Na abertura da fase de grupos da Copa Libertadores,
Internacional e The Strongest se enfrentaram pelo Grupo 4, que, mais cedo, teve
o Emelec batendo a Universidad de Chile, em Santiago. The Strongest recebeu o
Colorado com um bom público no Estádio Hernando Silles, na altitude de 3660 da
principal cidade boliviana, La Paz.
Pela primeira fase, The Strongest passou pelo
Monarcas Morelia, atual lanterna do torneio Clausura da Liga MX, o campeonato
mexicano. Na visita ao México, o técnico stronguista,
Nestor Craviotto, escalou um meio-campo recheado de jogadores, em um 4-2-3-1
que tinha Alejandro Chumacero e Ernesto Cristaldo como extremos, além de
Maximiliano Bajter e Raúl Castro como volantes, deixando, Pablo Escobar, a grande estrela do
conjunto gualdinegro livre,
aproximando-se do centroavante Rodrigo Ramallo. O bom 1 a 1 conseguido no
Estadio Morelos deu maior tranquilidade para The Strongest, assim, o argentino
Craviotto optou por sacar um volante, Bajter, deslocando Chumacero para o
centro do meio-campo, sua posição de origem, adicionando um atacante de lado de
campo, Bernardo Cuesta, e mantendo o 4-2-3-1, porém com um meio-campo mais leve
e agressivo, que permitiu ao quadro boliviano a vitória por 2 a 0 contra um
inoperante Monarcas, com mais dois gols de Escobar, que já havia marcado o
tento stronguista no empate, em Morelia.
Contra o Inter, que possui atletas de muita técnica
no setor central, Nestor Craviotto optou novamente por acrescentar um jogador
de meio-campo, sacando Cuesta, e escalando Walter Veizaga, fazendo com que
Chumacero voltasse a fechar o lado do campo sem a bola.
Sem a bola, Escobar e Ramallo ficavam avançados com a
responsabilidade de apertar a saída de bola colorada, enquanto os outros oito
jogadores de linha se dividiam em duas linhas de quatro que marcavam com
bastante intensidade (Reprodução/Fox Sports)
Diego Aguirre, que acenou num primeiro momento com
um 4-2-3-1, que teria Vitinho, Eduardo Sasha e D’Alessandro na linha de três
meias atrás de Nilmar, voltou atrás e já no início da semana deixou claro que
Anderson começaria a partida de estreia do representante gaúcho na
Libertadores. A única dúvida era sobre qual seria a disposição tática do
Colorado em La Paz.
Logo no início da partida, foi possível observar
que a opção mais óbvia foi escolhida por Aguirre. O Inter visitou The Strongest
num 4-1-4-1 parecido com o que Abel Braga utilizava em 2014, com a diferença de
ser muito mais compacto na fase defensiva. Nilton era o único volante,
preenchendo o entrelinhas, enquanto D’Alessandro, Aránguiz, Anderson e Sasha
formavam uma segunda linha de quatro, que marcava surpreendentemente em bloco
bastante baixo, deixando os donos da casa monopolizarem a bola, sem sequer
ensaiar uma pressão no campo adversário.
The Strongest em seu 4-2-3-1, que tinha Escobar livre
para circular sobretudo pela direita do ataque, em espaço aberto pela
centralização de Chumacero, contra um Inter bastante compacto e que não
conseguia (ou não queria) ficar com a bola no primeiro tempo
Pressionando o Inter desde o minuto inicial, The
Strongest criava a maioria de suas oportunidades a partir das investidas de
Pablo Escobar, o jogador mais acionado pelo quadro boliviano, que é mais um
definidor do que um armador, buscando sempre os flancos para executar suas
jogadas individuais, sobretudo pelo lado direito, que lhe permitia partir para
cima dos adversários e buscar a sua afiadíssima perna esquerda para finalizar
contra o gol de Alisson. A participação intensa do capitão gualdinegro na peleja é percebida nas estatísticas finais da
partida. Escobar foi o jogador que mais finalizou a gol (8), mais cruzou bolas
na área (9) e mais perdeu posses de bola (14).
