terça-feira, 21 de julho de 2015

Sport se impõe, derrota o São Paulo e volta ao G-4!


Diante do São Paulo, na Arena Pernambuco, o Sport tenha feito talvez o seu melhor jogo nesse Campeonato Brasileiro. Time se mostra maduro e bem mais completo taticamente, com melhor equilíbrio/adaptação entre as fases do jogo. Compacta bem defensivamente, executa bem proposta reativa/transicional quando é necessário e demonstra conteúdo para proposição de jogo(essa é a grande evolução mostrada pela equipe e por Eduardo Baptista). Travou um duelo tático de alto nível contra o São Paulo de Juan Carlos Osorio e venceu merecidamente por 2 a 0. Resultado fruto da imposição e superioridade rubro-negra em sua proposta de jogo nas quatro linhas. 

O Sport foi no habitual 4-2-3-1, com variação defensiva para o 4-4-2 em linhas. Tomou a iniciativa e buscou propor o jogo desde o começo, apesar de inicialmente ter encontrado dificuldades para furar o bloqueio são-paulino em fase de ataque organizado. Trocava bons passes lateralmente, tinha a posse e a trabalhava bem progressivamente até trechos da sua intermediária ofensiva, porém, tinha problemas pra encaixar o passe entre as linhas, dar continuidade a certas jogadas e penetrar no sistema defensivo adversário. Defensivamente, predominava posicionamento em bloco médio, caracterizando-se pela compactação curta, defesa em linha alta pra manter a compactação entre os três setores, subidas de pressão com certa constância inicialmente pra forçar o erro na saída de bola adversária, com a primeira linha de marcação(Diego Souza e André) pressionando alto e em fase defesa organizada, em bloco baixo, caracterizava-se pela predominância da fixação individual do winger oposto no ala tricolor. Abaixo, um flagrante do posicionamento defensivo leonino:

Linhas rubro-negras postadas em bloco médio, compactação curta em 20 a 30 metros do campo. Neste caso, apresentam perfeito balanceamento defensivo para o lado da bola. Referência de marcação predominantemente zonal. 

Ofensivamente, o Sport desenvolveu ótimas movimentações. Rithely afundava entre os zagueiros para a saída de três, sempre configurava como opção de retorno para reinício da construção ofensiva e chegava na frente pra armar as jogadas do time no último terço ou procurar o último passe de ruptura. Wendel fazia a cobertura do lado esquerdo rubro-negro e dava o primeiro combate no setor quando Renê apoiava, o Sport perdia a posse em campo ofensivo e o adversário tentava a saída em transição rápida por ali. Na linha de 3, Elber e Marlone abriam buscando dar amplitude ao ataque leonino e liberar as chegadas dos laterais com bola vindo de fora pra dentro, mas também fechavam em diagonal pra ser opção na área quando a bola caía no flanco oposto. Diego Souza aprofundava ao centro sem bola pra se juntar a André e topar com a linha defensiva adversária, mas também recuava pra buscar na linha dos volantes na saída de bola e tinha liberdade ofensiva para balanceamento para os lados do campo. Na frente, muita mobilidade de André, com intensa movimentação, saindo pros extremos pra buscar jogo e dar opção de passe vertical ao portador da bola, buscava jogadas pessoais em espaço curto, tentava achar espaços pra fazer o pivô, alternava com Diego Souza na disputa da primeira bola nas ligações diretas e abria espaços na última linha adversária, atraindo movimentação com seus constantes deslocamentos. Leão era possessivo e intenso. 

Nos flagrantes abaixo, observa-se um pouco da movimentação ofensiva leonina na partida: 


