segunda-feira, 14 de dezembro de 2015

A aula de futebol coletivo do Sanfrecce Hiroshima!(Análise em imagens)

Panorama tático de Sanfrecce Hiroshima 3 x 0 TP Mazembe pelas quartas-de-final do Mundial de Clubes FIFA. Japoneses no 5-4-1, adotando proposta de jogo reativa/transicional, negando espaços ao adversário e buscando a saída em velocidade. Africanos no 4-2-3-1, com postura possessiva e propositora, mas tendo muitas dificuldades pra romper as linhas do sólido sistema defensivo do Sanfrecce. As características de jogo das duas equipes se intensificaram na segunda etapa, principalmente depois que os japoneses marcam seu segundo gol. O Mazembe foi com tudo após as substituições, deslocando Traoré pra lateral-esquerda, tendo Ulimwengu bastante aberto na ponta pela direita pra dar amplitude ofensivamente, apenas Diarra(com dois jogadores à sua frente projetando entrelinhas à frente da linha da bola) distribuindo o jogo e direcionando os ataques posicionais, Samatta jogando muitas vezes a partir do lado esquerdo do ataque, mas entrando bastante em diagonal sem bola pra ser opção na área junto a Bolingi, que entrou na referência do ataque. O Sanfrecce manteve sua proposta, com inteligência, saindo com qualidade de trás, trabalhando bem com a bola no pé e explorando os espaços que o TP Mazembe deixava para a puxada de transição adversária, já que o time africano ficava predominantemente muito exposto pelos lados e em inferioridade numérica(principalmente no flanco direito de sua defesa) e o time se recompunha de forma muito lenta, agravando ainda mais a situação. O Sanfrecce deu uma verdadeira aula de coletividade, organização e futebol moderno. Diante do River Plate, chega como azarão, mas depois do que os japoneses mostraram no play-off contra o Auckland City e diante do Mazembe, este que vos fala prefere não duvidar do Sanfrecce Hiroshima. 

Na saída de bola do Mazembe, os dois volantes mostravam-se presentes no campo defensivo e bastante participativos no início da construção de jogo. Laterais avançavam um pouco mais, com os wingers predominantemente bem abertos e dois jogadores mais centralizados ocupando os espaços entrelinhas. Porém, constantemente um dos homens mais avançados deslocava-se nos espaços entre as linhas defensiva e média adversárias para dar opção de passe ao portador da bola, principalmente os dois homens da faixa central(geralmente havia constantes aproximações entre os componentes do quarteto ofensivo por dentro). A verticalização de jogo geralmente ocorria com a procura do passe vertical entrelinhas dos dois volantes(que faziam a bola girar de um lado pro outro ofensivamente, davam opção de retorno bem posiconados na intermediária e sempre presentes em campo ofensivo para armar o time) pelo desmarque posicional(geralmente de Assalé, Samatta ou Singuluma), que muitas vezes atraía um membro da linha defensiva adversária para sair em perseguição/caça setorial e na maioria das vezes, o receptor do passe vertical acabava pegando de costas, sem espaços e tendo que optar pelo retorno, de modo a dificultar a posse progressiva da equipe e a ruptura da linha média japonesa. 

