segunda-feira, 6 de julho de 2015

Final da Copa América premiou a equipe de melhor futebol na competição!


Na grande final da Copa América, Argentina e Chile protagonizaram um jogo disputado, de muita luta, com duas equipes muito aguerridas. Também foi muito interessante pelo lado estratégico, já que em toda a competição, a Argentina e o Chile foram duas das poucas equipes que adotou a posse de bola e proposição de jogo como características essenciais, dentro dos esquemas bem montados por Tata Martino e Jorge Sampaoli, respectivamente. No tempo normal e na prorrogação, empate sem gols. Nos pênaltis, vitória chilena por 3 a 1, premiando o trabalho de longo prazo, já que Sampaoli está há um bom tempo no comando chileno e vem fazendo um excelente trabalho taticamente, herdando muitas coisas da filosofia implantada pela escola de Marcelo Bielsa e aprimorando outras também para tornar sua equipe mais completa e adaptada às situações de jogo sem fugir das suas ideias e propósitos. Já há um bom tempo, o Chile se mostra uma equipe com muita intensidade em todas as fases do jogo, bom trabalho possessivo, com conteúdo e movimentos bem treinados, coordenados e executados. 

Sampaoli escalou o time chileno no 3-4-1-2, com Díaz fazendo a sobra na linha defensiva. Nos jogos anteriores, Díaz recuava para fazer a saída de 3, com os zagueiros abrindo e laterais espetando, porém, nessas ocasiões, ele marcava alinhado com Aránguiz e Vidal no tripé de meio-campo que balanceava defensivamente de acordo com a movimentação da bola, à frente de uma linha de 4 na defesa. Desta vez, o Chile marcou com uma linha de 5 atrás, tendo Aránguiz e Vidal à sua frente, como pode-se perceber no exemplo a seguir: 

Linha defensiva com 5 jogadores, tendo superioridade numérica em relação ao ataque argentino, Aránguiz e Vidal alinhados à sua frente, enquanto que Valdívia, Alexis Sánchez e Eduardo Vargas não participam diretamente da recomposição atrás da linha da bola na fase de defesa organizada, com os dois últimos citados sendo as opções para aceleração e agressividade na transição defesa-ataque, após a retomada da pelota. Esses três participam da pressão avançada e pressionam os volantes e/ou zagueiros adversários em caso de recuo adversário para reinício da construção ofensiva. 

Os melhores momentos chilenos saíram em jogadas transicionais, procurando os facões de Sánchez e Vargas nos espaços entre os zagueiros e os laterais ou esticadas de bola para a correria dos mesmos. Diferente do que ocorre costumeiramente, Sánchez iniciou o jogo mais aberto à direita e Vargas mais à esquerda(por volta dos 25 minutos de jogo, os dois inverteram novamente o posicionamento entre si). Com a posse de bola, Sánchez recuava pra receber e fazia o corte curto de fora pra dentro, enquanto que simultaneamente Isla ultrapassava no corredor paralelo dando opção de esticada pra chegar no fundo do campo e Vargas fechava em diagonal para ser opção na área ou até mesmo a referência entre os zagueiros(ele não realiza a diagonal ofensiva apenas quando a bola cai no lado oposto, mas também em situações em que a bola está no centro sob domínio dos volantes, afastando-se da lateral com o intuito de abrir o corredor pra que o lateral do setor receba com liberdade na virada), esperando a chegada de um dos volantes vindo de trás pra tentar a conclusão(nessa partida, geralmente era Vidal quem aparecia mais transitando entre as intermediárias, enquanto que Aránguiz se preocupava mais em cuidar mais do primeiro passe e ser opção de passe para os zagueiros entre a primeira linha e a segunda linha de marcação argentina na intermediária chilena, porém, por vezes também chegava na frente). Inicialmente, o Chile massacrou a Argentina com alta intensidade de jogo tanto na marcação(procurando diminuir os espaços de Messi quando este fazia o seu costumeiro movimento de cortar da direita pra dentro pra usar a perna esquerda ou procurar espaços no entrelinhas adversário para tabelar e arrancar, e também buscando impedir que a bola chegasse limpa no camisa 10, marcando com muita agressividade desde o campo argentino) quanto no ataque(muita força e velocidade no jogo transicional). 

