quinta-feira, 26 de fevereiro de 2015

Com "huevos", Atlas consegue se recuperar e complicar a vida do Atlético-MG na Libertadores

Vindo de derrotas inesperadas na estreia, Atlético Mineiro e Atlas se enfrentaram no Independência pela segunda rodada da fase de grupos da Copa Libertadores. O time mexicano foi derrotado pelo Independiente Santa Fé em casa, quando mandou na partida no Estadio Jalisco e, sem conseguir converter o domínio em gols, sofreu um tento na fase final do jogo e acabou superado pelo rival colombiano. O Galo foi a Santiago e sucumbiu ao Colo-Colo, em um resultado inesperado, porém aceitável, já que o gigante chileno é apontado como o principal rival atleticano no grupo.

Após a derrota para o Santa Fé, o pressionado Tomás Boy conseguiu uma vitória importante no Clausura da Liga MX contra o Santos Laguna, na Comarca Lagunera. Enfrentando um adversário superior tecnicamente e em boa fase na competição, Boy montou o Atlas em um 4-3-3 que se compactava no 4-1-4-1 sem a bola e deixava o Santos controlar a partida, utilizando do jogo em transição para levar perigo ao quadro lagunero. Desta forma, os Zorros manejaram chegar ao tento vitorioso nos minutos finais da partida, levando importantes três pontos de volta à Guadalajara. Contra o Galo, o treinador rojinegro executou a mesma estratégia e o Atlas foi a campo com formação parecida à que bateu o Santos. As modificações no onze inicial para a visita ao Brasil foram as entradas de Enrique Pérez, Juan Pablo Rodríguez, Rodrigo Millar e Luis Caballero nas vagas de Carlos Arreola, Aldo Leao Ramírez, Christian Suárez e Carlos Ochoa.

Já o Atlético, que atuou com um time inteiramente reserva na derrota para o América pelo Campeonato Mineiro, precisou fazer novas alterações na equipe considerada titular. Sem Marcos Rocha, Douglas Santos, Pedro Botelho, Lucas Pratto e Jô, Levir Culpi precisou recorrer a jogadores que não têm tanto a confiança do treinador e da torcida alvinegra, como Patric, Lucas Cândido – que vinha de um ano de inatividade – e André. Neste sentido, o treinador do conjunto mandante optou pelo 4-2-3-1 que vem sendo a tônica do time na temporada, com bastante apoio dos alas para darem amplitude, além da agressividade de Luan e Maicosuel pelas pontas, todos orquestrados por Jesús Dátolo, no centro da linha de três meias que tentava abastecer André no comando do ataque.

Tomando a iniciativa, o Atlético esbarrou no jogo reativo e transicional do Atlas montado inteligentemente por Tomás Boy

Como era de se esperar, o Atlético começou tomando a iniciativa do jogo, empurrado pela torcida apaixonada que compareceu no Independência. O Atlas, por sua vez, fechava-se em um 4-1-4-1 que marcava variando de bloco médio para baixo, sem ensaiar situações de pressão. Na fase defensiva, os dois atacantes que atuavam pelos extremos, Keno e Arturo González, compunham uma linha de quatro no meio-campo que também tinha Medina e o capitão Rodrigo Millar pelo centro. Entre essa linha e a de defensores, posicionava-se Rodríguez, responsável por limitar os espaços de Dátolo no entrelinhas. Além disso, o “Comandante” também tinha papel importante com a bola na posse dos Zorros, já que era o camisa 10 quem iniciava a transição ofensiva e administrava a melhor opção para o conjunto rojinegro atacar o Galo.

