Em termos táticos, Abel pouco mexeu na estrutura da equipe. As principais mudanças foram na composição dos volantes: em alguns momentos o Inter jogou com 1 homem de contenção, em outros com dois. Aránguiz - um dos destaques da temporada - atuou em praticamente todas as funções do meio-campo. Abaixo, a retrospectiva dos esquemas usados e suas variações
1o esquema: 4-1-4-1
O 4-1-4-1 foi o esquema predominante do Inter no primeiro semestre. Tendo Willians como o único volante efetivamente, o Colorado chegou a ser considerado uma das equipes mais ofensivas do Brasil. A ausência de outro cabeça de área que tivesse somente a função de marcar era compensada pela dinâmica dos jogadores de meio, principalmente Aránguiz e Alex, que davam o combate nos meias adversários. O Chileno - principal destaque do time - era quem mais variava. Em alguns jogos, quando necessário, deixava a linha de meias e fazia o box-to-box, transformando o esquema em um 4-2-3-1.
A grande virtude desse esquema do Inter era a intensa movimentação e troca de posições. Até mesmo Rafael Moura - um centroavante mais clássico - por vezes deixava o centro da área e caia pelo lado esquerdo para puxar a marcação, enquanto Aránguiz, Alex e principalmente Alan Patrick faziam o " facão", se deslocando na diagonal da esquerda para o centro para penetrar na área adversária sem marcação. Aránguiz, Alan Patrick e Dale sempre trocavam de posição, confundindo os sistemas defensivos dos adversários. O argentino costumava atuar aberto pelo lado direito, mas quando tinha a bola também buscava o centro do gramado para distribuir o jogo.
4-1-4-1 do Inter no 1o semestre:
Apenas 1 volante na contenção e muita movimentação no meio
O esquema ofensivo do Inter que encantou no primeiro semestre durou até a 5a rodada do Brasileirão - mesmo com a vitória de 2 a 1 do Colorado em cima do Atlético-PR. Com a contratação de Wellington, que veio por empréstimo do São Paulo, o técnico Abel Braga resolveu mudar, colocando mais um jogador de tarefa defensiva no time, já que o time tinha muita dificuldade na saída de bola quando Willians recebia pressão dos adversários.
2o esquema: 4-2-3-1
A partir da 6a rodada, em Maio, Abel passou a usar o 4-2-3-1. Com Wellington no time, o objetivo era dar ao Inter um pouco mais de proteção. Sem Aránguiz, que se apresentou à seleção Chilena para a disputa da Copa do Mundo, o esquema tinha, além dos dois volantes, uma linha de 3 formada por Dale na direita, Alex centralizado e Alan Patrick na esquerda. Na frente, sempre um dos dois jogadores de referência: Wellington Paulista ou Rafael Moura. Em alguns momentos, devido aos problemas físicos enfrentados por Alex, Abel foi obrigado a utilizar Jorge Henrique na função, mudando um pouco a característica do time. Apesar de atuar no mesmo setor, J.Henrique por vezes avançava para compôr o ataque com um dos centroavantes, fazendo com que o Inter tivesse uma variável de 4-2-2-2.
A grande marca desse esquema tático foi a subida simultânea dos dois laterais. Abel sempre usou esse tipo de jogada nos clubes pelos quais passou, e no Inter não foi diferente. Enquanto teve Claudio Winck e Fabrício juntos, o time conseguia pressionar o adversário no campo ofensivo. O grande problema é que Winck teve muitos problemas físicos. Sem ele, o time não tinha a mesma dinâmica pelo lado direito, sobrecarregando D'Alessandro. Dale tinha que voltar para cobrir o corredor direito, e ao mesmo tempo não tinha o apoio nas descidas do flanco quando Gilberto ou Diogo atuavam por ali.
Abel criou uma espécie de "compensação tática", com o Inter fechando duas linhas de quatro quando se defendia e deixando o argentino como uma espécie de "sobra" no lado direito. O Colorado sofreu muitos gols pelo seu lado direito de defesa no primeiro turno em função desta movimentação.
4-2-3-1 Colorado: menos efetividade na frente, mesmos problemas atrás
Se levarmos em consideração o retrospecto, a fase em que o Inter teve dois volantes com a função única e exclusiva de atuar na contenção não pode ser considerada positiva. Na parada antes da Copa, o Inter tropeçou em seus jogos-chave, contra Cruzeiro, Fluminense e Corinthians, freando a ascenção da equipe no campeonato. O time seguiu levando muitos gols, mas perdeu a sua dinâmica da outra formação, na qual tinha extrema movimentação e troca de posições entre os jogadores de frente, o que confundia os sistemas defensivos dos adversários. Com um time mais pragmático e mais enfático, o Colorado não mostrava a mesma força na comparação com o início do ano.
