Após a pausa para a data-FIFA, o torneio Clausura
da Liga MX retornou a todo vapor, com jogos importantes na luta contra o
descenso e pela classificação à Liguilla, além de dois dérbis regionais dos
mais importantes do futebol mexicano. No Estadio Azteca, mais de 74 mil pessoas
acompanharam o 161º Clásico Joven,
entre America e Cruz Azul, enquanto, um pouco mais tarde, o Atlas recebeu o
Chivas para a 213ª edição do Clásico
Tapatío, que movimenta a cidade de Guadalajara e levou mais de 52 mil
fanáticos ao Estadio Jalisco.
Clásico Joven é marcado por muito
nervosismo e pouco futebol
Na capital, America e Cruz Azul se enfrentaram pela
parte de cima da tabela, separados por apenas um ponto de vantagem para os cementeros. Pressionado pelos ótimos trabalhos
recentes de Miguel “Piojo” Herrera e Antonio “Turco” Mohamed à frente do
America, Gustavo Matosas vem recebendo muitas críticas da imprensa mexicana e
um resultado positivo no clássico seria importante para aliviar a barra do
treinador da nova geração uruguaia, que fez um grande trabalho ao trazer o León
da Liga Ascenso e conquistar dois títulos nacionais de primeira divisão em um
intervalo de três anos.
O America, que teve o goleiro Hugo González
substituindo o titular Moisés Muñoz, foi a campo no 4-2-3-1, com Osvaldo
Martínez e Daniel Guerrero formando o doble
pivote à frente da defesa, Rubens Sambueza e Michael Arroyo trabalhando
como extremos e Darwin Quintero sendo o ponta-de-lança que se posicionava atrás
de Oribe Peralta e atacava os espaços abertos pela movimentação do centroavante,
trocando de posição constantemente com Sambueza, que por vezes ocupava o setor
central da linha dos três abastecedores de Peralta.
O Cruz Azul do não menos pressionado Luiz Fernando
Tena visitou as Águilas em um 4-3-3,
com a linha de quatro defensores que tinha Gerardo Flores como um lateral que
avançava com frequência pela direita enquanto Fausto Pinto era mais contido no
lado oposto, permanecendo por vezes com os dois zagueiros para liberar Flores
para alargar o campo pela direita e dar amplitude à Máquina Cementera. Na trinca de meio-campistas, o veterano Gerardo
Torrado ficava na contenção, enquanto Xavier Baez e Rafael Baca trabalhavam
como interiores. À frente, “Flaco” Tena optou por deixar o jogador mais bem
pago do futebol mexicano, Roque Santa Cruz, no banco de reservas, já que a fase
técnica do Paraguaio não é das melhores e fisicamente o jogador não se
encontrava em suas melhores condições. O brasileiro Alemão, que chegou para
compor elenco e tem feito a diferença em algumas partidas, foi o escolhido para
ser a referência no ataque, que também tinha Chistian Giménez pelo lado
esquerdo e Mauro Formica pela direita. A dinâmica do posicionamento do “Gato”
Formiga era interessante, já que ele auxiliava na marcação pelo lado direito do
ataque e, quando da posse de bola cementera,
o argentino geralmente centralizava para trabalhar como enganche e ocupar o buraco
entre as espaçadas linhas de marcação do America.
America e Cruz Azul se enfrentaram em sistemas
diferentes, mas dinâmica defensiva bem mexicana: sistemas espaçados com
encaixes individuais e pressão no portador da bola
O primeiro tempo foi de ligeira superioridade do
conjunto visitante, já que o America tentava impor seu jogo no campo de ataque
e deixava muitos espaços a serem explorados na sua defesa. O já citado buraco
entrelinhas foi aproveitado por Formica em algumas oportunidades, mas o
argentino falhava no último passe ou na finalização: teve duas oportunidades
claras de frente para o goleiro González e desperdiçou ambas. O America tinha o
domínio territorial exercido pela maior posse de bola, mas não conseguia criar
oportunidades, com um Paul Aguilar pouco presente no ataque, sobrecarregando
Sambueza, o melhor americanista na
primeira parte, pela direita.
Raro momento em que as duas linhas de quatro da fase
defensiva do America estavam próximas, com Quintero fechando o flanco direito
em momento de troca de função com Sambueza (Reprodução/Televisa)
Não menos espaçada, a Máquina marcava
com linha de quatro, três jogadores de meio-campo e três homens à frente para
combater a saída de bola (Reprodução/Televisa)
Sem mudanças, as equipes voltaram para o segundo tempo
e o America logo abriu o placar na pressão inicial que conseguiu impor nos
primeiros minutos, com Oribe Peralta finalizando precisamente de cabeça como
lhe é de praxe e vencendo JJ Corona, após ótimo cruzamento de Sambueza. O gol
de Oribe foi um duro golpe para as pretensões cementeras e o America conseguiu ter ainda maior domínio
territorial no decorrer da segunda parte.
