quinta-feira, 13 de novembro de 2014

Análise e flagrantes táticos em Holanda 2x3 México

No amistoso mais interessante da quarta-feira, ambas as equipes exibiram esquemas táticos diferentes em relação ao último confronto envolvendo Holanda e México, um jogo memorável pelas oitavas de final da Copa do Mundo do Brasil. A filosofia de Miguel Herrera, porém, permaneceu a mesma. A equipe de Guus Hiddink, por sua vez, em pouco se assemelha a de seu predecessor Louis Van Gaal, que deixou a Oranje entre as melhores seleções do mundo. O confronto marcava o retorno de Carlos Vela ao selecionado mexicano após três anos, assim como a necessidade de um bom resultado para o treinador holandês, que já balança em seu cargo.


A Holanda esteve em um 4-3-3 que é frequente na Eredivisie, destacando-se os extremos bem abertos, responsáveis pela profundidade da equipe. Nesse desenho os laterais costumam ter pouco espaço para lançarem-se ao ataque, e nesse caso não foi diferente. Robben, no entanto, tinha certa liberdade para aproximar-se de Huntelaar e realizar diagonais em direção à área, e nesses momentos van Rhijn aproveitava para avançar pelo corredor. A equipe posicionou-se em bloco médio-alto, e os encaixes individuais longos de Van Gaal parecem não mais fazer parte da filosofia holandesa, que na fase defensiva se posicionava com duas linhas de quatro, tendo Blind entre elas.

O México de Miguel Herrera veio em algo que transitava entre o 4-2-3-1 e o 4-4-2, este com a linha de meias em crescente, ou seja, com Hector Herrera e Andrés Guardado bem a frente dos dois volantes. Estes dois jogadores foram fundamentais ao bom funcionamento do esquema, jogando pelos lados, porém não tão abertos, descendo em diagonal para encostar nos atacantes, e suprindo-os com passes a partir dos mesoespaços (confira link sobre o assunto), dessa forma dispondo de mais tempo até a aproximação dos marcadores. O movimento desses meias gerava espaço que era usado pelos laterais Aguilar e Aldrete, muito participativos no ataque. O 4-4-2 era o desenho mais frequente, porém o 4-2-3-1 aparecia ocasionalmente com a incorporação de Carlos Vela ao meio-campo, formando um trio de meias. Em termos defensivos, a equipe se posicionava geralmente com duas linhas de quatro, em bloco médio, e realizava pressão ocasional à saída, principalmente com os dois homens de frente.

Defensivamente, a Holanda defendia no 4-1-4-1, enquanto o México utilizava geralmente o 4-4-2 (Reprodução: ESPN).
O jogo começou com a Holanda, dona da casa, tentando propor o jogo, com fortes tendências ofensivas. Porém, o já conhecido estilo reativo mexicano funcionou perfeitamente, e com os volantes Vasquez e Reyes buscando encaixar-se à Afellay e Sneijder o México dificultou muito a construção de jogo holandesa a partir do centro. Além disso, a saída de bola Oranje dificilmente era limpa, e como Blind e os laterais holandeses pouco se aproximavam dos zagueiros para realizá-la com três jogadores, coube apenas a Vlaar e Veltman essa tarefa. Aliada a isso, a pressão exercida por Hernández e Vela limitava as opções de passe à frente, e forçava os erros por parte dos defensores. A fase ofensiva veloz logo deu frutos, e antes mesmo dos 15 minutos a equipe norte-americana já estava à frente no placar e com amplo domínio das ações ofensivas.

Pela visão frontal, é possível perceber Herrera partindo do flanco direito em diagonal até o mesoespaço, ganhando de um marcador e atraindo os outros para si, para depois realizar o passe para Vela, que partindo em direção ao centro, teve espaço para concluir (Reprodução: Bein Sports).
Os onze dos Países Baixos possuíam maior posse de bola, porém, após conseguir uma saída limpa, apenas eram capazes de circular a bola de um lado a outro do relvado, sem conseguir agredir o adversário. Apenas a partir dos pés de Robben, os Laranjas conseguiram obter algumas oportunidades de gol. Muitos erros foram evidenciados no primeiro tempo, sendo os principais deles a baixa compactação, que dificultava a progressão espacial a partir de passes curtos e médios, e a recomposição defensiva lenta, a qual o México explorou com maestria em seus velozes contragolpes. Próximo ao fim da primeira etapa, finalmente a Holanda foi capaz de criar boas chances, principalmente devido a intensa movimentação de Robben e às bolas paradas.

Hector Herrera e Guardado por vezes reforçavam a marcação próxima à área, incorporando-se a linha defensiva e gerando superioridade numérica no setor, formando o desenho que vulgarmente é chamado de 6-2-2. Do lado oposto à bola, percebe-se Guardado realizando o balanço defensivo (Reprodução: ESPN).
Blind pouco recuava entre os zagueiros para realizar a saída lavolpiana, e nem mesmo os laterais costumavam permanecer junto a linha defensiva no início da transição ofensiva holandesa para facilitar as trocas de passe. Dessa forma, cabia apenas a Vlaar (depois De Vrij) e Veltman essa tarefa, e os zagueiros tiveram dificuldades para sair de forma limpa (Reprodução: ESPN).
Além disso, a pressão do México ainda no campo ofensivo limitava as opções de passe e dificultava ainda mais a saída holandesa (Reprodução: ESPN).
Neste outro flagrante, a equipe mexicana, dessa vez na intermediária, pressiona a saída, marcando forte as opções de passe mais acessíveis. Na sequência do lance, van Rhijn tentou forçar um passe vertical para Robben e foi interceptado pelo marcador à sua frente (Reprodução: ESPN).
No início da etapa final, o cenário se tornou um pouco diferente, com a equipe holandesa buscando aproximar os setores e avançar os meias, e após alguns minutos foi capaz de igualar a partida, graças a uma genialidade de Sneijder. A equipe, todavia, poucas vezes foi capaz de aproximar-se do gol adversário, haja vista que o gol de Sneijder, assim como o tento de Blind, mais tarde, vieram a partir de tiros de longa distância. Antes do segundo gol holandês, o México ainda balançou as redes da Amsterdam ArenA mais duas vezes, novamente com Vela, após um desarme de Chicharito seguido de contragolpe rápido liderado por Corona, que acabara de entrar, e com o próprio Chicharito, após passe de Guardado, que aproveitou-se do péssimo posicionamento da zaga holandesa para realizar um improvável passe vertical bem sucedido.

Alguns meses após a Copa do Mundo, duas seleções que se encontravam niveladas agora estão em pontos bem diferentes. A equipe mexicana permanece sólida, aplicada taticamente, e as ideias de Miguel Herrera continuam lhes rendendo grandes jogos e vitórias. Do lado holandês, ainda há a necessidade de adaptação à troca do treinador, que utiliza estratégias bem diferentes do seu antecessor, uma sombra para Guus Hiddink, que ainda não conseguiu retirar o máximo de cada jogador, como Van Gaal o fazia. Apesar disso, a partida em Amsterdam foi movimentada, com grandes momentos e foi, no geral, uma exibição de qualidade.

Por Felipe de Faria