Na volta da Copa, o Inter passou a ter Wellington Silva na direita, melhorando a produção naquele setor. Aránguiz voltou lesionado do Mundial, só voltando ao time no clássico Gre-Nal. Sem Alan Patrick, lesionado, o volante passou a atuar no meio, com Alex no lado esquerdo e Dale no direito. Essa foi a formação utilizada no clássico Gre-Nal do primeiro turno - 2 a 0 diante do rival, com atuação de gala do lateral Claudio Winck. Um dos poucos flashes de criatividade do Inter no campeonato.
Inter no Gre-Nal: melhor atuação no campeonato
"Efetivado" como meia, Aránguiz - que tinha sido destaque na Copa do Mundo - caiu de produção, levando consigo a produção do time do Inter. Por vezes atuando centralizado, por vezes trocando de posição com Alex no lado esquerdo, o Chileno não conseguiu render o esperado atuando em uma posição mais avançada. Se antes o Colorado tinha mais de 80% de aproveitamento com Aránguiz em campo, no final do 1o semestre o atleta não conseguiu fazer a diferença. O Inter alternou bons e maus momentos. Com as eliminações na Copa do Brasil e na Copa Sulamericana, diante de Ceará e Bahia, Abel Braga balançou. A retomada do Inter só veio em função de um outro sistema, implementado a partir da 23a rodada.
3o esquema: a volta do 4-1-4-1
Sem Wellington, lesionado, Abel Braga foi obrigado a mexer no jogo do 2o turno contra o Atlético-PR - o mesmo time que o havia feito mudar na primeira fase. A entrada de Eduardo Sasha no time modificou a dinâmica do time, que passou a ter um jogador muito dinâmico no lado esquerdo.
No 4-1-4-1, Willians era o único volante efetivo. Aránguiz - embora passasse a fazer o box-to-box novamente em muitas oportunidades - passou a atuar numa função mais parecida com as suas características. A linha de 4 com Dale na direita, Aránguiz e Alex no meio e Sasha na esquerda tinha dinâmica para fazer as transições defesa-ataque e ataque-defesa com velocidade e eficiência. Com o deslocamento de Aránguiz para o lado direito, Dale não precisava voltar toda a hora em alguns momentos. O Inter emendou 3 vitórias consecutivas no Brasileirão e chegou ao jogo contra o Cruzeiro dando sinais de que poderia fazer frente com o líder do campeonato.
O Frame retirado da análise de Inter x Criciúma mostra a subida de Sasha e Dale nas pontas para não deixar Moura isolado, mas na imagem o 4-1-4-1 está bem visível. A dinâmica do time mudou, deixando o centroavante menos isolado, o que ajudou o Inter, que sempre foi uma equipe que propôs o jogo diante dos adversários na competição
Contra o Cruzeiro, o Inter atuou pela última vez no campeonato com dois volantes. Abel Braga optou por sacar Alex e colocar Wellington e deu com os "burros na água": Alex entrou na segunda etapa e por pouco não mudou a situação.
A saída de Sasha por lesão trouxe instabilidade. O técnico Colorado demorou para achar o seu lado esquerdo ideal. Alan Patrick não voltou bem, Jorge Henrique também não deu consistência ao setor. O Inter voltou a oscilar muito nas suas atuações. Por vezes, jogava bem e perdia - como na partida diante do Corinthians, em que se impôs, mas foi derrotado. Em outras partidas, nem a produção do time agradava. O Inter foi nesse vai-e-vem até a 35a rodada, quando Abel deu a sua última "cartada tática".
4o esquema: 3-5-2
O 3-5-2 foi utilizado em apenas uma partida no ano todo - Inter e São Paulo, no Morumbi. Com 7 desfalques, entre eles D'Alessandro, Aranguiz, Willians e Wellington, Abel fez uma "retranca" para segurar o São Paulo. Alan Costa entrou no time para ser o líbero e teve atuação tão destacada que acabou roubando a vaga de Paulão no time titular. Com dois volantes que pouco avançavam - Ygor e Bertotto - e tendo Alex como o único armador, a bola pouco chegava na frente. Jorge Henrique, posicionado originalmente como segundo atacante, poucas vezes era acionado. Até em função disso, ele recuava, configurando um 3-6-1. Nesse jogo o São Paulo atacou o tempo todo, e só não saiu com a vitória em função das defesas milagrosas do goleiro Alisson e da arbitragem, que validou um gol irregular do Inter.
Inter no 3-5-2: apenas uma atuação nessa formação
Nos últimos 3 jogos do campeonato, o Inter conseguiu 3 vitórias no apagar das luzes, com base na estratégia do "bumba meu boi", ou seja: todos os jogadores na área do adversário e seja o que Deus quiser. É pouco para quem tinha as pretensões de conquistar o título do Brasileirão. O 3o lugar mostra que o Inter tem uma boa base de time nas mãos, mas precisará de mais algumas peças se quiser alçar voos maiores em 2015.