Em BH, o 4-1-4-1 da fase defensiva do Atlas atrapalhou o desfalcado Atlético-MG (Reprodução/Fox Sports)

Na parte final de 2014, quando o Galo teve atuações brilhantes na Copa do Brasil e no Brasileirão, os comandados de Levir Culpi operavam bastante compactos sem a bola, inclusive quando propunham o jogo. Na peleja contra o Atlas, o quadro mineiro não conseguia essa transição defensiva veloz à qual todos se acostumaram no ano passado e a segunda linha de quatro nem sempre era formada na hora de se defender, oferecendo, pois, muitos espaços para o Atlas contra-atacar. Apesar disso, o Atlético ainda criou boas oportunidades no primeiro tempo, sobretudo a partir da bola parada de Dátolo, já que o adversário cometia muitas faltas laterais e na intermediária. Neste sentido, a perda de Leonardo Silva no final do primeiro tempo, com uma lesão no dedo da mão esquerda, atrapalhou ainda mais os planos de Levir, já que o capitão é a arma mais importante do time neste expediente.

Na segunda parte, Levir Culpi voltou com Sherman Cárdenas na vaga de Leandro Donizete, recuando Dátolo para trabalhar a partir de trás, mas mantendo o 4-2-3-1. O argentino, que foi muito bem na posição em 2014, teve dificuldades para apresentar seu futebol, já que sempre batia na marcação de Medina e pouco tentava se movimentar atrás das linhas adversárias para se juntar a Cárdenas e dificultar a marcação de Rodríguez no entrelinhas. Neste sentido, a forma como o Galo se comportava facilitou ao adversário, já que os atletas atleticanos pouco se movimentavam para fora de seus setores e as linhas rojinegras dificilmente precisavam ser desmontadas.

Tomás Boy foi renovando seu time aos poucos, com as entradas de Christian Suárez e dos canteranos Martín Barragán e Carlos Treviño nas vagas de Keno, "Chino" Millar e Caballero. As substituições, além de darem novo fôlego ao Atlas, introduziram um quê de imprevisibilidade ao conjunto mexicano, já que González passou a atuar mais centralizado e Suárez revezava a referência na frente com Barragán. Levir Culpi queimou sua última alteração ao colocar Dodô no lugar de Maicosuel, perseguido pela torcida atleticana sempre que tocava na bola.

Atlético buscava o gol a todo momento e o Atlas não se desesperava e mantinha a estruturação tática, jogando com inteligência e preocupando-se primeiro em não ter a meta de Federico Vilar vazada

A maior movimentação do ataque rojinegro somada ao desespero do Atlético em busca de seu gol acabaram por dar mais espaços para o contragolpe do conjunto de Boy e, em uma dessas situações, Juan Carlos Medina, talvez o melhor jogador da partida, encontrou passe em profundidade para Suárez, que trocara de posição com Barragán. No mano a mano com Victor, o atacante equatoriano teve calma e tocou na saída do arqueiro atleticano para abrir o placar e decretar a vitória mexicana em terras mineiras.

Apesar de atacar com quase todos os jogadores, o Galo tinha cinco homens atrás da linha da bola e, com o atraso de Edcarlos ao fazer a linha de impedimento, Suárez surgiu livre para anotar o gol na saída de Victor (Reprodução/Fox Sports)

A segunda derrota na competição deixa o Galo em situação complicada. Num grupo sabidamente duro, o time de Levir Culpi ainda não conseguiu vencer, seja por não poder contar com alguns de seus principais jogadores ou pelos erros cometidos pelos atletas e seu técnico, além da qualidade dos adversários, que tiveram méritos nas duas derrotas atleticanas na Libertadores.

A vitória permite ao Atlas sonhar com uma classificação e, neste sentido, é possível que o clube de Guadalajara venha a valorizar mais a competição sul-americana, coisa que nem todos os times mexicanos costumam fazer. Com perspicácia de seu técnico, que reconheceu a superioridade no adversário e soube montar uma estratégia de jogo para enfraquecer as qualidades do Atlético e enaltecer as dos Zorros, e huevos de seus jogadores na cancha, o Atlas conseguiu um triunfo inesperado e inicia uma sequência importante de vitórias na busca por uma campanha destacada na Libertadores e pela classificação à Liguilla, a fase de mata-mata do  Clausura mexicano.

Por João Marcos Soares (@JoaoMarcos__)