quarta-feira, 22 de julho de 2015

Com o retorno da marca de Ferguson, van Gaal inicia preparação vislumbrando grande temporada

O Manchester United terminou a temporada 2014/15 com a sensação de que poderia ter feito mais. Com as claras dificuldades da equipe no início da temporada, van Gaal não se omitiu e buscou soluções como trocas de esquemas e peças. Exceto a grande sequência sem derrotas de novembro/2014 até janeiro/2015, oscilações marcaram a temporada vermelha.

Com a classificação para a Champions League assegurada (jogará a fase eliminatória da competição), os comandados de van Gaal iniciaram a pré-temporada contra o América do México na cidade americana de Seattle.  O treinador holandês voltou a trocar o sistema e adotou o tradicional 4-4-2 duas linhas dos tempos de Ferguson. O time iniciou com Johnstone; Darmian, Jones, Blind e Shaw; Mata, Carrick, Schneiderlin e Young; Rooney e Depay.

O Manchester United iniciava sua pressão em bloco médio, pautado no 4-4-2 e com referências espacias pelo centro e referências individuais pelos lados, com frequentes fixações de Young em Burón (lateral-direito da equipe mexicana). Mata e Young mantinham a linha elástica, evidenciando as referências individuais de suas marcações. A primeira linha de marcação composta por Rooney e Depay faziam a função de fechamento de linhas de passe centrais e esporadicamente pressionavam os zagueiros mexicanos. Quando a bola chegava em algum lateral, logo se percebia a ação de um dos dois "tirando o passe" para o meio, enquanto havia a pressão do winger do lado da bola. Estas ações combinadas com a marcação dos volantes forçavam a defesa do América a executar inúmeras ligações diretas. Carrick e Schneiderlin marcavam com referência no espaço, mas faziam perseguições individuais (uma paixão do holandês) no setor e cobriam os laterais com competência.

A última linha, sempre a mais difícil de se trabalhar e sincronizar, tinha como característica as perseguições individuais longas (as vezes, ultrapassando a linha dos volantes) dos zagueiros vermelhos nos atacantes americanistas, causando um problema de estreitamento entre os dois beques.
Pelas laterais, Darmian e Shaw também perseguiam individualmente seus jogadores do setor, inclusive em regiões centrais, tendo o italiano, bastante eficiência nesse movimento. O ponto positivo também ficou por conta do controle da profundidade, onde a equipe mesmo no início da temporada teve um rendimento satisfatório, conseguindo provocar o "fora de jogo" dos jogadores do América com consistência.

Manchester no 4-4-2, bloco médio, momento defensivo

Após conquistar a bola, o time inglês procurava tirar a bola da zona de pressão, buscando a verticalidade central. Rooney e Depay procuravam se movimentar dando linhas de passes claras para o portador da bola, após isso, temporizavam para a equipe se posicionar e começar a trama ofensiva de forma organizada.

Louis van Gaal deixou bem claro a proposta desse "novo" Manchester que veremos na temporada 2015/16. A ideia de propor o jogo com passes curtos e circulação racional da bola ficou explícita desde a primeira fase de construção, onde Johnstone procurava a saída curta e raramente buscava a ligação direta, mesmo com a equipe mexicana marcando alto, e quando fazia tinha alvos específicos, Rooney, Depay e Young. Com o time mexicano marcando com dois jogadores na primeira linha, van Gaal passou a fazer a saída de 3 com o recuo ora de Carrick, ora de Schneiderlin.

O United buscava sair com apoios centrais, Depay recuava e buscava a bola filtrada por Schneiderlim e Carrick e tinha liberdade entre as linhas espaçadas do América. Mata e Young sabiam dar amplitude e também apoiavam os laterais, dando opções quando o centro estava fechado. Dessa maneira não faltava alternativas para a saída curta do United.

Em uma fase mais avançada do ataque, quando a bola chegava em Mata e Young, Rooney ou Depay garantia a profundidade da equipe e o outro se movimentava para formar pequenas sociedades. Os laterais ultrapassavam os wingers visando a abertura de espaços centrais, mas também a exploração dos corredores laterais, e dessa forma o Manchester conseguia criar espaços e superioridade numérica pelos lados. Após perder a bola, a equipe procurava temporizar e rapidamente se reorganizar em bloco médio, iniciando o processo defensivo. 

Manchester United executando saída de 3. Zagueiros abrem e um dos volantes recuam.
No segundo tempo, a equipe vermelha voltou no mesmo 4-4-2, mas com 11 jogadores diferentes. Louis van Gaal substituiu todos os jogadores no intervalo. O Manchester voltou a campo com Lindegaard; McNair, Smalling, Evans e Blackett; Pereira, Schweinsteiger, Herrera e Lingard; Januzaj e Wilson.

O grande destaque do segundo tempo foi a estréia de Schweinsteiger pela equipe inglesa. O alemão foi consistente em suas movimentações e mostrou desenvoltura nos apoios centrais e coberturas. Outro destaque positivo foi o quarteto ofensivo dos "Red Devils" que com 20 anos de média de idade, colocou velocidade e criou boas oportunidades, especialmente no início do segundo tempo.
Escalação do primeiro tempo.

Escalação do segundo tempo.

Ficou clara as ideias do jogo planejado por Louis van Gaal. Equipe que propõe o jogo, não cede facilmente a qualquer tipo de pressão, e é coerente na execução. Logicamente é apenas um esboço e de forma nenhuma deve servir como parâmetro para a temporada que está por vir. Temos que levar em consideração a força do adversário (bem abaixo do que o time terá que enfrentar), o peso da competição (nulo) e a ausência de jogadores como De Gea, goleiro titular e considerado um dos melhores do mundo na posição, Valencia, extremamente versátil, Rojo, que pode perder espaço, Fellaini, que ganhou minutos com van Gaal e Di Maria, um dos jogadores mais valiosos do elenco, mas que ainda não se firmou e pode deixar a equipe.

Problemas mais graves como falta de compactação entre a linha de defesa e do meio em alguns momentos do jogo, estreitamento da última linha, lentidão na transição ofensiva, entre outros aspectos melhoráveis, devem ser aprimorados com o tempo. Mas como primeiro jogo de preparação, o "novo" Manchester mostra que está no caminho correto de volta para a glória.

Destaques:
- O gol de Schneiderlin, que deu a vitoria pro Manchester, ainda no início do primeiro tempo, com cruzamento de Mata após rebote de escanteio.
- Estréia correta de Schweinsteiger, mostrando que pode ser muito útil na temporada.
- Amostras de uma ideia clara de Louis van Gaal, que embasado em bom planejamento, pode render bons frutos para a equipe de Old Trafford.

Por Emanuel Francisco Serafim Silvério (@EmanuelFSerafim)