sexta-feira, 6 de março de 2015

River se complica e Tigres mostra que mexicanos entendem, sim, como se joga a Libertadores

Após cinco temporadas, o Monumental de Nuñez voltou a receber um jogo de Libertadores da América, com os mexicanos do Tigres visitando o River Plate, pela segunda rodada do Grupo 6. Na primeira rodada, o conjunto millonario sucumbiu ao San José, na altitude de Oruro, na Bolívia, enquanto o Tigres, no El Volcán, venceu com propriedade os peruanos do Juan Aurich.

Nas rodadas de seus campeonatos nacionais, os treinadores Marcelo Gallardo e Ricardo Ferretti não pouparam seus atletas e foram com força máxima para derrotar o Belgrano e o Pumas, respectivamente. Em Buenos Aires, “Tuca” Ferreti fez apenas uma alteração com relação à última partida pela Liga MX, que foi a entrada de Arévalo Ríos, que voltou de lesão no fim de semana, mas só atuou no segundo tempo, na vaga de Darío Burbano. A mudança foi modesta com relação a nomes, porém o sistema tático acabou sendo totalmente transformado. O argentino Guido Pizarro, que atuou como volante contra o Pumas, foi deslocado para trabalhar entre os dois zagueiros e outro argentino, Damián Álvarez, formado no River Plate, mas que se mudou para o futebol mexicano já há doze anos, deixou de ser o extremo pelo lado esquerdo da linha de três atrás do centroavante para operar ao lado dos volantes Arévalo e Jesús Dueñas, fazendo com que o quadro felino saísse do 4-2-3-1 do fim de semana para um 3-5-2.

A formação de “Muñeco” Gallardo não é surpresa pra ninguém. Desde que assumiu o River Plate, o treinador utiliza um 4-3-1-2 com losango no meio-campo que dificilmente é modificado, algo que aconteceu contra o San José, com a entrada de Gonzalo “Pity” Martínez na vaga de Teo Gutiérrez, formando um 4-3-2-1, apenas com Rodrigo Mora como atacante de ofício. No Campeonato Argentino, Gallardo voltou a usar seu time titular e o sistema de jogo baseado no losango de meio-campo, com Matías Kranevitter na proteção, Carlos Sánchez e Ariel Rojas saindo pelos lados e Leonardo Pisculichi como enganche atrás dos dois atacantes.

River no sistema habitual e Tigres numa estratégia diferente, povoando o setor defensivo e apostando nos contragolpes

4-3-1-2 de Gallardo em sua fase defensiva, com os três volantes alinhados e Pisculichi balançando à frente para povoar o setor central (Reprodução/SporTV)

A estratégia de se defender e entregar a bola para o rival traçada por "Tuca" Ferretti foi bem executada durante a primeira parte, o grande problema para o clube da Universidad Autónoma de Nuevo León era na formação dos contragolpes, já que os felinos encontravam problemas para realizar a transição ofensiva de modo que Rafael Sóbis e Joffre Guerrón conseguissem resolver na frente usando a velocidade e o bom entrosamento que ambos têm demonstrado nesse início de semestre. Sem a bola, o conjunto universitário recuava os alas para formarem uma linha de cinco jogadores com os zagueiros e, no meio-campo, Dueñas, Arévalo e Álvarez protegiam a defesa enquanto Rafael Sóbis voltava à frente da linha de volantes para preencher o setor, deixando apenas Guerrón à frente para aproveitar os contra-ataques ou, como era mais comum, os chutões que partiam da defesa felina. Em um desses chutões, nos minutos finais da etapa inicial, Ramiro Funes Mori, o aniversariante da noite, falhou e raspou de cabeça na bola, tirando “Jony” Maidana da jogada e presenteando o equatoriano Guerrón, que driblou o goleiro Julio Chiarini, substitituto do capitão Barovero, e anotou a favor dos mexicanos.

