segunda-feira, 2 de março de 2015

Em clássico cheio de provocações de ambos os lados, Figueirense e Avaí também ficam iguais no placar

Na iminência de perder seis pontos no Campeonato Catarinense pela escalação irregular de Antônio Carlos contra o Marcílio Dias, o Avaí, já fora do hexagonal semifinal e com vaga garantida no quadrangular que definirá os dois rebaixados do estadual, recebeu o Figueirense, na Ressacada, para o clássico de maior rivalidade em Santa Catarina.

Após três temporadas, os rivais da capital voltam a figurar juntos na elite do futebol nacional, e enquanto o Brasileirão não começa, os clubes vão se formando durante o campeonato estadual e vivem momentos extremamente opostos. Antes mesmo da notícia de que Antônio Carlos fora escalado sem contrato validado, o Avaí já fazia uma campanha muito insatisfatória, enquanto o Figueirense manteve uma regularidade desde o início da competição e garantiu a classificação para o hexagonal com três rodadas de antecipação.

Geninho, que modificou o Avaí várias vezes buscando uma escalação ideal, voltou ao 4-3-1-2 da temporada passada e do início do catarinense e o Avaí conseguiu uma vitória fora contra o Marcílio Dias e foi buscar um empate também fora contra o Guarani de Palhoça, com um a menos desde o fim do primeiro tempo. Contra o Figueirense, o treinador teve a aguardada volta do capitão Marquinhos, que cumpriu suspensão nas primeiras sete rodadas da competição por uma confusão em um clássico no ano passado. Com o camisa 10, a torcida avaiana teve as suas esperanças renovadas, já que Renan Oliveira, o atleta que ocupava a posição até aqui, ainda não havia agradado. Na frente, a dupla entre o jovem Anderson Lopes, artilheiro do time, e o experiente André Lima parece estar se consolidando como a titular do conjunto azurra pelo menos para o estadual, assim como a trinca de volantes, com Uelliton na proteção e Claudinei e Tinga nas vértices laterais do losango de meio-campo, pelo menos enquanto Eduardo Costa não retorna de lesão.

No Figueirense, Argel Fucks demorou a encontrar um time após algumas perdas importantes que ocorreram com relação ao grupo da temporada passada, como Tiago Volpi, Marco Antônio, Giovanni Augusto, Rivaldo, Felipe e Pablo, além do lateral Roberto Cereceda, que voltara para a Universidad de Chile após o término de seu empréstimo, mas, após dois meses, conseguiu a rescisão com o clube chileno e acertou a volta ao Figueirense, embora ainda não tenha feito a reestreia. Quanto ao esquema tático, Argel tentou um losango de meio-campo durante as primeiras rodadas, mas, pela falta de um jogador com as características de enganche, o técnico modificou para o 4-2-3-1 e o conjunto alvinegro encaixou uma sequência de boas apresentações. Sem os titulares Marquinhos Pedroso e Ricardinho para o clássico, o Figueirense improvisou o lateral-direito William Cordeiro na esquerda, enquanto Fabinho fez sua estreia como titular na vaga de Ricardinho. A ideia de ter Fabinho, segundo Argel, era para compor uma trinca de volantes com Paulo Roberto e França para espelhar o meio-campo do rival, já que o técnico considerava que o jogo seria truncado no setor central e era por ali que o duelo seria definido. No ataque, os três atacantes foram mantidos, mas a dinâmica da transição defensiva passou a ser diferente. Sem Ricardinho, Mazola tinha a responsabilidade de centralizar para trabalhar na intermediária ofensiva com a bola e, sem ela, o camisa 10 auxiliava Marcão no primeiro combate, enquanto Clayton acompanhava a subida de Pablo e formava uma segunda linha de quatro no meio-campo, que tinha Fabinho fechando a direita e Paulo Roberto e França centralizados.

Avaí foi a campo com seu losango habitual, mas com a importante volta de Marquinhos, enquanto o Figueirense trabalhou no 4-3-3, com três volantes e com Clayton acompanhando a subida de Pablo pela direita para formar uma segunda linha de quatro sem a bola

Logo aos três minutos, o Figueira abriu o placar da Ressacada, em jogada de Clayton na ponta-direita. O garoto partiu pra cima de Pablo e foi pra linha de fundo, quando cruzou para Mazola completar e inaugurar o marcador. O gol alvinegro não abalou o Avaí emocionalmente, e o time da casa manteve a tranquilidade para passar a controlar o jogo. Com Marquinhos ainda sem ritmo, mas sendo diferenciado dentro de um time de poucos talentos, o quadro azurra finalmente tinha alguém para controlar a bola, pensar o jogo e tomar as decisões. Mesmo assim, o confronto continuava bastante truncado no meio-campo e com poucas jogadas perigosas criadas por ambos os times, apesar do ligeiro domínio avaiano, até que, após os 20 minutos, os jovens William Cordeiro e Anderson Lopes se desentenderam no meio-campo, iniciando uma confusão generalizada, que manteve o jogo parado por vários minutos. Sandro Meira Ricci, irritado com a confusão que os dois jogadores causaram, expulsou ambos, mudando consideravelmente a história do clássico.

