quinta-feira, 30 de julho de 2015

Com disputa e equilíbrio, Tigres e River Plate ficam no empate no primeiro jogo da final!


No México, Tigres e River Plate fizeram um ótimo embate tático pelo primeiro jogo da final da Taça Libertadores da América. Partida disputada e equilibrada que terminou num empate sem gols. Quem assistiu, pôde observar dois times modernos taticamente e bem em seus propósitos de jogo(que eram um pouco diferentes entre si). 

O Tigres foi no mesmo 4-4-2 em linhas/4-4-1-1 da semi-final contra o Internacional(só que com Damián Álvarez aberto na esquerda, já que Javier Aquino não jogou). Inicialmente sofreu com a marcação mais avançada argentina e adotava um jogo mais de transição longa, procurando os lançamentos diagonais visando a ruptura da defesa argentina, que postava-se quase sempre em linha alta no campo defensivo nos momentos de subidas de pressão iniciais e/ou a ligação direta procurando Gignac por cima pra ganhar a primeira bola e fazer o pivô para reter a posse ou dar continuidade à ação ofensiva. Depois dos 15 minutos iniciais, passou a ter atitude mais controladora e possessiva com a diminuição da intensidade do River na marcação inicial à saída de bola dos donos da casa. O papel dos dois volantes era fundamental. Pizarro afundava ao centro para fazer a saída de 3, abrindo os zagueiros e espetando os laterais nas proximidades da linha que divide o gramado, posicionava-se no início da intermediária ofensiva, bem afastado da segunda linha de marcação argentina pra ser opção de retorno para reinício da construção ofensiva e na saída de bola, apresentava movimentação inteligente para ser linha de passe para o zagueiro portador da bola. Já Arévalo Ríos, procurava constantemente o jogo entrelinhas, ataque aos espaços vazios na última linha ou entre as duas linhas de quatro adversárias em velocidade, infiltrando pra ser opção de conclusão na grande área e chegando pros rebotes ofensivos. O grande problema do Tigres na situação de ataque organizado era a ausência ou escassez de linhas de passe curtas ao portador da pelota na saída de bola. Arévalo Ríos afastava-se de Pizarro quando este aprofundava pra buscar e mesmo que por vezes os wingers recuassem pra dar opção de passe vertical aos laterais pelo lado ou no mesoespaço, e Rafael Sóbis(que flutuava bastante nos corredores entrelinhas, aprofundava pra topar com um zagueiro adversário, sendo encaixado ora por este ora por um volante dependendo da sua movimentação, e saía pros lados pra participar de sociedades triangulares) recuasse pra dar opção no meio-campo, na maioria das vezes, as opções de passe do homem da bola eram cortadas e este era obrigado a buscar o lançamento/passe quebrado. Nos flagrantes abaixo, observa-se um pouco dos aspectos ofensivos mexicanos apresentados nessa partida:

