sábado, 21 de fevereiro de 2015

River Plate "até foi bem" na altitude, mas não o suficiente para vencer a equipe do San José

A altitude sempre foi considerado um verdadeiro temor para as equipes que necessitam enfrentar adversários residentes em terrenos muito acima do nível do mar. Cada time, à sua maneira, busca se preparar para enfrentar esse adversário que quase sempre complica mais do que a própria equipe adversária. E foi isso o que a equipe do River fez, buscando por exemplo o auxílio de uma câmara hiperbárica para verificar quais jogadores estariam aptos fisicamente para enfrentar a altitude, tendo como resultado o barramento de jogadores como Téo Gutiérrez e Vangioni, dois dos principais jogadores dos Millonarios, considerados não aptos segundo o teste. Mesmo assim, a equipe, que até se comportou bem durante boa parte do jogo, sucumbiu perante a equipe do San José.

O time da casa veio armado em um 4-3-1-2 que, por conta das movimentações de Juárez e Verdugez mostrava-se muitas vezes em algo mais parecido com um 3-4-1-2. Essa movimentação ocorria quando a equipe estava com a posse de bola, já que Juarez adiantava-se pela direita como um ala, alinhando-se aos volantes na saída de bola e buscando o fundo quando a jogava aproximava-se da sua conclusão, e, pela esquerda, Verdugez saía de seu posicionamento inicial de vértice esquerdo do tripé, e abria, alargando assim o campo buscando o fundo sempre que possível, ressaltando que as chegadas a linha de fundo da dupla era feita de maneira alternada, sempre descendo o "ala" do setor em que estava a bola. Com isso, Ovando e Zaballa ficavam mais presos, com o trio Loaiza, Orué e Bustamante a frente dos mesmos, onde o primeiro ficava mais recuado, centralizado, tendo logo a sua frente Orué e Bustamante, dupla que buscava se movimentar bastante, sempre com um procurando o outro.

San José no seu 4-3-1-2 que, por conta de sua dinâmica, muitas vezes parecia um 3-4-1-2, com Verdugez e Juárez funcionando como uma espécie de "alas"

Sem a bola a equipe boliviana fechava-se no já citado acima 4-3-1-2, com o trio Zaballa, Ovando e Verdugez fechando a frente da linha defensiva da equipe. Como realizava marcação individual por setor, muitas vezes Verdugez e Zaballa não faziam o balanço defensivo de maneira correta, principalmente o segundo. Durante boa parte do tempo, efetuava-se a marcação pressão em bloco alto, o que fez com que Orué e Bustamante participassem ativamente da primeira parte da ação defensiva da equipe, pressionando a saída de bola adversária ainda em seu campo de defesa.

Já o River, provavelmente por conta dos desfalques, teve seu sistema alterado para o 4-3-2-1, a famosa "árvore de natal" popularizada por Ancelotti, que tinha sua dupla de laterais mais contida, apoiando timidamente. A linha de 3 foi composta por Ponzio, este mais recuado, centralizado, contando com a companhia de Sanchez pela direita e Mayada pela esquerda. Mayada por sinal exercia dupla função, fechando essa linha de 3 sem a bola, mas, quando a equipe recuperava a posse, avançava, alinhando-se a Martínez e Pisculichi, embora ficasse mais fixo no lado esquerdo do campo. Martínez e Pisculichi mostravam muita movimentação principalmente na região central, buscando sempre o espaço as linhas de defesa e meio campo da equipe adversária para ter a bola e criar perigo, principalmente na busca do homem mais avançado da equipe, Mora, outro que apresentou boa movimentação, embora tivesse ficado mais pela região central.

 
 River Plate no 4-3-2-1, com Martinez e Pisculichi se movimentando muito e Mayada se juntando a dupla pela esquerda

Sem a bola o River se fechava no 4-3-2-1, marcando por zona e executando marcação pressão somente a partir da linha de meio campo, algo totalmente justificável por conta da altitude, já que a equipe normalmente exerce essa pressão ainda em campo ofensivo. Um detalhe que é importante ressaltar é a função da dupla de meias, Pisculichi e Martínez, quando a equipe não tinha a bola. Dependendo do lado em que a bola estivesse, Pisculichi ou Martínez se aproximavam do tripé de volantes, auxiliando na diminuição do espaço e na pressão para a retomada da posse da bola.

