O atual bicampeão brasileiro que encantou a todos no cenário
nacional durante a temporada passada começou a temporada sob olhar de
desconfiança dos torcedores. O time celeste não conseguiu uma sequência de
grandes jogos que o coloque como principal favorito a defesa do título.
O desmanche da equipe no final da temporada trouxe muitas
preocupações em relação a 2015. As saídas de Éverton Ribeiro, Ricardo Goulart,
Lucas Silva, Nilton, Dagoberto, Borges e Marcelo Moreno, entre outras peças de
certa relevância como Egídio, por exemplo, enfraqueceu um elenco considerado o
melhor do Brasil. As chegadas de jogadores como Leandro Damião, Mena, Henrique,
Arrascaeta, Paulo André, Fabrício e Willians, além de outros nomes não foram vistas
como suficientes para equivaler à qualidade da equipe de 2014. Por conta disso
a diretoria se movimenta em busca de reforços para o início do Campeonato
Brasileiro. Ronaldinho Gaúcho, Valdivia, Ganso, Robinho e Lucas Lima são alguns
dos desejos de Gilvan.
Se no papel o time não é o mesmo da temporada passada,
dentro de campo Marcelo Oliveira manteve o 4-2-3-1 do sucesso anterior. Mas
diferentemente da equipe campeã brasileira, esse “novo” Cruzeiro não tem a
mesma dinâmica ofensiva e muito menos a criatividade daquela equipe.
4-2-3-1 de Marcelo Oliveira. Quando Marquinhos joga, Willian vai para esquerda e o próprio inicia na direita. |
Na primeira fase de construção de jogo, o time procura sair
curto, com os volantes escalonados (Willians mais recuado com Henrique à
frente) e os laterais espetados. Quando o adversário de alguma forma não
permite que a equipe saia trocando passes, o método é a ligação direta para
Leandro Damião. Muitas das vezes esse passe não é preciso e o Cruzeiro é
prejudicado. Na segunda fase do ataque, a da criação, o time costuma utilizar
bastante os laterais, principalmente Mayke, que buscam centralizar a bola para
as várias opções na área (os wingers e Arrascaeta costumam aparecer na área).
Do outro lado, Alisson tem liberdade para buscar individualizar as jogadas e é
perigoso no 1x1.
O bom momento vivido por Leandro Damião permitiu que o
Cruzeiro atingisse a marca de melhor ataque do Mineiro (ao lado do Atlético-MG)
com 25 gols no total. Mas ao mesmo tempo em que existe uma representação de uma
boa marca, percebe-se também certa dependência ofensiva em Damião, tanto nos
gols, quanto na preparação das jogadas. Muitas das vezes, o arsenal ofensivo se
resume em buscar o camisa 9 de qualquer maneira, simplesmente “vomitando” a
bola para o centroavante.
No momento defensivo a intensidade em bloco alto/médio,
característica dos times mineiros, é uma referência do estilo de marcação do
Cruzeiro. Em bloco baixo a equipe se molda no 4-4-1-1 com o retorno de Willian
e Alisson (ou Marquinhos), e Arrascaeta mais recuado que Damião. Um dos
problemas da equipe na defesa é justamente o retorno dos wingers, que por vezes
é lento.
O Cruzeiro é um time veloz, com intensidade e um grande
potencial. Marcelo precisa encontrar a distância das linhas, que ainda estão
distantes em certos momentos, principalmente de transições (que são muito mais
complicadas).
Em relação às peças de reposição, Marcelo está bem servido e
conta com 2 a 3 jogadores de muita qualidade em cada posição. Os garotos da
base merecem atenção, Alisson e Judivan tiveram bons momentos no primeiro
semestre e podem aparecer com destaque.
O time pode ser considerado um dos favoritos, mas é preciso
evoluir o modelo de jogo e buscar mais variações. Defender o título dessa vez é
tarefa mais complicada, os jogos decisivos da equipe mostraram o panorama atual.
Derrota para o Huracán, eliminação para o Atlético-MG, mas ao mesmo tempo,
liderança no grupo da Libertadores e partidas como contra o Mineros em casa. O
novo Cruzeiro está perseguindo o velho, ainda não o encontrou, mas há tempo
para isso.
Por Emanuel Serafim (@EmanuelFSerafim)