sábado, 17 de janeiro de 2015

3ª parte do Especial Seleção Brasileira de 2002: transição defesa-ataque

Depois de ser analisado a transição ataque-defesa e o sistema defensivo da Seleção Brasileira de 2002, o assunto deste post será a transição defesa-ataque.


Nesta fase de jogo, o Brasil de Felipão de 2002 priorizava o passe curto e com opção de virada de jogo. Pois quando a equipe adversária conseguia encurralar a saída curta da Seleção Brasileira, a virada de jogo era opção realizada por Cafú e Roberto Carlos.

Contra a Inglaterra e o seu 4-4-2, a Seleção Brasileira usou freqüentemente das viradas de jogo. Já que os quatro meio-campistas do time inglês constantemente balançavam para o lado da bola, pressionavam o portador da bola brasileiro e encurralava a saída curta verde-amarela, as viradas de jogo de Cafú e Roberto Carlos foram usadas, assim como mostra o flagrante acima.

1ª onda: para que a saída através de passes curtos fosse realizada, a Seleção Brasileira de 2002 realizava a mesma “armadilha” que as seleções que usaram três zagueiros na Copa do Mundo de 2014 utilizaram. Os dois alas subiam simultaneamente e empurravam os wingers adversários, deste modo os três zagueiros abriam e os dos lados avançavam e realizavam a saída de bola pelos lados do campo. Tudo bem organizado e realizado repetidamente durante o Mundial de 2002.

Desde a estreia na Copa, a saída de jogo era iniciada através dos zagueiros brasileiros. Cafú e Roberto Carlos avançavam simultaneamente e, assim, abria espaços pelos lados para que os zagueiros dos lados pudessem ter mais espaço para saírem jogando desde o terço defensivo verde-amarelo.

A saída curta pelos zagueiros do Brasil de 2002 foi realizada da mesma maneira que a Holanda, o México, Costa Rica e afins fizeram na Copa do Mundo de 2014. O ala avança sem bola, empurra o winger adversário mais próximo para o seu terço defensivo e, assim, abre-se espaço para o avanço do zagueiro daquele lado. Na imagem acima, Cafú avançou e Edmilson pôde avançar sem adversário algum na sua frente.

Neste flagrante fica ainda mais nítida esta saída de jogo da Seleção Brasileira de 2002. No flagrante acima, nota-se a Inglaterra compactada e posicionada no 4-4-2. Com o avanço simultâneo de Cafú e Roberto Carlos, os dois wingers ingleses recuaram tanto que quase se alinharam a linha de quatro defensiva. Com este recuo dos wingers britânicos, Edmilson, Lúcio e Roque Júnior conseguiram sair constantemente pelos lados do campo e, deste modo, fazendo com que o princípio da saída através de passes curtos fosse realizado.

Na semifinal contra a Turquia no 4-4-2, a Seleção Brasileira também recorreu a “armadilha” da saída dos três zagueiros. Na imagem acima, Cafú empurrou o winger esquerdo turco e abriu espaço para o avanço de Lúcio. Como o volante da esquerda da Turquia estava marcando Kleberson e o atacante mais próximo estava longe para realizar algum tipo de pressão, Lúcio conseguiu avançar com bola até o terço central do campo.

     2ª onda: com a bola no terço central, os passes curtos continuavam sendo procurados. Diferentemente do terço defensivo que era os defensores quem jogavam, quem passava a fazer o time jogar eram todos os jogadores. Porém, durante toda transição defesa-ataque, Ronaldo era o menos acionado. 

Com a boa fase, Ronaldo era o menos acionado durante toda a transição defesa-ataque. Já que normalmente, ele era o jogador mais avançado da equipe e, assim, criando a profundidade necessária que o sistema ofensivo precisava.

Como sub-princípio desta 2ª onda da transição ofensiva, todos os jogadores procuravam alguma entrelinha e/ ou uma zona morta do campo ofensivo. Pois tendo o passe curto como o principal meio de condução da bola até o ataque, as movimentações inteligentes foram os melhores meios do qual a transição defesa-ataque tivesse continuidade.

As movimentações nas entrelinhas e/ ou na zona morta do campo eram realizadas por todos os jogadores da Seleção Brasileira de 2002. Posicionamento este, no caso do flagrante acima, de Ronaldinho Gaúcho e de Juninho Paulista. Note como não há nenhum jogador adversário próximo a estes e ambos estão livres para receber um passe –no caso desta imagem, Ronaldinho Gaúcho foi quem recebeu o passe.

A zona morta era muito bem procurada por Kleberson. No flagrante acima, nota-se este volante posicionado longe da linha de quatro do meio-de-campo da Inglaterra, mas mesmo assim sendo opção de passe para Roque Júnior. Ainda na mesma imagem, percebe-se Rivaldo procurando a zona morta e Ronaldo livre na entrelinha defensiva e a do meio-de-campo da equipe inglesa.

Na partida semifinal contra a Turquia, nota-se mais uma vez Kleberson posicionado na zona morta oposta da bola e sendo mais uma vez opção de passe para o portador da bola –no caso, seria Roberto Carlos quem receberia o passe de Rivaldo. Além do ex-volante do Atlético-PR, percebe-se também Edilson longe de qualquer marcação adversária próximo a ele e Ronaldo iniciando a sua movimentação na entrelinha defensiva e a do meio-de-campo do time turco.

Já neste flagrante, nota-se a procura nítida pela entrelinha de Rivaldo e de Kleberson. A procura por este posicionamento inteligente era tamanha que os jogadores desta Seleção Brasileira se movimentavam até mesmo entre a linha do meio-de-campo e a do ataque adversário, assim como é o caso da imagem acima.

Por Caio Gondo (@CaioGondo)