terça-feira, 14 de julho de 2015

Náutico vence o Clássico das Emoções e volta ao G-4!


Na Arena Pernambuco, o Náutico se impôs, foi superior e bateu o rival Santa Cruz por 2 a 1 no tradicional Clássico das Emoções. Com o resultado, o Timbu voltou ao G-4 da Série B, ocupando o quarto lugar com 24 pontos. Já o Tricolor do Arruda caiu pra 12ª colocação, com 15 pontos, se distanciando ainda mais(6 pontos) do grupo dos 8 primeiros colocados(pode-se falar assim pois o 8º colocado está há 5 pontos do 9º e a 3 do G-4). 

O Náutico entrou a partir de um 4-4-2 em linhas em fase defensiva, caracterizando-se pela compactação curta, negação de espaços ao adversário, correta basculação defensiva da linha média, predominância de posicionamento em bloco médio, pressão sobre o portador da bola e agressividade na marcação, adiantando as duas primeiras linhas até a intermediária ofensiva para pressionar a saída de bola e também subindo os encaixes para cortar linhas de passe. Outro detalhe que se pode observar é a alternância entre Rogerinho e Douglas na ocupação do flanco esquerdo tanto na fase ofensiva quanto na defensiva. Defensivamente, quando um deles fechava a esquerda na linha de 4, o outro alinhava-se com Stéfano Yuri para compor a primeira linha de marcação. Nota-se alguns aspectos do sistema de marcação alvi-rubro nos flagrantes táticos abaixo:

No primeiro flagrante, o Náutico sobe suas linhas pra exercer pressão mais avançada no campo adversário. Rogerinho fecha o lado esquerdo, pressiona e cria uma barreira vertical ao portador da bola, que se vê obrigado a recuar o jogo. Douglas e Stéfano Yuri fecham as linhas de passe com os zagueiros mais atrás e João Ananias sobe o encaixe em João Paulo, que se desloca pra dar opção de passe curto ao homem da bola em campo defensivo. No segundo flagrante, nota-se a diferença no posicionamento de Rogerinho e Douglas em relação à primeira imagem. Douglas aberto na esquerda e Rogerinho na mesma linha de Stéfano Yuri ao centro. Na última imagem, nota-se o correto balanceamento defensivo da linha de meio alvi-rubra(um pouco mais retraída na sua intermediária defensiva) para o lado da bola. Um volante abre um pouco mais pra pressionar o portador da bola, winger do setor fecha a linha de passe curta e fica postado pra dar o primeiro combate na lateral(lateral-esquerdo do Santa Cruz avança e o lateral-direito Guilherme, o mais próximo do adversário no setor, encaixa a marcação nele), volante oposto fecha o centro e o winger do lado oposto corretamente centraliza.

O Náutico ganhava a "batalha do meio-campo" e buscava propor o jogo, tendo mais a posse e jogando no campo adversário. Destaque pra ótima movimentação sem bola de Marino, volante que atuou como winger pela direita nesta partida. Procurava dar opção de lançamento tentando a infiltração no facão entre o lateral e o zagueiro, flutuava no entrelinhas adversário pra atacar o espaço vazio às costas dos volantes, quase sempre fechando por dentro quando a bola caía no lado oposto, visando também a abertura do corredor direito para Guilherme. Douglas ora caía pra receber pelo flanco esquerdo e tentar o passe pra continuar a jogada de fora pra dentro, ora se juntava à Stefano Yuri(que ficava mais fixo pra ser a referência entre os zagueiros, dar profundidade e fazer a parede) na linha de frente. Trocava bastante com Rogerinho, que caía à esquerda mas também aparecia ao centro da cancha pra participar da posse e articulação ou entrava na área pra ser opção. Muitas vezes, quando um deles aprofundava pra chegar na área junto com Stéfano Yuri, Wellington Cézar afundava na linha defensiva ao centro pra criar a superioridade numérica. Observa-se essa alternância entre Rogerinho e Douglas e a movimentação defensiva de Wellington Cézar nas imagens abaixo: 