 Na imagem acima, o 4-3-2-1 do River sem a bola. Percebe-se claramente o trio de volantes recebendo o auxílio do jogador da dupla de meias que se encontrava próximo ao setor da bola, auxiliando na diminuição de espaço(Reprodução: Fox Sports)

O primeiro tempo iniciou-se com as equipes já mostrando suas estratégias, com a equipe argentina buscando se segurar mais, marcando somente a partir do meio de campo e, ao retomar a posse da mesma, sair devagar, tocando a bola, sem buscar uma transição mais rápida, contando principalmente com Martínez para perturbar a defesa adversária. Já o San José apostava na velocidade pelos lados com Verdugez e Juarez, já que pelo meio a equipe não apresentava tanta qualidade, errando muitos passes. Com isso, a equipe, que até apresentava bom volume de jogo, só conseguia levar perigo maior através dos cruzamentos em busca da sua dupla de ataque. Ambas as equipes levaram algum perigo, porém, nenhuma conseguiu ser efetiva em suas conclusões.

O segundo tempo iniciou-se com o San José impondo maior velocidade também pela região central, muito graças a um Loaiza bem mais esperto no jogo e participativo, vindo buscar a bola nos pés dos volantes e buscando constantemente auxiliar tanto os alas quanto a dupla de ataque. Porém, com a equipe ainda não conseguindo ter sucesso nas conclusões, o técnico Teodoro Cardenas realizou a sua primeira substituição, colocando Reyes no lugar de Juarez. Assim, a equipe manteve a estrutura mas apresentou alterações na dinâmica. Agora, era Verdugez quem ocupava a lateral esquerda, porém,
provavelmente por conta do treinador da equipe ter percebido o cansaço de Mercado, o agora lateral manteve a sua atitude mais incisiva no ataque, contando sempre com o auxílio de Reyes, também aberto pela esquerda, porém, um pouco mais adiantado.

Já Marcelo Gallardo, percebendo a intenção do treinador adversário, rapidamente sacou Pisculichi, que pouco estava ajudando defensivamente, e colocou Solari, abrindo o mesmo como um winger direito, deixando Martínez e Mora mais adiantados, com Martínez circulando no espaço por trás de Mora, e Mayada como winger esquerdo. O treinador também efetuou outra substituição, colocando Urribarri no lugar de Pezzella, que saiu machucado. Ainda houve mais uma mudança na equipe, dessa vez de postura, com a mesma passando a avançar as linhas, buscando roubar a bola mais próximo da área adversária para ter mais chances de concluir em melhor condição.

Necessitando da vitória em casa, já que fora provavelmente a equipe do San José irá sofrer, o treinador do San José queimou suas duas últimas substituições, colocando Ferreira e Valverde nas vagas de Loaiza e Zaballa. Com isso, Ferreira abriu na direita e Valverde ficou na de Zaballa, quebrando a organização da equipe que mais necessitava da vitória, por conta das circunstâncias, e, ele veio. Reyes, que já havia ganho de Soldado, chegou a linha de fundo pela esquerda sem ser pressionado e cruzou, Orué, que subiu sozinho, marcou o primeiro gol da equipe boliviana, que ainda teve todo seu esforço novamente premiado com mais um gol, dessa vez de falta, marcado por Valverde. O técnico Marcelo Gallardo ainda tentou uma última mudança no intervalo do primeiro pro segundo gol, colocando Cavenaghi na vaga de Sanchez, organizando a equipe no seu tradicional 4-3-1-2, porém, não surtiu efeito.

Equipes em suas formações finais: River no 4-3-1-2 buscando o empate, sem sucesso, e San José em um desorganizado 4-4-2, que tinha Reyes e Ferreya incisivos no ataque, além das subidas constantes de Verdugez

A vitória deve ser amplamente comemorada pelo time do San José, afinal, a equipe, que sonha com a classificação para as oitavas de final, provavelmente tem conhecimento de suas limitações e sabe que, para alcançar esse objetivo, necessita dos 3 pontos conquistados em casa para mantê-lo vivo. 
"Estamos arrancando para um sonho". As palavras ditas pelo goleiro Barovero a equipe do River pouco antes da mesma entrar em campo resumem bem a ambição da equipe. Time, e técnico, pra isso tem. A derrota nessa partida deve ser considerada pelo time apenas um "acidente de percurso", já que a equipe, que é uma das principais favoritas para conquistar o título, tem totais condições de dar a volta por cima e fazer uma grande Taça Libertadores.

Por Andrey Hugo(@Andrey_Hugo)