Na iminência de perder seis pontos no Campeonato
Catarinense pela escalação irregular de Antônio Carlos contra o Marcílio Dias,
o Avaí, já fora do hexagonal semifinal e com vaga garantida no quadrangular que
definirá os dois rebaixados do estadual, recebeu o Figueirense, na Ressacada,
para o clássico de maior rivalidade em Santa Catarina.
Após três temporadas, os rivais da capital voltam a
figurar juntos na elite do futebol nacional, e enquanto o Brasileirão não
começa, os clubes vão se formando durante o campeonato estadual e vivem
momentos extremamente opostos. Antes mesmo da notícia de que Antônio Carlos
fora escalado sem contrato validado, o Avaí já fazia uma campanha muito
insatisfatória, enquanto o Figueirense manteve uma regularidade desde o início
da competição e garantiu a classificação para o hexagonal com três rodadas de
antecipação.
Geninho, que modificou o Avaí várias vezes buscando
uma escalação ideal, voltou ao 4-3-1-2 da temporada passada e do início do
catarinense e o Avaí conseguiu uma vitória fora contra o Marcílio Dias e foi
buscar um empate também fora contra o Guarani de Palhoça, com um a menos desde
o fim do primeiro tempo. Contra o Figueirense, o treinador teve a aguardada
volta do capitão Marquinhos, que cumpriu suspensão nas primeiras sete rodadas
da competição por uma confusão em um clássico no ano passado. Com o camisa 10,
a torcida avaiana teve as suas esperanças renovadas, já que Renan Oliveira, o
atleta que ocupava a posição até aqui, ainda não havia agradado. Na frente, a
dupla entre o jovem Anderson Lopes, artilheiro do time, e o experiente André
Lima parece estar se consolidando como a titular do conjunto azurra pelo menos
para o estadual, assim como a trinca de volantes, com Uelliton na proteção e Claudinei
e Tinga nas vértices laterais do losango de meio-campo, pelo menos enquanto
Eduardo Costa não retorna de lesão.
No Figueirense, Argel Fucks demorou a encontrar um
time após algumas perdas importantes que ocorreram com relação ao grupo da
temporada passada, como Tiago Volpi, Marco Antônio, Giovanni Augusto, Rivaldo, Felipe
e Pablo, além do lateral Roberto Cereceda, que voltara para a Universidad de
Chile após o término de seu empréstimo, mas, após dois meses, conseguiu a rescisão
com o clube chileno e acertou a volta ao Figueirense, embora ainda não tenha feito
a reestreia. Quanto ao esquema tático, Argel tentou um losango de meio-campo
durante as primeiras rodadas, mas, pela falta de um jogador com as características
de enganche, o técnico modificou para o 4-2-3-1 e o conjunto alvinegro encaixou
uma sequência de boas apresentações. Sem os titulares Marquinhos Pedroso e
Ricardinho para o clássico, o Figueirense improvisou o lateral-direito William
Cordeiro na esquerda, enquanto Fabinho fez sua estreia como titular na vaga de
Ricardinho. A ideia de ter Fabinho, segundo Argel, era para compor uma trinca
de volantes com Paulo Roberto e França para espelhar o meio-campo do rival, já
que o técnico considerava que o jogo seria truncado no setor central e era por
ali que o duelo seria definido. No ataque, os três atacantes foram mantidos,
mas a dinâmica da transição defensiva passou a ser diferente. Sem Ricardinho,
Mazola tinha a responsabilidade de centralizar para trabalhar na intermediária
ofensiva com a bola e, sem ela, o camisa 10 auxiliava Marcão no primeiro
combate, enquanto Clayton acompanhava a subida de Pablo e formava uma segunda
linha de quatro no meio-campo, que tinha Fabinho fechando a direita e Paulo
Roberto e França centralizados.
Avaí foi a campo com seu losango habitual, mas com a
importante volta de Marquinhos, enquanto o Figueirense trabalhou no 4-3-3, com
três volantes e com Clayton acompanhando a subida de Pablo pela direita para
formar uma segunda linha de quatro sem a bola
Logo aos três minutos, o Figueira abriu o placar da
Ressacada, em jogada de Clayton na ponta-direita. O garoto partiu pra cima de
Pablo e foi pra linha de fundo, quando cruzou para Mazola completar e inaugurar
o marcador. O gol alvinegro não abalou o Avaí emocionalmente, e o time da casa
manteve a tranquilidade para passar a controlar o jogo. Com Marquinhos ainda
sem ritmo, mas sendo diferenciado dentro de um time de poucos talentos, o
quadro azurra finalmente tinha alguém para controlar a bola, pensar o jogo e tomar
as decisões. Mesmo assim, o confronto continuava bastante truncado no
meio-campo e com poucas jogadas perigosas criadas por ambos os times, apesar do
ligeiro domínio avaiano, até que, após os 20 minutos, os jovens William
Cordeiro e Anderson Lopes se desentenderam no meio-campo, iniciando uma
confusão generalizada, que manteve o jogo parado por vários minutos. Sandro
Meira Ricci, irritado com a confusão que os dois jogadores causaram, expulsou
ambos, mudando consideravelmente a história do clássico.
