segunda-feira, 26 de janeiro de 2015

Sport encerra preparação para a temporada batendo o Nacional-URU!


Em um evento de excelente organização realizado na Arena Pernambuco, o Sport encerrou sua preparação para a temporada 2015 num amistoso internacional diante do Nacional-URU, que valia a Taça Ariano Suassuna. O Leão levou a melhor, bateu os uruguaios por 2 a 1 e ficou com o troféu. Além do bom resultado, o time de Eduardo Baptista mostrou novidades táticas animadoras na execução de seu esquema que vem sendo utilizado desde a reta final do Brasileirão 2014. 

Dentre essas virtudes, cabe destacar principalmente a maior mobilidade da linha de meio, com intensa movimentação e trocas de posição, com Danilo e Neto Alagoano abrindo pra ocupar a ponta e permitir as diagonais de Régis e Elber, que flutuavam bastante entre as duas linhas de quatro uruguaias, buscando aproximações para tabelas e jogadas nas costas dos volantes adversários, invertendo o posicionamento/lado do campo entre si e abrindo corredores laterais, além da boa movimentação de Samuel, que dava profundidade ao ataque, mas também buscava jogo fora da área, dava opção, saía em diagonal curta pros lados e procurava espaços pra fazer a parede. 

Na saída de bola leonina, muitas vezes Rithely afundava entre os zagueiros mais ao centro na saída de 3 lavolpiana para receber e dar o primeiro passe, organizando a saída pro campo de ataque e permitindo que Durval e Páscoa progredissem um pouco mais pelo lado até proximidades da intermediária defensiva adversária. Em algumas situações ocasionais, Páscoa progredia com bola ao centro da intermediária e Rithely aprofundava o posicionamento para fechar no espaço deixado pelo mesmo. Os laterais espetavam e Danilo e Neto Alagoano também avançavam até o campo ofensivo, de modo que o Leão colocava boa quantidade de jogadores no setor ofensivo, empurrando ainda mais o time uruguaio para trás e ganhando campo pra trabalhar jogo e manter a posse de bola, já que o Nacional-URU não realizava pressão na saída de bola e só marcava com maior agressividade dentro de seu próprio campo, com posicionamento defensivo em bloco baixo. Danilo buscava a chegada de trás e infiltração na área(como no lance do segundo gol rubro-negro), mas também aparecia bastante na diagonal do centro pro flanco esquerdo, muitas vezes abrindo para ser a opção inicial na saída de bola e permitindo a saída de Renê do lado pra faixa central, tentando a aparição nas costas do lateral e buscando um 3x2 no setor quando Elber ou Régis também caía por ali. Alex Silva tinha ímpeto bem ofensivo, espetando na ponta por diversas vezes quando a bola caía no flanco oposto ou ao centro para dar amplitude e ser opção de inversão de jogo em diagonal, porém, o Sport demorava muito para fazer a troca de lado, optando por manutenção da posse por meio de toques curtos e laterais, do que arriscar viradas mais longas para tentar mais velocidade e surpreender a equipe uruguaia quando a mesma basculava defensivamente para o lado atacado. 

Defensivamente, o Leão marcava no 4-1-4-1, de forma bem compactada, ora adiantando mais suas linhas, com a linha média de 4 invadindo os trechos iniciais da intermediária defensiva uruguaia e subindo os encaixes para tentar dificultar a transição e forçar jogadas mais longas, ora mais fechado com as linhas acuadas dentro de seu próprio campo defensivo. Apesar de alguns erros, pode-se dizer que Régis fez bem o papel na recomposição, chegando a bascular corretamente com a linha de meio em diversas situações, enquanto Elber predominantemente grudava-se individualmente no lateral adversário, apesar de ter realizado o balanceamento defensivo mais apropriado em certas ocasiões. Já o Nacional-URU marcava inicialmente no 4-4-2 em linhas(com a bola virava claramente um 4-2-3-1), caracterizando-se pela compactação curta(que também é característica essencial do time rubro-negro) e pelo perfeito balanceamento defensivo em função da movimentação da bola, contando com a centralização do winger oposto ao lado da bola na linha de 4 do meio. O meia González(que em fase ofensiva recuava bastante para buscar jogo na linha dos volantes e participar da fase inicial da construção de jogadas) marcava na mesma linha do centroavante Iván Alonso e o Sport sempre acabava tendo superioridade numérica no meio-campo devido à intensa movimentação de sua linha de meio. Com isso, o técnico Alvaro Gutierrez colocou sua equipe para também marcar no 4-1-4-1, com González marcando na mesma altura dos volantes, buscando diminuir ainda mais os espaços à progressão adversária.