Na primeira imagem, Elber abre o campo pela direita, Samuel Xavier carrega de fora pra dentro, abre o jogo com André, que se locomove em diagonal curta do centro pra direita, e chega na área pra concluir a jogada. Na imagem, Marlone fecha no facão pra área, Renê também fica mais afastado da lateral e Diego Souza balanceia sem bola pra ocupar(bastante aberto) o lado esquerdo do ataque. Na segunda imagem, Diego Souza balanceia ofensivamente para o flanco direito(setor da bola) pra triangular com Elber e Samuel Xavier, o primeiro ocupa o mesoespaço direito e o segundo fica mais próximo da lateral como linha de passe vertical curta ao portador da bola(Diego Souza). André também "pende" pra direita pra ser opção de passe/tabela em diagonal pra fazer a parede. Nesse flagrante, também é possível ver um pouco do sistema de marcação do São Paulo. Linha de cinco atrás, dois volantes à sua frente e balanceando defensivamente para proteção do lado atacado. Posteriormente no lance, Elber e Samuel Xavier "trocam". O primeiro vem ocupar o corredor quando o segundo carrega do lado em direção ao centro e encontra Wendel na faixa central, projetando-se com liberdade no espaço vazio no entrelinhas do São Paulo, que foi aberto pela movimentação ofensiva do Sport e pela "gangorra" dos volantes do Tricolor Paulista. Na última imagem, Rithely aparece na frente pra armar e tentar a jogada no último terço, porém, não tem opções de infiltração de ruptura da linha defensiva adversária pra acionar. Nessa imagem, Diego Souza aprofunda ao centro pra se juntar a André, Elber alarga o campo pela direita sendo opção de abertura de jogada quando Michel Bastos centraliza pra "encurtar" a linha defensiva, Samuel Xavier novamente vem de fora pra dentro e Marlone afasta da lateral, chegando na área e atraindo o ala do lado oposto ao da bola(Thiago Mendes). Na imagem, 7 jogadores são-paulinos participam ativamente da fase defensiva(linha defensiva+dupla de volantes+Ganso, o responsável por acompanhar a movimentação de Rithely). 

No primeiro frame, Wendel carrega e busca o passe diagonal pra Marlone, que abre o campo na esquerda pra ser opção de abertura de jogada e busca a jogada pessoal pelo lado, enquanto Renê vem por dentro e Diego Souza aprofunda pra chegar como opção de conclusão na grande área, junto a André e o extremo oposto(Elber) que fecha na diagonal sem bola. Repare que os dois volantes participavam ativamente da ação ofensiva. Wendel abrindo o jogo e ultrapassando posteriormente, e Rithely sendo opção de retorno ao centro, mais afastado da dupla de volantes adversária. Isso é a tônica do Sport. Movimentação do quarteto ofensivo e volantes presentes em campo ofensivo. Isso é o que pede o futebol moderno. Que os volantes marquem e joguem. Rithely e Wendel vêm fazendo isso muito bem. No segundo flagrante, Marlone novamente bem aberto na esquerda. André procura o deslocamento na última linha adversária pro setor da bola, assim como Diego Souza um pouco mais atrás, balançando os volantes são-paulinos pro lado da bola. Renê é opção de retorno curto pelo lado e o winger oposto(Elber) novamente fecha a diagonal pra área. Na terceira imagem, Renê chega pra dentro, Marlone abre na ponta, Diego Souza chega na área e André "troca" com Ferrugem(que entrou no lugar de Elber na segunda etapa). O segundo citado vem no centro da área junto a Diego Souza e o camisa 90 chega na segunda trave pra tentar concluir o cruzamento de Marlone. Na última imagem, Renê carrega a bola em diagonal, Marlone passa paralelamente no corredor, Régis(entrou na vaga de Diego Souza no segundo tempo) atrai um volante, Ferrugem afunila sem bola e André busca a locomoção entre o lateral do lado oposto e o zagueiro(São Paulo já tinha trocado a configuração tática, passando de uma linha de 5 para uma linha de 4 na defesa). 

André teve participação ativa nos dois gols do Sport. No primeiro gol, o Leão acelera o jogo na transição defesa-ataque. Thiago Mendes se atrasa muito e não consegue recompor a tempo o lado direito defensivo do São Paulo. Marlone tabela com André desde a intermediária defensiva leonina, aciona o camisa 90, que se desloca em diagonal pro flanco esquerdo, atraindo o zagueiro do setor da bola. O camisa 8 faz deslocamento curto para o mesoespaço esquerdo, balançando os volantes paulistas pro setor, abrindo um gigantesco espaço ao centro para uma possível projeção de Diego Souza, e posteriormente, faz a diagonal oposta a de André, saindo do mesoespaço para atacar o vazio às costas do zagueiro(Hudson não conseguiu acompanhá-lo até o final em sua infiltração) que saiu na cobertura de Thiago Mendes para dar combate em cima do centroavante rubro-negro. O zagueiro central sai pra cobertura pelo lado da área, o zagueiro do lado oposto fecha o centro da grande área e o ala oposto(Michel Bastos) fecha na cobertura por dentro com o extremo leonino do flanco oposto ao do cruzamento(Elber). Porém, de nada adiantou. Marlone fez ótimo cruzamento rasteiro, Elber fechou na diagonal, foi mais rápido que Michel Bastos e concluiu para o fundo das redes. No lance do segundo gol, André fez diagonal curta na área, locomovendo-se para a esquerda pra receber próximo da linha de fundo, carregando um zagueiro pra fora do setor, enquanto Marlone entrava no facão pra ser opção na área, atraindo outro marcador e gerando um enorme espaço vazio no centro da área pra Ferrugem atacar em velocidade no facão de ruptura, receber o passe de André(que trabalhou muito bem de costas pra marcação no lance) e marcar. 


