segunda-feira, 20 de julho de 2015

No confronto das propostas opostas, venceu a mais eficiente

Corinthians e Atlético-MG travaram boa batalha na noite do último sábado, onde a equipe paulista era a mandante. O confronto podia ser considerado como uma "disputa de seis pontos" já que, caso o Atlético vencesse, ele se manteria na liderança e, caso a vitória fosse da equipe paulista, seria igualada a pontuação de ambas as equipes, com a liderança de uma das duas só não podendo ser garantida por conta do confronto que ocorreria um dia depois entre as equipes de Fluminense e Vasco, onde, caso houvesse vitória do Fluminense, a mesma ultrapassaria Corinthians e Atlético e assumiria a liderança do campeonato(Algo que não ocorreu devido a vitória vascaína no confronto).

O Corinthians veio a campo no seu tradicional 4-1-4-1 que tinha o desfalque de Jadson, suspenso. Com isso, o técnico Tite optou por Rildo na vaga do meia, porém, o sistema de jogo que a equipe normalmente utiliza não foi alterado, com Renato e Elias atuando como interiores e Rildo e Malcom como wingers. Com a bola a equipe apresentou mais do mesmo: saída de bola feita preferencialmente pelas beiradas com triangulações, ocorrendo pelo meio somente quando Elias ou Renato(este com mais frequência) recuavam para buscar a bola dos pés dos zagueiros, deixando assim novamente Bruno Henrique como uma peça praticamente nula nesse processo de transição ofensiva.

Sem a bola a equipe paulista mantinha o 4-1-4-1 e apresentava um padrão na alteração da altura e na pressão do bloco de marcação. Quando perdia a bola ainda em campo ofensivo, ocorria rápida troca de ação da equipe, que imediatamente "virava a chave" e pressionava os defensores da equipe mineira. Já quando a equipe, ou perdia a bola em seu campo ou quando os jogadores da equipe mineira recuavam a bola para os seus zagueiros no momento de organização ofensiva, ocorria não mais o "pressing" intenso, mas sim a ocupação inteligente dos espaços, com o bloco defensivo da equipe recuando para marcar em bloco baixo, buscando fechar as linhas de passe do adversário, dando margem para a saída momentânea de um dos seus jogadores para pressionar o jogador adversário que estava com a bola. Quando isso ocorria, Vagner Love, que não encostava no volante mais recuado da equipe atleticana para fechar a linha de passe que iria se formar para o mesmo, "abria" no lado em que o lateral adversário estava atacando, buscando exatamente aproveitar aquele espaço.

Corinthians no 4-1-4-1 que sem a bola compactava e buscava mais a ocupação inteligente dos espaços. Com bola, saía pelo chão, imprimindo alta intensidade na transição defesa-ataque.

Já o Atlético-MG veio a campo no 4-2-3-1, com Leandro Donizete e Rafael Carioca formando a dupla de volantes e Thiago Ribeiro, Luan e Giovanni Augusto formando o trio que atuava por trás de Pratto. Com a bola a equipe mineira buscava efetuar a transição defesa-ataque pelo chão, onde os zagueiros, ou os laterais, buscavam a dupla de volantes para que os mesmos realizassem essa transição, normalmente buscando o quarteto ofensivo que já apresentava movimentações bem definidas e alternava entre a busca pela resolução do lance ofensivo "dentro do quarteto" e a busca pelo auxílio do apoio do lateral do setor onde a jogada ocorria, com este buscando de maneira mais frequente levantar a bola na área.

Sem a bola a equipe mineira formava um 4-4-1-1, já que os wingers alinhavam-se aos volantes e Giovanni Augusto ficava mais adiantado, por trás de Pratto. A equipe normalmente alternava a altura e a pressão do seu bloco de marcação entre médio e alto. Quando "marcava alto", os wingers "abriam" e buscavam fechar as beiradas do campo, com Giovanni Augusto buscando fechar a linha de passe que ia para B.Henrique, mesmo que este não fosse tão acionado, e Lucas Pratto buscando pressionar os zagueiros da equipe adversária. Se ultrapassada essa primeira pressão rapidamente eram recolhidas as linhas, buscando nova pressão sobre o homem da bola assim que as linhas defensivas eram reorganizadas.

