Um
dos finalistas da Liga dos Campeões de 2014/15 foi definido através do embate
entre Bayern e Barcelona. Cada equipe à sua maneira demonstrou de que tem como
jogar futebol através de conceitos semelhantes diante de diferentes
prioridades. Para a classificação à final da equipe catalã, os comandados de
Luis Enrique começaram o jogo no seu habitual 4-3-3 enquanto que os de
Guardiola no 4-4-2.
Barcelona
no 4-3-3 e Bayern de Munique no 4-4-2
Primeiramente,
antes de demonstrar as movimentações individuais em relação ao todo de cada
time, é necessário salientar de que tanto o Barcelona quanto o Bayern atuaram
com conceitos semelhantes: busca de superioridade numérica tanto ofensivamente
quanto defensivamente, compactação com e sem a bola, intensidade e volume de
jogo atacando e defendendo. Uma vez que ambos os técnicos advêm de filosofia
semelhante quanto às suas formações, os conceitos de jogo deveriam ser mesmo os
mesmos. O que diferenciou em cada equipe foi as suas prioridades. Ao longo da
análise, as prioridades serão mais detalhadas.
Diante
do placar adverso sofrido na primeira partida, o Bayern de Munique teve a
necessidade de procurar as primeiras ações ofensivas do jogo. E assim o fez. Já
na sua saída de jogo (início da transição ofensiva), a equipe bávara espetava
ambos os laterais e recuava Thiago e Xabi Alonso para facilitar a continuação
da saída curta após os seus zagueiros. Essa movimentação sem bola de Rafinha e
Benat tinha um intuito tático.
Para
iniciar a transição defesa-ataque, Rafinha e Bernat avançam simultaneamente sem
bola. Devido a isso ou Neymar e Messi os acompanhavam –gerando a situação
demonstrada adiante- ou eles passavam a ser gerar um 2 x 1 diante dos laterais
catalães –assim como mostra o flagrante acima. Com superioridade pelos lados do
campo, o Bayern continuava a manter a posse da bola.
Se
caso Messi e Neymar acompanhassem as subidas de Rafinha e Bernat, havia a
geração dos espaços dos retângulos vermelhos. Com estes espaços, Lahm, Thiago,
Xabi Alonso e Schweinsteiger passavam
a ter possibilidade de recuo e de usufruir dos espaços gerados.
Já
em campo ofensivo, os jogadores da equipe alemã também apresentavam
movimentações táticas sem deixar de lado os seus conceitos ofensivos: toques
curtos, aproximação, geração de superioridade numérica no setor da bola e a
possibilidade de usufruir do espaço vazio gerado. Vale notar de que tanto a
transição ofensiva quanto o sistema ofensiva eram coordenados, táticos e
compactados. Muitos jogadores do Bayern se posicionavam ou se movimentavam para
o setor da bola e, assim, aumentando as chances de se manter com a bola. Isso é
tática ofensiva.
Com
a bola com Thiago, Lahm entrava na diagonal e abria espaço para o avanço de
Rafinha, e o mesmo acontecia do outro lado entre Xabi Alonso- Schweinsteiger- Bernat. A sincronia de
movimentos fazia com que o Bayern avançasse terreno mantendo a posse de bola
através de passes curtos.
Para se defender das movimentações
alemãs, o Barcelona marcava em bloco. Pouco se viu um solitário jogador
realizando a pressão no adversário com a bola. Desse modo, seja em campo
ofensivo quanto no defensivo, o time catalão esteve próximo e o 4-1-4-1 era
perceptível em diversos momentos.
Inicialmente,
o Barcelona começava a sua marcação em bloco médio. Entretanto, ao mesmo tempo
em que o Bayern recuava a bola, a equipe catalã avançava em bloco tanto que
imagens como a de cima foi notória em diversos momentos do jogo. Avanço em
bloco para a subida do bloco de marcação. Organização defensiva.