Com a perda de um jogador de ataque, Geninho apenas
adiantou Marquinhos para trabalhar mais perto de André Lima à frente, mantendo
a estrutura defensiva com os três volantes, enquanto Argel, que perdeu seu
lateral-esquerdo, teve mais dificuldades para acertar seu time novamente. De
imediato, Leandro Silva foi fazer a lateral-esquerda, enquanto Fabinho recuou
para a direita. Como Willian Rocha apoia pouco pela esquerda e o Avaí
continuava com três jogadores no meio-campo, Argel preferiu manter Mazola
fazendo a marcação dos volantes adversários, enquanto Clayton fechava a linha
de meio-campo com França e Paulo Roberto.
Com as expulsões, os times se reestruturaram em campo
e o Avaí saiu mais forte
A ideia de Argel não deu muito certo, já que
Willian Rocha e Tinga começaram a explorar o aberto lado direito da defesa
alvinegra. A segunda metade do primeiro tempo, com dez pra cada lado, foi
totalmente avaiana, inclusive com André Lima desperdiçando uma preciosa
oportunidade de igualar o placar. Ainda no fim do primeiro tempo, Paulo Roberto
sentiu uma lesão e precisou ser substituído. Aproveitando a lesão, Argel
recompôs o lado direito da defesa, com a entrada de Yago para fazer a lateral,
possibilitando a volta de Fabinho ao meio. A substituição não mudou o panorama,
já que Yago não tinha companhia na marcação pela direita, e o Avaí continuou
atacando até o final da primeira etapa.
Na segunda parte, Argel corrigiu o posicionamento e
Mazola passou a fechar um dos extremos, assim como Clayton, equilibrando a
linha de meio-campo. O Figueirense continuou dando a bola para o Avaí e
utilizando os contragolpes para atacar, porém, melhor alinhado, passou a
dificultar a infiltração do rival. Aos dez minutos, Marquinhos cobrou falta e
acertou a barreira. No rebote, o próprio camisa 10 finalizou de primeira no canto de Alex Santana para empatar a partida na Ressacada.
Após o empate, o Avaí continuou monopolizando a
bola, mas parou de criar oportunidades de gol. O Figueirense, por sua vez,
conseguiu o espaço que tanto procurava para explorar os contra-ataques, porém
pecava nas tomadas de decisões e, até quando acertava e deixava alguém em
condições de finalizar, desperdiçava as chances, como em situação que Mazola
saiu de frente para Vágner, mas acabou adiantando demais a bola no domínio e
foi interceptado pelo goleiro.
O centroavante Marcão torceu o tornozelo e foi
substituído pelo jovem Carlos Henrique pelo lado do Figueirense, mantendo a
estrutura tática. No Avaí, Geninho promoveu Rômulo à vaga de Willian Rocha,
transformando Tinga em lateral-esquerdo e posicionando a revelação avaiana no
meio-campo para dar maior agressividade ao quadro azurra. Com a bola, Rômulo se
aproximava de André Lima para trabalhar como atacante e dar opções para Marquinhos
à frente.
Com a marcação mais acertada, Figueirense fechou um 4-4-1
sem a bola, enquanto o Avaí se preocupava quase que exclusivamente em tentar
atacar, oferecendo o contragolpe para o rival, que não soube aproveitar
Na fase final do clássico, o Avaí passou a
pressionar e criar oportunidades, assustando e fazendo com que Alex Santana
precisasse trabalhar. Dudu entrou na vaga de Clayton para renovar o fôlego na
marcação e na puxada de contra-ataque, enquanto Renan Oliveira substituiu o esgotado
Marquinhos e Jéci entrou no lugar de Uelliton para aumentar o poderio avaiano
na bola aérea. Apesar de tentar, o Avaí não conseguiu chegar ao gol da vitória
e o clássico acabou empatado na Ressacada.
Após uma semana de muitas provocações fora de
campo, sobretudo por parte das torcidas, o clássico foi polêmico, porém leal
dentro das quatro linhas, em que pese o tumulto no primeiro tempo causado pela
discussão entre William Cordeiro e Anderson Lopes. Após a partida, as
provocações continuaram, com Marquinhos e França alfinetando os respectivos
rivais com gestos ou palavras, o que faz bem para o futebol e alimenta a
rivalidade mais importante de Santa Catarina. Como o Avaí está eliminado da
disputa pelo título e terá de lutar contra o rebaixamento no quadrangular, o
clássico de domingo foi o único do Campeonato Catarinense e, agora, os times de
Florianópolis só voltarão a se enfrentar no Brasileirão, que se inicia em maio.
Por João Marcos Soares (@JoaoMarcos__)