“Flaco” Tena logo recorreu à sua estrela para
tentar mudar o panorama do dérbi, com Roque Santa Cruz entrando na vaga do
improdutivo “Chaco” Giménez, que saiu com dores na coxa. A mudança fez Alemão
deixar a referência e começar a trabalhar mais pelo lado esquerdo do ataque,
provocando, pois, o melhor momento do Cruz Azul no segundo tempo, com alguns minutos
de boas oportunidades criadas no par Brasil-Argentina formado pelo ex-atacante
da Portuguesa e Mauro Formica, que acertava na movimentação, mas errava nas
tomadas de decisões. Tena também entrou com Rogelio Chávez e Alejandro Vela nos
lugares de Rafa Baca e Xavi Baez, procurando dar maior chegada ao ataque à
dupla de meio-campistas interiores, sem mudar, portanto, a disposição tática da
equipe.
O America logo retomou o controle da partida,
quando Matosas passou a trabalhar com uma linha de cinco na defesa, promovendo
o defensor Ventura Alvarado à vaga de Darwin Quintero, fazendo as Águilas passarem a trabalhar num 3-4-3,
que virava 5-4-1 na fase defensiva. O centroavante argentino Darío Benedetto
também foi a campo, substituindo Peralta.
Matosas mudou sem time para defender o resultado e não
só conseguiu, como voltou a ter o domínio do duelo
A segunda metade da etapa complementar foi do
America, que levou perigo ao gol de “Chuy” Corona, destaque individual do Cruz
Azul, que passou a cair nas provocações do rival e não manejou mais se
encontrar na partida para reverter o marcador ou buscar pelo menos um empate. O
Clásico Joven não foi brilhante
tecnicamente e muito menos taticamente, mas serviu para o atual campeão America
recuperar um pouco da confiança perdida com as últimas derrotas para
adversários de menor expressão e encaminhar sua classificação para o mata-mata
do futebol mexicano, que se aproxima. As derrotas dos líderes Tijuana e Veracruz
na rodada mantêm as esperanças das Águilas
de alcançá-los e buscar novamente a melhor campanha da fase regular do
Campeonato Mexicano deste segundo semestre de temporada, enquanto o Cruz Azul,
agora em sexto, vê os adversários se aproximarem e sente a necessidade de se
reerguer para não ter sua vaga ameaçada.
No Jalisco,
o Clásico Tapatío foi digno de sua
história
Com a separação de Jorge Vergara, dono do Chivas
Guadalajara, de sua esposa, Angelica Fuentes, que foi destituída do controle do
Grupo Omnilife-Angelíssima-Chivas e, consequentemente, da diretoria
administrativa do clube, o Rebaño Sagrado
volta a estar sob o controle absoluto de seu proprietário e, em meio a uma
crise administrativa, visitou o Estadio Jalisco para medir forças com seu
principal rival local, o Atlas.
Além dos problemas administrativos, o Chivas ainda
enfrenta a luta contra o descenso, já que vem de temporadas muito abaixo de sua
história e o sistema de rebaixamento pela média das campanhas das últimas três
temporadas coloca o gigante do futebol mexicano com chances de cair para a Liga
Ascenso, ao mesmo tempo que luta pelo título do Clausura da Liga MX, já que a
campanha no torneio deste segundo semestre da temporada é muito boa sob o
comando de José Manuel de la Torre.
As identidades de Atlas e Chivas possibilitavam aos
fãs do futebol mexicano esperarem por um clássico bem disputado, já que os
times de Guadalajara trabalham com sistemas de jogo compactos e aplicam um
estilo de jogo intenso, que se encaixa quando se enfrentam. “Chepo” de la Torre
escalou o Chivas no 4-2-3-1, com apoio constante dos laterais, doble pivote de forte marcação, mas nem
tanta chegada ao ataque, com Carlos Salcido dando segurança à defesa e Israel
Castro marcando um pouco mais de presença no terço ofensivo. A linha de três
meias é o destaque do conjunto rojiblanco,
Com Marco Fabián e Isaác Brizuela sendo agressivos pelos extremos e Carlos
Fierro trabalhando como mediapunta
atrás do centroavante, o capitão Omar Bravo, que dava mobilidade ao ataque e
abria espaços para a infiltração dos três meias, como aconteceu no gol das chivas, logo aos 10 minutos, quando
Bravo se deslocou e permitiu que “Carlitos” Fierro entrasse nas costas dos
defensores na diagonal do centro para a direita e conseguisse fazer o passe
para o próprio capitão empurrar a bola para as redes de Federico Vilar.
