No confronto entre líder e vice-líder do Campeonato
Catarinense, a Chapecoense recebeu o Figueirense no Índio Condá para um público
decepcionante, de pouco mais de seis mil torcedores, que viram o time da casa
tentar confirmar o bom início e manter o 100% de aproveitamento, juntamente com
a liderança da competição.
Vinícius Eutrópio encontrava o Figueirense pela
primeira vez desde sua demissão do Furacão do Estreito, no início do
Brasileirão de 2014, quando o quadro alvinegro começou mal a competição e mesmo
o acesso conquistado em 2013 e o título catarinense de 2014 não foram
suficientes para que a diretoria mantivesse o treinador no comando do time da
capital, em uma decisão bastante controversa que não agradou a torcida e a
imprensa de Florianópolis.
O agora comandante do Verdão do Oeste, que tem
encontrado dificuldade em repetir a equipe por causa de lesões que têm
assombrado seu elenco, voltou a ter problemas na escalação, precisando recorrer
ao veterano goleiro Nivaldo, já que Danilo e o reserva imediato, Sílvio,
lesionaram-se e desfalcaram o time em Chapecó. Além de Nivaldo, Abuda e Neném
continuaram no time titular, substituindo Gil e Camilo. O sistema de jogo foi
mantido: o 4-2-3-1 que venceu Inter de Lages, Guarani de Palhoça, Criciúma e Avaí
continuou sendo o esquema da Chape para o clássico com o Figueirense.
Argel Fucks não encontra os mesmos problemas
físicos que Eutrópio para escalar o Figueirense, mas sente dificuldades na
montagem da equipe. Diferente do companheiro de profissão, que encontrou um
sistema de jogo desde o início do estadual, Argel precisou testar várias
formações até encontrar uma que o agradasse minimamente. Nas três primeiras
rodadas, com duas vitórias e uma derrota, Argel não ficou satisfeito com o
losango de meio-campo, que teve Ricardinho e, depois, Leo Lisboa como
enganches. A dificuldade para encontrar um camisa 10 que o agradasse fez o
treinador mudar para o 4-2-3-1 na última rodada contra o Guarani. Com Mazola e
Clayton pelas pontas, Ricardinho passou a ser o meia mais centralizado, embora
não tenha as características que o treinador procura para a posição. O
recém-chegado Rafael Bastos, revelado pelo Bahia e que volta ao Brasil após
anos no exterior, é a esperança, porém ainda precisa aprimorar a forma física.
Com os dois times montados em uma estrutura
parecida, que valoriza a posse de bola no meio-campo, mas que também sabe
explorar a transição em velocidade para os contragolpes, o jogo de Chapecó era
o mais esperado da rodada com relação ao ponto de vista tático.
Espelhados no 4-2-3-1, Chapecoense e Figueirense
disputaram a liderança em partida bastante equilibrada no oeste catarinense
O primeiro tempo foi de ações igualadas, com o
conjunto mandante criando as melhores oportunidades com finalizações de fora da
área, já que a compacta defesa alvinegra dificultava a chegada pelos lados,
ponto forte dos comandados de Eutrópio, com a boa recomposição de Clayton e
Mazola pelos extremos, ao fecharem a segunda linha de quatro da fase defensiva
do Figueirense. Sem a bola, a Chape executava o mesmo movimento, tendo William
Barbio e Ananias como os wingers que
compunham a segunda linha com Wanderson e Abuda quando da posse de bola
adversária. O Figueirense, que também tem na bola parada uma de suas forças,
teve dificuldades neste expediente, e pouco assustou o rival em bolas aéreas,
levando perigo à meta de Nivaldo apenas em contra-ataques puxados por
Ricardinho, Mazola e Clayton.
A segunda etapa começou no mesmo panorama tático da
primeira, e, após os primeiros 5 minutos de pressão da Chapecoense, o Figueirense
tomou conta da partida, com Ricardinho se comportando mais como um meia-armador
central e menos como um terceiro homem de meio, que é a posição onde se sente
mais à vontade. Embora atue centralizado no esquema do Figueirense, é visível a
disposição do camisa 8 em sair para o lado direito quando a bola está com o
Figueirense, deixando um vazio no centro do campo que seria interessante se um
dos volantes alvinegros tivessem boa chegada ao ataque para explorar este
espaço, o que não é o caso de França e muito menos de Paulo Roberto, que
melhorou muito o trabalho de bola no meio-campo do conjunto de Argel pela
qualidade que tem em distribuir o jogo, mas que pouco aparece no ataque. Contra
a Chape, surpreendentemente o camisa 11 surgiu na entrada da área em uma jogada
de rebote e conseguiu finalizar para a defesa de Nivaldo, em uma das boas chances
criadas pelo Figueirense na etapa derradeira.
A Chapecoense continuava a ter dificuldades de
infiltrar na defesa adversária e não mais conseguia encontrar espaços para os
chutes de média distância que tanto assustaram Alex Santana na primeira parte.
Neste sentido, o Verdão levava perigo apenas em situações de bola parada. Em um
escanteio para o quadro mandante, a defesa alvinegra afastou o perigo e, em
contra-ataque muito bem tramado por Ricardinho, Mazola e Clayton, o garoto da
base alvinegra recebeu na esquerda e cortou para a direita, acertando, com
ajuda de um desvio na defesa, o canto de Nivaldo para abrir o placar no Índio
Condá.
Com o gol de Clayton, Vinícius Eutrópio entrou com
Richarlyson no lugar de Abuda para melhorar a qualidade do meio-campo com a
bola nos pés e, na sequência, promoveu o garoto Hyoran e o centroavante Bruno
Rangel às vagas de Neném e William Barbio. Desta forma, a Chapecoense passou a
ter dois homens de referência dentro da área e dois homens no meio-campo para
levar a bola ao ataque, além de Richarlyson, que se juntava a Hyoran e
Ananaias. Argel Fucks, por sua vez, foi aumentando o poder de marcação de seu meio-campo
aos poucos, com as entradas de Dener e Fabinho nos lugares de França e Mazola e
a substituição de Clayton por Dudu, para renovar o gás na puxada de
contra-ataque.
Sem muita organização, Chapecoense partiu pro abafa e Figueirense
se fechou na defesa buscando o contragolpe para matar o jogo
Pouco organizada, mas com muita vontade, a
Chapecoense deixava espaços para o Figueirense contra-atacar e, em uma
transição veloz, Dudu carregou a bola e passou para Marcão que, livre, não
conseguiu dominar e perdeu uma oportunidade impressionante de liquidar a
fatura. Na jogada seguinte, o abafa da Chape fez a bola sobrar para Bruno
Rangel que, ainda longe de ser aquele de 2013, perdeu chance incrível de
empatar o duelo, cara a cara com Alex Santana.
Com o resultado, o Figueira alcança a Chape na
tabela, porém a liderança continua com o Verdão do Oeste pelo saldo de gols.
Além da vitória e da aproximação ao líder, o Figueirense conseguiu derrubar o
último invicto da competição, que vinha com 100% de aproveitamento e era (e
ainda é) o time melhor ajustado no Campeonato Catarinense, favorito a ficar com
a primeira vaga para o hexagonal, mas não mais tão longe dos adversários, já
que o Figueirense se aproximou na pontuação e, sobretudo, no encaixe de um time
que tem os mesmos objetivos que a Chapecoense na temporada: brigar pelo título
estadual e, principalmente, fazer uma campanha sem sustos na Série A do
Brasileirão.
Por João Marcos Soares (@JoaoMarcos__)