domingo, 9 de agosto de 2015

Organizado e moderno, Watford pode ser uma grata surpresa na Premier League!


Um dos times que subiu recentemente para a Premier League, o Watford investiu bem na janela de transferências, se reforçou bastante e logo na primeira rodada, diante do Everton, já mostrou as caras sob o comando do novo técnico, o espanhol Enrique Sánchez Flores. Empatou por 2 a 2 em Liverpool, mostrando organização, proposta, obediência tática, modernidade na execução e competitividade. 

O Watford foi no 4-2-3-1/4-4-1-1, atuando reativamente, compactando-se defensivamente em bloco baixo, com Jurado voltando sem a bola pra fechar espaços à frente da linha de meio e pressionar um volante adversário ou cortar a linha de passe com o mesmo. Caracterizava-se pela curta distância entre as linhas defensiva e média e comportamento diferente do winger oposto na basculação defensiva em relação ao que geralmente ocorre na Inglaterra e maior parte da Europa. Não costumavam manter muita proximidade com os volantes, mas nem sempre adotavam referência fixa/individual no lateral adversário. Projetavam-se para impedir ou amenizar os riscos de aparição no lado oposto ao da bola, que teoricamente é o lado mais fraco e muitas vezes afundavam na área para cobrir o espaço paralelo ao lateral que fechava a diagonal defensiva pra cobertura dos zagueiros. Anya é que fechava mais freqüentemente por dentro no meio-campo pra encurtar distância/manter unidade de movimento com os outros componentes da linha média. Abaixo, um pouco dos aspectos defensivos dos comandados de Flores: 


Na primeira imagem, observa-se o posicionamento defensivo do Watford no 4-4-1-1. Jurado recompõe ao centro, fechando a opção de centralização de bola com um volante adversário, deixando apenas Deeney mais à frente. Nota-se também a proximidade entre as duas linhas de quatro e o comportamento do winger oposto. Não afunila muito, mas também não fixa no lateral de perto. Mantém posicionamento para não enfraquecer o lado oposto ao da jogada e se mantém atento para a possibilidade de virada de jogo longa. No segundo flagrante, observa-se a novamente a distância curtinha entre as duas linhas. Behrami aprofunda o posicionamento ao centro para cobrir um espaço na linha defensiva/criar superioridade e o winger oposto fecha na área acompanhando um jogador adversário que busca a infiltração na segunda trave pra ser opção pro cruzamento, já que o centroavante adversário fez o deslocamento para atrair e tentar subir nas costas do lateral da cobertura por dentro, "empurrando-o" um pouco mais para o centro na área. Como o winger oposto não centraliza e um volante afundou, observa-se que se cria um grande espaço na frente da área. No terceiro frame, novamente o winger oposto fecha pra ocupar o espaço paralelo ao lateral na linha defensiva e tentar dar apoio ao mesmo. O cruzamento vem, o centroavante adversário consegue trabalhar de costas pra linha defensiva, faz o pivô e um volante chega de trás, atacando o mesoespaço entre os dois volantes(que balancearam defensivamente em função da movimentação da bola) e o winger direito e acertando um chutaço sem chances de defesa para Gomes. Novamente grande espaço gerado na entrada da área, de modo que quem infiltrar ali, já recebe de frente pra linha defensiva e com considerável liberdade para arrematar ou procurar o passe ruptor. Na última imagem, observa-se que em escanteios defensivos, o Watford marcava individualmente no bolo da área e com dois jogadores marcando a primeira trave. Na ocasião, um dos homens que marcava à zona no primeiro poste se desloca pra igualar numericamente no centro da área. 


