Após cinco temporadas, o Monumental de Nuñez voltou
a receber um jogo de Libertadores da América, com os mexicanos do Tigres
visitando o River Plate, pela segunda rodada do Grupo 6. Na primeira rodada, o
conjunto millonario sucumbiu ao San
José, na altitude de Oruro, na Bolívia, enquanto o Tigres, no El Volcán, venceu
com propriedade os peruanos do Juan Aurich.
Nas rodadas de seus campeonatos nacionais, os
treinadores Marcelo Gallardo e Ricardo Ferretti não pouparam seus atletas e
foram com força máxima para derrotar o Belgrano e o Pumas, respectivamente. Em
Buenos Aires, “Tuca” Ferreti fez apenas uma alteração com relação à última
partida pela Liga MX, que foi a entrada de Arévalo Ríos, que voltou de lesão no
fim de semana, mas só atuou no segundo tempo, na vaga de Darío Burbano. A
mudança foi modesta com relação a nomes, porém o sistema tático acabou sendo
totalmente transformado. O argentino Guido Pizarro, que atuou como volante
contra o Pumas, foi deslocado para trabalhar entre os dois zagueiros e outro
argentino, Damián Álvarez, formado no River Plate, mas que se mudou para o
futebol mexicano já há doze anos, deixou de ser o extremo pelo lado esquerdo da
linha de três atrás do centroavante para operar ao lado dos volantes Arévalo e
Jesús Dueñas, fazendo com que o quadro felino
saísse do 4-2-3-1 do fim de semana para um 3-5-2.
A formação de “Muñeco” Gallardo não é surpresa pra
ninguém. Desde que assumiu o River Plate, o treinador utiliza um 4-3-1-2 com
losango no meio-campo que dificilmente é modificado, algo que aconteceu contra
o San José, com a entrada de Gonzalo “Pity” Martínez na vaga de Teo Gutiérrez,
formando um 4-3-2-1, apenas com Rodrigo Mora como atacante de ofício. No Campeonato
Argentino, Gallardo voltou a usar seu time titular e o sistema de jogo baseado
no losango de meio-campo, com Matías Kranevitter na proteção, Carlos Sánchez e
Ariel Rojas saindo pelos lados e Leonardo Pisculichi como enganche atrás dos
dois atacantes.
River no sistema habitual e Tigres numa estratégia
diferente, povoando o setor defensivo e apostando nos contragolpes
4-3-1-2 de Gallardo em sua fase defensiva, com os três
volantes alinhados e Pisculichi balançando à frente para povoar o setor central (Reprodução/SporTV)
A estratégia de se defender e entregar a bola para
o rival traçada por "Tuca" Ferretti foi bem executada durante a primeira parte, o
grande problema para o clube da Universidad Autónoma de Nuevo León era na
formação dos contragolpes, já que os felinos
encontravam problemas para realizar a transição ofensiva de modo que Rafael
Sóbis e Joffre Guerrón conseguissem resolver na frente usando a velocidade e o
bom entrosamento que ambos têm demonstrado nesse início de semestre. Sem a
bola, o conjunto universitário recuava os alas para formarem uma linha de cinco
jogadores com os zagueiros e, no meio-campo, Dueñas, Arévalo e Álvarez
protegiam a defesa enquanto Rafael Sóbis voltava à frente da linha de volantes
para preencher o setor, deixando apenas Guerrón à frente para aproveitar os
contra-ataques ou, como era mais comum, os chutões que partiam da defesa felina. Em um desses chutões, nos
minutos finais da etapa inicial, Ramiro Funes Mori, o aniversariante da noite,
falhou e raspou de cabeça na bola, tirando “Jony” Maidana da jogada e presenteando
o equatoriano Guerrón, que driblou o goleiro Julio Chiarini, substitituto do capitão Barovero, e anotou a favor
dos mexicanos.