Na linha de 3 do 4-2-3-1 do Mazembe, Singuluma e Assale muitas vezes alternavam entre a esquerda e o centro, e na direita, Traoré procurava diagonais curtas ofensivamente para buscar tabelas curtas e incursões de fora pra dentro(jogo entrelinhas), de modo a gerar algumas aproximações entre os três na entrelinha adversária. E quando atuou mais por dentro, Singuluma buscava participação constante na posse, criando linha de passe na construção e muitas vezes vindo buscar jogo na linha dos volantes. Na primeira imagem, Traoré conduz do lado pro meio, Frimpong ataca o corredor, Assale e Singuluma aproximam ao centro da intermediária, Sinkala e Diarra dão opção de reinício mais atrás e Samatta flutua procurando desmarque posicional curto entre as linhas defensiva e média(na posição pra fazer a parede e com um membro da última linha adversária já pronto pra sair na caça setorial curta e diminuir o espaço), sendo opção de passe vertical entrelinhas, para Traoré. Essa foi uma das poucas vezes que o Mazembe conseguiu progredir no entrelinhas adversário com um de seus homens da linha de 3 pegando pra conduzir de frente pra linha defensiva adversária. Na segunda imagem, Frimpong tem a bola na proximidade da linha lateral pela direita, Assale movimenta entrelinhas e dá opção mais à frente no setor, atraindo o zagueiro daquele lado(linha defensiva do Sanfrecce trabalha em sistema de coberturas sucessivas), Traoré aparece como opção de passe curto no mesoespaço direito, Singuluma se projeta como opção ao centro, um pouquinho mais distante da linha média adversária, Diarra dá opção de retorno mais atrás pelo meio e Sinkala se projeta um pouco mais à frente ao centro. 

Inicialmente, o Mazembe buscava realizar pressão avançada na saída de bola do Sanfrecce Hiroshima, geralmente com a linha de 3 e Samatta fazendo pressão na bola(com o meia central muitas vezes marcando alto e praticamente se alinhando com o centroavante por dentro) e os volantes subindo encaixe quando os volantes adversários ou algum jogador avançado procurava(m) desmarque posicional pra dar opção de passe aos zagueiros quando estes eram os portadores da pelota na saída. Nessas subidas de pressão do Mazembe, o recurso de subida de encaixe também era usado pelos lados com o lateral perseguindo o winger quando este se apresentava pra dar opção ao início da construção. A linha defensiva até se adiantava na intermediária, porém, não o suficiente para manter a compactação entre os setores. Na verdade, eram as subidas de pressão dos volantes que dificultavam/impediam que o Sanfrecce conseguisse sair da pressão inicial adversária e ganhar espaço pra progredir e acelerar na transição ofensiva, e na segunda etapa, quando o meio-campo do Mazembe acabou se tornou praticamente vazio em fase defensiva e a transição defensiva da equipe do Congo ficou ainda mais lenta, ficaram notórios verdadeiros latifúndios entre as linhas defensiva e média dos comandados de Patrice Carteron. Descompactação total! Em fase de defesa organizada, os wingers não voltavam pelos lados do campo pra ajudar na proteção aos laterais ou demoravam muito nas raras vezes em que voltavam para dar algum auxílio. Desta forma, o Mazembe não fechava as duas linhas de quatro e o quarteto ofensivo passava a ter somente preocupações ofensivas/transicionais de acordo com a progressão adversária com a bola. Assim, pode-se dizer que na prática, apenas 6 jogadores(linha defensiva+os dois volantes) participavam ativamente dessa fase defensiva. 

Em escanteios defensivos, o Mazembe marcava individualmente no bolo da área, com dois jogadores marcando à zona na primeira trave. Nas duas últimas imagens, percebe-se a movimentação dos jogadores do Sanfrecce nos dois primeiros gols da equipe japonesa(sim, vieram de bola parada). No lance do primeiro gol, um jogador se desloca em diagonal curta para a primeira trave, ganhando na velocidade para o seu marcador e antecipando-se a um dos "homens da primeira trave" adversários para escorar pro meio da área de modo a desmanchar o sistema de marcação individual no bolo da área. Dois jogadores do Sanfrecce chegam na pequena área para a conclusão, sem o acompanhamento de seus respectivos marcadores e um deles coloca pro fundo das redes. No lance do segundo gol, um jogador do Sanfrecce que também está no centro da área, também se desloca em diagonal curta para a primeira trave, porém, fica sob responsabilidade de um dos homens que marca a zona, de modo a alterar a ordem de encaixes no bolo da área. Um dos jogadores se aproveita dessa mudança, se desloca sozinho no centro da área, antecipa e cabeceia pro fundo do gol. 

Em escanteios defensivos, o Sanfrecce Hiroshima marcava da mesma forma que o TP Mazembe: Individualmente no bolo da área e com dois jogadores na primeira trave. 

