sexta-feira, 6 de março de 2015

San Lorenzo é mais intenso, porém, eficiência de Elias dá vitória a equipe corintiana

Estádio sem torcida. Vazio. Uma das grandes armas do San Lorenzo não estaria presente no Nuevo Gasómetro. Jogo mais fácil para o Corinthians? Claro que não. Muito pelo contrário. Em uma partida que teve a equipe argentina sendo a responsável pelas chances mais perigosas, alguns personagens foram cruciais para o resultado final da peleja, que teve a equipe brasileira saindo vitoriosa. Mas enfim, vamos ao jogo.

A equipe da casa veio a campo armada no 4-2-3-1 que, com a bola, acelerava o jogo pelas laterais, principalmente pelo lado esquerdo com Romagnoli e Blanco constantemente se procurando e invertendo de posição, além das descidas de Más e da aproximanção de Matos pelo setor. O lado direito também era muito procurado, com Buffarini sendo a principal opção de desafogo pelo setor, tendo sempre o volante Mussis, que atuava como winger pela direita, para auxiliá-lo, além do suporte do meia Blanco que sempre aparecia pelo setor, quando a bola estava por ali.

Sem a bola, a equipe argentina compactava-se em duas linhas de 4, com participação ativa de todos os seus homens na ação defensiva, seja pressionando o adversário ainda em seu campo, pressão essa efetuada com mais frequência pelo trio de meias, mais o homem mais avançado da equipe, seja fechando-se em seu campo, sempre com as duas linhas de 4 que, quanto mais eram recuadas, mais liberavam Romagnoli e Matos para ficarem a frente, esperando para puxar o contra ataque.

San Lorenzo no 4-2-3-1 que marcava alto com muita intensidade, dificultava a saída de bola adversária e acelerava pelos lados, principalmente pela esquerda com Blanco e Romagnoli se procurando e trocando constantemente de posição

Já a equipe corintiana veio a campo no seu tradicional 4-1-4-1, com Renato e Elias de interiores e Jadson e Mendoza de wingers, porém, com o quarteto atuando mais fixo em seus setores, sem conseguir promover a conhecida movimentação e troca de posições que fornece constantes opções para trocas de passes e triangulações. Até mesmo o meia Danilo, atuando novamente como homem mais avançado da equipe, que normalmente apresenta grande movimentação buscando gerar espaços para seus companheiros, dessa vez ficava mais fixo, limitando-se a movimentações laterais.

Sem a bola a equipe corintiana buscava compactar-se nas suas tradicionais linhas de 4, com Ralf atuando entre elas. essas linhas sofriam variações conforme a movimentação de Renato Augusto, que ora ficava como interior pela esquerda, ora se adianta e auxiliava Danilo no pressing a saída de bola adversária. Com isso, Elias recuava um pouco e se alinhava a Ralf, ajudando a formar a segunda linha sem ter o homem entre ela e a primeira linha de 4.

 
 Corinthians no 4-1-4-1 que tinha pouca movimentação e dificuldades para trocar passes por conta da intensa marcação adversária

O primeiro tempo iniciou-se com um San Lorenzo atuando em alta intensidade, pressionando e matando a saída de bola corintiana normalmente efetuada em triangulações pelas beiradas do campo. Com isso, a equipe, quando não buscava a ligação direta, buscava a saída pelo chão e acabava perdendo a bola, sofrendo rapidamente o contra ataque efetuado em alta voltagem, principalmente pelo lado esquerdo, com Blanco e Romagnoli se buscando e invertendo de posição, sempre com pelo menos um deles buscando o espaço entre linhas.

 Acima os heatmaps dos dois principais destaques da equipe argentina: Romagnoli e Blanco. Perceba como os dois eram muito presentes no lado esquerdo do ataque, região onde se procuravam e infernizaram a defesa corintiana no primeiro tempo(Reprodução: Footstats)

Após 20 minutos de grande pressão do San Lorenzo que, apesar de não conseguir finalizar, incomodava muito a defesa corintiana, a equipe paulista aproximou adiantou um pouco mais suas linhas, além de alterar o seu posicionamento sem a bola, invertendo Mendoza e Jadson, o que melhorou o poder de marcação pela direita e, adiantando Renato para se juntar a Danilo, ajudando a ocupar mais espaços, dificultando mais a saída adversária, conseguindo obter um maior sucesso tanto na recuperação quanto na manutenção da posse de bola, algo evidenciado na porcentagem da posse de bola, que chegou a ser de 58% do San Lorenzo mas, ao fim do primeiro tempo, era de 53% contra 47% da equipe paulista.

