sexta-feira, 17 de julho de 2015

Flamengo derrota o Náutico fora de casa e avança na Copa do Brasil!


Pela terceira fase da  Copa do Brasil, Náutico e Flamengo travaram um bom duelo tático na Arena Pernambuco. Jogo bem disputado, competitivo e de muita intensidade. Os cariocas levaram a melhor, venceram por 2 a 0 e avançaram às oitavas-de-final da competição. 

O Náutico entrou num 4-4-2 em linhas, buscando imposição, jogando em alta intensidade, com compactação curta em 30 metros defensivamente, agressividade na marcação, dificultando a progressão adversária, negando espaços em campo defensivo quando se fechava atrás da linha da bola em bloco baixo e utilizando de constantes subidas de pressão para forçar o erro adversário na saída de bola, visando obrigar ao passe quebrado pros atacantes, com as duas primeiras linhas ocupando a intermediária defensiva flamenguista, sempre com pressão de pelo menos um jogador ao portador da bola e a linha defensiva subindo no campo do Náutico pra manter a compactação e pressionar/roubar o receptor do passe quebrado. Apesar da alternância entre Rogerinho e Douglas na ocupação do lado esquerdo, geralmente era o segundo citado quem fechava o setor sem a posse de bola. Na linha de meio, Marino fazia perfeitamente o movimento de centralização quando a bola caía no flanco oposto para a basculação defensiva, porém, Douglas por vezes mantinha-se fixo no lateral quando a bola estava sob posse adversária no lado contrário e quando fechava por dentro pro balanceamento com a linha, demorava na execução do movimento e mesmo assim, muitas vezes deixava um espaço considerável entre ele e os volantes. No flagrante a seguir, pode-se observar um pouco sobre a compactação do Timbu:

Nessa ocasião, pode-se reparar o Timbu de Lisca com as linhas mais retraídas, atrás da linha do meio-campo, em fase defesa organizada. Exemplo de compactação a nível de Brasil! Basculação defensiva perfeita, curtíssima distância entre as linhas, referência espacial, espaços reduzidos no setor da bola, agressividade, atacantes participando da compactação da equipe(podendo pressionar as opções de passe em caso de retorno pra reinício da construção ofensiva)... Obs: Não foi possível capturar na imagem, o lateral do lado oposto ao da jogada, que fecha na grande área para fazer a cobertura por dentro. 

Ofensivamente, as melhores chegadas do Náutico eram em tentativas de aceleração na transição, em velocidade. O time tinha dificuldades pra criar e propor o jogo com a posse de bola na fase de ataque organizado e acabava errando no último terço, porém, controlava bem o jogo e não deixava o Flamengo jogar. Destaque pro bom balanceamento ofensivo por parte dos atacantes. Sempre que um deles se deslocava pra receber no fundo pelo lado do campo, o outro fechava na área entre os zagueiros pra ser opção pro cruzamento. Douglas caía pela esquerda, mas também costumava aprofundar pra se juntar a Stéfano Yuri no centro do ataque. Rogerinho centralizava pra participar da construção, mas também flutuava pelo lado e por vezes chegava na área pra ser opção. 

O Flamengo foi no 4-3-3, com variante defensiva para o 4-1-4-1. Pela necessidade de vencer, naturalmente tinha tendências mais possessivas e propositoras, porém, tinha dificuldade na transição entre os setores devido à pressão avançada do Náutico, errava muitos passes e não conseguia dar continuidade às jogadas em campo ofensivo. Na saída de bola, um dos homens mais avançados do tripé de meio recuava para buscar a pelota com Jonas na intermediária defensiva ao centro, enquanto o outro se projetava entre as linhas de meio e ataque do Náutico em campo ofensivo. A dinâmica de jogo flamenguista se caracterizava pela formação de sociedade triangular pelos lados do campo, com a aproximação de um dos médios para procurar o passe/trabalho de jogada com o ponta e o lateral do setor da bola, enquanto que o médio oposto virava opção pra retorno mais ao centro, próximo de Jonas. Outro aspecto interessante de se observar era a intensa movimentação de Guerrero, que flutuava o campo todo, procurava a movimentação no entre as linhas de defesa e meio do Náutico, recuava pra dar opção de passe vertical curto ao portador da bola, buscava espaços pra fazer a parede e dar continuidade à posse rubro-negra, tentava abrir espaços na última linha e saía em diagonal pros lados(por vezes um dos pontas fechava no facão pra topar com os zagueiros ao centro e preencher o espaço na referência quando Guerrero fazia essa locomoção). Assim, pode-se afirmar que o peruano é o eixo do time flamenguista. Também tem boa movimentação na grande área, dando profundidade ao ataque, "empurrando" a linha defensiva adversária pra trás e procurando os deslocamentos curtos nos espaços entre os defensores pra tentar concluir os cruzamentos. Pela sua qualidade técnica e características/virtudes táticas, sua presença dá uma nova cara ao Flamengo e eleva o nível técnico-tático da equipe. 