Já
em campo defensivo, o 4-1-4-1 se mantinha próximo –assim como mostra o
flagrante anterior. Nele, também é possível de notar a equipe catalã iniciando
a sua marcação em bloco médio e compactada em curto espaço. Nesse
posicionamento defensivo, o Barcelona procurava, pelo menos, duas intenções:
atenuar a participação da referência do ataque da ação defensiva da equipe e
atrair o Bayern para longe da área de Neuer. O contra-ataque estava armado.
Para
golpear o time bávaro, o Barcelona teve que desvencilhar da marcação pressão
desde a saída de bola do Bayern e transitou para o campo ofensivo através de
duas maneiras evidentes: rapidamente e através da movimentação na diagonal de
Messi. Em todas essas fases de jogo, a organização, a movimentação, a
intensidade e o volume de jogo estavam presentes. Era tática ofensiva catalã.
O
Bayern marcou intensamente em bloco alto em toda partida. No momento do
flagrante acima, nota-se, além do bloco alto bávaro, a superioridade numérica
no setor da bola pelo lado do time alemão. No losango azul, percebe-se quatro
jogadores do Bayern contra somente dois do Barcelona. Esse avanço do bloco em
organização com intensidade fez com que os bávaros realizassem aquele “abafa”
inicial. Todavia, do outro lado tinha o trio MSN.
Em
campo ofensivo, o trio MSN realizou diversas vezes a mesma movimentação
organizada desde os primeiros jogos que Messi, Suarez e Neymar jogaram juntos:
Messi entra na diagonal, Suarez se movimenta para as costas do lateral-esquerdo
adversário e, quando o camisa 10 catalão recebe a bola, Neymar e Suarez entram
no “facão” simultaneamente. Além desse posicionamento ofensivo do trio MSN, no
flagrante acima também é possível de notar a superioridade numérica que o
Barcelona gerava em campo ofensivo, e de como Bernat ficava sem função e somente
observava a movimentação de Messi. Com essa observação no camisa 10 do Barça,
Bernat costumeiramente cedia as suas costas para Suarez usufruir –assim como
mostra a imagem.
No
terço ofensivo, Messi recebe a bola e Neymar e Suarez entram no “facão”: jogada
já “manjada”, mas a imprevisibilidade do trio MSN –principalmente de Messi,
pois é ele geralmente o dono do passe profundo, assim como mostra o flagrante
anterior- torna essa movimentação difícil de ser parada. Tanto no contra-ataque
quanto na jogada trabalhada, o Barcelona era tático.
Para
o segundo tempo e com o placar adverso em 2 x 1, Guardiola modificou o
posicionamento da sua equipe. Do 4-4-2, o Bayern passou a jogar no 4-3-3. No
entanto, é importante ressaltar: mudou-se o posicionamento, mas os conceitos se
mantiveram. A busca de superioridade numérica tanto ofensivamente quanto
defensivamente, compactação com e sem a bola, intensidade e volume de jogo
atacando e defendendo foram conservadas.
Na
primeira etapa, Bayern jogou no 4-4-2 onde se defendia em campo defensivo no
4-4-1-1 com o recuo de Muller, assim como mostra o flagrante acima.
Já
no segundo tempo, o time bávaro alterou para o 4-3-3, assim como mostra a
imagem anterior.
Devido
à mudança do posicionamento, Xabi Alonso passou a ter mais facilidade de recuar
para realizar a saída de três da sua equipe e, assim, facilitando ainda mais os
avanços simultâneos dos seus laterais. Desse modo, quando o Bayern saia pelo
lado esquerdo do campo e Neymar não balançava defensivamente para o lado da
bola, gerava-se a facilmente a possibilidade de virada de jogo para Lahm ou
para Rafinha –assim como mostra o flagrante acima. Tanto que foi Thiago, o
jogador que mais realizou viradas de jogo corretas na partida: influência de
Neymar e da movimentação dos bávaros no início da transição ofensiva da sua
equipe.