O time uruguaio tentava jogar reativamente, chamando o Sport pra dentro de seu campo e buscando espaços pra usar de suas melhores características. Jogadas pelos flancos, com apoio intenso e constante dos laterais(tendo muita força principalmente pela esquerda com Juan Manuel Díaz), esticadas de bola, transições mais longas e cruzamentos para o centroavante Iván Alonso, de mobilidade, boa técnica e que buscava bastante as diagonais curtas de ruptura na última linha adversária. Com a posse de bola, a equipe tinha dificuldades de propor o jogo com espaços limitados e de romper o compacto e fechado sistema de marcação rubro-negro. Mesmo em desvantagem no placar(inclusive na segunda etapa, onde o Sport mudou 7 jogadores do time que entrou em campo na primeira etapa), insistia em tentar o jogo reativo, porém, não tinha sucesso, pois inteligentemente o Sport valorizava e mantinha a pelota em seu domínio, dificilmente arriscava ou buscava jogadas mais agudas e raramente cedia espaços ao rápido e perigoso contragolpe uruguaio. Assim, foi cozinhando bem o jogo, segurando o time uruguaio sem dificuldades tão grandes e assegurou o resultado. 

Nas imagens abaixo, observa-se alguns aspectos táticos do jogo, inclusive dentre eles, alguns já descritos nos textos: 


No primeiro gol, observa-se que na saída de bola, Rithely busca ao centro, inicia a jogada e o Sport "empurra" os 4 componentes mais avançados da linha de meio para ocupar os espaços entrelinhas adversários e buscar as jogadas por ali. Nessa situação os laterais não espetaram no campo ofensivo. Elber saiu da direita em diagonal para a recepção nas costas dos volantes, porém, não conseguiu dominar com perfeição e a bola sobrou mais na frente pra Samuel, que se movimentou para a infiltração no espaço entre os zagueiros José Aja e Guillermo de Los Santos. Ele recebeu e não perdoou, mandou para o fundo das redes. Percebe-se também o posicionamento mais agudo de Danilo em relação à Neto Alagoano, projetando-se para chegar como opção pro rebote na área adversária, enquanto Neto é apenas opção de passe curto para Elber na proximidade da meia-direita. No geral, Neto Alagoano buscava participar mais da posse do que Danilo(até por ser um jogador de mais técnica e qualidade de passe). O camisa 14 procurava mais a ocupação de espaços do meio pra frente e movimentação sem bola. 


No lance do segundo gol, Elber volta pra buscar e pega a pelota de frente para as duas linhas de quatro uruguaias. Rithely é opção de reinício pelo bom posicionamento, bem afastado da penúltima linha adversária e Neto Alagoano mais recuado, sendo opção de participação na posse. Nessa ocasião, os laterais espetaram no ataque, dando amplitude, enquanto Samuel proporciona a profundidade, prendendo a linha de zagueiros. O winger oposto uruguaio fixou individualmente em Renê nessa jogada. O lateral-esquerdo Juan Manuel Díaz foi atraído pelo espetamento de Alex Silva na direita e acabou prestando mais atenção em vigiar o lateral-direito leonino(ação que deveria/poderia ser feita pelo winger do lado da bola) do que com o espaço na linha defensiva. Danilo e Régis buscam a flutuação entre as linhas adversárias. Elber aciona Régis, que atrai o zagueiro pra dar combate fora da linha defensiva, consegue girar e fazer a jogada pessoal e toca de volta pra Elber, que infiltra no espaço entre o zagueiro da esquerda e o lateral-esquerdo(que encaixou em Alex Silva e esqueceu do mundo) e bate cruzado. A bola explode na trave. Danilo infiltrou na área vindo de trás, aproveitou o rebote e mandou pras redes. Jogada muito bem trabalhada, explorando bem os espaços cedidos pelo adversário. 