Fase defensiva do Tigres, com os laterais fechando a primeira
linha e os volantes na proteção (Reprodução/SporTV)
O primeiro tempo do River Plate foi ruim no
resultado e também na apresentação, já que o quadro millonario não conseguia furar o bloqueio armado por Ferretti e
seus principais jogadores de ataque, Pisculichi, Teo Gutíerrez e Mora, não
tinham espaço para desequilibrar, de modo que o conjunto local assustou apenas
em situações de bola parada ou finalizações de média distância. Para a segunda
etapa, os dois times voltaram corrigindo os problemas que tiveram na primeira
parte e o confronto ficou mais equilibrado. O Tigres passou a ter mais
paciência na transição ofensiva e começou a assustar mais nos contra-ataques,
não somente apostando no erro do adversário, como no gol de Guerrón. O River,
por seu turno, conseguiu um maior número de jogadores à frente com as chegadas
de Sánchez e Rojas, as vértices laterais do losango millonario, que, com a proteção de Kranevitter, têm a possibilidade
de chegar à frente e desmontar a defesa adversária pela qualidade que possuem.
Contra os mexicanos, “Colo” Kranevitter recuperou nove bolas e acertou
cinquenta e oito dos sessenta passes que tentou e, aos 21 anos, já é comparado
a Javier Mascherano e apontado como o sucessor do “Jefecito” na seleção
argentina.
Movimentação de Sánchez e Rojas, as vértices laterais
do losango de Gallardo que viram pontas quando o River ataca (Reprodução/Footstats)
Sánchez, além de abrir para atacar, tem um
excelente senso de posicionamento para infiltrar na área adversária e se
projetar como homem-surpresa para buscar a finalização. “El Pato” foi o jogador
que mais finalizou na peleja da noite de quinta-feira, com seis remates, sendo
cinco deles de dentro da área felina.
O gol de empate do River surgiu em uma bola parada, com Sánchez acertando um
lindo voleio para vencer Nahuel Guzmán e igualar o marcador para fazer levantar
as quase 60 mil pessoas que foram ao Monumental saudar a volta do River Plate a
“La Copa”.
Antes do empate, “Tuca” Ferretti havia entrado com
o defensor Antonio Briseño na vaga do ala Israel Jiménez, mas o treinador
brasileiro queria voltar para Monterrey com os três pontos, apesar da proposta
reativa. Tanto que as substituições posteriores ao gol de Sánchez foram neste
sentido, com a entrada do ofensivo ala Iván “Gutty” Estrada na vaga de Dueñas,
fazendo com que Pizarro voltasse ao meio-campo, sua posição de origem, e Briseño
fosse deslocado para a zaga. Darío Burbano foi promovido à vaga de Àlvarez,
trabalhando como atacante ao lado de Sóbis e Guerrón quando o Tigres tinha a
bola, mas voltando para compor o meio-campo com Pizarro e Arévalo na fase
defensiva.
As substituições de Gallardo foram todas ofensivas,
sem, entretanto, sair do 4-3-1-2 tradicional do “Muñeco”. Além da substituição
forçada que foi o ingresso de Éder Balanta no lugar de Funes Mori,
machucado, o meio-campista Camilo Mayada entrou como lateral-direito na vaga de
Gabriel Mercado, enquanto o garoto Sebastián Driussi substituiu Leonel
Vangioni, fazendo com que Rojas se transformasse em lateral-esquerdo.
O confronto acabou empatado em um segundo tempo
muito interessante para os espectadores. Nos acréscimos, Mora ainda acertou a
trave de Guzmán para dar requintes de crueldade a mais um resultado
insatisfatório do River Plate na Copa Libertadores. O Tigres, que teve o
triunfo como um resultado possível por alguns minutos, não sai insatisfeito com
o empate na casa do adversário mais temido do grupo e um dos favoritos ao
título. Assim como o conterrâneo Atlas, o conjunto felino demonstra um grande interesse pela competição sul-americana
e tem boas chances de classificação no grupo. Atlas e Tigres vão mostrando à
América do Sul que o México aprendeu a valorizar a Libertadores e, sobretudo, sabe
como jogar essa competição tão peculiar.
*Dados estatísticos retirados do site oficial da Conmebol
Por João Marcos Soares (@JoaoMarcos__)