O Manchester United terminou a temporada 2014/15 com a sensação de que poderia ter feito mais. Com as claras dificuldades da equipe no início da temporada, van Gaal não se omitiu e buscou soluções como trocas de esquemas e peças. Exceto a grande sequência sem derrotas de novembro/2014 até janeiro/2015, oscilações marcaram a temporada vermelha.
Com a classificação para a Champions League assegurada (jogará a fase eliminatória da competição), os comandados de van Gaal iniciaram a pré-temporada contra o América do México na cidade americana de Seattle. O treinador holandês voltou a trocar o sistema e adotou o tradicional 4-4-2 duas linhas dos tempos de Ferguson. O time iniciou com Johnstone; Darmian, Jones, Blind e Shaw; Mata, Carrick, Schneiderlin e Young; Rooney e Depay.
O Manchester United iniciava sua pressão em bloco médio, pautado no 4-4-2 e com referências espacias pelo centro e referências individuais pelos lados, com frequentes fixações de Young em Burón (lateral-direito da equipe mexicana). Mata e Young mantinham a linha elástica, evidenciando as referências individuais de suas marcações. A primeira linha de marcação composta por Rooney e Depay faziam a função de fechamento de linhas de passe centrais e esporadicamente pressionavam os zagueiros mexicanos. Quando a bola chegava em algum lateral, logo se percebia a ação de um dos dois "tirando o passe" para o meio, enquanto havia a pressão do winger do lado da bola. Estas ações combinadas com a marcação dos volantes forçavam a defesa do América a executar inúmeras ligações diretas. Carrick e Schneiderlin marcavam com referência no espaço, mas faziam perseguições individuais (uma paixão do holandês) no setor e cobriam os laterais com competência.
A última linha, sempre a mais difícil de se trabalhar e sincronizar, tinha como característica as perseguições individuais longas (as vezes, ultrapassando a linha dos volantes) dos zagueiros vermelhos nos atacantes americanistas, causando um problema de estreitamento entre os dois beques.
Pelas laterais, Darmian e Shaw também perseguiam individualmente seus jogadores do setor, inclusive em regiões centrais, tendo o italiano, bastante eficiência nesse movimento. O ponto positivo também ficou por conta do controle da profundidade, onde a equipe mesmo no início da temporada teve um rendimento satisfatório, conseguindo provocar o "fora de jogo" dos jogadores do América com consistência.
Manchester no 4-4-2, bloco médio, momento defensivo |
Após conquistar a bola, o time inglês procurava tirar a bola da zona de pressão, buscando a verticalidade central. Rooney e Depay procuravam se movimentar dando linhas de passes claras para o portador da bola, após isso, temporizavam para a equipe se posicionar e começar a trama ofensiva de forma organizada.
Louis van Gaal deixou bem claro a proposta desse "novo" Manchester que veremos na temporada 2015/16. A ideia de propor o jogo com passes curtos e circulação racional da bola ficou explícita desde a primeira fase de construção, onde Johnstone procurava a saída curta e raramente buscava a ligação direta, mesmo com a equipe mexicana marcando alto, e quando fazia tinha alvos específicos, Rooney, Depay e Young. Com o time mexicano marcando com dois jogadores na primeira linha, van Gaal passou a fazer a saída de 3 com o recuo ora de Carrick, ora de Schneiderlin.
O United buscava sair com apoios centrais, Depay recuava e buscava a bola filtrada por Schneiderlim e Carrick e tinha liberdade entre as linhas espaçadas do América. Mata e Young sabiam dar amplitude e também apoiavam os laterais, dando opções quando o centro estava fechado. Dessa maneira não faltava alternativas para a saída curta do United.
Em uma fase mais avançada do ataque, quando a bola chegava em Mata e Young, Rooney ou Depay garantia a profundidade da equipe e o outro se movimentava para formar pequenas sociedades. Os laterais ultrapassavam os wingers visando a abertura de espaços centrais, mas também a exploração dos corredores laterais, e dessa forma o Manchester conseguia criar espaços e superioridade numérica pelos lados. Após perder a bola, a equipe procurava temporizar e rapidamente se reorganizar em bloco médio, iniciando o processo defensivo.
Manchester United executando saída de 3. Zagueiros abrem e um dos volantes recuam. |
No segundo tempo, a equipe vermelha voltou no mesmo 4-4-2, mas com 11 jogadores diferentes. Louis van Gaal substituiu todos os jogadores no intervalo. O Manchester voltou a campo com Lindegaard; McNair, Smalling, Evans e Blackett; Pereira, Schweinsteiger, Herrera e Lingard; Januzaj e Wilson.
O grande destaque do segundo tempo foi a estréia de Schweinsteiger pela equipe inglesa. O alemão foi consistente em suas movimentações e mostrou desenvoltura nos apoios centrais e coberturas. Outro destaque positivo foi o quarteto ofensivo dos "Red Devils" que com 20 anos de média de idade, colocou velocidade e criou boas oportunidades, especialmente no início do segundo tempo.
Escalação do primeiro tempo. |
Escalação do segundo tempo. |
Ficou clara as ideias do jogo planejado por Louis van Gaal. Equipe que propõe o jogo, não cede facilmente a qualquer tipo de pressão, e é coerente na execução. Logicamente é apenas um esboço e de forma nenhuma deve servir como parâmetro para a temporada que está por vir. Temos que levar em consideração a força do adversário (bem abaixo do que o time terá que enfrentar), o peso da competição (nulo) e a ausência de jogadores como De Gea, goleiro titular e considerado um dos melhores do mundo na posição, Valencia, extremamente versátil, Rojo, que pode perder espaço, Fellaini, que ganhou minutos com van Gaal e Di Maria, um dos jogadores mais valiosos do elenco, mas que ainda não se firmou e pode deixar a equipe.
Problemas mais graves como falta de compactação entre a linha de defesa e do meio em alguns momentos do jogo, estreitamento da última linha, lentidão na transição ofensiva, entre outros aspectos melhoráveis, devem ser aprimorados com o tempo. Mas como primeiro jogo de preparação, o "novo" Manchester mostra que está no caminho correto de volta para a glória.
Destaques:
- O gol de Schneiderlin, que deu a vitoria pro Manchester, ainda no início do primeiro tempo, com cruzamento de Mata após rebote de escanteio.
- Estréia correta de Schweinsteiger, mostrando que pode ser muito útil na temporada.
- Amostras de uma ideia clara de Louis van Gaal, que embasado em bom planejamento, pode render bons frutos para a equipe de Old Trafford.
Por Emanuel Francisco Serafim Silvério (@EmanuelFSerafim)