quarta-feira, 18 de fevereiro de 2015

Na estreia brasileira na fase de grupos da Libertadores, Inter sucumbe ao bom The Strongest

Na abertura da fase de grupos da Copa Libertadores, Internacional e The Strongest se enfrentaram pelo Grupo 4, que, mais cedo, teve o Emelec batendo a Universidad de Chile, em Santiago. The Strongest recebeu o Colorado com um bom público no Estádio Hernando Silles, na altitude de 3660 da principal cidade boliviana, La Paz.

Pela primeira fase, The Strongest passou pelo Monarcas Morelia, atual lanterna do torneio Clausura da Liga MX, o campeonato mexicano. Na visita ao México, o técnico stronguista, Nestor Craviotto, escalou um meio-campo recheado de jogadores, em um 4-2-3-1 que tinha Alejandro Chumacero e Ernesto Cristaldo como extremos, além de Maximiliano Bajter e Raúl Castro como volantes, deixando, Pablo Escobar, a grande estrela do conjunto gualdinegro livre, aproximando-se do centroavante Rodrigo Ramallo. O bom 1 a 1 conseguido no Estadio Morelos deu maior tranquilidade para The Strongest, assim, o argentino Craviotto optou por sacar um volante, Bajter, deslocando Chumacero para o centro do meio-campo, sua posição de origem, adicionando um atacante de lado de campo, Bernardo Cuesta, e mantendo o 4-2-3-1, porém com um meio-campo mais leve e agressivo, que permitiu ao quadro boliviano a vitória por 2 a 0 contra um inoperante Monarcas, com mais dois gols de Escobar, que já havia marcado o tento stronguista no empate, em Morelia.

Contra o Inter, que possui atletas de muita técnica no setor central, Nestor Craviotto optou novamente por acrescentar um jogador de meio-campo, sacando Cuesta, e escalando Walter Veizaga, fazendo com que Chumacero voltasse a fechar o lado do campo sem a bola.

Sem a bola, Escobar e Ramallo ficavam avançados com a responsabilidade de apertar a saída de bola colorada, enquanto os outros oito jogadores de linha se dividiam em duas linhas de quatro que marcavam com bastante intensidade (Reprodução/Fox Sports)

Diego Aguirre, que acenou num primeiro momento com um 4-2-3-1, que teria Vitinho, Eduardo Sasha e D’Alessandro na linha de três meias atrás de Nilmar, voltou atrás e já no início da semana deixou claro que Anderson começaria a partida de estreia do representante gaúcho na Libertadores. A única dúvida era sobre qual seria a disposição tática do Colorado em La Paz.

Logo no início da partida, foi possível observar que a opção mais óbvia foi escolhida por Aguirre. O Inter visitou The Strongest num 4-1-4-1 parecido com o que Abel Braga utilizava em 2014, com a diferença de ser muito mais compacto na fase defensiva. Nilton era o único volante, preenchendo o entrelinhas, enquanto D’Alessandro, Aránguiz, Anderson e Sasha formavam uma segunda linha de quatro, que marcava surpreendentemente em bloco bastante baixo, deixando os donos da casa monopolizarem a bola, sem sequer ensaiar uma pressão no campo adversário.

The Strongest em seu 4-2-3-1, que tinha Escobar livre para circular sobretudo pela direita do ataque, em espaço aberto pela centralização de Chumacero, contra um Inter bastante compacto e que não conseguia (ou não queria) ficar com a bola no primeiro tempo

Pressionando o Inter desde o minuto inicial, The Strongest criava a maioria de suas oportunidades a partir das investidas de Pablo Escobar, o jogador mais acionado pelo quadro boliviano, que é mais um definidor do que um armador, buscando sempre os flancos para executar suas jogadas individuais, sobretudo pelo lado direito, que lhe permitia partir para cima dos adversários e buscar a sua afiadíssima perna esquerda para finalizar contra o gol de Alisson. A participação intensa do capitão gualdinegro na peleja é percebida nas estatísticas finais da partida. Escobar foi o jogador que mais finalizou a gol (8), mais cruzou bolas na área (9) e mais perdeu posses de bola (14).

