado do Campeonato Paulista ainda na fase de grupos, o Corinthians entrou no Campeonato Brasileiro cercado de desconfiança, apesar de ter em seu elenco jogadores como o zagueiro Gil, o volante Ralf, os meias Renato Augusto e Jadson e o atacante Guerrero. Porém, que foi o destaque da equipe no período pré-copa foi o meia Petros, que foi contratado após bom Campeonato Paulista pela Penapolense. A chegada do "motorzinho" proporcionou a consistência que faltava na recomposição do lado esquerdo do 4-4-1-1 corintiano.
4-4-1-1 que mantinha a estrutura sem a bola e sempre mostrava destaque pelo excelente desempenho. Compactação, recomposição veloz, balanceamento defensivo bem coordenado, boa ocupação de espaços e marcação pressão realizada com eficiência. Essa linha de 4 por vezes tornava-se uma linha de 3, já que muitas vezes o winger pela direita não voltava, ficando como opção para o contra ataque.

No flagrante a excelente compactação das linhas de 4 da equipe corintiana.(Reprodução: Rede Globo)
Com a bola, apresentava subida alternada dos laterais, onde Fágner, até por característica, era quem era mais presente no terço final do campo e era mais acionado. Dos volantes, Ralf era quem ficava mais fixo atrás, com Guilherme tendo um pouco mais de liberdade para subir, embora este não encostasse tanto no terço final, ficando muito mais como opção para recuo e para buscar lançamentos. A equipe, ao menos nesse período pré-copa, apresentou um problema no quesito ocupação de espaços no campo ofensivo, onde, principalmente quando o meia Jadson atuava como winger direito, não havia um jogador mais pelo centro para ajudar a levar a bola até os homens mais avançados já que, com a movimentação, o homem que ficava por trás do centroavante descia, se juntando ao mesmo, e o winger esquerda, por característica, fechava mais na diagonal. Aí, como o volante Guilherme ficava mais atrás, ninguém ocupava o espaço, deixando um buraco no setor.
Acima um exemplo do buraco que ficava pela região central do setor ofensivo corintiano. Esse espaço, que normalmente ficava no entrelinhas da equipe adversária, poderia ser explorado para uma tabela por exemplo
Isso, aliado a própria dificuldade da equipe em gerar espaços, não permitiu a equipe conquistar mais pontos nesse início de campeonato, mesmo que os 16 pontos conquistados tenham sido considerados satisfatórios. Esses 16 pontos, em grande parte, foram conquistados por conta da grande virtude da equipe: a velocidade na transição defesa-ataque.
Porém, a equipe poderia ter conquistado mais alguns pontos se não tivesse mostrado uma outra característica que, considerá-la como defeito é algo subjetivo, mas, inegavelmente, uma postura um pouco mais ousada poderia ter proporcionado mais gols a equipe e, consequentemente, impedido que o adversário conseguisse reagir. Essa característica foi o excessivo recuo do bloco de pressão da equipe, que passava a marcar em bloco baixo, muitas vezes realizando a pressão somente nas proximidades da sua área.
A equipe corintiana apresentou novidades na volta após o recesso por conta da Copa do Mundo. A mais importante, ao menos do ponto de vista de nome, Elias. O volante, que ficou com a vaga de Guilherme no time titular, chegou com a responsabilidade de reeditar algo que, desde a saída de Paulinho, o clube sente falta, que é o homem que chegava de trás, como elemento surpresa, na área adversária. Porém, não foi exatamente o que aconteceu.
O jogador, embora tenha mostrado essa característica em alguns jogos, ficava mais preso, somente auxiliando a saída de bola. Com isso, Ralf até ganhou liberdade para subir ao ataque em alguns jogos, porém, podia-se perceber claramente que faltava ao volante a percepção dos espaços para realizar a infiltração.
No heat map acima, um exemplo de algo que foi frequente na temporada de Elias: um jogador mais preocupado em funções defensivas e com o início da transição defesa-ataque do que com a conclusão das jogadas.(Reprodução: Footstats)
O sistema base da equipe também foi alterado para o segundo semestre, trocando do 4-4-1-1 para o 4-2-3-1. Além da já citada entrada de Elias como um dos volantes, ocorreram também alterações na dupla de zaga e no quarteto de frente. Na zaga Anderson Martins, outro reforço que chegou após a Copa do Mundo, substituiu Cléber. A entrada do jogador ex-Vasco logicamente levou a um breve período de desentrosamento na última linha corintiana, logo resolvido.
A outra alteração foi no quarteto ofensivo. Na linha de 3, Renato Augusto foi efetivado como meia central, com liberdade de movimentação, com Petros, que foi deixado de fora em alguns jogos, porém logo retomou a posição, como winger esquerdo. Na direita, a revelação Malcom. O garoto entrou com personalidade, sempre oferecendo-se como opção de velocidade e profundidade, além de também mostrar boa noção tática, fechando corretamente o lado direito da segunda linha de 4 que a equipe forma sem a bola na maior parte das vezes. Quando não fechava corretamente, normalmente era Renato Augusto quem cobria o espaço.
Porém, a alteração que mais teve impacto na produção ofensiva da equipe foi a movimentação de Guerrero. O atacante corintiano, considerado o homem mais avançado da equipe, sempre abria a esquerda quando a equipe recuperava a bola. Com isso, abria espaço para a infiltração de quem vinha de trás, além de entrar na área para concluir. Foi essa movimentação que muitas vezes indefiniu a marcação adversária e, provavelmente, teve grande influência na excelente fase que o jogador apresentou na reta final do campeonato, onde foi sem dúvida o principal responsável pela boa sequência que deu a equipe o 4º lugar na classificação final, posição que permitiu a equipe voltar a Taça Libertadores.
No heat map acima, a forte presença de Paolo Guerrero pela esquerda exemplifica o que foi citado acima. O atacante caía frequentemente pelo lado esquerdo, porém, centralizava quando a jogada se aproximava da conclusão(Reprodução: Footstats)
O processo de renovação a que Mano Menezes foi encarregado pode ter sido considerado satisfatório. O treinador conseguiu alterar algumas peças e montar novamente uma equipe competitiva. Porém, os pontos perdidos contra equipes menores e, as derrotas de 5 a 1 para o Santos no Campeonato Paulista, 4 a 1 para o Atlético-MG na Copa do Brasil e, principalmente, 5 a 2 para o Fluminense, na penúltima rodada do Campeonato Brasileiro, pesaram na avaliação geral do treinador, que acabou demitido. Agora, resta a equipe aguardar a decisão de quem será o seu novo treinador, que ainda terá alguns desafios, dentre eles: encarar uma pré-libertadores, com pouco tempo de trabalho, fazer a equipe manter a intensidade após marcar o primeiro gol e, principalmente, melhorar a produção do setor ofensivo da equipe, mas sem deixar a estabilidade defensiva, sem dúvida o ponto forte da equipe nos últimos anos.

Time base corintiano na reta final do campeonato
Por Andrey Hugo(@Andrey_Hugo)