Na primeira imagem, Pizarro recua para a "saída de três lavolpiana", com zagueiros abertos e laterais um pouco mais avançados, criando a superioridade numérica(3x2) em relação à primeira linha de marcação adversária. Na segunda imagem, o mesmo acontece. E observa-se também a escassez de linhas de passe próximas ao portador da bola pra fazer a saída de forma "limpa". Arévalo Ríos avança até os trechos iniciais da intermediária defensiva argentina e atrai um volante. Jurgen Damm busca a movimentação pra dar opção no mesoespaço, enquanto o lateral do lado da bola fica bem espetado já em campo ofensivo pra ser opção de abertura de jogada e início da transição por ali. Gignac procura deslocamento curto na frente e Rafael Sóbis faz movimentação sem bola, flutuando entre as duas linhas de quatro adversárias às costas dos volantes. Na terceira imagem, novamente a saída de 3. Arévalo Ríos afastado ao centro, já buscando projeção em campo ofensivo e Rafael Sóbis recuando sem bola e ocupando espaços na linha de meio. No lado da bola, o winger adversário do setor se projeta pra travar a progressão do receptor do passe(o lateral do setor, Vangioni) e o winger mexicano daquele lado(Álvarez) procura o desmarque para ser opção de passe no mesoespaço esquerdo, porém, é perseguido pelo lateral-direito adversário em seu deslocamento. O winger do lado oposto adversário corretamente "larga" o lateral adversário para manter unidade de movimento defensivo na linha média, porém, fica atento pro balanço rápido em caso de inversão/troca de lado. No quarto e no quinto flagrante, observa-se o inteligente posicionamento inicial de Pizarro na saída de bola quando não afundava entre os zagueiros a princípio. Os dois componentes da linha inicial de marcação adversária balanceiam em função da movimentação da bola e Pizarro se posiciona justamente no espaço entre eles ao centro pra dar opção de passe curto e vertical ao zagueiro portador da bola. No sexto frame, Pizarro realiza outra movimentação inteligente. Posiciona-se inicialmente atrás da primeira linha de pressão, no espaço entre ela e a segunda linha ao centro. Posteriormente, aprofunda sem marcação e vem buscar com os zagueiros, já que o River não utilizava nenhum "antídoto" para a "saída de 3". Um dos mais comuns para quem atua em sistema tático semelhante ao dos argentinos é que um dos volantes persiga o volante adversário que afunila entre os zagueiros, porém, isso não ocorria no caso do River, já que um dos volantes tinha que perseguir e fechar a linha de passe com Arévalo Ríos e o outro ficava atento para encostar em Rafael Sóbis nos seus recuos e flutuações entrelinhas. O sétimo flagrante escancara novamente o problema da falta de opções de passe próximas ao homem da bola. Sem muitas opções, o zagueiro portador da bola opta pela ligação direta. Na oitava imagem, jogada de lançamento longo procurando aproveitar o posicionamento alto da última linha adversária. Percebe-se Sóbis circulando sem bola entre as linhas adversárias, os dois wingers atraindo os laterais argentinos, Gignac "prendendo" o zagueiro do lado direito e Arévalo Ríos vindo de trás(sem acompanhamento) para infiltrar no gigantesco espaço vazio entre este zagueiro e o lateral-direito e romper a linha defensiva. No nono frame, Rafael Sóbis balanceia ofensivamente para o flanco direito do ataque, formando sociedade triangular com o winger e o lateral do setor. Gignac fecha na área atraindo o zagueiro oposto e Álvarez também afunila, atraindo o lateral da cobertura por dentro, enquanto que Arévalo Ríos chega de trás e aprofunda pra ser opção de conclusão na grande área, desta vez sendo acompanhado em sua projeção sem bola. No décimo flagrante, ocorre quase o mesmo na área. Winger do setor indo na linha de fundo pra cruzar, Gignac atraindo o zagueiro oposto, winger oposto fechando diagonal sem bola e Arévalo Ríos chegando com liberdade para a conclusão. Na antepenúltima imagem, Damm novamente vai no fundo, Gignac atrai os zagueiros e o winger oposto fecha na área, mas sem afunilar tanto, tirando a referência de marcação do lateral da cobertura por dentro e Arévalo Ríos chega projetado pra sobra de bola na proximidade da entrada da área. Rafael Sóbis é inteligente, entra na área e ataca o espaço vazio entre o lateral-direito e o zagueiro do lado oposto ao do cruzamento para cabecear. Na penúltima imagem, Sóbis balanceia para o lado esquerdo, compondo pequeno triângulo por ali. Gignac e o winger oposto(Damm) se projetam para entrar na grande área, enquanto Arévalo Ríos vem de trás para atacar o espaço vazio no entrelinhas adversário e ser opção pra concluir na frente da área. No último flagrante, Sóbis busca o jogo entrelinhas e progride com bola dominada. Um winger fica bem aberto e o outro fechando mais. Ambos atraindo os laterais, enquanto Gignac dá profundidade ao ataque, "prende" um zagueiro e "empurra" a linha defensiva para trás. Arévalo Ríos movimenta inteligentemente sem bola e faz a infiltração no espaço entre o zagueiro atraído por Gignac e o lateral-direito para ser opção ao passe ruptor. 