Tomás Boy, que tem de administrar seu plantel entre
a Libertadores e o Clausura, levou a campo um “onze” diferente, já que não pôde
contar com o parceiro de zaga de Walter Kannemann, o suspenso Luis Venegas, e
dois atletas importantíssimos do meio-campo rojinegro,
o homem da proteção da defesa e que inicia as jogadas do conjunto zorro, Juan Pablo Rodríguez, que também
é o maior artilheiro do Atlas na história do clássico, além do capitão Rodrigo
Millar, que voltou com um desconforto da data-FIFA, onde foi titular nas duas
partidas pela seleção chilena, contra Irã e Brasil, e foi poupado para a Libertadores. Apesar dos desfalques, “El
Jefe” Boy manteve o 4-3-3 tradicional da temporada, com Aldo Leao Ramírez na
função de “Chato” Rodríguez e Juan Carlos Medina e Arturo González completando
a trinca de meio-campo como volantes interiores. Nos extremos, Nery Caballero
era o homem de força para trabalhar pela esquerda, enquanto Edy Brambila
tentava dar velocidade pelo flanco oposto, com Christian Suárez operando como centroavante entre os defensores do Chivas.
Compactos e intensos, Atlas e Chivas dividiram o
protagonismo durante a primeira parte
Zorros fechavam suas duas linhas de quatro com Aldo
Leao no entrelinhas e, neste frame, já com Carlos Arreola no lugar de Pablo
Mascareñas, substituído ainda na primeira etapa (Reprodução/Televisa)
Não menos compactas, as chivas conseguiram neutralizar
o jogo entrelinhas do rival durante boa parte do primeiro tempo
(Reprodução/Televisa)
Atrás no placar, o Atlas só conseguiu se recuperar
na metade final do primeiro tempo, quando Caballero finalmente conseguiu colher
frutos de sua centralização com a bola e criou boas oportunidades, auxiliado
pela chegada de “Ponchito” González e “Negro” Medina no entrelinhas. O reflexo
da falta de ação no terço ofensivo do Atlas durante boa parte do primeiro tempo
foi que o primeiro escanteio do quadro zorro
só foi conseguido aos 39 minutos, e foi aí que o conjunto local alcançou o gol
de empate, com o paraguaio Caballero aproveitando rebote de Luis Michel para
anotar seu primeiro gol no Clausura.
O primeiro tempo já havia sido bem jogado, e a
segunda parte começou ainda mais intensa, com o Atlas assumindo de vez o
protagonismo e empurrando as chivas contra
o seu campo. Com Arreola mais contido na lateral-direita do que Mascareñas, “Chepo”
de la Torre moveu seu principal meio-campista externo, Marco Fabián, para atuar
pela direita, tentando aproveitar o espaço às costas de Edgar Castillo, o que
não se mostrou uma opção muito efetiva, já que tanto Fabián quanto Brizuela
pararam de oferecer perigo pela boa cobertura e rápida recomposição dos
laterais e extremos do Atlas e, pior ainda, é que sem Brizuela e Fabián participativos,
Fierro não conseguiu render por dentro, fazendo com que Omar Bravo deixasse de
ser abastecido como na primeira etapa.
Os técnicos foram modificando seus times, com de la
Torre trocando apenas peças, com as entradas de Fernando Arce, Erick Torres e
Giovani Hernández nas vagas de Israel Castro, Omar Bravo e Carlos Fierro. Tomás
Boy também manteve o sistema de jogo e fez suas duas últimas substituições
promovendo Juan Hernández e Daniel Álvarez às vagas de Nery Caballero e Edy
Brambila.
Protagonismo da segunda parte foi quase que exclusivo
do conjunto mandante
Sentindo a necessidade do resultado por atuar em
casa e sem a classificação para a Liguilla encaminhada, o Atlas passou a
pressionar ainda mais na fase final da etapa derradeira e criou várias oportunidades,
sobretudo com Hernández e Álvarez, que entraram bem pelas pontas e passaram a
imprimir a velocidade que faltou aos zorros
até então. O veterano goleiro Michel passou a ser muito acionado e, como JJ
Corona no Clásico Joven, correspondeu
e salvou as chivas de uma derrota no
dérbi. O lance crucial da partida aconteceu já nos acréscimos, quando Álvarez
foi derrubado na área por “Gio” Hernández e o árbitro José Alfredo Peñaloza,
que ia aplicar cartão amarelo ao atacante do Atlas por simulação, foi corrigido
pelo seu auxiliar e voltou atrás, apontando à marca penal e dando a
oportunidade ao Atlas de converter seu domínio da segunda etapa em três pontos
importantíssimos. “Ponchito” González foi para a cobrança e, ao tentar dar uma
cavadinha, foi parado por Michel, que, mesmo caído, conseguiu reagir a tempo e
alcançar o pênalti à “Panenka” do meio-campista zorro.
O resultado do Clásico
Tapatío mantém o Atlas dentro da zona da Liguilla, embora em posição
bastante desconfortável, seguido de perto pelo Chiapas e pelo ascendente
Monterrey, que venceu o líder Tijuana fora de casa nesta rodada. Na próxima
terça-feira, os rojinegros receberão
o Colo-Colo em partida crucial para as pretensões dos de Tomás Boy na Copa
Libertadores. O Chivas, por sua vez, se mantém bem na classificação graças às
derrotas de Tijuana e Veracruz e terá uma semana de folga para observar a
definição de seu adversário na final da Copa MX, que será definido na próxima terça-feira,
no confronto entre Puebla e Monterrey.
Por João Marcos Soares (@JoaoMarcos__)