Vindo de derrotas inesperadas na estreia, Atlético
Mineiro e Atlas se enfrentaram no Independência pela segunda rodada da fase de
grupos da Copa Libertadores. O time mexicano foi derrotado pelo Independiente
Santa Fé em casa, quando mandou na partida no Estadio Jalisco e, sem conseguir
converter o domínio em gols, sofreu um tento na fase final do jogo e acabou
superado pelo rival colombiano. O Galo foi a Santiago e sucumbiu ao Colo-Colo,
em um resultado inesperado, porém aceitável, já que o gigante chileno é
apontado como o principal rival atleticano no grupo.
Após a derrota para o Santa Fé, o pressionado Tomás
Boy conseguiu uma vitória importante no Clausura da Liga MX contra o Santos Laguna, na
Comarca Lagunera. Enfrentando um adversário superior tecnicamente e em boa fase
na competição, Boy montou o Atlas em um 4-3-3 que se compactava no 4-1-4-1 sem
a bola e deixava o Santos controlar a partida, utilizando do jogo em transição
para levar perigo ao quadro lagunero.
Desta forma, os Zorros manejaram
chegar ao tento vitorioso nos minutos finais da partida, levando importantes
três pontos de volta à Guadalajara. Contra o Galo, o treinador rojinegro executou a mesma estratégia e
o Atlas foi a campo com formação parecida à que bateu o Santos. As modificações
no onze inicial para a visita ao Brasil foram as entradas de Enrique Pérez,
Juan Pablo Rodríguez, Rodrigo Millar e Luis Caballero nas vagas de Carlos
Arreola, Aldo Leao Ramírez, Christian Suárez e Carlos Ochoa.
Já o Atlético, que atuou com um time inteiramente
reserva na derrota para o América pelo Campeonato Mineiro, precisou fazer novas
alterações na equipe considerada titular. Sem Marcos Rocha, Douglas Santos,
Pedro Botelho, Lucas Pratto e Jô, Levir Culpi precisou recorrer a jogadores que
não têm tanto a confiança do treinador e da torcida alvinegra, como Patric,
Lucas Cândido – que vinha de um ano de inatividade – e André. Neste sentido, o
treinador do conjunto mandante optou pelo 4-2-3-1 que vem sendo a tônica do
time na temporada, com bastante apoio dos alas para darem amplitude, além da
agressividade de Luan e Maicosuel pelas pontas, todos orquestrados por Jesús
Dátolo, no centro da linha de três meias que tentava abastecer André no comando
do ataque.
Tomando a iniciativa, o Atlético esbarrou no jogo
reativo e transicional do Atlas montado inteligentemente por Tomás Boy
Como era de se esperar, o Atlético começou tomando
a iniciativa do jogo, empurrado pela torcida apaixonada que compareceu no Independência. O Atlas, por sua vez, fechava-se em um 4-1-4-1 que marcava
variando de bloco médio para baixo, sem ensaiar situações de pressão. Na fase
defensiva, os dois atacantes que atuavam pelos extremos, Keno e Arturo González,
compunham uma linha de quatro no meio-campo que também tinha Medina e o capitão
Rodrigo Millar pelo centro. Entre essa linha e a de defensores, posicionava-se
Rodríguez, responsável por limitar os espaços de Dátolo no entrelinhas. Além
disso, o “Comandante” também tinha
papel importante com a bola na posse dos Zorros,
já que era o camisa 10 quem iniciava a transição ofensiva e administrava a
melhor opção para o conjunto rojinegro atacar
o Galo.