Nessa jogada, o Sport adiantou a linha de 4 do meio até o início de sua intermediária ofensiva e subiu os encaixes para dificultar a transição adversária da defesa pro ataque. E deu certo. O time roubou alto e o meia Régis(portador da bola) já tinha muitas opções para a jogada. Neto Alagoano como opção de passe curto, Alex Silva ultrapassando no corredor direito e optou por Elber que apareceu em diagonal dando opção de esticada de bola nas costas do zagueiro da esquerda(cuja distância em relação ao zagueiro da direita era gigantesca na jogada). O zagueiro da direita poderia sair na cobertura, porém, o mesmo estava atraído por Samuel. Na sequência, a jogada teve procedência pela direita com Elber e Alex Silva(contando com uma saída do gol ridícula do goleiro Múnua) e Danilo fechou na área pra ser opção pro cruzamento junto com Samuel. Alex Silva tentou o arremate pro gol, porém, a defesa uruguaia impediu o terceiro gol do Leão da Praça da Bandeira. 



Na primeira imagem, observa-se a compactação curta do Sport com as linhas retraídas no seu campo, com os 10 jogadores de linha postados dentro da própria intermediária. O erro de basculação defensiva de Alex Silva quase resultou num gol do Nacional-URU. Segundo informações obtidas por este que vos fala, uma das principais dificuldades do jovem e promissor lateral-direito é a realização da diagonal defensiva quando a bola está no lado oposto. Nessa ocasião, ele foi atraído por um jogador adversário que se projetou na ponta pra ser opção de inversão e não fechou por dentro da forma apropriada. O volante Arizmendi apareceu inteligentemente no espaço entre Páscoa e Alex Silva e finalizou com perigo. A bola passou à esquerda da meta defendida pelo goleiro Magrão. Na segunda imagem, observa-se o lance que resultou o gol do Nacional-URU. Os tricolores atacaram pela esquerda e o winger que estava no setor(Régis) não participou ativamente da marcação por ali e "largou" o lateral-esquerdo Juan Manuel Díaz. Não o acompanhou até o final, sobrecarregando o lateral-direito Alex Silva. Díaz ultrapassou na ponta para ser opção de passe em direção ao fundo para o winger De Pena, de modo que o time uruguaio obteve a superioridade numérica(2x1) no setor. Pode-se reparar a fixação de Elber no lateral adversário no extremo oposto também. 


O Sport apresentou boas e animadoras novidades táticas nesse amistoso. Há muitas virtudes, dentre elas o bom padrão tático implantado por Eduardo Baptista na equipe leonina, de modo a conseguir a manutenção do mesmo e implantação de novos aspectos mesmo com peças novas que foram contratadas e que ainda podem evoluir dentro da forma de jogo do time. Porém, também há defeitos a serem corrigidos. O mais importante é o fato do sistema de jogo ter encaixado bem com as características dos jogadores desde a reta final do Brasileirão, onde o Leão da Praça da Bandeira ficou 7 partidas seguidas sem perder. O entrosamento também é outra questão que conta bastante, pelo fato da equipe ter mantido uma base(cerca de 80%) do elenco de 2014, junto com contratações por perfil, de jogadores que tendem a somar e agregar bastante ao longo do tempo. O início é animador. Mas é só o início. A equipe tem por característica jogar um futebol bem moderno. Veremos se mais novidades virão. E principalmente se vai dar liga, porém, as chances são muito boas, principalmente quando Rodrigo Mancha e Diego Souza, que são pilares da equipe, estiverem em boas condições de jogo. Enfim, aguardemos...


*Por João Elias Cruz(@Joaoeliascruzzz)