Na primeira imagem, Rogerinho circula à esquerda e dá opção de jogada curta no fundo, enquanto Douglas fecha na área como opção e atrai um dos zagueiros adversários. Na segunda situação, Rogerinho buscou a jogada por dentro e Douglas ocupou o flanco esquerdo, posteriormente entrando em diagonal pra receber o passe no entrelinhas coral, carregando o lateral tricolor pra dentro, de modo a afastá-lo de seu posicionamento inicial na linha defensiva, acionando o pivô de Stéfano Yuri em tabela curta e projetando-se no espaço vazio às costas do lateral, aberto por sua própria movimentação pra dentro, pra progredir e finalizar. No terceiro flagrante, o Náutico ataca com 4 jogadores dentro da grande área. O lateral do lado da bola abriu pra dar combate e o do lado oposto fechou na cobertura por dentro. Porém, nesta situação, o Náutico estaria em superioridade numérica. Para igualar numericamente, Wellington Cézar entra na área e faz o encaixe próximo a um jogador adversário. No último frame, percebe-se a presença de três acompanhamentos individuais e o lateral do lado da bola marcando a primeira trave. A questão é que em um desses acompanhamentos, o zagueiro do lado direito é carregado quase pra fora da área. Para não deixar o espaço vazio para diagonais e deslocamentos adversários, Wellington Cézar aprofunda o posicionamento e faz a cobertura. 

O Santa Cruz entrou a partir do 4-2-3-1, adotando proposta de jogo reativa. Marcava predominantemente em bloco baixo, atrás da linha do meio-campo e com duas linhas de quatro, caracterizando-se pela referência fixamente individual dos wingers nos laterais adversários. Porém, a configuração dessas duas linhas de quatro se tornava mais variável de acordo com o posicionamento/movimentação defensiva de João Paulo, como pode-se observar nos frames abaixo: 

Na primeira imagem, observa-se o Santa Cruz postado defensivamente atrás da linha da bola numa configuração mais próxima ao 4-4-2 em linhas, com João Paulo sendo mais agressivo e adiante, pressionando o portador da bola mais à frente, na mesma linha de Anderson Aquino. No segundo flagrante, ele e Renatinho alinham-se para fazer o encaixe nos dois volantes do Timbu e fechar a linha de passe com os mesmos, enquanto Wellington Cézar ficava mais recuado, entre as duas linhas, gerando algo próximo de um 4-1-4-1. Isso ocorria bastante também nas situações em que a Cobra Coral buscava pressionar, incomodar um pouco mais a saída adversária com o avanço da linha de meio até trechos iniciais da intermediária defensiva rival. No último frame, observa-se o Santa num 4-4-1-1, com João Paulo postando-se atrás da linha da bola para fazer a "sobra" da linha de meio. Nesta imagem, observa-se também a fixação individual do winger oposto no lateral adversário, de modo a criar uma gigantesca distância entre ele e os outros componentes da linha média e um imenso vácuo na região central do gramado nesta ocasião. Assim, apenas 3 jogadores da linha de meio+João Paulo realizam o balanceamento defensivo para pressionar ou fechar os espaços próximos ao setor/lado da bola. 

Veja também a forma como o time coral marcava em escanteios defensivos:

O Santa Cruz marcava por zona em bola parada defensiva(escanteio) com 6 jogadores, enquanto que dois deles ficavam atentos aos rebotes e sobras de bola nas proximidades da entrada da área. 

Ofensivamente, os comandados de Marcelo Martelotte procuravam a saída em transição rápida, inicialmente buscando mais o lado direito com Luisinho, que por volta dos 25 minutos da primeira etapa, inverteu o lado de campo com Lelê. Uma movimentação ofensiva interessante era a de Renatinho, que procurava o passe diagonal pro lado esquerdo e a aparição pra formação de uma sociedade triangular no setor, além de buscar na mesma linha de Wellington Cézar(o cara do primeiro passe, que iniciava a construção da equipe mais afastado da primeira linha de marcação adversária ou entre as duas primeiras linhas) na saída de bola e ter boa participação na posse da equipe em campo ofensivo. João Paulo, circulava por dentro a partir do entrelinhas, por vezes vindo buscar com Wellington Cézar na saída e procurando constante deslocamento pra ser opção de passe curto vertical ao portador da bola nos trechos iniciais da segunda metade da cancha. Na frente, Anderson Aquino buscava os deslocamentos curtos no entrelinhas adversário pra ser opção de passe diagonal vindo do lado e se movimentava pra receber de frente pra linha defensiva do Timbu próximo à grande área pra tentar explorar suas qualidades de finalização e jogada pessoal em espaço curto no último terço do campo. Nos dois flagrantes abaixo, pode-se observar um pouco dessa movimentação de Renatinho:

Na primeira imagem, o lateral-esquerdo Marlon procura a aproximação com Luisinho, que recua pra tentar o desmarque e a recepção do passe, carregando consigo o lateral-direito Guilherme. Renatinho aparece pra formar o triângulo no setor e também se projeta, partindo do mesoespaço, pra atacar o espaço às costas de Guilherme em diagonal curta. Na segunda imagem, novamente percebe-se Luisinho apresentando-se como linha de passe vertical ao lateral do lado da bola e portador da pelota e Renatinho também aparecendo no setor pra aproximar, formar a sociedade e ser opção de passe. Nota-se também como o princípio do encaixe no setor é bem seguido pelos comandados de Lisca, principalmente na primeira imagem. Marino encosta pra dar o primeiro combate em Marlon, Guilherme acompanha o deslocamento de Luisinho na lateral e Willian Magrão vigia Renatinho de perto. Se o camisa 8 tricolor realmente tivesse aparecido no vazio como era de sua intenção, Willian Magrão já estaria a postos pra afundar no setor com o adversário e fechar na cobertura. 

Na segunda etapa, o Náutico saiu na frente com gol de Guilherme, cobrando falta. Porém, o Santa Cruz conseguiu o empate com gol de pênalti marcado por Anderson Aquino. Desta forma, o Tricolor do Arruda reforçou sua proposta transicional/contragolpista e o Náutico continuou procurando a proposição e posse em busca do resultado. A situação do Timbu se complicou com a expulsão do zagueiro Ronaldo Alves. Porém, Lisca foi corajoso e inteligente na sua estratégia. Recuou João Ananias pra fazer dupla de zaga com Fabiano Eller e acionou Gil Mineiro e Josimar nas vagas de Stéfano Yuri e Rogerinho. Assim, armou o time num 4-2-3(com Marino e Willian Magrão no meio-campo, Douglas e Gil Mineiro abertos e Josimar na referência), que virava 4-4-1, quando o time se recompunha defensivamente em bloco baixo, mantendo o princípio de compactação curta e espaços reduzidos ao jogo adversário. O gol da vitória alvi-rubra veio em boa movimentação do tridente ofensivo. Josimar fazendo a parede no início do lance, Douglas fazendo a diagonal pra área e afastando-se da beirada pro lateral-esquerdo chegar no corredor e cruzar e o extremo oposto(Gil Mineiro) fechando por dentro pra ser opção na área e finalizar para o fundo das redes. 

O resultado foi bom para o Timbu. Lisca vem fazendo um ótimo trabalho, se mostrando talentoso, inteligente taticamente na armação da equipe, com boas variações, conceitos moderníssimos, identificação com o clube e torcida e principalmente boa gestão de grupo. Sabe motivar os atletas e tem muito conhecimento. É mais um da nova geração gaúcha que vem se destacando. O Náutico, que antes de começar a Série B, era considerado como candidato ao rebaixamento, porém, desde o início, vem surpreendendo, com uma campanha bastante regular, chegando a liderar a competição por algumas rodadas e sempre brigando no topo. Tem limitações quanto ao elenco, mas conseguiu se ajeitar nas finanças, paga em dia, tem um elenco versátil e hoje, sua realidade é briga pelo acesso sim. Quanto ao Santa Cruz, era cotado no início como candidato ao acesso, porém, teve início ruim, Ricardinho(técnico campeão estadual com o Tricolor) demitido por maus resultados e logo depois, Marcelo Martelotte assumindo e começando bem, com boa sequência, que foi quebrada justamente por essa derrota para o Timbu. Atualmente, sua realidade é meio de tabela e vai ter que lutar muito pra chegar perto do G-4. Aguardemos o que vai rolar...


*Por João Elias Cruz(@Joaoeliascruzzz)