Já o São Paulo, foi no 3-4-1-2, com variação para o 3-4-3, de acordo com a movimentação/posicionamento de Ganso, que defensivamente afundava ao centro entre Pato e Centurión para compor a primeira linha de marcação tricolor, que exercia uma pressão mais à frente, nos trechos inciais da intermediária defensiva pernambucana. Pato e Centurión davam o primeiro combate aos laterais do Sport quando estes eram os portadores da bola, mas raramente os acompanhavam até a segunda metade da cancha, deixando-os topar com os alas e quando recompunham os lados, era com referência fixamente individual no lateral. Ganso tinha a função defensiva de acompanhar Rithely em campo ofensivo e defensivo, variando seu posicionamento de acordo com a movimentação do camisa 21 rubro-negro, que é um dos caras que fazem o Sport jogar. Sua função de afunilar entre Pato e Centurión se dava muitas vezes nas ocasiões em que Rithely buscava entre os zagueiros Matheus Ferraz e Durval na saída lavolpiana, mas quando isso não ocorria, a primeira linha de marcação são-paulina deixava os zagueiros com um pouco mais de espaço pra progredir com bola na saída em campo defensivo, iniciando o combate com Pato e Centurión em cima dos laterais e Ganso cortando a linha de passe com Rithely. De certo modo, pode-se dizer que a participação/colaboração defensiva de Ganso atrás da linha do meio-campo na fase de defesa organizada tricolor era maior que a de Pato e Centurión. Os alas recuavam para fechar a linha de 5 atrás, com Hudson e Rodrigo Caio à frente dessa linha, rodando defensivamente de acordo com a movimentação da bola pelo setor ofensivo pernambucano. A linha defensiva tricolor, assim como os dois volantes, marcava por zona, com sucessivo sistema de coberturas e sempre que a bola caía por um flanco, o seguinte posicionamento: Ala do setor encosta pra combater o homem da bola na linha lateral, zagueiro daquele lado fica projetado pra cobrir as costas do ala ou travar a linha de passe curta quando André se deslocava, zagueiro central e zagueiro do lado oposto fechavam o centro da área e ala oposto centralizava pra cobertura por dentro. Abaixo, um flagrante do posicionamento defensivo do São Paulo:

Linha de 5 atrás, dois volantes alinhados e Ganso fechando linha com Centurión e Pato. Em números, algo próximo de um 5-2-3/5-2-1-2. 

Na saída de bola do São Paulo, os zagueiros de lado abriam bem, laterais espetavam, "empurrando" os wingers do Sport para trás. Desta forma, o São Paulo tinha superioridade numérica(3x2) contra a primeira linha de marcação do Sport e também na saída pelos lados, já que o atacante do lado da bola costumava cair pelo setor pra ser opção mais à frente, atraindo o lateral do lado da bola e como o winger geralmente fixava no lateral, o zagueiro daquele lado ganhava mais espaço pra progredir com bola do campo defensivo até as proximidades da linha que divide o gramado. Nos momentos de pressão avançada, por vezes os wingers do Sport ficavam indecisos entre pressionar/cortar linha de passe com o zagueiro adversário do seu lado e "largar" o ala ou manter-se próximo ao ala e dar espaço pro zagueiro. Observa-se um pouco disso nos flagrantes abaixo: 

Na primeira imagem, observa-se o 3x2 do São Paulo. A primeira linha de marcação do Sport faz o balanço em função da circulação da pelota na saída de bola, porém, o zagueiro oposto são-paulino fica livre pra virada de jogo, já que Elber fixa no ala-esquerdo são-paulino(Michel Bastos). No segundo frame, a qualidade de Rogério Ceni com a bola nos pés é usada como recurso. Diego Souza e André novamente balanceiam para o lado da bola na pressão alta, com o primeiro pressionando o portador da bola e o segundo fechando a linha de passe com o zagueiro central. No flanco oposto, Elber fica no "meio-termo". Indeciso entre cortar a opção de passe com Edson Silva ou manter-se "colado" em Michel Bastos. 