Fase defensiva do Tigres, com os laterais fechando a primeira linha e os volantes na proteção (Reprodução/SporTV)

O primeiro tempo do River Plate foi ruim no resultado e também na apresentação, já que o quadro millonario não conseguia furar o bloqueio armado por Ferretti e seus principais jogadores de ataque, Pisculichi, Teo Gutíerrez e Mora, não tinham espaço para desequilibrar, de modo que o conjunto local assustou apenas em situações de bola parada ou finalizações de média distância. Para a segunda etapa, os dois times voltaram corrigindo os problemas que tiveram na primeira parte e o confronto ficou mais equilibrado. O Tigres passou a ter mais paciência na transição ofensiva e começou a assustar mais nos contra-ataques, não somente apostando no erro do adversário, como no gol de Guerrón. O River, por seu turno, conseguiu um maior número de jogadores à frente com as chegadas de Sánchez e Rojas, as vértices laterais do losango millonario, que, com a proteção de Kranevitter, têm a possibilidade de chegar à frente e desmontar a defesa adversária pela qualidade que possuem. Contra os mexicanos, “Colo” Kranevitter recuperou nove bolas e acertou cinquenta e oito dos sessenta passes que tentou e, aos 21 anos, já é comparado a Javier Mascherano e apontado como o sucessor do “Jefecito” na seleção argentina.

Movimentação de Sánchez e Rojas, as vértices laterais do losango de Gallardo que viram pontas quando o River ataca (Reprodução/Footstats)

Sánchez, além de abrir para atacar, tem um excelente senso de posicionamento para infiltrar na área adversária e se projetar como homem-surpresa para buscar a finalização. “El Pato” foi o jogador que mais finalizou na peleja da noite de quinta-feira, com seis remates, sendo cinco deles de dentro da área felina. O gol de empate do River surgiu em uma bola parada, com Sánchez acertando um lindo voleio para vencer Nahuel Guzmán e igualar o marcador para fazer levantar as quase 60 mil pessoas que foram ao Monumental saudar a volta do River Plate a “La Copa”.

Antes do empate, “Tuca” Ferretti havia entrado com o defensor Antonio Briseño na vaga do ala Israel Jiménez, mas o treinador brasileiro queria voltar para Monterrey com os três pontos, apesar da proposta reativa. Tanto que as substituições posteriores ao gol de Sánchez foram neste sentido, com a entrada do ofensivo ala Iván “Gutty” Estrada na vaga de Dueñas, fazendo com que Pizarro voltasse ao meio-campo, sua posição de origem, e Briseño fosse deslocado para a zaga. Darío Burbano foi promovido à vaga de Àlvarez, trabalhando como atacante ao lado de Sóbis e Guerrón quando o Tigres tinha a bola, mas voltando para compor o meio-campo com Pizarro e Arévalo na fase defensiva.

As substituições de Gallardo foram todas ofensivas, sem, entretanto, sair do 4-3-1-2 tradicional do “Muñeco”. Além da substituição forçada que foi o ingresso de Éder Balanta no lugar de Funes Mori, machucado, o meio-campista Camilo Mayada entrou como lateral-direito na vaga de Gabriel Mercado, enquanto o garoto Sebastián Driussi substituiu Leonel Vangioni, fazendo com que Rojas se transformasse em lateral-esquerdo.

 Tigres continuou disciplinado taticamente e com proposta reativa, mas não deixou de buscar o ataque quando tinha a possibilidade, enquanto o River atacava de todas as formas com meio-campistas nas laterais e um atacante como terceiro homem de meio-campo

O confronto acabou empatado em um segundo tempo muito interessante para os espectadores. Nos acréscimos, Mora ainda acertou a trave de Guzmán para dar requintes de crueldade a mais um resultado insatisfatório do River Plate na Copa Libertadores. O Tigres, que teve o triunfo como um resultado possível por alguns minutos, não sai insatisfeito com o empate na casa do adversário mais temido do grupo e um dos favoritos ao título. Assim como o conterrâneo Atlas, o conjunto felino demonstra um grande interesse pela competição sul-americana e tem boas chances de classificação no grupo. Atlas e Tigres vão mostrando à América do Sul que o México aprendeu a valorizar a Libertadores e, sobretudo, sabe como jogar essa competição tão peculiar.

*Dados estatísticos retirados do site oficial da Conmebol

Por João Marcos Soares (@JoaoMarcos__)