Nos flagrantes a seguir, observa-se como Chile e Argentina marcavam pressão avançada: 

Na imagem acima, quando Mascherano afunda ao centro pra ser opção de passe ao goleiro Romero(portador da bola) e fazer a saída de 3 lavolpiana, Valdívia o persegue, fechando a linha de passe, enquanto que Sánchez e Vargas vigiam os zagueiros, que abrem para que os laterais possam avançar. Desta forma, o Chile iguala numericamente(3x3) e sobe os demais encaixes quando um jogador se apresenta para oferecer linha de passe. Vidal e Aránguiz encaixam nos dois médios mais avançados do tripé argentino(Pastore e Biglia) e Isla "larga" Di María, deixando-o com Silva(o zagueiro pela direita) para subir a pressão no lateral-esquerdo Rojo, que se apresenta como opção. Desta forma, força o passe quebrado e dificulta com que a bola chegue pro tridente ofensivo argentino. 

Quando marcava pressão, a Argentina de certo modo, seguia os moldes chilenos. Agüero bloqueando a linha de passe com Díaz, Lavezzi(que entrou no lugar de Di María) com Silva, Messi com Medel, Pastore e Biglia com Aránguiz e Vidal, Mascherano com Valdívia. O lateral argentino do lado da bola também "largava" o atacante do setor(no caso, Vargas) com um dos zagueiros para subir o encaixe no lateral chileno do setor que dá linha de passe vertical ao portador da bola. No lado oposto, o lateral aparece livre como opção para a inversão, já que o lateral argentino do lado oposto ao da bola mantém-se fixo no atacante chileno daquela área(Alexis Sánchez). 

Em fase de defesa organizada, a Argentina fechava um 4-4-2 com duas linhas de quatro(como pode-se observar na imagem abaixo), já que Messi não recompunha o flanco direito, ficando mais à frente, próximo de Agüero para o contragolpe. Desta forma, Di María(posteriormente Lavezzi) voltava à esquerda e Biglia fechava o extremo oposto quando a bola caía por lá e centralizava para a basculação defensiva com a linha de meio quando a bola caía no setor esquerdo da defesa argentina. Ofensivamente, Pastore foi o mais lúcido dos argentinos, jogando bem de área a área, dando opção ofensiva, carregando bem a bola na transição e chegando na frente com boas arrancadas, até por possuir tendências mais ofensivas e agressivas que Biglia. 

Argentina compactada em duas linhas de quatro atrás da linha da bola, deixando Messi livre de esforços na recomposição e dando maior liberdade ofensiva para o mesmo, com Biglia dando o primeiro combate à direita, à frente de Zabaleta. 

Os argentinos tiveram muitas dificuldades pra jogar, sair com a pelota e circular a posse. O Chile criava boas situações, porém, também não estava nos seus melhores dias tecnicamente. As circunstâncias e o contexto da partida influenciavam tudo isso. Pelo lado chileno, Jorge Sampaoli resolveu utilizar Vidal mais próximo de Sánchez e Vargas(posteriormente Henríquez) e pelo lado argentino, Tata Martino procurava explorar as costas de Isla com a presença de Lavezzi bem espetado e aberto na esquerda. Muita luta, disputa, chances, esforço. No final, pode-se dizer que a coletividade, garra, inteligência e aplicação tática dos chilenos foi premiada e a geração considerada como a melhor da história do futebol chileno conseguiu seu primeiro título. Tata Martino também faz um bom trabalho desde que assumiu a seleção argentina no período Pós-Copa e tende a evoluir ainda mais ainda com a opção de nomes talentosos da nova geração argentina para renovar o ataque, como Dybala e Luciano Vietto. As expectativas são boas com relação ao futuro de ambas as seleções. 


*Por João Elias Cruz(@Joaoeliascruzzz)