Defensivamente, o Tigres marcava predominantemente em bloco baixo, atrás da linha do meio-campo e com Rafael Sóbis participando da recomposição atrás da linha da bola, voltando para acompanhar Kranevitter e/ou fechar linha de passe com o mesmo, enquanto Arévalo Ríos batia com Ponzio e Pizarro muitas vezes aprofundava o posicionamento e afunilava na linha defensiva para criar a superioridade numérica quando os dois atacantes se apresentavam simultaneamente na grande área como opções para o cruzamento, atraindo os dois zagueiros. Caracterizava-se também pelo correto balanceamento defensivo para o lado da bola. Abaixo, observa-se um pouco do que foi destacado aqui:

Na primeira imagem, observa-se a correta basculação das linhas defensiva e média, apresentando curta distância entre si e com Sóbis fazendo a "sobra" à frente da segunda linha(assim como na segunda imagem). No segundo flagrante, as linhas novamente fazem o apropriado balanceamento defensivo em função da movimentação da bola para proteção do lado atacado. Nota-se que os dois atacantes do River estão presentes na área como opções. Assim, Pizarro entra na linha defensiva e cria a superioridade. 

O River Plate foi no 4-4-2 em linhas, marcando pressão avançada inicialmente, subindo as duas primeiras linhas até o início de seu campo ofensivo para abafar a saída adversária e forçar o erro, além da subida da linha defensiva no campo argentino para manutenção da compactação entre os três setores. Caracterizava-se principalmente pela compactação curta e quase-perfeição na "gangorra" para o lado da bola, negando e diminuindo os espaços ao Tigres. Teve boa execução tanto nas ocasiões de subidas de pressão quanto em fase defesa organizada, com as linhas mais recolhidas em sua própria intermediária. Inicialmente adotou proposta de imposição, manutenção de posse e uso dela como defesa para afastar o adversário de seu campo, jogando no campo adversário e não deixando-o jogar. Porém, logo passou a ser mais reativo. Marcava com encaixes individuais por setor e alguns deles, com perseguições não muito curtas. Com a entrada de Martínez no segundo tempo, sua configuração tática passou a ser mais próxima de um 4-4-1-1, com este citado por trás de Alario e defensivamente acompanhando Pizarro de perto e inibindo a ação do mesmo na saída de bola e reconstrução de jogo, o que não vinha sendo feito na primeira etapa. Nos frames abaixo, alguns aspectos defensivos dos argentinos: 

Na primeira imagem, observa-se as duas linhas de quatro corretamente balanceadas em bloco mais abaixado e em formato de "L". Isso pelas perseguições que ocorrem no lado da bola. O lateral corta pro mesoespaço e o winger do setor fecha com ele por ali. O winger adversário busca deslocamento curto pra dar opção de passe um pouco mais à frente e atrai o lateral a sair para a caça setorial. No segundo flagrante, linhas em basculação defensiva. Detalhe para a quase-perfeição e sincronia no movimento da linha média. O terceiro frame já mostra uma situação da segunda etapa. Na ocasião, posicionamento defensivo em bloco médio, entre as intermediárias. Os dois volantes encaixam em Rafael Sóbis e Arévalo Ríos, wingers atentos aos laterais e Martínez cortando a linha de passe com Pizarro. Na quarta imagem, equipe postada em bloco baixo e o winger oposto centralizando corretamente para a basculação com a linha média. Martínez volta acompanhando Pizarro na intermediária, Kranevitter fecha a linha de passe curta com Rafael Sóbis, que vem buscar jogo e Ponzio acompanha Arévalo Ríos, que busca atacar o espaço vazio e romper a última linha argentina. Na penúltima imagem, novamente ocorre o corretíssimo balanceamento defensivo pro lado da bola e Martínez voltando com Pizarro. No último frame, destaque pra compactação curtíssima, ocupando em torno de 20 metros do campo e espaço bem reduzido. Basculação defensiva perfeita. 

Na segunda etapa, Tigres não perdeu característica com as mudanças e continuou pressionando e criando situações. River Plate reforçou propósito reativo e transicional/contragolpista. Com excelente trabalho defensivo, os comandados de Marcelo Gallardo seguraram bem os comandados de Tuca Ferretti. Agora, a decisão é na Argentina! River tem fator casa fortíssimo e a promessa é de um jogo épico. Dois ótimos times tecnicamente e taticamente. Muito equilíbrio e competitividade. As expectativas são as melhores possíveis. Resta aguardar pra ver quem ficará com a taça!


*Por João Elias Cruz(@Joaoeliascruzzz)