Atlético-MG no 4-2-3-1 que se transformava em duas linhas de 4 sem a bola, com o retorno dos wingers. Com bola, buscava propor o jogo e contava com pouca presença dos volantes no terço final do campo

Desde o início da partida as equipes já demonstraram claramente as suas propostas de jogo, com o galo apostando em um modelo mais propositor, enquanto que o timão apostava no modelo mais reativo, buscando, após recuperar a bola, um jogo vertical, objetivo.

E quem conseguiu obter mais sucesso em sua proposta foi a equipe paulista que, embora desarmasse menos que o adversário, ocupava corretamente os espaços, de maneira que a equipe mineira só levava perigo através de finalizações de média distância ou de bola aérea e, quando recuperava, conseguia sair em velocidade, algo que era auxiliado pelo pouco combate em Renato ou Elias quando estes recuavam para "buscar" a bola dos defensores. Estes por sua vez buscavam o apoio dos homens que jogam pelas beiradas, principalmente os wingers, responsáveis por gerar amplitude, mas que também buscavam a diagonal tanto com como sem a bola.

O galo, que perdeu Luan machucado, em seu lugar entrou Carlos, algo que não alterou a estrutura, havendo somente a inversão de posicionamento dele com o de Thiago Ribeiro, conseguia trabalhar a bola na intermediária ofensiva e ter seus volantes, principalmente Leandro Donizete, fazendo a transição ofensiva com qualidade, porém, o problema estava no terço final do campo já que a proposta defensiva da equipe corintiana era muito bem executada. Havia também o outro problema que era a pouca participação no terço final do campo, algo que poderia gerar superioridade numérica no setor em que a bola estivesse e auxiliar na "quebra" das linhas de marcação.

Lá pela metade do primeiro tempo a equipe mineira começou a acertar melhor seu jogo. Se com bola a equipe, no terço final do campo, ainda não contava com apoio dos volantes e muitas vezes necessitava das chegadas dos laterais para levar perigo através da bola aérea(O galo contabilizou 20 cruzamentos no final da partida), sem a bola ja havia uma leve alteração no seu comportamento. Quando Elias ou Renato recuavam para receber a bola dos zagueiros e iniciar a transição ofensiva, um dos volantes da equipe mineira, Donizete ou R.Carioca, o que estivesse mais próximo, abandonava a linha defensiva e saía para pressionar o jogador que estava com a bola, forçando assim o erro e a retomada da posse de bola da equipe mineira.

Mas quem saiu na frente mesmo foi a equipe paulista, com o gol saindo em um lance bem típico da proposta da equipe: roubada de bola no campo defensivo, saída em velocidade explorando o espaço gerado pelo avanço do adversário e gol marcado no espaço gerado pela momentânea desorganização defensiva do adversário.

Nos flagrantes o lance do gol corintiano: Na imagem de cima, pode-se perceber as linhas da equipe mineira adiantadíssimas e Vagner Love postando-se exatamente no espaço deixado por Marcos Rocha. Foi daí que o jogador partiu com bola dominada no lance do gol. Na imagem de baixo, próximo a definição do lance, veja como Love tem duas opções de jogada: ou ele cruza rasteiro para Rildo(mais difícil) ou, que aliás foi o que ele fez, espera mais um pouco Malcom aproveitar o espaço desmarcado as costas dos zagueiros para finalizar com liberdade.(Reprodução: Sportv/Premiere FC)

O segundo tempo, de uma maneira geral, foi de domínio da equipe mineira, que ocupava o campo de ataque e já conseguia levar perigo pelo chão por conta do fator que faltou no primeiro tempo: o apoio de, ao menos, um dos volantes no terço final do campo. Quem efetuava esse apoio era Leandro Donizete, proporcionando assim, no setor em que se aproximava, superioridade numérica, servindo como opção para tabelas ou mesmo para desafogo. Já no Corinthians a dificuldade na hora de realizar a transição ofensiva aumentou com essa presença mais constante de Leandro Donizete no ataque já que isso também representava um homem a mais para iniciar o pressing da equipe ainda em campo ofensivo.