Pelo mapa de movimentação, é possível perceber a
liberdade que Escobar tinha para trabalhar com a bola, optando prioritariamente
por aparecer nos lados do campo (Footstats)
A pressão do conjunto mandante fez com que o placar
já estivesse em 2 a 0 com menos de quinze minutos de jogo. A questão da
ocupação de espaços, tão mencionada por técnicos, jogadores e analistas no
futebol moderno, é essencial para que um time compacto impeça o adversário de
adentrar em sua defesa, porém, de nada adianta a marcação setorial estar
alinhada e compacta se não houver atenção às movimentações do ataque adversário.
O Inter já demonstrou essa fragilidade com Abel Braga e agora, sob o comando de
Diego Aguirre, continua apresentando dificuldade em desfazer o sistema quando
há a necessidade de acompanhar o deslocamento de determinado atleta rival. No
primeiro gol sofrido no Hernando Siles, o lateral Jairzinho Torrico conseguiu
encontrar um passe pelas costas das duas linhas coloradas para Ramallo, que fez
o pivô para a finalização de Cristaldo, brilhantemente defendida por Alisson.
No rebote, a defesa do Inter voltou a demorar para reagir e Chumacero, longe de
sua posição original, completou para o gol.
Defesa do Inter não acompanha movimentação do ataque
adversário, que abriu o placar após Ramallo, Cristaldo e Chumacero conseguirem
tocar na bola dentro da área colorada sem serem incomodados (Reprodução/Fox
Sports)
Após ser dominado durante toda a primeira parte sem
conseguir reagir, Aguirre colocou Vitinho na vaga de Anderson ainda no fim da
etapa inicial, deslocando D’Alessandro para o centro e abandonando o 4-1-4-1
para voltar a um 4-2-3-1 semelhante ao que o treinador uruguaio iniciou a
pré-temporada, em Bento Gonçalves. Tendo os minutos finais do primeiro tempo
para encaixar o esquema e o intervalo para recuperar o fôlego inegavelmente
prejudicado pela altitude, o Colorado voltou melhor para a etapa derradeira,
com Vitinho e Sasha agressivos pelas pontas e D’Alessandro sendo acionado a
todo momento pelo centro do campo. Durante os primeiros minutos de pressão
colorada, o árbitro colombiano Adrián Vélez enxergou um toque de mão de
Cristaldo dentro da área gualdinegra
e apontou para a marca da cal. O capitão D’Alessandro cobrou a penalidade no
alto do canto esquerdo do goleiro Daniel Vaca e diminuiu o marcador.
Conseguindo tomar a iniciativa durante a primeira
metade do segundo tempo, o Internacional teve chances de igualar o placar, sem,
entretanto, ser capaz de empurrar a pelota novamente para o gol de Vaca. Após The Strongest voltar a emparelhar as ações e o ataque colorado tornar a perder
o fôlego e diminuir a velocidade, Aguirre entrou com Rafael Moura na vaga de
Sasha, empurrando uma referência para a área e fazendo com que Nilmar
trabalhasse mais pelo lado direito no 4-2-3-1 do uruguaio.
Situação do jogo e dificuldade de Nilmar em fechar o
lado direito fez o 4-2-3-1 do Inter perder bastante compactação na fase
defensiva, facilitando ainda mais o trabalho do The Strongest, que dominou a
segunda metade da etapa final (Reprodução/Fox Sports)
As entradas de Nelvin Soliz e de Abel Méndez,
promovidos por Nestor Craviotto às vagas de Cristaldo e Ramallo deram um novo
fôlego ao ataque stronguista, que, sempre
sob a batuta do veterano Pablo Escobar, pressionou o Inter contra seu campo e
alcançou o terceiro gol para liquidar a fatura, novamente em chegada de Chumacero
à vulnerável área colorada.
O duelo de La Paz chegou ao seu fim com as duas
equipes montadas em um 4-2-3-1, mas com o Inter esgotado e The Strongest
ignorando o placar favorável e buscando mais gols
Com a vitória, The Strongest assume a liderança do
Grupo 4, seguido do Emelec, que venceu bem a Universidad de Chile fora de casa.
O Internacional tem inegavelmente o melhor elenco do grupo, mas The Strongest e
Emelec conseguiram manter e reforçar seus bons times, chegando fortes na
disputa pela classificação em um dos grupos mais equilibrados desta edição da
Libertadores, apesar de La U estar claramente um nível abaixo dos outros
concorrentes da chave.
*Dados estatísticos retirados do Footstats.
Por João Marcos Soares (@JoaoMarcos__)