Depois
de ser analisado a transição ataque-defesa e o sistema defensivo da Seleção
Brasileira de 2002, o assunto deste post será a transição defesa-ataque.
Nesta
fase de jogo, o Brasil de Felipão de 2002 priorizava o passe curto e com opção
de virada de jogo. Pois quando a equipe adversária conseguia encurralar a saída
curta da Seleção Brasileira, a virada de jogo era opção realizada por Cafú e
Roberto Carlos.
Contra
a Inglaterra e o seu 4-4-2, a Seleção Brasileira usou freqüentemente das
viradas de jogo. Já que os quatro meio-campistas do time inglês constantemente
balançavam para o lado da bola, pressionavam o portador da bola brasileiro e
encurralava a saída curta verde-amarela, as viradas de jogo de Cafú e Roberto
Carlos foram usadas, assim como mostra o flagrante acima.
1ª
onda: para que a saída através de passes curtos fosse realizada, a Seleção
Brasileira de 2002 realizava a mesma “armadilha” que as seleções que usaram
três zagueiros na Copa do Mundo de 2014 utilizaram. Os dois alas subiam
simultaneamente e empurravam os wingers adversários, deste modo os três
zagueiros abriam e os dos lados avançavam e realizavam a saída de bola pelos
lados do campo. Tudo bem organizado e realizado repetidamente durante o Mundial
de 2002.
Desde
a estreia na Copa, a saída de jogo era iniciada através dos zagueiros
brasileiros. Cafú e Roberto Carlos avançavam simultaneamente e, assim, abria
espaços pelos lados para que os zagueiros dos lados pudessem ter mais espaço
para saírem jogando desde o terço defensivo verde-amarelo.
A
saída curta pelos zagueiros do Brasil de 2002 foi realizada da mesma maneira
que a Holanda, o México, Costa Rica e afins fizeram na Copa do Mundo de 2014. O
ala avança sem bola, empurra o winger adversário mais próximo para o seu terço
defensivo e, assim, abre-se espaço para o avanço do zagueiro daquele lado. Na
imagem acima, Cafú avançou e Edmilson pôde avançar sem adversário algum na sua
frente.
Neste
flagrante fica ainda mais nítida esta saída de jogo da Seleção Brasileira de
2002. No flagrante acima, nota-se a Inglaterra compactada e posicionada no
4-4-2. Com o avanço simultâneo de Cafú e Roberto Carlos, os dois wingers
ingleses recuaram tanto que quase se alinharam a linha de quatro defensiva. Com
este recuo dos wingers britânicos, Edmilson, Lúcio e Roque Júnior conseguiram
sair constantemente pelos lados do campo e, deste modo, fazendo com que o
princípio da saída através de passes curtos fosse realizado.
Na
semifinal contra a Turquia no 4-4-2, a Seleção Brasileira também recorreu a
“armadilha” da saída dos três zagueiros. Na imagem acima, Cafú empurrou o
winger esquerdo turco e abriu espaço para o avanço de Lúcio. Como o volante da
esquerda da Turquia estava marcando Kleberson e o atacante mais próximo estava
longe para realizar algum tipo de pressão, Lúcio conseguiu avançar com bola até
o terço central do campo.
2ª
onda: com a bola no terço central, os passes curtos continuavam sendo procurados.
Diferentemente do terço defensivo que era os defensores quem jogavam, quem
passava a fazer o time jogar eram todos os jogadores. Porém, durante toda
transição defesa-ataque, Ronaldo era o menos acionado.
Com a boa fase, Ronaldo era
o menos acionado durante toda a transição defesa-ataque. Já que normalmente,
ele era o jogador mais avançado da equipe e, assim, criando a profundidade
necessária que o sistema ofensivo precisava.
Como
sub-princípio desta 2ª onda da transição ofensiva, todos os jogadores
procuravam alguma entrelinha e/ ou uma zona morta do campo ofensivo. Pois tendo
o passe curto como o principal meio de condução da bola até o ataque, as
movimentações inteligentes foram os melhores meios do qual a transição
defesa-ataque tivesse continuidade.
As
movimentações nas entrelinhas e/ ou na zona morta do campo eram realizadas por
todos os jogadores da Seleção Brasileira de 2002. Posicionamento este, no caso
do flagrante acima, de Ronaldinho Gaúcho e de Juninho Paulista. Note como não
há nenhum jogador adversário próximo a estes e ambos estão livres para receber
um passe –no caso desta imagem, Ronaldinho Gaúcho foi quem recebeu o passe.
A
zona morta era muito bem procurada por Kleberson. No flagrante acima, nota-se
este volante posicionado longe da linha de quatro do meio-de-campo da
Inglaterra, mas mesmo assim sendo opção de passe para Roque Júnior. Ainda na
mesma imagem, percebe-se Rivaldo procurando a zona morta e Ronaldo livre na
entrelinha defensiva e a do meio-de-campo da equipe inglesa.
Na
partida semifinal contra a Turquia, nota-se mais uma vez Kleberson posicionado
na zona morta oposta da bola e sendo mais uma vez opção de passe para o
portador da bola –no caso, seria Roberto Carlos quem receberia o passe de
Rivaldo. Além do ex-volante do Atlético-PR, percebe-se também Edilson longe de
qualquer marcação adversária próximo a ele e Ronaldo iniciando a sua movimentação
na entrelinha defensiva e a do meio-de-campo do time turco.
Já
neste flagrante, nota-se a procura nítida pela entrelinha de Rivaldo e de
Kleberson. A procura por este posicionamento inteligente era tamanha que os
jogadores desta Seleção Brasileira se movimentavam até mesmo entre a linha do
meio-de-campo e a do ataque adversário, assim como é o caso da imagem acima.
Por Caio Gondo (@CaioGondo)