Buscando mudar o panorama do jogo, os treinadores mexiam em suas equipes. No Corinthians, entraram Mendoza e Danilo nos lugares de Rildo e V.Love, alterando também o sistema da equipe para um 4-2-3-1 e mudando na função do homem mais avançado da equipe: se antes Love fazia o 9-móvel agora Danilo executava o famoso "falso nove" recuando para abrir espaço e auxiliar na criação da equipe. Já no Galo entraram Cardenas e Guilherme nos lugares de Thiago Ribeiro e Leandro Donizete, alterando a estrutura da equipe que passou a formar um 4-1-4-1 com Guilherme e Giovanni Augusto atuando como interiores.

Se no lado corintiano as alterações não mostraram grandes mudanças com questões de movimentação e posicionamento, sendo a mais marcante a de Danilo que, com a bola, atuava como falso-9 e, sem a bola, marcava quase que individualmente Rafael Carioca, no galo ocorreram alterações bem perceptíveis após as substituições. Cardenas que, inicialmente, manteve o posicionamento aberto a direita, vinha, assim que a equipe recuperava a posse de bola, para o centro, próximo a Rafael Carioca, iniciar os lances ofensivos da equipe, sempre buscando o passe em profundidade ou o lançamento. Outra alteração que também passou a ocorrer com constância foi o avanço simultâneo dos laterais, antes realizado alternadamente.

Pôde-se perceber ainda outra alteração na equipe corintiana após as substituições citadas acima, e que foi mantida mesmo com a entrada de Ralf no lugar de Bruno Henrique. A equipe passou a formar um 4-4-1-1 sem a bola, com Renato Augusto agora ficando mais a frente da segunda linha de 4 da equipe.

Equipes em suas formações finais: Galo pressionando no 4-1-4-1 com Cardenas recuando, vindo buscar a bola junto a Rafael Carioca e Corinthians no 4-2-3-1 que, acuado, defendia-se com duas linhas de 4 e buscava o contra-ataque

No final da partida ainda ocorreu uma última alteração no galo, não de jogadores, já que haviam sido realizadas as 3 substituições da equipe, mas sim de posicionamento. Quando a equipe estava com a posse de bola Cardenas encostava e ficava mais fixo ao lado de Rafael Carioca, Carlos entrava em diagonal na área, os laterais "espetavam" pelos lados do campo e Leonardo Silva ia ficar ao lado de Pratto próximo a meta adversária, com os dois servindo de opção para a bola aérea. Mesmo assim, o gol não saiu.

No confronto de opostos, venceu aquele que foi mais eficiente. A proposta de jogo da equipe paulista é válida sim, mas muitas vezes parece ser suicida, por conta desse recuo as vezes excessivo de uma equipe que parece ser reativa por natureza. Já o galo manteve o seu estilo de propor jogo dentro e fora de casa e, apesar da derrota, fez um bom jogo dentro do possível afinal, furar o bloqueio defensivo corintiano realmente é tarefa das mais complicadas, mesmo para uma equipe que, como o próprio Tite citou, já se mostra em um estágio de preparação e entrosamento.

Nos heat maps, um detalhe interessante. Ambas as equipes buscaram as beiradas do campo com maior frequência para atacar. A forma de ataque é que foi diferente, já que, pelo lado do Atlético, era buscada a bola alçada na área, enquanto que a equipe corintiana, esta atacou com maior frequência pelo lado esquerdo, buscava chegar mais pelo chão, visando exatamente a conclusão da jogada através de cruzamento rasteiro ou mesmo através de troca de passes para envolver a marcação adversária.(Reprodução: Footstats)

Por Andrey Hugo(@Andrey_Hugo)