Com a perda de um jogador de ataque, Geninho apenas adiantou Marquinhos para trabalhar mais perto de André Lima à frente, mantendo a estrutura defensiva com os três volantes, enquanto Argel, que perdeu seu lateral-esquerdo, teve mais dificuldades para acertar seu time novamente. De imediato, Leandro Silva foi fazer a lateral-esquerda, enquanto Fabinho recuou para a direita. Como Willian Rocha apoia pouco pela esquerda e o Avaí continuava com três jogadores no meio-campo, Argel preferiu manter Mazola fazendo a marcação dos volantes adversários, enquanto Clayton fechava a linha de meio-campo com França e Paulo Roberto.

Com as expulsões, os times se reestruturaram em campo e o Avaí saiu mais forte

A ideia de Argel não deu muito certo, já que Willian Rocha e Tinga começaram a explorar o aberto lado direito da defesa alvinegra. A segunda metade do primeiro tempo, com dez pra cada lado, foi totalmente avaiana, inclusive com André Lima desperdiçando uma preciosa oportunidade de igualar o placar. Ainda no fim do primeiro tempo, Paulo Roberto sentiu uma lesão e precisou ser substituído. Aproveitando a lesão, Argel recompôs o lado direito da defesa, com a entrada de Yago para fazer a lateral, possibilitando a volta de Fabinho ao meio. A substituição não mudou o panorama, já que Yago não tinha companhia na marcação pela direita, e o Avaí continuou atacando até o final da primeira etapa.

Na segunda parte, Argel corrigiu o posicionamento e Mazola passou a fechar um dos extremos, assim como Clayton, equilibrando a linha de meio-campo. O Figueirense continuou dando a bola para o Avaí e utilizando os contragolpes para atacar, porém, melhor alinhado, passou a dificultar a infiltração do rival. Aos dez minutos, Marquinhos cobrou falta e acertou a barreira. No rebote, o próprio camisa 10 finalizou de primeira no canto de Alex Santana para empatar a partida na Ressacada.

Após o empate, o Avaí continuou monopolizando a bola, mas parou de criar oportunidades de gol. O Figueirense, por sua vez, conseguiu o espaço que tanto procurava para explorar os contra-ataques, porém pecava nas tomadas de decisões e, até quando acertava e deixava alguém em condições de finalizar, desperdiçava as chances, como em situação que Mazola saiu de frente para Vágner, mas acabou adiantando demais a bola no domínio e foi interceptado pelo goleiro.

O centroavante Marcão torceu o tornozelo e foi substituído pelo jovem Carlos Henrique pelo lado do Figueirense, mantendo a estrutura tática. No Avaí, Geninho promoveu Rômulo à vaga de Willian Rocha, transformando Tinga em lateral-esquerdo e posicionando a revelação avaiana no meio-campo para dar maior agressividade ao quadro azurra. Com a bola, Rômulo se aproximava de André Lima para trabalhar como atacante e dar opções para Marquinhos à frente.

Com a marcação mais acertada, Figueirense fechou um 4-4-1 sem a bola, enquanto o Avaí se preocupava quase que exclusivamente em tentar atacar, oferecendo o contragolpe para o rival, que não soube aproveitar

Na fase final do clássico, o Avaí passou a pressionar e criar oportunidades, assustando e fazendo com que Alex Santana precisasse trabalhar. Dudu entrou na vaga de Clayton para renovar o fôlego na marcação e na puxada de contra-ataque, enquanto Renan Oliveira substituiu o esgotado Marquinhos e Jéci entrou no lugar de Uelliton para aumentar o poderio avaiano na bola aérea. Apesar de tentar, o Avaí não conseguiu chegar ao gol da vitória e o clássico acabou empatado na Ressacada.

Após uma semana de muitas provocações fora de campo, sobretudo por parte das torcidas, o clássico foi polêmico, porém leal dentro das quatro linhas, em que pese o tumulto no primeiro tempo causado pela discussão entre William Cordeiro e Anderson Lopes. Após a partida, as provocações continuaram, com Marquinhos e França alfinetando os respectivos rivais com gestos ou palavras, o que faz bem para o futebol e alimenta a rivalidade mais importante de Santa Catarina. Como o Avaí está eliminado da disputa pelo título e terá de lutar contra o rebaixamento no quadrangular, o clássico de domingo foi o único do Campeonato Catarinense e, agora, os times de Florianópolis só voltarão a se enfrentar no Brasileirão, que se inicia em maio.

Por João Marcos Soares (@JoaoMarcos__)