Na primeira imagem, observa-se o posicionamento defensivo do Sanfrecce Hiroshima no 5-4-1 em bloco baixo, em fase de defesa organizada. Linhas defensiva e média mantendo distância bastante curta entre si e ambas realizando corretamente o movimento de basculação defensiva, com o centroavante bem mais afastado, de modo a alongar um pouco mais a compactação da equipe(ele participava da compactação da equipe atrás da linha da bola durante a fase inicial de construção adversária, mas ia se afastando de acordo com a progressão adversária no campo defensivo do Sanfrecce). Linha média tendo referência de marcação zonal e linha defensiva trabalhando em coberturas sucessivas e utilizando de uma grande vantagem de ter linha de 5 atrás: Não precisar de compensações espaciais para ocasiões em que seus jogadores saem para caça setorial, já que fica-se com 4 jogadores mais atrás nessas ocasiões. E o Sanfrecce contava muito com essas caças, como percebe-se nas imagens, quando o centroavante e/ou o meia central flutuava(m) entrelinhas e se projeta para formar linha de passe ao possuinte da pelota, com um dos zagueiros deixando a linha defensiva para fazer o acompanhamento e tirar o espaço do receptor do passe(que já tinha a desvantagem de pegar de costas), de modo a dificultar/impedir progressão adversária entrelinhas. Isso também ocorria pelos lados, principalmente quando o winger adversário recuava ou procurava deslocamento curto pela beirada pra dar opção de passe ao homem da bola. Assim, o lateral do lado da bola subia o encaixe, zagueiro do lado da bola postava-se para eventual cobertura do flanco e o lateral do lado oposto fechava por dentro na linha defensiva junto aos zagueiros. Posicionamento defensivo do Sanfrecce era predominantemente bloco baixo, porém, por vezes, fazia uma pressão um pouco depois da linha que divide o gramado, com a linha média+o centroavante, e os volantes subindo o bote. Marcação japonesa fechava e ocupava muito bem os espaços do campo, dificultando qualquer fluidez da posse adversária. 

Jogo de transições foi o forte do Sanfrecce Hiroshima nessa partida. Foi assim que os japoneses mostraram sua força coletiva. Com organização, "correndo certo", tempo certo, aproveitando bem os espaços e a qualidade dos seus volantes na organização/articulação da transição, verticalizando o jogo, lançando e armando. Na primeira imagem, Douglas realiza o seu movimento preferencial em fase ofensiva: Afunilar no ataque, se juntando a Sato na referência e abrindo o corredor para Mikic, que atacava inteligentemente os espaços pelo flanco sem bola. Na situação em questão, ele tabela com Sato, que se desloca pra fazer a parede, o volante recebe e o próprio Douglas já se projeta em movimento de ruptura da defesa(postada em linha alta e totalmente descompactada) para receber o passe ruptor em profundidade. Na segunda imagem, Chajima se projeta por dentro e abre em Kashiwa que passa no corredor(percebe-se neste caso, a situação de superioridade numérica 2x1 pelo lado esquerdo do ataque do Sanfrecce, devindo à ausência de recomposição do extremo pra ajudar o lateral), Douglas faz a diagonal sem bola pra entrar como opção e Mikic aparece no corredor oposto dando amplitude na transição e sendo opção de virada longa. Na terceira imagem, Douglas novamente se projeta em ruptura e Mikic ocupa o corredor dando opção de abertura de jogada ao volante portador da bola, que novamente se caracteriza como volante passador, construtor. Na quarta imagem, Chajima vindo por dentro mais uma vez, Kashiwa com a bola na esquerda, Douglas e Sato dando opção na área e Mikic opcionando virada. Na última imagem, observa-se o lance do terceiro gol. Mais uma vez o conceito do volante passador. Organiza a transição, estica em profundidade pra Mikic receber no corredor, enquanto que Douglas, Asano(entrou no lugar de Sato) e Kashiwa chegam de trás pra ser opção de conclusão na área. Velocidade, inteligência e coordenação!


*Por João Elias Cruz(@Joaoeliascruzzz)




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