Pelo mapa de movimentação, é possível perceber a liberdade que Escobar tinha para trabalhar com a bola, optando prioritariamente por aparecer nos lados do campo (Footstats)

A pressão do conjunto mandante fez com que o placar já estivesse em 2 a 0 com menos de quinze minutos de jogo. A questão da ocupação de espaços, tão mencionada por técnicos, jogadores e analistas no futebol moderno, é essencial para que um time compacto impeça o adversário de adentrar em sua defesa, porém, de nada adianta a marcação setorial estar alinhada e compacta se não houver atenção às movimentações do ataque adversário. O Inter já demonstrou essa fragilidade com Abel Braga e agora, sob o comando de Diego Aguirre, continua apresentando dificuldade em desfazer o sistema quando há a necessidade de acompanhar o deslocamento de determinado atleta rival. No primeiro gol sofrido no Hernando Siles, o lateral Jairzinho Torrico conseguiu encontrar um passe pelas costas das duas linhas coloradas para Ramallo, que fez o pivô para a finalização de Cristaldo, brilhantemente defendida por Alisson. No rebote, a defesa do Inter voltou a demorar para reagir e Chumacero, longe de sua posição original, completou para o gol.

Defesa do Inter não acompanha movimentação do ataque adversário, que abriu o placar após Ramallo, Cristaldo e Chumacero conseguirem tocar na bola dentro da área colorada sem serem incomodados (Reprodução/Fox Sports)

Após ser dominado durante toda a primeira parte sem conseguir reagir, Aguirre colocou Vitinho na vaga de Anderson ainda no fim da etapa inicial, deslocando D’Alessandro para o centro e abandonando o 4-1-4-1 para voltar a um 4-2-3-1 semelhante ao que o treinador uruguaio iniciou a pré-temporada, em Bento Gonçalves. Tendo os minutos finais do primeiro tempo para encaixar o esquema e o intervalo para recuperar o fôlego inegavelmente prejudicado pela altitude, o Colorado voltou melhor para a etapa derradeira, com Vitinho e Sasha agressivos pelas pontas e D’Alessandro sendo acionado a todo momento pelo centro do campo. Durante os primeiros minutos de pressão colorada, o árbitro colombiano Adrián Vélez enxergou um toque de mão de Cristaldo dentro da área gualdinegra e apontou para a marca da cal. O capitão D’Alessandro cobrou a penalidade no alto do canto esquerdo do goleiro Daniel Vaca e diminuiu o marcador.

Conseguindo tomar a iniciativa durante a primeira metade do segundo tempo, o Internacional teve chances de igualar o placar, sem, entretanto, ser capaz de empurrar a pelota novamente para o gol de Vaca. Após The Strongest voltar a emparelhar as ações e o ataque colorado tornar a perder o fôlego e diminuir a velocidade, Aguirre entrou com Rafael Moura na vaga de Sasha, empurrando uma referência para a área e fazendo com que Nilmar trabalhasse mais pelo lado direito no 4-2-3-1 do uruguaio.

Situação do jogo e dificuldade de Nilmar em fechar o lado direito fez o 4-2-3-1 do Inter perder bastante compactação na fase defensiva, facilitando ainda mais o trabalho do The Strongest, que dominou a segunda metade da etapa final (Reprodução/Fox Sports)

As entradas de Nelvin Soliz e de Abel Méndez, promovidos por Nestor Craviotto às vagas de Cristaldo e Ramallo deram um novo fôlego ao ataque stronguista, que, sempre sob a batuta do veterano Pablo Escobar, pressionou o Inter contra seu campo e alcançou o terceiro gol para liquidar a fatura, novamente em chegada de Chumacero à vulnerável área colorada.

O duelo de La Paz chegou ao seu fim com as duas equipes montadas em um 4-2-3-1, mas com o Inter esgotado e The Strongest ignorando o placar favorável e buscando mais gols

Com a vitória, The Strongest assume a liderança do Grupo 4, seguido do Emelec, que venceu bem a Universidad de Chile fora de casa. O Internacional tem inegavelmente o melhor elenco do grupo, mas The Strongest e Emelec conseguiram manter e reforçar seus bons times, chegando fortes na disputa pela classificação em um dos grupos mais equilibrados desta edição da Libertadores, apesar de La U estar claramente um nível abaixo dos outros concorrentes da chave.

*Dados estatísticos retirados do Footstats.

Por João Marcos Soares (@JoaoMarcos__)