O Watford tinha jogo transicional forte, apostando nas saídas em velocidade ou transição longa/direta, procurando Deeney, que temporizava a ação ofensiva, fazia a parede, retia a posse para esperar as chegadas de trás e ocupação do campo ofensivo. Possessivamente, mostrava conteúdo, organização e consciência/lucidez nas suas ações. Deeney flutuava no entrelinhas para dar opção de passe e/ou tabelar, os dois wingers trocavam o lado de campo certas vezes, procuravam as diagonais ofensivas sem bola e afunilavam com frequência, de modo que a linha de três mantinha proximidade entre os seus membros, que apresentavam mobilidade bem interessante. Os dois volantes também sempre presentes em campo ofensivo, ocupando/atacando espaços, dando opção de retorno/suporte para controle da posse ou reorganização da construção de jogo. Jurado pendendo pros lados do campo, circulando em toda a intermediária ofensiva, caindo nas costas dos volantes adversários, acelerando as jogadas no último terço ou na transição ofensiva, com bastante liberdade de movimentação. Geralmente o Watford atacava com 7 jogadores: Os dois volantes+linha de 3+Deeney+um dos laterais. Abaixo, alguns aspectos da movimentação ofensiva da equipe:

Nas duas primeiras imagens, observa-se a movimentação da equipe no lance do primeiro gol. Volantes presentes em campo ofensivo, Deeney procurando deslocamento curto entre as linhas de defesa e meio adversárias para criar linha de passe vertical ao portador da bola. Anya e Layun ocupando espaço na faixa central e o segundo também fornecendo opção de passe e o lateral-direito Nyom atacando o corredor aberto pela diagonal sem bola do primeiro citado e sendo opção pra abertura no lado oposto. Na sequência da imagem, Jurado cai na beirada pra fazer o cruzamento. O winger do lado oposto(Anya) não se projeta com o lateral da cobertura por dentro, mas faz diagonal curta pra primeira trave, enquanto Deeney atrai marcação no centro da área e o winger do lado da bola(Layun) chega na área pra pegar o rebote na proximidade da entrada da área ao centro, e marcar. No terceiro flagrante, Jurado se locomove em diagonal do centro pro lado direito do campo, formando sociedade triangular no setor e carregando um volante consigo e abrindo espaço na entrelinha adversária. O winger do lado da bola(Anye) fica bem aberto na lateral, enquanto o oposto afunila um pouco, afastando da lateral, Deeney dá profundidade ao ataque, "prendendo" os zagueiros adversários na linha defensiva e Behrami dá opção de passe curto lateral. O homem da bola(Capoue) aciona Jurado e se projeta pra receber de bola, tendo liberdade pra progressão com bola dominada no espaço aberto pela movimentação do camisa 7 e posteriormente arrisca de fora da área. No quarto frame, o winger esquerdo(Layun) aparece no lado oposto, dando opção de passe diagonal curta ao homem da bola e forma um pequeno triângulo no setor com o winger daquele lado(Anye) e o volante Capoue, que dá opção de retorno. Deeney atrai o zagueiro do lado oposto e Jurado movimenta sem bola, vindo de trás, atacando espaço entrelinhas pra ser opção na área. Na última imagem, observa-se o ataque do Watford com 7 jogadores, assim como no lance do gol. Lateral-esquerdo Holebas chegando na linha de fundo e participando da trama ofensiva, Deeney na área, os 3 componentes da linha de 3 bastante próximos, com o winger direito(Anye) e Jurado sendo as linhas de passe mais viáveis para o portador da bola(Layun). O primeiro mais pertinho e o segundo sendo opção pra receber na entrada da área. Quanto aos dois volantes, Behrami dá opção de retorno pra (re)organização e Capoue se projeta pra atacar espaço vazio no entrelinhas e ser opção de centralização de bola, mesmo que no final, Layun acabe optando pela tentativa de finalização. O nome disso é compactação ofensiva. Não é todo time que tem isso no futebol atual. Achar time bem compactado defensivamente não é muito difícil, mas ofensivamente, é. 


Watford tem bons valores individuais(alguns deles ainda nem estrearam), mostra um bom conjunto mesmo com pouco tempo de trabalho do Enrique Sánchez Flores, organização e equilíbrio. Demonstra potencial de crescimento interessantíssimo e pode ir longe, surpreendendo a muitos. Expectativa é boa. Vamos aguardar... 


*Por João Elias Cruz(@Joaoeliascruzzz)