O segundo tempo começou com o técnico Tite realizando uma alteração que acabou sendo um dos fatores determinantes para a melhora da equipe paulista no jogo. A entrada de Cristian no lugar do lesionado Renato Augusto. Com essa substituição, o treinador alterou também a estrutura da equipe, fazendo o 4-1-4-1 se tornar um 4-2-3-1, com Cristian ficando mais fixo ao lado de Ralf, melhorando a marcação no meio e também a saída de bola, que agora tinha um jogador de boa qualidade no passe para efetuá-la. Sendo assim, Elias passou a ter mais liberdade atuando mais avançado na linha de 3, controlando a troca de passes da equipe e constantemente invertendo com Danilo, que passou a ser mais acionado.

Acima o heatmap da movimentação do volante Cristian que qualificou a saída de bola pela região central e ajudou a dar maior consistência a marcação(Reprodução: Footstats)

Com isso, a equipe passou a ter mais volume de jogo, mostrando repentes da troca de passes que tem sido a marca da equipe na temporada, conseguindo assim diminuir o ímpeto da equipe argentina, que continuava ameaçando nos contra ataques pelos lados e principalmente na bola parada. Até que, aos 20 minutos, a equipe corintiana conseguiu abrir o placar com Elias, em jogada claramente treinada que já havia sido mostrada em algumas partidas e que será mostrada em uma das imagens abaixo.

Nas imagens acima o lance do gol da equipe corintiana. Na primeira, o início da jogada, Elias inverte com Danilo, que, na bola longa do goleiro Cássio, é ele quem normalmente sai do seu posicionamento inicial entre os zagueiros e vai em direção a bola para assim arrastar o defensor e abrir espaço os jogadores que vem de trás infiltrarem no espaço e receberem a bola em velocidade. Nesse lance porém, Elias conseguiu dominar a bola e, ele mesmo, aproveitar o espaço criado. Na segunda imagem percebe-se como a ameaça de dois jogadores adversários vindo em velocidade, já que Petros, que havia entrado no lugar de Mendoza minutos antes, abriu se oferecendo como opção de passe provocou indecisão no zagueiro da equipe argentina. Com isso, o mesmo acabou saindo precipitadamente para dar o bote no homem da bola e, com isso, tomar o drible e deixar o seu companheiro no mano a mano com o jogador corintiano que, na sequencia do lance, conseguiu marcar o gol da sua equipe(Reprodução: Sportv)

Com a sua equipe atrás no placar, o treinador Edgardo Bauza, que já havia colocado Villalba no lugar de Mussis, buscou dar mais ofensividade a sua equipe, tirando primeiramente Quignon e, mais tarde Blanco, cansado, e colocou Cauteruccio e Alan Ruiz, reorganizando a sua equipe em um 4-4-2 que tinha Romagnoli mais recuado, quase alinhado a Mercier, e Cauteruccio se juntando a Matos no comando do ataque. Essas substituições ajudaram a equipe a levar algum perigo a defesa corintiana, principalmente pela direita com Alan Ruiz aproveitando o espaço deixado por Fágner que ia para o ataque, mas já não tinha tanto fôlego na recomposição. Percebendo isso, o técnico Tite colocou o lateral Edilson na vaga de Jadson e recuou mais a sua equipe, que conseguiu ocupar os espaços e não ceder mais grandes oportunidades ao seu adversário.

 
Equipes em suas formações finais: San Lorenzo em um ofensivo 4-4-2 e Corinthians se segurando no seu 4-2-3-1

"Vitória de campeão". É assim que alguns torcedores mais exaltados tem definido a vitória contra a equipe do San Lorenzo, já que a equipe paulista por vezes passou sufoco e acabou contando com a sorte e com o goleiro Cássio, além do volante Elias, para não sair derrotada do confronto. Mas ainda não pode ser momento de euforia, já que esse sufoco foi em muito provocado pela aplicação correta da estratégia do técnico Edgardo Bauza, que percebeu a falha da saída de bola corintiana e fez sua equipe jogar exatamente em cima dela. Armas de um técnico, e de um time, que tem totais condições de avançar no "grupo da morte", e não pode ser descartada como uma das candidatas ao título do campeonato.

*Dados estatísticos retirados do site Footstats.
Por Andrey Hugo(@Andrey_Hugo)