Assim
como o conceito de jogo era buscar a superioridade numérica no setor da bola
com a posse da bola, sem ela, ele também era buscado. Tanto que mesmo no 4-3-3,
o Bayern também gerava superioridade numérica. O esquema tático mudava, mas o
conceito de jogo não. Isso é tática.
Pelo
lado catalão em relação ao segundo tempo, o time diminuiu a sua intensidade,
tanto na fase defensiva quanto na ofensiva. Isso contribuiu para que o Bayern
tivesse realizado mais dois gols. Todavia, houve mudanças interessantes das
quais Luis Enrique realizou no intervalo.
Para
a segunda etapa, o técnico do Barcelona colocou Pedro no lugar de Suarez e
Iniesta com a possibilidade de avanço constante em cima de Xabi Alonso, quando
esse recuava para a saída de três do Bayern. Com Pedro, o trio ofensivo catalão
se posicionou com Neymar a esquerda, Messi no centro e Pedro na direita; e com
Iniesta avançando defensivamente, o posicionamento defensivo alterava para o
4-4-1-1/ 4-4-2.
Com
Messi no centro do ataque, ele tinha a função de “falso 9”: ele recuava para
colaborar na armação da equipe, enquanto que Neymar e Pedro se posicionavam
para realizar o “facão”.
Já
no início da fase defensiva, Iniesta se desalinhava de Rakitiv e avançava para
se alinhar a Messi. Com essa movimentação do camisa 8 catalão, Busquets se
alinhava a Rakitic –formando uma linha de 4 com Pedro, o croata e Neymar- e o
Barcelona, momentaneamente, se posicionava defensivamente no 4-4-2 ou até mesmo
no 4-4-1-1. Nessa situação de jogo, vale notar a evolução tática defensiva de
Neymar: no flagrante acima, percebe-se o jogador brasileiro balançando
defensivamente, assim, permitindo a possibilidade de superioridade numérica no
setor da bola da sua equipe e, também, de diminuição no tempo para poder marcar
os jogadores bávaros próximos da faixa central do campo –no caso, seria Lahm.
A
falta de intensidade do Barcelona somada à pressão do Bayern pode ter, entre
outras, uma explicação: a previsibilidade do sistema ofensivo catalão na
segunda etapa do jogo. Com Messi atuando mais na faixa central do campo, a
marcação provável nele acontecia: um dos meio-campistas bávaros se aproximava
dele e a jogada do Barça tinha as chances diminuídas de acontecer. Em
comparação ao que o sistema ofensivo desse time espanhol fazia no primeiro
tempo, saía da esquerda para o centro e, assim, era difícil de marcar o
argentino. Já que Bernat não o acompanhava –pois guardava o seu setor- e os
meio-campistas do Bayern ficavam atentos com os jogadores do meio-de-campo do
Barcelona.
Com
Messi saindo da referência do ataque para armar o jogo na intermediária
ofensiva, ele acabava caindo na zona de marcação de Xabi Alonso. Além de ser
facilmente marcado, o argentino não abria espaço para as entradas nas diagonais
de Neymar e Pedro, os quais quando se movimentavam, iam direto à zona dos
zagueiros do Bayenr. Sem intensidade e com as movimentações ofensivas
facilmente “marcáveis”, o Barcelona sofreu mais dois gols e não conseguia reter
a bola em campo ofensivo.
Para
atenuar essa previsibilidade ofensiva catalã, Luis Enrique recolocou Messi
aberto pela direita e Pedro foi para o comando do ataque do time. Além disso,
para enrolar com o tempo, o técnico do Barcelona colocou Mathieu e Xavi nos
lugares de Iniesta e Rakitic. Apesar de parecer que o esquema tático tivesse
modificado, ele se manteve no mesmo 4-3-3 inicial do jogo. Já Guardiola colocou
Gotze, Javi Martinez e Rode e, também, manteve no mesmo posicionamento tático
da segunda etapa da partida.
Fim
de jogo: Barcelona no 4-3-3 e Bayern de Munique no 4-1-4-1.
Por Caio Gondo (@CaioGondo)