Inicialmente, o Tricolor Paulista adotou proposta de jogo reativa, buscando impedir a posse progressiva do Sport, negando espaços, sendo agressivo pra induzir ao erro ou manutenção da posse sem objetividade e apostando na transição em velocidade com apoio simultâneo dos alas nos corredores, balanceamento ofensivo muito bem feito por Pato e Centurión(sempre que um abre ou retém a bola pelo seu lado, o outro afunila em diagonal) e Ganso se apresentando como opção pra receber na entrelinha do Sport e tentar o passe ruptor. Observa-se um pouco dessa movimentação do São Paulo nos frames a seguir:

Na primeira imagem, pode-se observar que os dois alas ocupam o campo de ataque. Thiago Mendes vem pelo mesoespaço e aciona Centurión na ponta. Ganso aparece sem bola no entrelinhas do Sport, Pato fecha como opção na área, atraindo Samuel Xavier na cobertura por dentro e Michel Bastos é opção pra virada ou pra pegar rebote e reiniciar pela esquerda. No segundo frame, Pato recebe pelo lado esquerdo, faz o corte curto pro meio, atraindo o lateral do setor(Samuel Xavier) "pra dentro", enquanto que Michel Bastos ultrapassa no corredor, Ganso aparece como linha de passe diagonal curto ao centro na entrelinha rubro-negra, Centurión procura a movimentação no facão entre Renê e Durval, e Thiago Mendes ataca o corredor aberto por essa diagonal sem bola sendo opção pra virada longa. No último flagrante, contragolpe são-paulino oriundo de rebote de uma cobrança de falta. Pato carrega de fora pra dentro partindo da esquerda, Centurión procura a infiltração entre os dois homens que ficaram mais atrás e Ganso vem de trás. Nessa situação, Centurión passa e fica em impedimento. Pato aciona Ganso, que vem de frente pra pegar a bola e este dá o passe ruptor para o camisa 11, que se infiltra no meio dos dois homens rubro-negros mais recuados e sai na cara do goleiro. Pato tentou driblar Danilo Fernandes, mas o arqueiro leonino conseguiu detê-lo. 

Na segunda etapa, atrás do placar, o São Paulo teve que tomar iniciativa e jogar com a posse. Procurava o jogo principalmente pelo flanco direito do ataque e/ou com lançamentos em diagonal pras tentativas de infiltração de Pato no facão no espaço entre Samuel Xavier e Matheus Ferraz, porém, sem muito sucesso. Sport recuou as linhas defensivamente e passou a jogar transicionalmente, apostando nas saídas em velocidade, com André ou Diego Souza carregando no entrelinhas são-paulino ao centro e procurando a dobradinha Ferrugem-Samuel Xavier à direita ou Marlone-Renê à esquerda. O SPFC passou a jogar com uma linha de 4 atrás com a entrada de Luis Fabiano no lugar de Edson Silva. Com isso, o Tricolor Paulista passou a ter um homem mais fixo entre os zagueiros pra dar profundidade e "empurrar" a linha defensiva para trás. E com a entrada de Reinaldo, Michel Bastos passou a atuar no meio-campo. O Sport renovou as energias com Ferrugem e Régis, além de ter mantido a pegada na linha dos volantes mesmo com o cansaço de Wendel e entrada de Rodrigo Mancha. O Sport era mais equilibrado e eficiente dentro de sua proposta. André e Ferrugem perderam duas chances na cara após realizarem boas infiltrações em diagonais opostas para romper a última linha são-paulina. As coisas pioraram para o time paulista com as expulsões de Ganso, Luis Fabiano e do técnico Juan Carlos Osorio. Já não havia mais esperanças praticamente. No final, Ferrugem liquidou a fatura e deu números finais ao jogo. 


*Por João Elias Cruz(@Joaoeliascruzzz)