Defensivamente, o Flamengo marcava predominantemente em bloco baixo, com as linhas mais recuadas no próprio campo, com Emerson Sheik apresentando referência fixamente individual no lateral adversário e Everton ora centralizando junto aos volantes para o balanceamento defensivo pro lado atacado, ora mantendo-se fixo no lateral quando a bola caía no lado oposto. Pela presença do tripé de meio balanceando pra região da pelota junto com o ponta do setor, os espaços entre eles e o ponta oposto eram menores e menos relevantes. 

Com a saída de Jonas por lesão, Cáceres passou a atuar entre as linhas, Everton passou a atuar mais à esquerda no tripé de meio, com Canteros mais à direita, Emerson Sheik na ponta-esquerda e Marcelo Cirino à direita. Isso melhorou a dinâmica possessiva do Flamengo, que antes demonstrava maior lentidão na posse pela presença de dois volantes com características mais defensivas e pouca noção/consciência com bola, o que dificulta a execução de um 4-3-3/4-1-4-1. Porém, a lentidão não se dava apenas por isso, mas também pela ausência de espaços para a progressão e encaixe do passe entrelinhas no campo defensivo do Náutico, de modo a limitar o Flamengo a trocar passes lateralmente com paciência para tentar encontrar espaços para jogar e tentar abrir o campo, porém, não obtinha muito sucesso. Outro fator que complicava o Flamengo é que o time possui características muito mais reativas/transicionais e a filosofia de jogo de Cristóvão Borges é de controle e posse de bola. 

Marcelo Cirino buscava dar amplitude e verticalidade no flanco direito, enquanto que do lado oposto, Emerson Sheik cortava mais pra dentro e buscava as entradas em diagonal. Everton aparecia com mais constância pra tabelar e dar opção no setor, proporcionando mais agressividade à equipe por ali. E foi justamente pelo lado esquerdo do ataque que saiu o primeiro gol flamenguista logo no início da segunda etapa: 

Desde o início do lance, pelo lado direito pode-se observar que a formação de triângulos no lado da bola é tendência ofensiva no Flamengo de Cristóvão Borges, assim como na maioria dos times executores desse sistema tático no futebol moderno. Na direita, sociedade triangular com Marcelo Cirino sendo o portador inicial da bola, Canteros ultrapassando no setor e Pará sendo opção de retorno curto no setor da bola. Na continuidade do lance, pelo flanco esquerdo, Emerson Sheik recebe, Everton busca o deslocamento em diagonal curta pro fundo do campo, recebe por ali, balançando a linha defensiva do Náutico e abrindo espaço pro lateral-esquerdo Jorge, que infiltra em diagonal pro centro da área e recebe livre no espaço vazio para concluir sem chances pro goleiro Júlio César. 

Com o gol sofrido, o Náutico passou a ter obrigação de propor e jogar correndo atrás do resultado. Com o intuito de dar maior velocidade, mobilidade e agressividade na linha de frente, o técnico Lisca acionou Renato na vaga de Rogerinho e Bergson no lugar de Stéfano Yuri. O time passou a ser mais coeso, aceso e ativo ofensivamente, criando oportunidades com Bergson e Douglas em jogadas nos últimos 10 metros do campo, enquanto que o Flamengo passou a adotar proposta reativa, de caráter contragolpista. E foi na base do contra-ataque que o Mengão matou o jogo. Marcelo Cirino arrancou em alta velocidade na beirada pela direita e acionou Guerrero, que de frente pra Júlio César, fuzilou. 

O Flamengo vem numa boa crescente após a chegada de Guerrero. E é necessário que se tenha paciência com o trabalho de Cristóvão Borges, pois o time tende a crescer mais ainda apesar de possuir limitações técnicas. Apesar do resultado, vale ressaltar o bom trabalho dos comandados de Lisca, que foram competitivos em campo e as expectativas para a continuidade dos mesmos em seu foco principal, a Série B, são boas sim. E como vem fazendo nos últimos anos, o Flamengo manteve a "tradição" de optar pela continuidade na Copa do Brasil ao invés do abandono da mesma para a disputa da Copa Sul-Americana, como muitos clubes fazem. 


*Por João Elias Cruz(@Joaoeliascruzzz)