Em BH, o 4-1-4-1 da fase defensiva do Atlas atrapalhou o
desfalcado Atlético-MG (Reprodução/Fox Sports)
Na parte final de 2014, quando o Galo teve atuações
brilhantes na Copa do Brasil e no Brasileirão, os comandados de Levir Culpi operavam
bastante compactos sem a bola, inclusive quando propunham o jogo. Na peleja
contra o Atlas, o quadro mineiro não conseguia essa transição defensiva veloz à
qual todos se acostumaram no ano passado e a segunda linha de quatro nem sempre
era formada na hora de se defender, oferecendo, pois, muitos espaços para o
Atlas contra-atacar. Apesar disso, o Atlético ainda criou boas oportunidades no
primeiro tempo, sobretudo a partir da bola parada de Dátolo, já que o
adversário cometia muitas faltas laterais e na intermediária. Neste sentido, a
perda de Leonardo Silva no final do primeiro tempo, com uma lesão no dedo da
mão esquerda, atrapalhou ainda mais os planos de Levir, já que o capitão é a arma mais
importante do time neste expediente.
Na segunda parte, Levir Culpi voltou com Sherman
Cárdenas na vaga de Leandro Donizete, recuando Dátolo para trabalhar a partir
de trás, mas mantendo o 4-2-3-1. O argentino, que foi muito bem na posição em
2014, teve dificuldades para apresentar seu futebol, já que sempre batia na marcação de
Medina e pouco tentava se movimentar atrás das linhas adversárias para se
juntar a Cárdenas e dificultar a marcação de Rodríguez no entrelinhas. Neste
sentido, a forma como o Galo se comportava facilitou ao adversário, já que os
atletas atleticanos pouco se movimentavam para fora de seus setores e as linhas
rojinegras dificilmente precisavam
ser desmontadas.
Tomás Boy foi renovando seu time aos poucos, com as
entradas de Christian Suárez e dos canteranos Martín Barragán e Carlos Treviño nas vagas de Keno, "Chino" Millar e Caballero. As substituições,
além de darem novo fôlego ao Atlas, introduziram um quê de imprevisibilidade ao
conjunto mexicano, já que González passou a atuar mais centralizado e Suárez
revezava a referência na frente com Barragán. Levir Culpi queimou sua última
alteração ao colocar Dodô no lugar de Maicosuel, perseguido pela torcida atleticana
sempre que tocava na bola.
Atlético buscava o gol a todo momento e o Atlas não se
desesperava e mantinha a estruturação tática, jogando com inteligência e
preocupando-se primeiro em não ter a meta de Federico Vilar vazada
A maior movimentação do ataque rojinegro somada ao desespero do Atlético em busca de seu gol
acabaram por dar mais espaços para o contragolpe do conjunto de Boy e, em uma
dessas situações, Juan Carlos Medina, talvez o melhor jogador da partida,
encontrou passe em profundidade para Suárez, que trocara de posição com
Barragán. No mano a mano com Victor, o atacante equatoriano teve calma e tocou
na saída do arqueiro atleticano para abrir o placar e decretar a vitória
mexicana em terras mineiras.
Apesar de atacar com quase todos os jogadores, o Galo
tinha cinco homens atrás da linha da bola e, com o atraso de Edcarlos ao fazer
a linha de impedimento, Suárez surgiu livre para anotar o gol na saída de
Victor (Reprodução/Fox Sports)
A segunda derrota na competição deixa o Galo em situação
complicada. Num grupo sabidamente duro, o time de Levir Culpi ainda não
conseguiu vencer, seja por não poder contar com alguns de seus principais
jogadores ou pelos erros cometidos pelos atletas e seu técnico, além da
qualidade dos adversários, que tiveram méritos nas duas derrotas atleticanas na
Libertadores.
A vitória permite ao Atlas sonhar com uma
classificação e, neste sentido, é possível que o clube de Guadalajara venha a
valorizar mais a competição sul-americana, coisa que nem todos os times
mexicanos costumam fazer. Com perspicácia de seu técnico, que reconheceu a
superioridade no adversário e soube montar uma estratégia de jogo para
enfraquecer as qualidades do Atlético e enaltecer as dos Zorros, e huevos de seus
jogadores na cancha, o Atlas conseguiu um triunfo inesperado e inicia uma
sequência importante de vitórias na busca por uma campanha destacada na
Libertadores e pela classificação à Liguilla, a fase de mata-mata do Clausura mexicano.
Por João Marcos Soares (@JoaoMarcos__)